"AMAR
OS INIMIGOS!"
Este é um evangelho
daqueles bem desconcertantes, porque em tempo em que se cometem crimes
horrendos que chocam a opinião pública, praticados por bandidos cruéis, há no
coração do povo um sentimento de vingança.
Um pouco pela própria
natureza humana, que diante de uma agressão pensa na vingança como forma de
punir o agressor, mas este sentimento é também calcado no coração das pessoas
pela mídia sensacionalista que mistura indignação, ódio e vingança, enfiando
tudo goela abaixo do povo que a toma como uma verdade absoluta sendo que a
proposta é sempre a mesma: eliminar a árvore, porém sem mexer em sua raiz,
eliminar o efeito sem se preocupar com a causa.
“Amai os vossos inimigos,
fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos maldizem e orai pelos que
vos injuriam” Para muitos cristãos este evangelho é difícil de ser praticado e
então o empurram para baixo do tapete, como fazemos com aquela “sujeirinha”
inoportuna, quando não queremos fazer uma faxina pra valer em nossa casa.
Primeiramente é bom que se
esclareça algo muito importante: Jesus não fez esse ensinamento a toda
multidão, mas apenas aos que o ouviam, isto é, aos seus discípulos, os mesmos
para os quais já havia dito no sermão da planície, a frase revolucionária
“Feliz os pobres porque deles é o Reino de Deus”.
Mas afinal de contas quem
é o nosso inimigo? É todo que nos faz ou nos deseja algum tipo de mal, de
pequenas ou de grandes proporções. A inimizade existe em todo lugar, escola,
trabalho, família, vizinhança, esporte, e até em lugar onde ela nunca deveria
existir: na comunidade, entre ministros, agentes pastorais, dirigentes,
coordenadores e obreiros.
Diante desse evangelho,
imediatamente pensamos nas situações críticas da sociedade onde assistimos a
confronto de classes, chacinas, extermínios, atos de violência explícita no
confronto entre nações. Então um sentimento de impotência nos domina e achamos
que nada há para se fazer a não ser rezar.
Mas a coisa mais
importante que devemos fazer, de maneira bem prática, é olharmos mais perto,
para o nosso quotidiano onde nos relacionamos com as pessoas. Que sentimentos
alimentamos, com nossos gestos, palavras e atitudes? A quem devemos ouvir e dar
razão: ao mundo que propõe a vingança e o extermínio de quem pratica o mal, ou
ao evangelho de Cristo, que nos ensina o amor, o perdão e a misericórdia?
Jesus não condena uma
pessoa que quer justiça e vingança contra alguém que lhe fez mal. Esta é uma
reação humana, perfeitamente compreensível e natural, de acordo até com um
ensinamento bíblico do Antigo Testamento, de que se deve fazer o bem a quem nos
faz o bem, e o mal a quem nos deseja o mal, é a lei do talião, olho por olho e
dente por dente, fato que acontece com o melhor e mais santo dos cristãos.
Somos homens desta terra,
descendentes e Adão e irmão de Caim, que cometeu o primeiro crime da história
ao matar seu próprio irmão Abel por ciúmes e inveja.
Porém, lembra-nos o
apóstolo Paulo na segunda leitura, o Espírito vivificante nos transformou em
Homens celestiais a partir da graça que Jesus nos concedeu, dom imerecido que
nos santifica e nos configura ao próprio Cristo, portanto capacitados para
viver na relação com o próximo, aquele único e verdadeiro amor com o qual Deus
nos ama em seu Filho Jesus.
A proposta desse jeito
novo de se relacionar é apenas para os discípulos do Senhor que hoje são todos
os que creem e são batizados, vivendo em comunidade com os irmãos e irmãs. É aí
que devemos trabalhar no sentido de superarmos na graça de Deus, qualquer
sentimento de ódio, mágoa ou vingança, contra alguém que nos fez o mal.
Da comunidade vamos para a
família e desta para o nosso ambiente de trabalho, é isso que Jesus pede de nós
nesse evangelho, pois somente nos exercitando no amor, na misericórdia e no
perdão, com as pessoas com quem convivemos, é que teremos a coragem de anunciar
o evangelho falando o contrário do que o mundo nos ensina.
Somente assim estaremos
sendo Filhos do Altíssimo, imagem e semelhança do Pai de Misericórdia que em
Jesus nos ama, jamais nos tratando segundo as nossas faltas. Na próxima quarta
feira terá início mais uma quaresma, tempo oportuno para reconhecermos que
somos imperfeitos, ainda uma imagem muito distorcida de Deus que é todo perfeição
e santidade. Dado este primeiro passo, a graça transbordante do Senhor, em um
processo dinâmico de conversão, nos configurará a Cristo, imagem perfeita do
Amor de Deus vivido com os irmãos.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
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