Js 5,9a.10-12; Sl 33; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32
Por
Dom Henrique Soares da Costa
Este Domingo hodierno marca
como que o início de uma segunda parte da Santa Quaresma. Primeiramente é chamado
“Domingo Laetare”, isto
é “Domingo Alegra-te”,
porque, no Missal, a antífona de entrada traz as palavras do Profeta Isaías: “Alegra-te,
Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de
alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações!” Um tom de esperança jubilosa
na sobriedade quaresmal! É que já estamos às portas “das festas que se aproximam”.
A Igreja é essa Jerusalém, convidada a reunir seus filhos na alegria, pela abundância
das consolações que a Páscoa da salvação nos traz! Este tom de júbilo que nasce
da esperança no Deus salvador aparece nas flores que discretamente são colocadas
hoje na igreja e na cor rosa dos paramentos dos ministros sagrados.
Depois deste Domingo, o tom
da Quaresma muda. A partir de amanhã, até a Semana Santa, quase todos os evangelhos
da Missa serão de São João. Isto porque o Quarto Evangelho é, todo ele, como um
processo entre os judeus e Jesus: os judeus levarão Jesus ao tribunal de Pilatos.
Este condená-Lo-á, mas Deus haverá de absolvê-Lo e ressuscitá-Lo! A partir de amanhã
também, a ênfase da Palavra de Deus que ouviremos na Missa de cada dia, deixa de
ser a conversão, a penitência, a oração e a esmola, para ser o Cristo no mistério
de Sua entrega de amor, de Sua angústia, ante a Paixão e Morte que se aproximam.
Em todo caso, não esqueçamos:
a Quaresma conduz à Páscoa. A primeira leitura da Missa no-lo recorda ao nos falar
da chegada dos israelitas à Terra Prometida. Eles celebraram a Páscoa ao partirem
do Egito e, agora, chegando à Terra Santa, celebram-na novamente. Aí, então, o maná
deixou de cair do céu.
Coragem, também nós: estamos
a caminho; nossa Terra Prometida é Cristo, nossa Páscoa é Cristo, nosso maná é Cristo!
Ele, para nós, é, simplesmente, tudo! Estão chegando os dias solenes de celebração
de Sua Páscoa bendita e santa!
Quanto à liturgia da Palavra,
chama-nos atenção hoje a parábola do filho pródigo. Por que está ela aí, na Quaresma?
Recordemos como Lucas começa:
“Naquele
tempo, os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para escutá-Lo. Os fariseus,
porém, e os escribas criticavam Jesus. ‘Este homem acolhe os pecadores e faz refeição
com eles’”
Então: de um lado, os pecadores,
miseráveis sem esperança ante Deus e ante os homens, que, agora, cheios de esperança
nova e alegria, aproximam-se de Jesus, que Se mostra tão misericordioso e compassivo.
Do outro lado, os homens de religião, os praticantes, que sentem como que ciúme
e recriminam duramente Jesus! É para estes que Jesus conta a parábola, para explicar-lhes
que o Seu modo de agir, ao receber os pecadores, é o modo de agir de Deus:
“O
Filho nada pode fazer por Si mesmo, mas só aquilo que vê o Pai fazer. Tudo o que
Este faz, o Filho o faz igualmente” (Jo 5,19)
Quem é o Pai da parábola?
É o Deus de Israel, o Pai de
Jesus.
Quem é o filho mais novo?
São os pecadores e publicanos.
Este filho sem juízo deixou o Pai, largou tudo, pensando poder ser feliz por si
mesmo, longe de Deus, procurando uma liberdade que não passava de ilusão. Como ele
termina? Longe do Pai, sozinho, humilhado e maltrapilho, sem poder nem mesmo comer
lavagem de porcos – recordemos que, para os judeus, os porcos são animais impuros!
Mas, no seu pecado, na sua loucura e na sua miséria, esse jovem é sincero e generoso:
caiu em si, reconheceu que o Pai é bom (como ele nunca tinha parado para perceber),
reconheceu também que era culpado, que fora ingrato, e teve coragem de voltar: confiou
no amor do Pai. Cheio de humildade, ele queria ser tratado ao menos como um empregado!
Esse moço tem muito a nos ensinar: a capacidade de reconhecer as próprias culpas,
a maturidade de não jogar a responsabilidade nos outros, a coragem de arrepender-se,
a disposição de voltar, confiando no amor do Pai! Para cada filho que volta assim,
o Pai prepara uma festa (a Páscoa) e o novilho cevado (o próprio Cristo, Cordeiro
de Deus) e um banquete (a Eucaristia) e a melhor veste (a veste alva do Batismo,
cuja graça é renovada na Reconciliação).
E o filho mais velho, quem
é? São os escribas e fariseus, são os que pensam que estão em ordem com o Pai e
não Lhe devem nada, são os que se acham no direito de pensar que são melhores que
os demais e, por isso, merecem a salvação. O filho mais velho nunca amou de verdade
o Pai: trabalhou com Ele, nunca saiu do lado Dele, mas fazendo conta de tudo, jamais
se sentindo íntimo do Pai, de tudo foi fazendo conta para, um dia, cobrar a fatura:
“Eu
trabalho para Ti a tantos anos, jamais desobedeci qualquer ordem Tua. E Tu nunca
me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos.”
O filho nunca compreendera que tudo quanto
era do Pai era seu, porque nunca amara o Pai de verdade: agia de modo legalista,
exterior, fazendo conta de tudo… E, agora, rancoroso, não aceitava entrar na festa
do Pai, no coração do Pai, no amor do Pai, para festejar com o Pai a vida do irmão!
O Pai insiste para que entre para o banquete, mas, os escribas e os fariseus não
quiseram entrar na festa do Pai, que Jesus veio celebrar neste mundo…
Quem somos nós, nesta parábola?
Somos o filho mais novo e somos também o
mais velho! Somos, às vezes, loucos, como o mais jovem, e duros e egoístas, como
o mais velho. Pedimos perdão como o mais novo, e negamos a misericórdia, como o
mais velho. Queremos entrar na festa do Pai como o mais novo, e, às vezes, temos
raiva da bondade de Deus para com os pecadores, como o mais velho! Convertamo-nos!
São Paulo nos ensinou na Epístola que, em
Cristo, Deus reconciliou o mundo com Ele e fez de nós, criaturas novas. O mundo
velho, marcado pelo pecado, desapareceu. Em nome de Cristo, Paulo pediu – e eu vos
suplico também:
“Deixai-vos
reconciliar com Deus! Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus O fez pecado –
isto é, Vítima pelo pecado – por nós, para que Nele nos tornemos justiça de Deus!”
Alegremo-nos, pois! Cuidemos de entrar na
Festa do Pai, que Cristo veio trazer: peçamos perdão a Deus, demos perdão aos irmãos!
“Como
o Senhor vos perdoou e acolheu, perdoai e acolhei vossos irmãos!”
Deixemos que Cristo nos renove, Ele que é Deus bendito pelos séculos. Amém.
https://rumoasantidade.com.br/homilia-para-o-iv-domingo-da-quaresma-ano-c/
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