I-
REFLEXÃO DOMINICAL III
I DOMINGO DO TEMPO
PASCAL: Ressurreição do Senhor
Jo 20,1-9
Caros irmãos e irmãs,
Neste domingo a liturgia
nos faz chegar ao domingo da Páscoa, quando somos convidados a olhar o túmulo
vazio de Jesus e, com admiração e gratidão, refletir sobre o grande mistério da
Ressurreição do Senhor. A vida venceu a morte!
Já na Vigília pascal,
entoamos novamente o grito da alegria, o “Aleluia”, uma palavra hebraica
conhecida em todas as línguas e que significa “Louvai o Senhor”. Este grito do
Aleluia volta a ressoar para indicar a nossa alegria diante da Ressurreição do
Senhor. Mas este aleluia pascal deve imprimir profundamente em nós o desejo de
constantemente louvar o Senhor, pelas maravilhas que Ele operou em cada um de
nós. E como consequência disso, cada cristão é chamado a ser proclamador de uma
vida nova, deve fazer morrer em si o “velho homem”, o homem marcado pelo
pecado; e fazer ressurgir o “homem novo”, configurado a Cristo res- suscitado.
O texto evangélico que a
Liturgia da Palavra nos apresenta para este domingo começa com uma indicação
aparentemente cronológica, mas que deve ser entendida, sobretudo, em chave
teológica: “No primeiro dia da semana”. Significa que com a ressurreição de
Jesus começou um novo ciclo – o da nova criação, o da Páscoa definitiva. Aqui
começa um novo tempo, o tempo do homem novo, que nasce a partir da doação de
Jesus. A primeira personagem em cena é Maria Madalena. Ela é a primeira a
dirigir-se ao túmulo de Jesus, ainda quando o sol não tinha nascido, na manhã
do “primeiro dia da semana”. Em seguida, ela corre, com medo, mas feliz, para
comunicar esta notícia aos discípulos de Jesus. Na sequência, o texto
evangélico nos apresenta a visita de Pedro e do discípulo que Jesus amava ao
túmulo vazio. O evangelista São João narra com exatidão os detalhes da cena: as
faixas de linho, que tinham envolvi- do o corpo, estavam lá depositadas e o
pano da cabeça estava enrolado e colocado à parte (cf. v. 6-7). Esta minuciosa
descrição do evangelista tem a finalidade de excluir a teoria do roubo do
cadáver.
O túmulo vazio é um
argumento decisivo em favor da ressurreição de Jesus. É isto, como de fato, que
expressa na confissão do discípulo amado que vai até ao túmulo na companhia de
Pedro: “Ele viu e acreditou” (v. 8). Isto supõe que o discípulo amado terá
verificado, pelo estado em que ficou o sepulcro vazio, que a ausência do corpo
de Jesus não podia ter sido obra humana. Mediante os sinais da morte: o túmulo,
os lençóis, o sudário… o discípulo vê os sinais da vida. Na verdade, vê sem ter
visto ainda, e já começa a crer ou a dar crédito, até que sua fé seja
plenamente confirmada e esclarecida pelas aparições.
Com relação ao Apóstolo
Pedro, parece que ele é vencido não só na corrida material, mas também na
espiritual. O discípulo que Jesus amava, identificado pela tradição como o
apóstolo João, mostra a sua fé na ressurreição; quanto Pedro, embora vendo as
mesmas coisas, limita-se a constatar e não chegar ainda à fé na ressurreição
(cf. Jo 20,3-10).
Também quando Jesus
aparece junto ao mar de Tiberíades é mais uma vez o discípulo que Jesus amava
que o reconhece, enquanto Pedro, só mais tarde o reconhece (cf. Jo 20,7). A não
identificação do nome do discípulo que Jesus amava no texto, pode ser um
indicativo de que todos nós devemos estar no lugar deste discípulo. Acreditar
que Cristo ressuscitou para estar conosco.
