XVI-SANTO AGOSTINHO
Sermão de Natal
Como Maria, esperamos com todo o nosso
coração a chegada do Menino Jesus!
Preparemo-nos! Jesus se faz Rei dos reis em
uma pequena criança, e nossos olhos se encherão com a visão tão gloriosa de um
Deus que se faz pequeno para encontrar o nosso coração!
Que neste Natal, nosso amor cresça de forma
admirável, em correspondência a tão grande amor que recebemos do Menino Jesus.
Meditemos nas palavras de Santo Agostinho
sobre o rico momento do Natal.
A verdade brotou da terra
e a justiça olhou do alto do céu
Desperta, ó homem: por tua
causa Deus se fez homem. Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e
sobre ti Cristo resplandecerá (Ef 5,14). Por tua causa, repito, Deus se fez
homem.
Estarias morto para sempre, se
ele não tivesse nascido no tempo. Jamais te libertarias da carne do pecado, se
ele não tivesse assumido uma carne semelhante à do pecado. Estarias condenado a
uma eterna miséria, se não fosse a sua misericórdia. Não voltarias à vida, se
ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte. Terias perecido, se ele não te
socorresse. Estarias perdido, se ele não viesse salvar-te.
Celebremos com alegria a vinda
da nossa salvação e redenção. Celebremos este dia de festa, em que o grande e
eterno Dia, gerado pelo Dia grande e eterno, veio a este nosso dia temporal e
tão breve.
Ele se tornou para nós justiça,
santificação e libertação, para que, como está escrito, “quem se gloria,
glorie-se no Senhor” (1Cor 1,30-31).
A verdade brotará da terra (Sl
84,12), o Cristo que disse: eu sou a verdade (Jo 14,6), nasceu da Virgem. E a
justiça olhou do alto do céu (cf. Sl 84,12), porque o homem, crendo naquele que
nasceu, é justificado não por si mesmo, mas por Deus.
A verdade brotou da terra
porque o Verbo se fez carne (Jo 1,14). E a justiça olhou do alto do céu porque
todo o dom precioso e toda a dádiva perfeita vêm do alto (Tg 1,17).
A verdade brotou da terra, isto
é, da carne de Maria. E a justiça olhou do alto do céu porque o homem não pode
receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu (Jo 3,27).
Justificados pela fé, estamos
em paz com Deus (Rm 5,1) porque a justiça e a paz se beijaram (cf. Sl 84,11)
por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo, pois a verdade brotou da terra.
Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes e nos
gloriamos, na esperança da glória de Deus (Rm 5,2). Não disse “de nossa
glória”, mas da glória de Deus, porque a justiça não procede de nós, mas olha
do alto do céu. Portanto, quem se gloria não se glorie em si mesmo, mas no Senhor.
Eis por que, quando o Senhor
nasceu da Virgem, os anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra
aos homens de boa vontade (Lc 2,14 Vulgata).
Como veio a paz à terra senão
por ter a verdade brotado da terra, isto é, Cristo ter nascido em carne humana?
Ele é a nossa paz: de dois povos fez um só (cf. Ef 2,14), para que fôssemos
homens de boa vontade, unidos uns aos outros pelo suave vínculo da caridade.
Alegremo-nos com esta graça,
para que nossa glória seja o testemunho da nossa consciência, e assim nos
gloriaremos, não em nós mesmos, mas no Senhor. Por isso disse o Salmista: Vós
sois a minha glória que levanta a minha cabeça (Sl 3,4). Na verdade, que graça
maior Deus poderia nos conceder do que, tendo um único Filho, fazê-lo Filho do
homem e reciprocamente fazer os filhos dos homens serem filhos de Deus?
Procurai o mérito, procurai a
causa, procurai a justiça; e vede se encontrais outra coisa que não seja a
graça de Deus.
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermão 185: PL 38,
997-999) (Séc. V)
https://vocacaodejesus.com/escritos-dos-santos/sermao-de-natal-santo-agostinho/
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