IX- REFLEXÃO DOMINICAL III
Homilia de Dom Henrique
Soares da Costa – XIX Domingo do Tempo Comum (Ano C)
Sb 18,6-9;Sl 32;Hb 11,1-2.8-19;Lc
12,32-48
Quando o Evangelho não nos é exigente? Quando a Palavra
de Deus não nos questiona? A Escritura diz que “a Palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que
qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir alma e espírito,
articulações e medulas. Ele julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb
4,12). A cada Domingo, fazemos experiência dessa exigência
viva e eficaz da Palavra do Senhor em nossa vida. É o caso também deste hoje.
Comecemos com a advertência consoladora e carinhosa do
Senhor Jesus: “Não
tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar-vos o
Reino”. Tão atual e necessária esta palavra! A fé cristã e a Igreja
são tão combatidas atualmente, tão incompreendidas! Cada vez mais nossa
sociedade se paganiza, cada vez mais rejeita o cristianismo, cada vez mais
fortemente apostata da fé na qual foi plasmada e cada vez menos compreende o
Evangelho e suas exigências. Com quanta força se contesta a moral cristã; com
quanta ênfase se ressalta e propaga a fraqueza desse ou daquele membro da
Igreja, sobretudo do clero… O interesse é um só: desmoralizar a Igreja como
porta-voz do Evangelho. Desmoraliza-se a Igreja para calar-se e desmoralizar-se
a moral cristã e suas exigências. Olhem o Crucificado, pensem nas suas
exigências e recordem o que o mundo pensa e diz: “Não queremos que ele reine
sobre nós!” Pois a nós, pequeno rebanho – rebanho cada vez menor -, o Senhor
exorta: “Não tenhais
medo, pequenino rebanho!” Não temais o mundo pagão, não temais
os escândalos, não temais vossas próprias infidelidades e fraquezas, não temais
os sábios da sabedoria deste mundo, que não podem compreender as coisas de Deus
(1Cor 1,21) e crucificaram e crucificam ainda o Senhor da Glória (1Cor 2,8). Não
temais ante as dificuldades da vida!
Mas, como é possível resistir? É tão grande o combate; é
tão dramática a batalha! As leituras da Missa de hoje dão-nos uma resposta
emocionante. O Livro da Sabedoria nos recorda a noite da saída do Egito. Israel
era um povinho, um bando de escravos, menos que nada, menos que ninguém… Como
suportou o sofrimento? Como se conservou fiel a Deus? Como resistiu? Como não
se dispersou? Resistiu porque colocou somente em Deu sua esperança: “A noite da libertação fora predita a
nossos pais, para que, sabendo a que juramento tinham dado crédito, se
conservassem intrépidos”. O povo de Deus, escravo no Egito,
não duvidou da promessa que Deus fizera a Abraão; o povo esperou contra toda
esperança e esperou no julgamento de Deus: “Os piedosos filhos dos bons fizeram este pacto divino:
que os santos participariam solidariamente dos mesmos bens e dos mesmos
perigos”. Um povo unido pela esperança e pela fé na Palavra de
Deus.
A segunda leitura, da Carta aos Hebreus, também nos
responde: a fé, mãe da esperança, foi a forçados amigos de Deus. “A fé é um modo de já possuir o que
ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem”. Na
fé, já possuímos; na fé, já tocamos com as mãos aquilo que o Senhor nos
prometeu e nos preparou. Foi pela fé que nossos antepassados partiram, deixaram
tudo; pela fé tiveram a coragem de viver errantes, morando em tendas, daqui
para ali… Pela fé, viveram como estrangeiros nesse mundo, colocando toda
esperança em Deus, que nos prepara uma Pátria melhor no céu; pela fé, Abraão,
nosso pai, foi capaz de sacrificar seu filho único… Pela fé deles “Deus não se envergonha deles, ao ser
chamado o seu Deus”.
Vejam, irmãos: o caminho que o Senhor nos propõe nunca
foi fácil… Somente aqueles que tiveram a coragem de se deixar, de se abandonar,
de se entregar, perseveraram até o fim. É o que o Senhor nosso, Jesus Cristo,
nos propõe hoje: “Vendei
vossos bens e dai esmola… Fazei bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu…
Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas, como homens esperando
seu senhor voltar. Ficai preparados!” Todas essas palavras nos
convidam ao desapego, à vigilância, à atitude de disponibilidade, de entrega e
esperança diante de Deus. E como tudo isso é difícil, num mundo que propõe como
ideal de vida o conforto, a fartura de bens, o individualismo, a confiança
somente no que se vê, a dispersão interior e exterior! Digam: como as crianças
podem ter amor a Deus passando horas e horas diante dos filmes e desenhos
animados pagãos? Como os adultos podem prender o coração às coisas de Deus,
empanturrando-se de dispersão, de novelas e de futilidades mundanas? Como rezar
bem se nos apegamos ao conforto desmesurado? Como manteremos nosso fervor
dispersos em mil bobagens? Como seremos realmente fortes na fé sem combater
nossos vícios? Como estaremos prontos para levar cruz na doença, nas
dificuldades da vida conjugal, no desafio da educação dos filhos, na luta do
combate aos vícios, na busca sincera de sermos retos, decentes e honestos por
amor de Cristo? Como viver tudo isso sem a vigilância? Como permanecer firmes
na fé católica sem a oração e a procura das coisas de Deus? O Senhor virá na
noite desse mundo: “E
caso chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão” se
nos encontrar vigilantes! Vigiemos, portanto!
Caríssimos, esta advertência é para todos, e de modo
especial, para nós, pastores do rebanho, a quem o Senhor constituiu “administrador fiel e prudente”.
Que não caiamos na ilusão de pensar: “Meu
patrão está demorando” e nos entreguemos à infidelidade! Não
temamos; vigiemos, sejamos fiéis até o fim! Não reneguemos o Evangelho! – Eis o
apelo do Senhor hoje!
Esta palavra vale também para os pais, servos que o
Senhor colocou à frente de sua família. Que sejam conscientes da missão que
receberam e transmitam aos seus filhos o testemunho de uma fé robusta e dos
verdadeiros valores humanos e cristãos. E possam receber a recompensa dos
servos bons e fiéis, aqui e por toda a eternidade. Amém
Dom Henrique Soares da Costa
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