Três tipos de vacina são apostas contra o coronavírus para 2021
Por Tisa Moraes
O Brasil deverá contar com
três tipos diferentes de vacina para imunizar toda a população contra o novo
coronavírus. Elas ainda precisam de aprovação da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) para começarem a ser usadas, porém, segundo o diretor de
ensino e pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, Luiz Fernando Reis, todas são
igualmente seguras.
Um vídeo publicado por ele -
e que teve sua veracidade confirmada pela reportagem junto à instituição - viralizou
nas últimas semanas devido à forma didática e à linguagem acessível com que
explica, para que a maior parte da população pudesse entender, as diferenças
entre as vacinas. A explicação dada pelo médico é reproduzida nesta matéria
pelo JC, também com a intenção de que mais pessoas possam adquirir conhecimento
sobre como os cientistas vêm trabalhando para garantir a saúde de todos.
De forma geral, todas as
vacinas são desenvolvidas para provocar uma resposta imunológica do organismo
em relação ao vírus SarsCov-2, que provoca a Covid-19, mas sem permitir que a
pessoa fique doente. A CoronaVac, vacina produzida pelo Butantã em parceria com
a Sinovac, por exemplo, possui o vírus inativado, que não consegue se replicar.
Quando inserida no
organismo, haverá a produção de anticorpos e a resposta celular por meio da
ação de linfócitos, que tornarão, com alto grau de probabilidade, a pessoa
imune ao novo coronavírus. Vacinas convencionais para influenza, varicela,
sarampo, caxumba e rubéola já utilizam esse tipo de tecnologia.
Já a vacina desenvolvida
pela da AstraZeneca, Universidade de Oxford e Fiocruz, bem como a da Janssen,
que não será produzida no Brasil, usam uma outra metodologia, a do vetor viral.
No vídeo, Luiz Fernando Reis explica. "Eles usam um vírus que,
normalmente, infecta humanos, chamado adenovírus, que é manipulado em
laboratório para não se multiplicar. Neste adenovírus, então, é inserido um
pedacinho do material genético do SarsCov-2", detalha.
Da mesma forma, o organismo
produzirá anticorpos e resposta celular. Essa tecnologia, contudo, nunca foi
usada em seres humanos, embora já seja empregada para imunizar animais contra
raiva e cinomose.
SEGURANÇA
A vacina da Pfizer BioNTech
e da Moderna, por sua vez, usam uma outra estratégia. Assim como na proposta de
Oxford, este imunizante busca apresentar ao sistema imune somente uma parte do
material genético do Sars-CoV-2. Porém, aqui, o RNA é envolvido em uma espécie
de capa de gordura - um lipossomo, que protege sua composição até a chegada às
células do corpo. Esta também é uma nova tecnologia, nunca usada antes.
"Todas elas são
absolutamente seguras. Nenhuma agência no mundo, seja a americana, a europeia
ou a Anvisa, no Brasil, está relaxando nos critérios de segurança. Eles estão
acelerando os processos de autorização, porque a gente precisa", alerta
Reis, que revelou ter sido voluntário no ensaio clínico realizado no Sírio
Libanês para produção da vacina da Janssen.
"Tem muita fake news
por aí. Não acreditem em nenhuma delas. Todas as vacinas que chegarem ao
mercado são seguras e a gente pode tomar. Até lá, por enquanto, nossa única
arma para diminuir a pandemia é manter distanciamento, evitar aglomeração, usar
máscara e álcool em gel. Se cuidem", completa.
Até o momento, o governo
federal tem acordos firmados para adquirir 100 milhões de doses da
AstraZeneca/Oxford para imunização de 50 milhões de pessoas e outras 46 milhões
de doses da CoronaVac para 23 milhões de vacinados. Há, ainda, memorandos de
entendimento (intenção de acordo) para aquisição de 70 milhões de doses da
Pfizer/BioNTech e 38 milhões de doses da Janssen.
Plano federal
O governo do Estado e o
governo federal divulgaram calendários distintos para vacinação contra a
Covid-19. Em âmbito nacional, a expectativa é de que as doses comecem a ser
aplicadas em meados de fevereiro em trabalhadores de saúde, pessoas a partir de
75 anos, indivíduos a partir de 60 anos que vivem em instituições de longa
permanência, população indígena que vive em terras demarcadas e povos
tradicionais ribeirinhos. Eles totalizam aproximadamente 14,8 milhões de
habitantes. Entre o segundo e terceiro meses após o início da vacinação,
pessoas de 60 a 74 anos que não vivem em instituições de longa permanência - o
equivalente a 22,1 milhões de moradores - devem começar a ser imunizadas. Já a
partir do quarto mês após início da vacinação, a prioridade será dada a pessoas
com comorbidades.
Neste grupo, que inclui
aproximadamente 12,6 milhões de habitantes, estão pessoas com diabetes
mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica,
doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos
transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave
(IMC40). Também integram a população prioritária outras 10 milhões de pessoas,
que serão vacinadas na sequência. São elas trabalhadores da educação, forças de
segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional, presos,
trabalhadores do transporte coletivo, transportadores rodoviários de carga,
pessoas com deficiência permanente severa, quilombolas e moradores de rua. Já o
grupo não prioritário é composto por cerca de 120 milhões de brasileiros
menores de 60 anos, que não estão em condição de vulnerabilidade, não atuam em
profissões essenciais e não têm comorbidades.
