domingo, 10 de janeiro de 2021

VACINAS

Três tipos de vacina são apostas contra o coronavírus para 2021

Por Tisa Moraes



O Brasil deverá contar com três tipos diferentes de vacina para imunizar toda a população contra o novo coronavírus. Elas ainda precisam de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para começarem a ser usadas, porém, segundo o diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, Luiz Fernando Reis, todas são igualmente seguras.

Um vídeo publicado por ele - e que teve sua veracidade confirmada pela reportagem junto à instituição - viralizou nas últimas semanas devido à forma didática e à linguagem acessível com que explica, para que a maior parte da população pudesse entender, as diferenças entre as vacinas. A explicação dada pelo médico é reproduzida nesta matéria pelo JC, também com a intenção de que mais pessoas possam adquirir conhecimento sobre como os cientistas vêm trabalhando para garantir a saúde de todos.

De forma geral, todas as vacinas são desenvolvidas para provocar uma resposta imunológica do organismo em relação ao vírus SarsCov-2, que provoca a Covid-19, mas sem permitir que a pessoa fique doente. A CoronaVac, vacina produzida pelo Butantã em parceria com a Sinovac, por exemplo, possui o vírus inativado, que não consegue se replicar.

Quando inserida no organismo, haverá a produção de anticorpos e a resposta celular por meio da ação de linfócitos, que tornarão, com alto grau de probabilidade, a pessoa imune ao novo coronavírus. Vacinas convencionais para influenza, varicela, sarampo, caxumba e rubéola já utilizam esse tipo de tecnologia.

Já a vacina desenvolvida pela da AstraZeneca, Universidade de Oxford e Fiocruz, bem como a da Janssen, que não será produzida no Brasil, usam uma outra metodologia, a do vetor viral. No vídeo, Luiz Fernando Reis explica. "Eles usam um vírus que, normalmente, infecta humanos, chamado adenovírus, que é manipulado em laboratório para não se multiplicar. Neste adenovírus, então, é inserido um pedacinho do material genético do SarsCov-2", detalha.

Da mesma forma, o organismo produzirá anticorpos e resposta celular. Essa tecnologia, contudo, nunca foi usada em seres humanos, embora já seja empregada para imunizar animais contra raiva e cinomose.

SEGURANÇA

A vacina da Pfizer BioNTech e da Moderna, por sua vez, usam uma outra estratégia. Assim como na proposta de Oxford, este imunizante busca apresentar ao sistema imune somente uma parte do material genético do Sars-CoV-2. Porém, aqui, o RNA é envolvido em uma espécie de capa de gordura - um lipossomo, que protege sua composição até a chegada às células do corpo. Esta também é uma nova tecnologia, nunca usada antes.

"Todas elas são absolutamente seguras. Nenhuma agência no mundo, seja a americana, a europeia ou a Anvisa, no Brasil, está relaxando nos critérios de segurança. Eles estão acelerando os processos de autorização, porque a gente precisa", alerta Reis, que revelou ter sido voluntário no ensaio clínico realizado no Sírio Libanês para produção da vacina da Janssen.

"Tem muita fake news por aí. Não acreditem em nenhuma delas. Todas as vacinas que chegarem ao mercado são seguras e a gente pode tomar. Até lá, por enquanto, nossa única arma para diminuir a pandemia é manter distanciamento, evitar aglomeração, usar máscara e álcool em gel. Se cuidem", completa.

Até o momento, o governo federal tem acordos firmados para adquirir 100 milhões de doses da AstraZeneca/Oxford para imunização de 50 milhões de pessoas e outras 46 milhões de doses da CoronaVac para 23 milhões de vacinados. Há, ainda, memorandos de entendimento (intenção de acordo) para aquisição de 70 milhões de doses da Pfizer/BioNTech e 38 milhões de doses da Janssen.

Plano federal

 

O governo do Estado e o governo federal divulgaram calendários distintos para vacinação contra a Covid-19. Em âmbito nacional, a expectativa é de que as doses comecem a ser aplicadas em meados de fevereiro em trabalhadores de saúde, pessoas a partir de 75 anos, indivíduos a partir de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência, população indígena que vive em terras demarcadas e povos tradicionais ribeirinhos. Eles totalizam aproximadamente 14,8 milhões de habitantes. Entre o segundo e terceiro meses após o início da vacinação, pessoas de 60 a 74 anos que não vivem em instituições de longa permanência - o equivalente a 22,1 milhões de moradores - devem começar a ser imunizadas. Já a partir do quarto mês após início da vacinação, a prioridade será dada a pessoas com comorbidades.

Neste grupo, que inclui aproximadamente 12,6 milhões de habitantes, estão pessoas com diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave (IMC40). Também integram a população prioritária outras 10 milhões de pessoas, que serão vacinadas na sequência. São elas trabalhadores da educação, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional, presos, trabalhadores do transporte coletivo, transportadores rodoviários de carga, pessoas com deficiência permanente severa, quilombolas e moradores de rua. Já o grupo não prioritário é composto por cerca de 120 milhões de brasileiros menores de 60 anos, que não estão em condição de vulnerabilidade, não atuam em profissões essenciais e não têm comorbidades.