Cada domingo, com a
recitação do Credo, nós também renovamos a nossa profissão de fé na
ressurreição de Cristo, acontecimento surpreendente que constitui a chave de
volta do cristianismo. A ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa
fé em Cristo, acreditada e vivi- da como verdade central pela primeira
comunidade cristã, transmitida como fundamental pela Tradição, estabelecida
pelos documentos do Novo Testamento e pregada como parte essencial do mistério
pascal (cf. CIgC 638).
Na Igreja tudo se
compreende a partir deste grande mistério, que mudou o curso da história e que
se torna atual em cada celebração eucarística. Mas existe um tempo litúrgico no
qual esta realidade central da fé cristã, na sua riqueza doutrinal e
inexaurível vitalidade, é proposta aos fiéis de modo mais intenso, para que cada
vez mais a redescubram e mais fielmente a vivam: é o tempo pascal. Um tempo em
que a Igreja revive, em cada celebração, onde temos a alegria de vivenciar a
ressurreição do Cristo Senhor. Páscoa é a passagem de Jesus da morte para a
vida, na qual se cumprem em plenitude as antigas profecias.
A morte do Senhor
demonstra o amor imenso com que Ele nos amou até ao sacrifício por nós; mas só
a sua ressurreição é “prova certa”, é certeza de que quanto Ele afirma é
verdade que vale também para nós, para todos os tempos. E o Apóstolo São Paulo
nos ensina na sua Carta aos Romanos: “Se confessares com a tua boca o Senhor
Jesus e creres no teu coração que Deus O ressuscitou do entre os mortos, serás
salvo” (Rm 10,9). O enfraquecimento da fé na ressurreição de Jesus consequentemente
torna-se frágil o testemunho dos crentes. De fato, se faltar na Igreja a fé na
ressurreição, tudo desmorona. Ao contrário, a adesão do coração e da mente a
Cristo morto e ressuscitado muda a vida e ilumina toda a existência das
pessoas. Certamente é a fé na ressurreição que sustentou e deu coragem aos
primeiros discípulos e também aos mártires ao longo da história. É o encontro
com Jesus ressuscitado que motivou muitos homens e mulheres, que desde o início
do cristianismo continuam a deixar tudo para O seguir e colocar a própria vida
ao serviço do Evangelho.
Esta verdade marcou
também de forma tão profunda na vida dos apóstolos que, após a ressurreição,
sentiram novamente a necessidade de continuar propagando os ensinamentos do
Mestre e, ao receberem o Espírito Santo, saíram pelo mundo inteiro, para
anunciar a todos o que tinham visto com os próprios olhos e experimentaram
pessoalmente. O mesmo pode-se dizer de São Paulo, cuja fé na ressurreição de
Cristo o levou a dizer: “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã a
nossa fé” (1Cor 15,14).
Podemos dizer ainda que
a ressurreição de Cristo, e o próprio Cristo Ressuscitado, é princípio e fonte
da nossa ressurreição futura: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos
que morreram… Do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo
serão todos restituídos à vida” (1Cor 15,20-22). Cristo verdadeiramente
ressuscitou! Não podemos reter somente para nós a vida e a alegria que Ele nos
deu na sua Páscoa, mas devemos doá-la a quantos nos são próximos. É o nosso
objetivo e a nossa missão continuar anunciando, assim como fez Maria Madalena,
que Cristo Ressuscitou e caminha conosco ao logo da vida.
Na expectativa de que
isto se realize, peçamos a intercessão da Virgem Maria, para que possamos
progredir sempre mais na fé, agora iluminada pela Ressurreição do Senhor, para
que possamos ser para todos os que encontrarmos pelo nosso caminho, mensageiros
da verdadeira luz e da alegria da Páscoa. Assim seja.
Anselmo Chagas de Paiva,
OSB
Mosteiro de São Bento/RJ
https://presbiteros.org.br/homilia-de-d-anselmo-chagas-de-paiva-domingo-de-pascoa-ano-c/
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