sábado, 27 de setembro de 2025

VIII- REFLEXÃO DOMINICAL I

 

VIII-       REFLEXÃO DOMINICAL I

O CLAMOR DE LÁZARO E O SILÊNCIO DO RICO: UM ESPELHO PARA NOSSO TEMPO

A parábola de Jesus, no Evangelho de Lucas deste domingo, nos apresenta um contraste gritante: um homem rico, anônimo, vestido de púrpura e linho fino, que se banqueteia todos os dias; e, à sua porta, um pobre com nome - Lázaro - coberto de feridas e faminto, desejando as migalhas que caíam da mesa. Lázaro não fala, não acusa, não protesta. Ele apenas está. Sua presença silenciosa é o apelo mudo de tantos que, ao longo da história, vivem à margem de um mundo que celebra excessos, enquanto muitos padecem necessidades. A cena nos provoca: quantas vezes, como o rico, nos acostumamos a conviver com a dor alheia sem permitir que ela nos toque? Jesus não diz que o rico foi cruel ou injusto. Seu pecado foi a indiferença. Ele “via” Lázaro, mas escolheu não o enxergar. Seu coração se fechou numa bolha de bem-estar, impedindo-o de ver o outro como irmão. A morte, grande equalizadora, revela o abismo que já existia em vida: Lázaro é acolhido no seio de Abraão, o rico permanece isolado em sua solidão. A teologia lucana aqui é clara: a salvação não é uma questão de privilégios ou méritos, mas de escuta da Palavra e prática da misericórdia. Abraão recorda ao rico que ele teve Moisés e os Profetas – ou seja, a revelação de Deus estava à sua disposição. Mas ele preferiu não escutar. O Evangelho termina com um alerta para todos nós: se não ouvimos a Palavra, nem mesmo um milagre nos converterá. Neste domingo, somos chamados a romper o círculo da indiferença. O nome do pobre é Lázaro que significa “Deus ajuda”. Ele está às portas de nossas casas, comunidades e cidades. Sua presença nos desafia: acolhemos, de fato, a Palavra de Deus? Permitimos que ela gere frutos de compaixão em nós? A parábola não é uma condenação, mas um convite à conversão. É Jesus batendo à porta do nosso coração, pedindo que abramos não apenas os olhos, mas também as mãos e o coração ao irmão que sofre. Só assim o abismo entre o céu e a terra será vencido pela ponte da caridade.

Dom Carlos Silva, OFMCap Bispo Auxiliar de São Paulo Vigário Episcopal para a Região Brasilândia

https://arquisp.org.br/wp-content/uploads/2025/06/Ano-49C-53-26o-DOMINGO-DO-TEMPO-COMUM.pdf

Nenhum comentário:

Postar um comentário