Plano estadual

 

O Plano São Paulo do governo estadual já tem definidas as datas para início da vacinação dos grupos prioritários, assim que a Anvisa aprovar o uso da CoronaVac. As primeiras doses começam a ser aplicadas no dia 25 de janeiro em profissionais da saúde, indígenas e quilombolas.

No dia 8 de fevereiro, será a vez de pessoas a partir de 75 anos e, no dia 15, de pessoas entre 70 e 74 anos. Já a partir do dia 22, serão imunizadas pessoas de 65 a 69 anos e, no dia 1 de março, aqueles entre 60 e 64 anos.

Cada morador receberá duas doses, com intervalo de 21 dias entre a primeira e a segunda aplicação, totalizando 9 milhões de imunizados no Estado. Não há data prevista para início da vacinação dos demais grupos populacionais.

Brasil tem estrutura para imunizar todos, afirma especialista

 

A rede robusta do sistema público de saúde, o conhecimento acumulado no desenvolvimento de vacinas e a experiência em promover campanhas de imunização deverão permitir que o Brasil garanta, sem grandes dificuldades, a estrutura necessária para que todos os brasileiros recebam as doses contra o novo coronavírus. Para tanto, só resta haver autorização para o uso das vacinas disponíveis, bem como recursos suficientes para aquisição de insumos como seringas e agulhas, além da retaguarda para armazenamento dos imunizantes.

A logística tem sua complexidade, mas, conforme desta o médico infectologista do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, Carlos Magno Fortaleza, trata-se de um tipo de estratégia que a saúde pública brasileira sabe articular muito bem e há muito tempo, desde as campanhas de imunização contra a pólio, passando por campanhas de vacinação antirrábica para cães.

"Basta lembrar que, em 2019, nós vacinamos a região toda de Bauru para febre amarela em apenas uma semana. Naquela época, havia postos de vacina em supermercados, praças. São alguns dos espaços que podem ser utilizados para vacinação contra a Covid-19", exemplifica.

COBERTURA VACINAL

A previsão é de que a vacinação no Estado comece no dia 25 de janeiro para grupos prioritários e, segundo Fortaleza, não deve haver atrasos no cronograma para cidades do Interior. A expectativa, segundo ele, é que aproximadamente 90% do público-alvo seja imunizado até o fim da campanha, apesar da resistência de parte da população e do crescimento de movimentos antivacina no País.

"Vários estudos mostram que, depois que o indivíduo vê pessoas queridas tomarem a vacina, ele se sente estimulado a ir também. A última pesquisa da Datafolha mostrou que 73% das pessoas querem se vacinar e, assim que estas pessoas forem sendo imunizadas, uma parcela considerável dos outros 27% acabará sendo encorajada", pontua.

Ainda de acordo com o médico infectologista, a projeção inicial é de que toda a população brasileira seja vacinada até o final do primeiro semestre de 2021, visto que, no decorrer dos próximos meses, deve aumentar o número de vacinas disponíveis - e com registro na Anvisa - para aquisição por parte do governo federal.

Ninguém será forçado a tomar vacina, mas pode sofrer sanções

 

Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a vacina contra o coronavírus será obrigatória no País, o que não significa, contudo, que será forçada. Ou seja, a população não poderá ser coagida a se vacinar, porém, quem não se imunizar poderá sofrer sanções, como a de não receber benefícios ou não ter autorização para fazer viagens internacionais.

Presidente da Seccional do Estado de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), Caio Augusto Silva dos Santos analisa que a decisão dos ministros foi adequada e prudente, por visar a proteção da sociedade, sem ferir direitos individuais. "Não podemos colocar em risco a saúde de toda a coletividade em decorrência das vontades pessoais de determinados indivíduos", frisa, salientando que a vacina também é obrigatória para crianças e adolescentes, independentemente das convicções filosóficas, religiosas, morais e existenciais de seus pais.

RESTRIÇÕES

 

Para quem se recusar a receber as doses, poderão ser impostas medidas restritivas. No entanto, o advogado explica que as sanções precisam respeitar os direitos garantidos pela Constituição. Portanto, punições como impedir o indivíduo de ter acesso ao sistema público de saúde caso contrair a Covid-19 não podem ser estabelecidas.

Como medida de comparação, ele lembra que até mesmo presos que cometeram crimes hediondos e que cumprem penas severas têm o direito garantido de acesso a este serviço.

"Pode ser determinado o impedimento de receber benefícios fiscais ou de frequentar determinados lugares, por exemplo. As vontades pessoais precisam ser respeitadas, mas não é possível conceber que a saúde da coletividade seja colocada em risco. Também é preciso respeitar o direito de cada um de não continuar exposto a uma doença que pode ser evitada por meio da vacinação", completa.

Fonte: https://www.jcnet.com.br/noticias/geral/2020/12/744801-tres-tipos-de-vacina-sao-apostas-contra-o-coronavirus-para-2021.html

 

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