X-REFLEXÃO DOMINICAL III- Progredir no amor para esperar a vinda do Senhor!
1º de dezembro – 1º
DOMINGO DO ADVENTO
Por Pe. Maicon André
Malacarne*
I.
Introdução geral
Com o 1º domingo do Advento, começamos mais um ano litúrgico.
Deus nos concede a graça de peregrinar, através da liturgia, por um itinerário exterior
e interior, na direção de uma vida maior, mais plena de sentido. O ponto de
partida do ano litúrgico é o mistério da encarnação do Senhor, que, no Advento,
é convite a tomar consciência da sua vinda no meio de nós e a abrir espaços do
nosso cotidiano para acolhê-lo sempre mais.
A liturgia da Palavra provoca-nos a “progredir no amor” com base
na experiência de espera da vinda do Senhor. Não se trata de acomodação, mas de
movimento! Progredir é evoluir, crescer, aumentar. O povo de Israel, em um dos momentos
mais trágicos da sua história, recebeu do profeta Jeremias a esperança de que
“o Senhor é a nossa justiça”; ou seja, a salvação integral do povo sofrido e
cansado será realmente atendida, ao contrário da fantasia de outras promessas.
A vinda de Jesus Cristo, no discurso apocalíptico do Evangelho de Lucas, guarda
o convite: “levantai-vos e erguei a cabeça”. Em meio às tragédias e movimentos
cósmicos, a atitude de vigiar e orar constitui um mapa para não cairmos no
desânimo e na busca por compensações que distraem a realidade da vida.
II.
Comentário dos textos bíblicos
1.
I leitura (Jr 33,14-16)
Os israelitas estavam reconstruindo Jerusalém, depois da
tragédia do exílio babilônico. A reconstrução exigiu muito esforço e não era
difícil desanimar! A pergunta que os acompanhava era: por quê? Por que tudo
isso aconteceu conosco? Deus se esqueceu de nós? Então, o profeta Jeremias
chega com uma palavra de esperança. O trecho da leitura retoma a fidelidade de
Deus com seu povo: “farei cumprir a promessa” (v. 14).
Tudo parecia indicar que era o fim! A grandeza da destruição
impedia alcançar os sinais da presença de Deus. O profeta fala na “semente da
justiça” (v. 15) que vai brotar de Davi. A semente nem sempre está visível, mas
está agindo, trabalhando na terra para nascer forte e carregar vida nova! Deus
não esqueceu seu povo: “O Senhor é a nossa justiça” (v. 16).
O Messias esperado – da descendência de Davi – manifestou-se em
Jesus Cristo. Ele é o cumprimento da promessa da fidelidade de Deus. Em seus
dias, Jesus retomou a obra criadora do Pai, anunciando o Reino de Deus,
buscando alternativas para superar as forças da morte. Sua passagem transformou
a história. No entanto, ainda resistem e persistem as potências do mal, e a
palavra do profeta é sempre atual e urgente: “naqueles dias, naquele tempo...”.
tudo está destinado à vitória do bem!
2.
II leitura (1Ts 3,12-4,2)
O verbo “progredir” é como um motor que põe em movimento o
convite de Paulo à comunidade de Tessalônica. Essa carta, o primeiro documento
escrito do cristianismo, ressalta o tema da “vinda do Senhor com todos os seus
santos” (v. 13). Para crescer na vigilância e na atenção paciente dessa espera,
Paulo não tem dúvidas de que o caminho é crescer no amor, com base na boa
convivência, e de que a comunidade cristã é convidada a testemunhá-lo no mundo:
“que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais” (v.
12).
Progredir, portanto, significa crescer e transbordar o amor! A
promessa de fidelidade de Deus, a qual se realizou na vinda de Jesus Cristo e
continua a ser um imperativo de trabalho e de espera até sua segunda vinda,
passa pela escola do amor. As comunidades cristãs devem ser lugar privilegiado
de purificar a vida com base em experiências humanizadoras e amorosas.
