VII- REFLEXÃO DOMINICAL I
ESPERAR
É PRECISO, SABER QUANDO NÃO É PRECISO...
“Navigare necesse, vivere
non est necesse” (Navergar é preciso, viver não é preciso). Essa frase em latim
é atribuída ao general romano Pompeu (106-48 a.C.), e ele a teria dito a seus
marinheiros para ordenar que, apesar da grande tormenta, deveriam partir em
direção a Roma, levando o trigo carregado na Sicília, na Sardenha e na África.
“No século I a.C., os romanos viviam ativamente o seu processo de expansão
econômica e territorial. Na medida em que Roma se transformava em um império de
dimensões gigantescas, a necessidade de desbravar os mares, se colocava como
elemento fundamental para o fortalecimento de uma das mais importantes
potências de toda a Antiguidade. Foi nesse contexto que o general Pompeu, por
volta de 70 a.C., foi incumbido da missão de transportar o trigo das províncias
para a cidade de Roma. Naqueles tempos, os riscos de navegação eram grandes, em
virtude das limitações tecnológicas e dos vários ataques piratas que aconteciam
com relativa frequência. Sendo assim, os tripulantes daquela viagem viviam um
grave dilema: salvar a cidade de Roma da grave crise de abastecimento causada
por uma rebelião de escravos, ou fugir dos riscos da viagem mantendo-se
confortáveis na cidade de Sicília. Foi então que, de acordo com o historiador Plutarco,
o general Pompeu proferiu essa lendária frase. De fato, a afirmação do general
Pompeu surtiu bons frutos. A viagem foi realizada com sucesso e o militar
ascendeu ao posto de cônsul com amplo apoio das camadas populares romanas”.
(cf. Rainer Sousa, Equipe Brasil Escola). A frase foi transmitida ao longo dos
séculos, a começar pelo filósofo e historiador Plutarco (46-120 d.C.) em
biografia sobre Pompeu, depois pelo poeta italiano Petrarca (1304-1374), até
chegar a Fernando Pessoa (1888-1935), tido por muitos como o maior poeta da
língua portuguesa, ao lado de Camões. Alguns estudiosos interpretam a palavra
“preciso” em sentidos diferentes nas duas orações da frase. Dizem que, da
primeira vez, “preciso” significa “necessário”; mas da segunda, significa “exato”.
Assim, a frase diria que navegar é necessário e viver é inexato, é uma
aventura. Por isso, também a vida seria como a navegação. No evangelho, Jesus
diz que é preciso esperar, mas que não se sabe até quando. A espera, nesse
sentido, seria necessária; mas o tempo de espera seria indeterminado. Certa a
vinda, mas incerto o momento. Isso acentua mais ainda a ideia de que esperar
não é deixar o tempo passar, mas aplicar-se nos deveres e compromissos para que
nada surpreenda aqueles que estão esperando. Esperança, tem esse sentido! Ter
esperança não é apostar numa coisa apenas desejada, mas é acreditar que ela
chegará. Por isso, a esperança tem tudo a ver com a fé. É por isso que a Carta
aos Hebreus ensina: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a
convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11,1). Os que entendem isso
jamais se distraem. Eles põem em prática o que Jesus diz: “Que vossos rins
estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu
senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a
porta, logo que ele chegar e bater” (Lc 12, 35-36). Para esses, o sentido de
“preciso” vale para a espera. É um imperativo ter esperança. Mas, o sentido de
“não ser preciso” vale para a ciência do tempo da espera. Por um lado, não se
sabe o tempo de espera, por isso é inexato. Mas, por outro lado, não é
necessário saber o tempo da espera, porque quem espera está preparado, sem
distrações, e será capaz de acolher imediatamente o que espera. O querido e
saudoso Papa Francisco dizia: “O tempo pertence a Deus, mas o momento pertence
ao ser humano”. Assim se pode entender que a lógica usada pelo General Pompeu;
“Navegar é preciso, viver não é preciso”, com qualquer das interpretações, pode
ser aplicada também às palavras de Jesus na parábola de S. Lucas, de modo a
traduzirmos assim a sua formulação: Esperar é preciso, saber quando não é
preciso!
Dom
Rogério Augusto das Neves Bispo auxiliar de São Paulo
https://arquisp.org.br/wp-content/uploads/2025/05/Ano-49C-46-19o-DOMINGO-DO-TEMPO-COMUM.pdf
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