Nova variante do coronavírus é identificada no Rio
Grande do Sul
O Laboratório de Microbiologia Molecular
da Universidade Feevale,
em Novo Hamburgo,
detectou uma nova variante do coronavírus no
Rio Grande do Sul, conforme comunicado emitido na segunda-feira (5) pela Rede
Corona-ômica BR-MCTI, da qual o laboratório faz parte. A descoberta ocorreu
quando os pesquisadores se dedicavam a analisar amostras coletadas nas
fronteiras do Rio Grande do Sul para tentar entender em que medida a variante Lambda (C.37)
estaria entrando em território gaúcho. Em vez de identificar a presença da
variante que se originou no Peru, depararam com mutações genéticas inéditas do
vírus.
— De Uruguaiana recebemos cerca de 30
amostras e ficamos surpresos em ver que 20 delas não se encaixavam no normal
que temos visto hoje, da variante Gama (P.1), e sim que eram genomas com
características novas, mutações inéditas e muito similares entre si — afirma
Fernando Spilki, virologista, professor da Feevale e coordenador da rede Rede
Corona-ômica BR-MCTI.
A nova variante está sendo chamada
provisoriamente de P.X, enquanto sua nomenclatura não for definida. De acordo
com o virologista, ela seguramente será P "alguma coisa", já que pode
ser considerada uma irmã da variante Gama (identificada pela primeira vez em
Manaus): ambas se originaram da linhagem B1.1.28 do vírus.
As próximas etapas do estudo se
dedicarão a identificar o local em que a nova variante se originou e se ela
representa mais ou menos perigo do que as que já circulam no Brasil, bem como
analisar em que medida anticorpos de pessoas vacinadas ou que já foram
infectadas com outras variantes do coronavírus conseguem neutralizá-la.
Estudo e descoberta
Os cientistas envolvidos na pesquisa
sequenciaram 26 genomas do vírus Sars-CoV-2, de amostras coletadas por meio do
teste de swab
nasofaríngeo no RS, entre o final de abril e a metade de
junho de 2021. Do total de amostras, 20 foram coletadas em Uruguaiana,
provenientes de caminhoneiros e acompanhantes que cruzavam a fronteira entre RS
e Argentina, quatro foram entregues pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS)
de Porto Alegre e
outras duas foram recebidas no laboratório da Feevale.
O material genético das amostras foi
primeiramente caracterizado, por meio da plataforma Pangolin, como pertencente
à linhagem B.1.1.28. Depois, foram submetidos a um novo processo, que
identificou uma série de mutações inéditas no material genético, que
caracterizam uma nova variante. As mutações características de P.1 e P.2 não
foram encontradas em nenhum dos genomas analisados no estudo.
— A descoberta não é motivo para pânico,
mas serve para vermos que é necessário fazer esse tipo de estudo, pois a
evolução do vírus não para e a gente pode encontrar novas variantes. Se ela
será mais grave, se irá e disseminar mais, só o tempo vai dizer. Continuaremos
os estudos para ver como ela se comporta — projeta Spilki.
É possível que o surgimento dessa nova
variante esteja sendo observado em tempo real, já que a equipe identificou
alguns exemplares do vírus que ainda estão trilhando seu processo evolutivo,
não tendo completado sua mutação. De acordo com Spilki, o local onde a nova
variante se originou deve ser identificado ao longo das próximas semanas,
conforme forem avançando as etapas do estudo e reunidos dados também de países
vizinhos ao RS.
— Se a variante é gaúcha, argentina ou de outro ponto do Mercosul é uma das questões que iremos avaliar ao longo do tempo. Estamos em contato com pesquisadores argentinos, trocando informações sobre os achados. Mas esse é mais um alerta para a necessidade de examinar as fronteiras, e de fato há uma consciência do Estado para essa necessidade — afirma o pesquisador.
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