XVI-SANTO AGOSTINHO –
Santo
Agostinho teve a humildade de reconhecer que algumas de suas palavras foram
imprecisas ou imprudentes. Não é o que muitos deveriam fazer nas redes sociais?A palavra mágica para
a era da internet é “conteúdo”. Quer seja através da produção de um podcast, de
um site ou de uma conta no Twitter, o segredo para chamar a atenção da
audiência é produzir novos materiais com agilidade e constância.
Além disso,
cada postagem que fazemos no Facebook, Instagram, no Twitter e similares é
armazenada na misteriosa “nuvem”, em alguma versão arquivada da página da web,
pronta para ser recuperada no momento adequado.
Como sabemos
que nossos posts serão disseminados e gravados para sempre, ficamos ansiosos
para mantê-los, não importa o que aconteça – eles fazem parte de nossa “marca”,
e não podemos voltar atrás com eles.
Dessa forma,
vivemos em uma sociedade em que os nossos pensamentos mais fugazes e
intemperantes são gravados em espécies de pedras (ou silício, conforme o caso).
E Santo Agostinho nos dá um exemplo de uma abordagem de comunicação mais
desapegada e humilde.
Agostinho de
Hipona, além de um dos grandes santos e doutores da Igreja, foi também um de
seus escritores mais volumosos. As cartas, comentários e tratados de Santo
Agostinho enchem várias prateleiras quando impressos e encadernados. (Na
verdade, de acordo com a Enciclopédia de Filosofia de Stanford, “a produção
literária de Agostinho ultrapassa em quantidade a obra preservada de quase
todos os outros escritores antigos”.) Depois de produzir tamanha quantidade de
material, Santo Agostinho reconsiderou algumas de suas posições.
Alguns anos
antes de sua morte, o venerável bispo de Hipona publicou “Retratações”, uma
coleção de reflexões sobre as suas obras.
Embora
sejamos tentados a pensar que o autor faça rejeições sobre seus pensamentos
anteriores, não é esse o objetivo do livro, que, ao contrário tenta explicar e
reafirmar o que outrora dissera de forma sistemática.
“Retratações”,
na verdade, consiste em uma lista das obras de Santo Agostinho e, como escreve
o estudioso James J. O’Donnell, “para cada obra listada, ele diz algo sobre as
circunstâncias de composição e publicação, além de acrescentar correções e
emendas que, na sua velhice, ele achou necessário. ”
Muitas áreas
que receberam sua atenção estavam relacionadas às suas disputas com os
pelagianos, que acreditavam que a graça era desnecessária para a salvação.
Assim, vemos Santo Agostinho refinar seus pensamentos sobre assuntos que
incluem livre arbítrio, graça, predestinação, pecado original e mérito. Ele
também corrige alguns de seus comentários sobre as Escrituras, observando que
passou a compreender melhor a Bíblia em sua velhice.
Traçando um
paralelo com os tempos atuais, podemos dizer que vivemos uma era marcada pela
defensiva e por pouca humildade. As pessoas ignoram as críticas e rebatem até
mesmo suas piores posições, em uma tentativa desesperada de manter seu orgulho.
Santo Agostinho, conhecido em sua época como uma das grandes mentes
pensantes, reconhece que suas palavras foram, às vezes, imprecisas,
destemperadas ou imprudentes. Não apenas isso, mas ele dedicou um tempo para
trabalhar seus textos sistematicamente e acrescentar qualquer coisa que
considerasse esclarecedora.
Estamos
menos sujeitos ao erro do que o grande Agostinho? Nossas palavras e ações estão
acima de qualquer reprovação? Estamos tão preocupados com a forma como somos
percebidos que esquecemos que uma das características mais admiráveis é a
humildade? Que é a verdade que nos liberta?
Tentamos nos
agarrar, ou melhor, nossa imagem, com tanta força que ela se estilhaça em
nossas mãos. Só quando nos soltamos, quando nos importamos pouco o suficiente
com nossa imagem, podemos dizer: “Sinto muito, estava errado, não deveria ter
dito isso”, que podemos ser verdadeiramente livres, verdadeiramente ser nós
mesmos . A verdadeira humildade é a essência da santidade. Talvez se fôssemos
mais humildes online, a internet, o mundo, seriam um lugar melhor. Rezemos a
Santo Agostinho para que possamos segamos seu exemplo.
https://pt.aleteia.org/2020/08/28/a-licao-de-santo-agostinho-para-a-era-da-internet
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