De onde vem a Quaresma?
Philippe Lissac | GoDong
A observância de um período de oração, jejum e
esmola como preparação para a Páscoa remonta à época dos Apóstolos
A palavra “Quaresma” vem do latim
“Quadragesima”, em referência ao “quadragésimo dia” antes da Páscoa. Nos
idiomas de origem germânica, são utilizados derivados do termo “Lencten”
(primavera).
Nos idiomas provenientes do Latim, o
termo para designar este tempo de preparação para a Páscoa é “quadragesima”.
Por exemplo, em espanhol é “Cuaresma”, em português, “Quaresma”, em francês,
“Carême”, e em italiano, “Quaresima”.
Nos idiomas de origem germânica,
incluído o inglês (“Lent”), o nome dado à Quaresma vem de “Lencten”, que
significa “primavera”.
O sacerdote australiano do Opus Dei John
Flader, em seu livro “Question Time: 140 questions and answers on the catholic
faith” (“Hora das perguntas: 140 perguntas sobre a fé católica”), escreve que o
termo “Quaresma” se refere à estação em que o Hemisfério Norte se prepara para
a Páscoa e que acontece na primavera.
Ainda que isso não ocorra no Hemisfério
Sul, onde esse sacerdote australiano mora, ele observa que “este continua sendo
um termo apropriado, pois, se a Quaresma for bem vivida, ela representa uma
verdadeira primavera, um novo crescimento na vida espiritual”.
“Santo Agostinho – acrescenta – escreveu
que o tempo da Quaresma simboliza esta vida presente na terra, com suas
adversidades e tribulações, e que o tempo da Páscoa simboliza a alegria da vida
futura.”
A observância de um período de oração,
jejum e esmola como preparação para a Páscoa remonta à época dos Apóstolos,
ainda que, durante os primeiros séculos, se limitasse somente a poucos dias.
O Pe. Flader observa que São Leão Magno
(440-461) dizia sobre a Quaresma que “foi instituída pelos Apóstolos” e que a
Tradição sustenta que “sempre foi vivida com uma maior atenção à vida de
oração, jejum e esmola”.
“Nos primeiros três séculos, o tempo de
jejum se limitava a alguns dias, uma semana quando muito”, afirma o sacerdote.
“A primeira menção aos 40 dias foi no concílio ecumênico de Niceia (325), mas no
final do século IV o costume havia se estendido amplamente, tanto no Oriente
como no Ocidente.”
Com relação à determinação da duração da
Quaresma – 40 dias –, o sacerdote explica que se refere aos “40 dias de jejum e
oração que Cristo passou antes do começo da sua vida pública”.
As igrejas do Oriente e do Ocidente
contavam os dias da Quaresma de maneira diferente, pois no Oriente os fiéis
eram eximidos de jejuar os sábados e domingos. Além disso, a Quaresma durava um
total de 7 semanas.
O Ocidente, por outro lado, só os
domingos eram isentos e a Quaresma durava 6 semanas. No entanto, dessa forma,
os dias de jejum somavam apenas 36, não 40. “Foi no século VII – explica o Pe.
Flader – que a Quaresma começou a ter seu início 4 dias antes, com a
Quarta-Feira de Cinzas, de maneira que havia 40 dias de jejum, como na
atualidade.”
“Os domingos não estão incluídos nos 40
dias”, esclarece.
A Igreja sempre manteve a tradição de
jejuar e fazer abstinência durante a Quaresma, mas as normas se modificaram ao
longo dos séculos.
Segundo a pesquisa do Pe. Flader, as
regras do jejum se tornaram muito estritas no século V: “Só se permitia uma
refeição, no final da tarde. A carne não era permitida, nem sequer aos
domingos. A carne e o peixe – e, em muitos lugares, os ovos e produtos lácteos
– eram absolutamente proibidos”.
O sacerdote recorda que, nas igrejas
orientais, ainda são seguidas regras similares: “Não podem comer vertebrados ou
produtos derivados de vertebrados, isto é, nem carne, nem peixe, nem ovos, nem
queijo, nem leite”.
No Ocidente, no entanto, as normas
mudaram. No começo, era permitido um pequeno lanche, depois o peixe foi aceito
e, finalmente, aceitou-se também a abstinência de carne apenas na Quarta-Feira
de Cinzas e às sextas-feiras. Além disso, os produtos lácteos também foram
permitidos.
Atualmente, os católicos jejuam na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa, abstêm-se de carne nestes dias e em todas as sextas-feiras da Quaresma. O jejum, como definem os bispos dos Estados Unidos, consiste em ter uma refeição completa e dois lanches.
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