VII-REFLEXÃO DOMINICAL I: – TODOS OS SANTOS
A
vocação de todos nós
Por
Izabel Patuzzo*
I.
INTRODUÇÃO GERAL
A celebração da solenidade de Todos os Santos nos convida a
contemplar a vida de todos aqueles e aquelas que, de diversos modos, seguiram a
Cristo na fidelidade, deixando-nos exemplos de grandes testemunhos. Inúmeras
pessoas não apenas trilharam o caminho do discipulado de Jesus Cristo, mas
também viveram de tal modo sua fé, que construíram o Reino de Deus ao seu
redor.
Na primeira leitura, o Apocalipse de João descreve, em linguagem
simbólica, a multidão daqueles que deram a vida pela fé no Cordeiro de Deus.
Eles “aclamam em alta voz que a salvação pertence somente ao nosso Deus, que
está sentado no trono, e ao Cordeiro”. A segunda leitura nos recorda que, pelo
sacramento do batismo, fomos chamados para a vida de santidade como filhos e
filhas de Deus. O Evangelho nos apresenta as bem-aventuranças como caminho de
uma vida pautada pelas diretivas de Deus.
II.
COMENTÁRIO
DOS TEXTOS BÍBLICOS
1.
I leitura (Ap 7,2-4.9-14)
A leitura do Apocalipse proposta nesta liturgia descreve a
multidão dos santos ao redor do trono celeste, lugar que, na linguagem
apocalíptica, significa a morada de Deus. Eles são provenientes de todas as
tribos de Israel, simbolizando que a corte celeste é a morada de todos os
santos, que vêm de todos os lugares. O cenário descrito é de uma grande
liturgia, em que todos adoram somente aquele que está no trono celeste, Deus, e
o Cordeiro. Trajam vestes brancas, símbolo da pureza daqueles que não praticaram
a idolatria. Trazem uma palma na mão, que expressa o testemunho por meio do
martírio. Esse sinal é conservado até hoje nas imagens dos santos que
testemunharam sua fé mediante a doação da própria vida. Todos aqueles que foram
marcados pelo sinal do batismo são protegidos por Deus contra as forças do mal.
O número 144 mil (12 x 12 x 1.000) é representativo de todas as
tribos de Israel, das quais se originaram as comunidades cristãs. Desse modo,
as comunidades cristãs espalhadas pelo mundo estão em comunhão com todos os
antepassados que foram fiéis à Aliança. O número doze simboliza totalidade,
completude. Ao recordar o nome de cada tribo (v. 5-8, ausentes na leitura),
João indica às comunidades de seu tempo que Deus conhece cada uma pelo nome,
para a eternidade.
2. II leitura (1Jo 3,1-3)
A primeira carta de João foi escrita para aprofundar a
espiritualidade cristã e a consciência da ética social das comunidades cristãs
espalhadas pelo mundo mediterrâneo do primeiro século. Com a morte dos
apóstolos, as comunidades da segunda geração sofrem com as hostilidades e
ameaças da parte do Império Romano e com as heresias vindas do mundo helênico
gentio. Nesse contexto, João deseja fortalecer a fé dos discípulos e discípulas
de Jesus Cristo.
O texto da segunda leitura apresenta os traços característicos
dos filhos e filhas de Deus, que é o amor traduzido em ações. O amor a Deus e
ao próximo deve estar no “DNA” do cristão. O ser humano foi criado à imagem e
semelhança de Deus; em consequência, a criatura humana é chamada a cuidar da
obra da criação, no sentido mais amplo da palavra, com amor. As obras do mal,
como vingança, violência, mentira, corrupção, roubo, por exemplo, não podem
habitar o coração dos filhos e filhas de Deus. O cristão tem uma missão no
mundo, que é a vivência da caridade e dos valores evangélicos. Em Jesus Cristo,
o amor de Deus se revelou em plenitude. Jesus veio para iluminar as trevas e
distinguir quem caminha na luz e quem são aqueles que caminham na escuridão.
