sexta-feira, 8 de agosto de 2025

VII- REFLEXÃO DOMINICAL I ESPERAR É PRECISO, SABER QUANDO NÃO É PRECISO...

 

 

VII-       REFLEXÃO DOMINICAL I

ESPERAR É PRECISO, SABER QUANDO NÃO É PRECISO...

“Navigare necesse, vivere non est necesse” (Navergar é preciso, viver não é preciso). Essa frase em latim é atribuída ao general romano Pompeu (106-48 a.C.), e ele a teria dito a seus marinheiros para ordenar que, apesar da grande tormenta, deveriam partir em direção a Roma, levando o trigo carregado na Sicília, na Sardenha e na África. “No século I a.C., os romanos viviam ativamente o seu processo de expansão econômica e territorial. Na medida em que Roma se transformava em um império de dimensões gigantescas, a necessidade de desbravar os mares, se colocava como elemento fundamental para o fortalecimento de uma das mais importantes potências de toda a Antiguidade. Foi nesse contexto que o general Pompeu, por volta de 70 a.C., foi incumbido da missão de transportar o trigo das províncias para a cidade de Roma. Naqueles tempos, os riscos de navegação eram grandes, em virtude das limitações tecnológicas e dos vários ataques piratas que aconteciam com relativa frequência. Sendo assim, os tripulantes daquela viagem viviam um grave dilema: salvar a cidade de Roma da grave crise de abastecimento causada por uma rebelião de escravos, ou fugir dos riscos da viagem mantendo-se confortáveis na cidade de Sicília. Foi então que, de acordo com o historiador Plutarco, o general Pompeu proferiu essa lendária frase. De fato, a afirmação do general Pompeu surtiu bons frutos. A viagem foi realizada com sucesso e o militar ascendeu ao posto de cônsul com amplo apoio das camadas populares romanas”. (cf. Rainer Sousa, Equipe Brasil Escola). A frase foi transmitida ao longo dos séculos, a começar pelo filósofo e historiador Plutarco (46-120 d.C.) em biografia sobre Pompeu, depois pelo poeta italiano Petrarca (1304-1374), até chegar a Fernando Pessoa (1888-1935), tido por muitos como o maior poeta da língua portuguesa, ao lado de Camões. Alguns estudiosos interpretam a palavra “preciso” em sentidos diferentes nas duas orações da frase. Dizem que, da primeira vez, “preciso” significa “necessário”; mas da segunda, significa “exato”. Assim, a frase diria que navegar é necessário e viver é inexato, é uma aventura. Por isso, também a vida seria como a navegação. No evangelho, Jesus diz que é preciso esperar, mas que não se sabe até quando. A espera, nesse sentido, seria necessária; mas o tempo de espera seria indeterminado. Certa a vinda, mas incerto o momento. Isso acentua mais ainda a ideia de que esperar não é deixar o tempo passar, mas aplicar-se nos deveres e compromissos para que nada surpreenda aqueles que estão esperando. Esperança, tem esse sentido! Ter esperança não é apostar numa coisa apenas desejada, mas é acreditar que ela chegará. Por isso, a esperança tem tudo a ver com a fé. É por isso que a Carta aos Hebreus ensina: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11,1). Os que entendem isso jamais se distraem. Eles põem em prática o que Jesus diz: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater” (Lc 12, 35-36). Para esses, o sentido de “preciso” vale para a espera. É um imperativo ter esperança. Mas, o sentido de “não ser preciso” vale para a ciência do tempo da espera. Por um lado, não se sabe o tempo de espera, por isso é inexato. Mas, por outro lado, não é necessário saber o tempo da espera, porque quem espera está preparado, sem distrações, e será capaz de acolher imediatamente o que espera. O querido e saudoso Papa Francisco dizia: “O tempo pertence a Deus, mas o momento pertence ao ser humano”. Assim se pode entender que a lógica usada pelo General Pompeu; “Navegar é preciso, viver não é preciso”, com qualquer das interpretações, pode ser aplicada também às palavras de Jesus na parábola de S. Lucas, de modo a traduzirmos assim a sua formulação: Esperar é preciso, saber quando não é preciso!

Dom Rogério Augusto das Neves Bispo auxiliar de São Paulo

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