Líder servidor: como o capitão Kjaer foi crucial para salvar Eriksen
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Дмитрий Садовников, CC BY-SA 3.0 GFDL, via Wikimedia Commons
Francisco Vêneto
A missão de Simon Kjaer naquele dia estava cumprida: ele não precisava mais
permanecer em campo até o apito final
O capitão Kjaer, da seleção de futebol da
Dinamarca, foi decisivo neste sábado para salvar a vida do amigo e companheiro de
time Christian Eriksen, que sofreu um mal súbito e literalmente desabou em campo
ao final do primeiro tempo contra a Finlândia, em partida pela Eurocopa 2021.
O zagueiro de 32 anos agiu com impressionante
rapidez, autocontrole e capacidade de liderança para socorrer o meio-campista de
29 anos que lutava pela vida no gramado do estádio de Copenhague: foi ele quem correu
para prestar os primeiros auxílios, organizar um cordão humano para isolar o jogador
caído e até para dar amparo à aflita companheira de Eriksen, Sabrina Kvist Jensen.
Logo após o colapso de Eriksen, Kjaer correu
do campo de defesa até a ponta esquerda e começou imediatamente os primeiros socorros,
protegendo o pescoço do companheiro, virando-o de lado e abrindo sua boca para liberar
as vias respiratórias, caso ele estivesse sofrendo uma convulsão. Os médicos da
seleção rival, a Finlândia, chegaram em 23 segundos e, enquanto eles e os paramédicos
da partida começavam a atender o meia, Kjaer afastava os outros jogadores e organizava
um cordão humano para resguardar o mais possível a pessoa de Eriksen, reduzindo
a visibilidade da cena para os espectadores já chocados.
Ao mesmo tempo, Kjaer e o goleiro Schmeichel
acalmavam os colegas, visivelmente transtornados: alguns estavam chorando. Os paramédicos
faziam os procedimentos de reanimação cardiorrespiratória sob o olhar atento do
capitão dinamarquês, enquanto a maioria dos companheiros ficavam voltados de costas
para Eriksen, em gesto de respeito e proteção da sua privacidade perante os olhos
do planeta.
Quando Sabrina conseguiu chegar ao gramado,
cerca de 10 minutos após o mal súbito de Eriksen, o capitão e o goleiro correram
para abraçá-la e confortá-la. Sabrina e Eriksen estão juntos há quase nove anos
e têm dois filhos.
Enquanto a família, os companheiros de campo
e os torcedores da Dinamarca viviam um dos momentos mais dramáticos de toda a história
da sua seleção nacional de futebol, acompanhados ao vivo por milhões de pessoas
do mundo todo, o capitão Kjaer realizou mais um gesto próprio do líder quando os
paramédicos retiravam Eriksen do campo, de maca, coberto com panos brancos: ele
correu do meio-campo, onde estava ao lado de Sabrina, foi até o jogador que era
levado para fora do estádio, afastou o pano que cobria seu rosto e disse rápidas
palavras de encorajamento ao jogador e grande amigo, a quem ainda acompanhou até
a saída do gramado.
Após o atendimento de emergência no hospital,
Eriksen foi se recuperando e conseguiu enviar uma mensagem de tranqüilização aos
companheiros. A partida havia sido interrompida já fazia quase duas horas quando
foi enfim retomada a partir dos 42 minutos do primeiro tempo.
Mesmo com todo o impacto emocional, o capitão
Kjaer ainda fez questão de jogar o final da primeira etapa e voltar a campo para
a segunda, mas foi substituído aos 16 minutos.
A missão de Simon Kjaer naquele dia estava
cumprida: ele não precisava mais permanecer em campo até o apito final.
O técnico Kasper Hjulmand declarou que ele
próprio tinha ficado em grande dúvida sobre continuar ou não a partida: “As emoções
eram avassaladoras”.
No banco de reservas, foi a vez do corajoso
capitão ser consolado pelos companheiros e membros da comissão técnica. O líder
servidor também sabe que não precisa fingir que é de ferro: na sua vulnerabilidade,
aliás, a sua força se mostra ainda mais inspiradora.
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