Plano estadual
O Plano São Paulo do governo
estadual já tem definidas as datas para início da vacinação dos grupos
prioritários, assim que a Anvisa aprovar o uso da CoronaVac. As primeiras doses
começam a ser aplicadas no dia 25 de janeiro em profissionais da saúde,
indígenas e quilombolas.
No dia 8 de fevereiro, será
a vez de pessoas a partir de 75 anos e, no dia 15, de pessoas entre 70 e 74
anos. Já a partir do dia 22, serão imunizadas pessoas de 65 a 69 anos e, no dia
1 de março, aqueles entre 60 e 64 anos.
Cada morador receberá duas
doses, com intervalo de 21 dias entre a primeira e a segunda aplicação,
totalizando 9 milhões de imunizados no Estado. Não há data prevista para início
da vacinação dos demais grupos populacionais.
Brasil tem estrutura para imunizar todos, afirma especialista
A rede robusta do sistema
público de saúde, o conhecimento acumulado no desenvolvimento de vacinas e a
experiência em promover campanhas de imunização deverão permitir que o Brasil
garanta, sem grandes dificuldades, a estrutura necessária para que todos os
brasileiros recebam as doses contra o novo coronavírus. Para tanto, só resta
haver autorização para o uso das vacinas disponíveis, bem como recursos
suficientes para aquisição de insumos como seringas e agulhas, além da retaguarda
para armazenamento dos imunizantes.
A logística tem sua
complexidade, mas, conforme desta o médico infectologista do Centro de
Contingência do Coronavírus em São Paulo, Carlos Magno Fortaleza, trata-se de
um tipo de estratégia que a saúde pública brasileira sabe articular muito bem e
há muito tempo, desde as campanhas de imunização contra a pólio, passando por
campanhas de vacinação antirrábica para cães.
"Basta lembrar que, em
2019, nós vacinamos a região toda de Bauru para febre amarela em apenas uma
semana. Naquela época, havia postos de vacina em supermercados, praças. São
alguns dos espaços que podem ser utilizados para vacinação contra a
Covid-19", exemplifica.
COBERTURA VACINAL
A previsão é de que a
vacinação no Estado comece no dia 25 de janeiro para grupos prioritários e,
segundo Fortaleza, não deve haver atrasos no cronograma para cidades do
Interior. A expectativa, segundo ele, é que aproximadamente 90% do público-alvo
seja imunizado até o fim da campanha, apesar da resistência de parte da
população e do crescimento de movimentos antivacina no País.
"Vários estudos mostram
que, depois que o indivíduo vê pessoas queridas tomarem a vacina, ele se sente
estimulado a ir também. A última pesquisa da Datafolha mostrou que 73% das
pessoas querem se vacinar e, assim que estas pessoas forem sendo imunizadas,
uma parcela considerável dos outros 27% acabará sendo encorajada", pontua.
Ainda de acordo com o médico
infectologista, a projeção inicial é de que toda a população brasileira seja
vacinada até o final do primeiro semestre de 2021, visto que, no decorrer dos
próximos meses, deve aumentar o número de vacinas disponíveis - e com registro
na Anvisa - para aquisição por parte do governo federal.
Ninguém será forçado a tomar vacina, mas pode sofrer sanções
Por decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF), a vacina contra o coronavírus será obrigatória no País,
o que não significa, contudo, que será forçada. Ou seja, a população não poderá
ser coagida a se vacinar, porém, quem não se imunizar poderá sofrer sanções,
como a de não receber benefícios ou não ter autorização para fazer viagens
internacionais.
Presidente da Seccional do
Estado de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Caio Augusto
Silva dos Santos analisa que a decisão dos ministros foi adequada e prudente,
por visar a proteção da sociedade, sem ferir direitos individuais. "Não
podemos colocar em risco a saúde de toda a coletividade em decorrência das
vontades pessoais de determinados indivíduos", frisa, salientando que a
vacina também é obrigatória para crianças e adolescentes, independentemente das
convicções filosóficas, religiosas, morais e existenciais de seus pais.
RESTRIÇÕES
Para quem se recusar a
receber as doses, poderão ser impostas medidas restritivas. No entanto, o
advogado explica que as sanções precisam respeitar os direitos garantidos pela
Constituição. Portanto, punições como impedir o indivíduo de ter acesso ao
sistema público de saúde caso contrair a Covid-19 não podem ser estabelecidas.
Como medida de comparação,
ele lembra que até mesmo presos que cometeram crimes hediondos e que cumprem
penas severas têm o direito garantido de acesso a este serviço.
"Pode ser determinado o
impedimento de receber benefícios fiscais ou de frequentar determinados
lugares, por exemplo. As vontades pessoais precisam ser respeitadas, mas não é
possível conceber que a saúde da coletividade seja colocada em risco. Também é
preciso respeitar o direito de cada um de não continuar exposto a uma doença
que pode ser evitada por meio da vacinação", completa.
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