IX-REFLEXÃO DOMINICAL III:
A
Volta de Cristo: Malas Prontas!
Chegamos
às duas últimas semanas do Ano Litúrgico.
A Palavra
de Deus convida-nos a meditar no fim último do homem, no seu destino além da
morte. A meta final, para onde Deus nos conduz, faz nascer em nós a esperança e
a coragem para enfrentar as adversidades e lutar pelo advento do Reino.
Os últimos
domingos do final do Tempo Comum e os dois primeiros do Advento, querem levar
os discípulos de Cristo a viverem a dimensão escatológica da vida cristã.
Escatológico, significa aquilo que se refere às últimas realidades já presentes
no aqui e agora da vida cristã, sobretudo após a Ressurreição de Cristo. Vem da
palavra “escaton”, que significa o fim, as últimas coisas.
O Profeta
Daniel (Dn 12, 1-3) mostra o povo judeu oprimido sob a dominação dos gregos.
Muitos judeus, apavorados pela perseguição, abandonavam até a fé …
O objetivo
desse livro era animar o povo a resistir diante dos opressores e lembrar que a
vitória final será dos justos que perseverarem fiéis. É a primeira profissão de
fé na Ressurreição, que se encontra na Bíblia.
Já no
Evangelho (Mc 13, 24-33), no discurso escatológico, Jesus ensina como os seus
discípulos devem viver no tempo que vai de sua elevação da terra até o seu
retorno glorioso. Jesus anuncia a destruição de Jerusalém e o começo de uma
nova era, com a sua vinda gloriosa após a Ressurreição. São Marcos
apresenta-nos uma parte do sermão de Jesus sobre o fim dos tempos. Neste
sermão, há uma frase que surpreende pela sua clareza sintética: “O Céu e a
Terra passarão, mas as Minhas palavras não passarão” (Mc 13, 31).
A
expressão “o Céu e a Terra” é frequente na Bíblia para indicar todo o Universo,
a Criação inteira. Jesus declara que tudo isto está destinado a “passar”. Não
só a terra, mas também o céu, que aqui é entendido precisamente em sentido
cósmico, não como sinônimo de Deus. A Sagrada Escritura não conhece
ambiguidades: toda a criação está marcada pela finitude, incluídos os elementos
divinizados pelas antigas mitologias: não há confusão alguma entre a criação e
o Criador, mas uma diferença evidente. Com esta clara distinção, jesus afirma
que as suas palavras “não passarão”, ou seja, estão da parte de Deus e por isso
são eternas.
A intenção
não era assustar, mas conduzir a comunidade a discernir os fatos catastróficos
e o futuro da comunidade cristã dentro da história.
Não deviam
ver como o fim do mundo, mas o início de um mundo novo. Portanto, não deviam
dar ouvidos a pessoas que anunciavam o fim do mundo. Jesus não descreve o fim
do mundo, e quando usa imagens apocalípticas, não se comporta como um
“vidente”. Ao contrário, Ele quer subtrair os discípulos de qualquer época da
curiosidade pelas datas, pelas previsões, e deseja ao contrário dar-lhes uma
chave de leitura profunda, essencial, e sobretudo indicar a senda justa sobre a
qual caminhar, hoje e amanhã, para entrar na vida eterna. Tudo passa –
recorda-nos o Senhor – mas a Palavra de Deus não muda, e face a ela cada um de
nós é responsável pelo próprio comportamento. Com base nisto seremos julgados.
Quanto ao
dia e hora, só o Pai sabe…, mais ninguém…
Para nós o
mais importante não é saber quando isso irá acontecer, mas sim estar vigilantes
e preparados para ele.
O cristão
não pode ficar de braços cruzados, esperando que as coisas simplesmente
aconteçam.