A leitura é grande convite para perseverarmos no amor divino,
que habita em nós pela água e pelo Espírito, derramados sobre nós no batismo, e
no amor de Cristo, pelo qual Deus nos concede a vida eterna. Ser membro da
comunidade de fé significa pertencer à grande família dos filhos e filhas de Deus,
que rejeitam todas as obras do mal.
3. Evangelho (Mt 5,1-12a)
A proclamação das bem-aventuranças na montanha é dirigida
àqueles que já estão no caminho do discipulado. Esse ensinamento de Jesus é a
carta magna para aqueles que escolheram os valores do Reino de Deus. Por isso,
o Evangelho segundo Mateus insere esse discurso da montanha logo após o chamado
dos primeiros discípulos. O conjunto das bem-aventuranças constitui as
orientações vitais para uma comunidade que tem Jesus Cristo como Mestre e atualiza
a Lei mosaica para o contexto cristão.
O relato mateano das bem-aventuranças deixa entrever que Jesus
se dirige aos pequenos, enfermos, pobres, àqueles que depositam toda sua
confiança em Deus, e não nos bens e poderes deste mundo. Dizer que os pobres são
bem-aventurados significa que a humildade e a simplicidade são atitudes
fundamentais para os discípulos e discípulas do Senhor, pois os ajudam a não
cultivar a busca pelo ter ou o domínio sobre os irmãos e irmãs.
As oito bem-aventuranças formam um todo que se inicia e se
conclui com a mesma expressão iluminadora: porque deles é o Reino dos Céus. A
palavra “justiça” também é um termo central nessa passagem. Trabalhar pela
justiça é atitude profética. Lutar pelos direitos dos pobres é prática que vem
de longa tradição bíblica, presente na Lei mosaica, e, portanto, acompanha o
povo de Deus desde os tempos mais antigos.
As primeiras bem-aventuranças recordam que a pobreza de espírito
está estreitamente ligada à atitude de mansidão. Jesus foi humilde e manso de
coração, rechaçando todo tipo de violência e agressão. Os aflitos serão
consolados, pois, assim como Jesus os consolou, também seus discípulos e
discípulas são chamados a consolar os que sofrem, sobretudo as vítimas de
injustiça. Os puros de coração representam todos os que escolhem o caminho do
direito e da verdade. E os que trabalham pela paz têm uma missão essencialmente
social. Os que são perseguidos porque promovem a justiça e a paz representam
todas as pessoas que, apesar de sofrerem por serem coerentes com os valores do
Reino, cultivam no coração o espírito das bem-aventuranças.
III.
PISTAS
PARA REFLEXÃO
Todas as leituras desta solenidade abrem-nos o espírito e o
coração para seguirmos um caminho
de santidade com o olhar para a realidade além deste mundo. Para alcançar a
glória da ressurreição, tudo o que se passou com Jesus também se realizou e se
realiza na vida de quem abraça a fé cristã.
Como
membros da grande família dos filhos e filhas de Deus, temos traços em comum,
dos quais o principal é a vivência do mandamento do amor na sua concretude. A
solenidade de Todos os Santos reúne inúmeros testemunhos de santos e santas que
trazem em si a imagem e semelhança de Deus; rostos de uma humanidade
transfigurada. Os santos não se consideravam pessoas perfeitas e, de fato, não
eram. Somente Deus é perfeito. Não obstante, esforçaram-se para se aproximar da
imagem de Jesus Cristo, buscando a cada dia crescer como seres humanos, como
discípulos e discípulas, tendo como meta a fidelidade ao Evangelho.
Izabel Patuzzo*
*pertence à Congregação Missionárias da
Imaculada - PIME. Mestre em Aconselhamento Social pela South Australian
University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, é licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da
Assunção. Doutoranda em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. em São Paulo. E-mail: isabellapatuzzo@hotmail.com
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/5-de-novembro-todos-os-santos/
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