II-
Liturgia do 32.º Domingo do Tempo
Comum– Ano B;
- A liturgia deste
domingo ensina-nos que o único sacrifício agradável a Deus é o do coração
disposto a amar o próximo, não só dando-lhes o que se possui, mas a própria
vida.
- A primeira leitura que escutamos, retirada
do livro de 1Rs, retrata o início do que costumamos chamar de "ciclo de
Elias". Elias, cujo nome significa "Meu Deus é Javé" é um
profeta que aparece no reino do norte em um tempo de muita seca. No Antigo
Testamento, a falta de chuva era vista como ausência do próprio Deus. A terra
ressequida é consequência das atitudes e escolhas do povo de Israel na época.
- No tempo de Elias quase todo povo foi vítima
das seduções dos ídolos e falsos deuses. O rei Acab, influenciado por sua
esposa Jezabel permitiu que no reino do norte houvesse o culto a Baal, deus
cananeu, ao qual se atribuía o dom da chuva e da fertilidade da terra. Qual foi
o resultado? Em vez de esperadas chuvas, houve uma seca prolongada. Os ídolos
são todos assim: prometem muito, mas no fim desiludem e enganam os que nele
depositam a confiança.
- Elias reconhece que Baal não é deus, e por isso
sofre forte perseguição do rei Acab. Para se livrar da ira de Acab, o profeta
foge para a cidade de Sarepta, onde encontra uma viúva muito pobre, que não
tinha quase nada para comer. A ela, só restava um punhado de farinha e um pouco
de azeite. Temos a impressão de que a viúva estrangeira não tinha mais nada a
partilhar com o profeta, mas ela acreditava nas palavras de Elias: "Não se
preocupe" (v.13), pois oferecendo tudo o que tem, Deus a abençoaria e não
lhe deixaria perecer de fome.
- Deus abençoa os que partilham os seus
próprios bens. A tendência arraigada do coração do homem hoje não é a de
distribuir, mas a de acumular a riqueza para usá-la para suas satisfações
egoístas. A Palavra de Deus propõe o desapego, não porque os bens materiais
sejam ruins em si mesmos, mas porque só quando são partilhados, quando são
colocados à disposição de todos é que realizam o objetivo pelo qual foram
criados. A generosidade da viúva, que oferece tudo o que possui a quem
necessita mais do que ela, é a causa da multiplicação do alimento. Por outro
lado, o egoísmo é que provoca a fome, a nudez, a miséria, a morte. - Na segunda
leitura tirada da carta aos Hebreus, o autor nos apresenta o sacerdócio novo de
Cristo, com o objetivo de devolver esperança e força às comunidades tomadas
pelo desânimo. Assim como na primeira leitura onde a viúva de Sarepta partilhou
seus bens com Elias, Jesus, o verdadeiro sacerdote, doouse plenamente, uma vez
por todas, destruindo o pecado pelo sacrifício de si mesmo (v. 26b). No Antigo
Testamento, para apagar os pecados do povo, o sumo sacerdote entrava uma vez
por ano na parte mais sagrada do templo a fim de derramar o sangue dos animais
em vista da expiação dos pecados. Jesus, ao invés, ofereceu um só e perfeito
sacrifício, não derramou o sangue dos animais, mas doou o seu próprio, e, com o
seu gesto de amor, destruiu definitivamente o pecado.
- A narrativa evangélica que escutamos, se
divide em duas partes. A primeira nos apresenta o julgamento de Jesus sobre os
escribas (as pessoas com grande autoridade em sua época). A segunda contém o
gesto generoso de uma viúva.
- Os escribas eram os
"especialistas" no conhecimento dos preceitos religiosos. Eram
responsáveis por interpretar a lei de Deus e julgar nos tribunais aqueles que
não cumpria. Porém, estes estavam tomados pelo poder, ao ponto de usar a lei de
Deus para julgar e condenar o próximo, sobretudo os po- bres, as viúvas, os
órfãos e estrangeiros. Eles gostavam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos
melhores lugares nos banquetes. Jesus tece duras críticas aos escribas por suas
atitudes hipócritas.
- Quando estava no
templo, observava como a multidão depositava as moedas no cofre. Jesus vê uma
viúva que dá duas pequenas moedas, "tudo o que possuía para viver"
(v.44b), chama os discípulos e os exorta: os pobres são os verdadeiros
adoradores de Deus, pois a pobre viúva deu muito mais que todos os outros que
ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela na sua
pobreza, ofereceu tudo o que possuía para viver. - Para poder compreender a
importância desse episódio é preciso lembrar que esta viúva não tinha conhecido
Jesus, não ouviu os seus ensinamentos, não respondeu a um chamado, não se
tornou uma sua seguidora. Não o acompanhou, como fizeram os Doze e muitas outras
mulheres que ficaram ao seu lado durante os três anos da vida pública (cf. Lc
8,1-3). Ela representa todos aqueles que, também em nossos dias, mesmo não
tendo lido uma única página do evangelho, têm uma vivência evangélica. A
narrativa tem como objetivo apresentar aos discípulos um modelo que deve ser
admirado e imitado, isto é, a humildade. O cristão não é o homem rico que,
possui muitos bens, pode dar generosas esmolas, oferecendo parte daquilo que
lhe sobra. O cristão é aquele que, rico ou pobre, coloca à disposição dos
irmãos "tudo" o que possui. A viúva é a imagem perfeita do Cristo,
porque se despoja de tudo o que tem e oferece em doação aos outros.
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