VIII- REFLEXÃO DOMINICAL I
O CLAMOR DE LÁZARO E O SILÊNCIO
DO RICO: UM ESPELHO PARA NOSSO TEMPO
A parábola de Jesus, no
Evangelho de Lucas deste domingo, nos apresenta um contraste gritante: um homem
rico, anônimo, vestido de púrpura e linho fino, que se banqueteia todos os
dias; e, à sua porta, um pobre com nome - Lázaro - coberto de feridas e
faminto, desejando as migalhas que caíam da mesa. Lázaro não fala, não acusa,
não protesta. Ele apenas está. Sua presença silenciosa é o apelo mudo de tantos
que, ao longo da história, vivem à margem de um mundo que celebra excessos,
enquanto muitos padecem necessidades. A cena nos provoca: quantas vezes, como o
rico, nos acostumamos a conviver com a dor alheia sem permitir que ela nos
toque? Jesus não diz que o rico foi cruel ou injusto. Seu pecado foi a
indiferença. Ele “via” Lázaro, mas escolheu não o enxergar. Seu coração se
fechou numa bolha de bem-estar, impedindo-o de ver o outro como irmão. A morte,
grande equalizadora, revela o abismo que já existia em vida: Lázaro é acolhido
no seio de Abraão, o rico permanece isolado em sua solidão. A teologia lucana
aqui é clara: a salvação não é uma questão de privilégios ou méritos, mas de
escuta da Palavra e prática da misericórdia. Abraão recorda ao rico que ele
teve Moisés e os Profetas – ou seja, a revelação de Deus estava à sua
disposição. Mas ele preferiu não escutar. O Evangelho termina com um alerta
para todos nós: se não ouvimos a Palavra, nem mesmo um milagre nos converterá.
Neste domingo, somos chamados a romper o círculo da indiferença. O nome do
pobre é Lázaro que significa “Deus ajuda”. Ele está às portas de nossas casas,
comunidades e cidades. Sua presença nos desafia: acolhemos, de fato, a Palavra
de Deus? Permitimos que ela gere frutos de compaixão em nós? A parábola não é
uma condenação, mas um convite à conversão. É Jesus batendo à porta do nosso
coração, pedindo que abramos não apenas os olhos, mas também as mãos e o
coração ao irmão que sofre. Só assim o abismo entre o céu e a terra será
vencido pela ponte da caridade.
Dom
Carlos Silva, OFMCap Bispo Auxiliar de São Paulo Vigário Episcopal para a
Região Brasilândia
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