O verbo “progredir” nos faz lembrar que estamos em constante
evolução, não somos estáticos, mas sempre dinâmicos. A fé não é mágica, vai
crescendo à medida que fazemos a experiência do amor de Jesus Cristo, da sua
paixão, morte e ressurreição, a qual deve nos ajudar, dia após dia, a continuar
progredindo. Inseridos na dinâmica da história, com todas as suas contradições
e tragédias, não podemos perder de vista aquilo que é prioritário e aquilo que
é secundário para dar o salto na direção do amor.
3.
Evangelho (Lc 21,25-28.34-36)
A vinda gloriosa e potente do Filho do Homem vem anunciada pelo
Evangelho de Lucas com a marca apocalíptica: guerras, revoluções, sofrimentos,
medos, sinais cósmicos do sol, das estrelas, da lua e conflitos familiares e de
convivência. Essa linguagem simbólica não está distante da realidade atual e
das suas contradições e tem objetivo bem demarcado: “Quando estas coisas
começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa
libertação está próxima” (v. 28).
As catástrofes não devem ser motivo para espalhar o medo,
profetizar a desgraça, mas sim para fazer memória de que, em todos os momentos,
o Senhor está próximo. O Evangelho incentiva a retornar para o plano criador de
Deus, do livro do Gênesis – “tudo era bom” – e perceber como o pecado ganhou
força e desequilibrou a obra criada. É a segunda vinda de Jesus que poderá
harmonizar, recriar tudo! O advento é grande tempo de esperança e de alegria em
meio às dificuldades.
Levantar-se e erguer a cabeça é um estilo de vida. Somos muito
vulneráveis, e é fácil desanimar, entregar-nos às angústias, cair nos vícios
que anestesiam a vida, buscar compensações, mas Jesus nos garante mais uma vez:
“a libertação está próxima”. O Evangelho, de fato, cita o excesso de comida e
de bebida como armadilhas – como tantas outras – que não nos deixam preparar
bem a vinda do Senhor. As distrações – os maiores de todos os perigos, diziam
os Padres do deserto – não possibilitam “ficar atentos e rezar a todo momento”
(v. 36), que é condição fundamental para ter forças em momentos difíceis.
A vigilância e a oração são como que guias do tempo do Advento.
Trata-se de assumir bem nossa condição humana, sem fazer uso de máscaras ou
buscar compensações, para crescer na vida espiritual, com a ajuda da oração, a
fim de acolhermos todas as alegrias e esperanças deste tempo oportuno.
III.
Pistas para reflexão
As tragédias e dificuldades fazem crescer a tentação de fugir,
de buscar uma vida anestesiada, e o tempo do Advento se inicia com o convite a
“levantar-se”, que é uma forma de viver e de comunicar a vida. O destino não é
a destruição, é o florescimento! O Filho do Homem virá, e é mirando nosso olhar
no seu olhar que conseguimos, como diz São Paulo, “fazer progressos ainda
maiores”. Este não é o tempo das distrações que endurecem o coração e acentuam
a insensibilidade. É preciso viver bem tudo aquilo que o Senhor nos coloca
diante dos olhos para, purificados no olhar e dispostos a crescer no amor,
notar sua presença no meio de nós.
Pe.
Maicon André Malacarne*
*é pároco da paróquia São Cristóvão,
Erechim, diocese de Erexim-RS. Possui mestrado em Teologia Moral pela
Pontifícia Academia Alfonsiana (Roma), onde cursa o doutorado. É especialista
em Juventude no Mundo Contemporâneo pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e
Teologia (Faje, Belo Horizonte-MG); formado em Filosofia pelo Instituto de
Filosofia Berthier (Ifibe, Passo Fundo-RS) e em Teologia pela Itepa Faculdades
(Passo Fundo-RS). E-mail: maiconmalacarne@gmail.com
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/1o-de-dezembro-1o-domingo-do-advento/
Nenhum comentário:
Postar um comentário