A vida é
realmente muito curta e o encontro com Jesus está próximo. Isto ajuda-nos a
desprender-nos dos bens que temos de utilizar e aproveitar o tempo; mas não nos
exime de maneira nenhuma de dedicar-nos plenamente à nossa profissão no seio da
sociedade. Mais ainda: é com os nossos afazeres terrenos, ajudados pela graça,
que temos de ganhar o Céu.
E que a
humanidade não caminha para a destruição, para o nada; caminha ao encontro da
vida plena, ao encontro de um mundo novo. Não será o fim, mas o verdadeiro
começo. Como lembra o Salmo: “Vós me ensinais como caminho para a vida; junto a
Vós felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao vosso lado” (Sl 15(16).
Cristo que
veio, pela primeira vez ao mundo em humildade e sofrimento para o redimir do
pecado, regressará no fim dos séculos, em todo o esplendor da Sua glória para
recolher os frutos da Sua obra redentora.
Compreende-se,
assim, como a Igreja primitiva, enamorada de Cristo e ansiosa por contemplar
novamente o Seu rosto glorioso, esperasse impacientemente a Sua volta. “Vem
Senhor Jesus” (Ap 21,20), era a invocação fervorosa dos primeiros cristãos que
viviam com o coração voltado para Ele, como se já estivesse à porta. Esta mesma
deve ser a atitude de quem compreendeu o sentido profundo da vida cristã: uma
espera de Cristo, um caminhar para Ele com a lâmpada da fé e do amor bem acesa.
Agora, na
intimidade da nossa alma, dizemos a Jesus: “Procuro, Senhor a Tua face, que um
dia, com a ajuda da tua graça, terei a felicidade de ver face a face”(Sl 26,8).
Da nossa
parte, devemos estar atentos aos sinais de Deus, confiantes nas palavras de
Cristo, que nos garantem: “o Céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não
passarão” (Mc 13, 31).
Ignoramos
o tempo e a maneira da transformação do universo, o que a Escritura chama de
céus novos e terra nova. Será a realização definitiva do projeto de Deus Pai de
em Jesus recapitular todas as coisas. A felicidade irá satisfazer e superar
todos os desejos dos homens. Neste universo novo, Deus terá a sua morada entre
os homens. Nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais.
A visão face a face, na qual Deus se revelará aos eleitos, será a fonte
inesgotável de felicidade e de paz.
Como o dia
e a hora não foram revelados, a Bíblia insiste numa decisão pronta, sem demora.
Essas coisas permanecem ocultas para que estejamos sempre preparados. Na espera
da volta de Cristo, os cristãos devem permanecer vigilantes, atentos e ativos.
É um apelo à nossa fé nAquele que é Senhor e Salvador do universo. Apelo à
vigilância, para não vivermos de costas para esse dia definitivo. E temos à disposição
somente um tempo limitado.
Estar de
malas prontas para a última viagem. Estar pronto se trata de uma atitude
interior. O modo com o qual desenvolvemos a nossa vida, as nossas normais
ocupações é o modo no qual esperamos ou não esperamos o Senhor. Devemos estar
atentos ao silencioso passo de Deus por nossos caminhos, com os olhos fixos na
meta futura, sem nos deixarmos distrair e submergir na trivialidade e na
frivolidade. Se vivermos na observância de seus mandamentos e no seu amor, a
sua chegada não nos deixará constrangidos e estaremos contentes de que Ele nos
chame para estarmos com Ele para sempre.
O que para
uns é o fim, para nós é alegre anúncio de que no horizonte da vida surge o
Salvador e Rei do universo: Jesus Cristo. Quem espera o Senhor com a certeza da
fé, está convencido desta alegre esperança, reza com convicção “venha a nós o
vosso reino”.
Cada um
deve se perguntar: Tenho medo da volta de Cristo? Que amor é esse que teme
encontrar-se com Jesus? Faço o que Ele pediu para receber o que Ele prometeu?
Vivo de malas prontas para a última viagem, para comparecer diante de Deus?
Cada um deve responder com a oração e com a vida até que Ele venha.
Mons.
José Maria Pereira
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