sábado, 2 de abril de 2022

SANTO AGOSTINHO: “A MISÉRIA E A MISERICÓRDIA”


Comentário ao Evangelho de São João, 33)

A Palavra de Deus deste final de semana quer aprofundar em nós uma bela inspiração que há muito, tivera santo Agostinho ao comentar o texto acima: “O Senhor condenou o pecado, não o homem. É necessário estar atento para não separar no Senhor, a verdade da bondade. O Senhor é bom e reto” (In, Comentário ao Evangelho de São João, 33).

No evangelho Jesus se encontra no monte das oliveiras. São Lucas oferece importante informação sobre o significado deste lugar para Jesus: “ Durante o dia ele ensinava no templo, mas passava as noites ao relento, no monte chamado das Oliveiras. E todo o povo madrugava junto com ele no Templo, para ouvi-lo.” (Lc 21, 37). O monte das oliveiras era lugar de intimidade com Deus para Cristo. Com certeza lembramos-nos de sua oração e angústia suprema neste monte: (Lc 39-45). Será neste ambiente teológico que acontece a cena que meditamos neste santo domingo.  Na interpretação de santo Agostinho, o monte das oliveiras ganha um significado espiritual interessante: “Jesus foi para o monte das oliveiras, ao monte dos frutos, ao monte do óleo, ao monte da unção. Podia encontrar Cristo lugar para ensinar mais celebre do que este monte? O nome de Cristo, vem da palavra grega chrisma, que traduzido significa ‘unção’”(Agostinho, 33).

O Santo teólogo nos oferece uma brilhante luz para acolhermos com o coração este evangelho. O juízo que Cristo irá empregar à mulher adúltera nasce da unção que sua união com o Pai lhe confere. Não é somente um juízo humano e sim originário do coração misericordioso de Deus.

No evangelho Jesus é posto a uma dura prova. Seus ‘opositores’, fariseus e escribas, lhe trazem um grave problema: Uma mulher surpreendida em situação de adultério para um possível julgamento de Cristo. De um lado a lei judaica determinava a lapidação para tal pecador: “ Se uma jovem virgem prometida a um homem, e um homem se deita na cidade e se deita com ela, trareis ambos à porta da cidade e os apedrejeis até que morram” (Dt 22, 23). Havia na verdade um interesse escuso, neste casuísmo judaico: Fariseus e escribas queriam na realidade que Cristo entrasse em alguma forma de contradição: Se Jesus aprovasse a lapidação, legitimava a interpretação legalista feita pelos seus opositores. Posicionando-se contra a lei, estaria também contra Moisés e contra o próprio Deus. Não seria mais reconhecido “luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Pois para judeus observantes, a Lei de era reconhecida como a “Luz”.

Jesus não entra na provocação farisaica, mas inclinando-se começa a escrever no chão. Não se sabe ao certo que traços escreveu no chão: Os padres da Igreja afirmavam que talvez tenha feito uma referência ao Jeremias: “Esperança de Israel é Deus, todos os que te abandonam serão envergonhados, os que se afastam de ti serão escritos na terra, porque abandonaram a fonte de água viva” (17,3). No entanto permanecem apenas hipóteses.

Erguendo-se diz a palavra fundamental, cheia da sabedoria e unção de Deus, mais penetrante que a ameaça das pedras que além de superar a provocação judaica, os atinge no alvo de suas consciências: “Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8, 7)! O Senhor Jesus certamente recordou naquele momento a fariseus e escribas e aos ouvintes sedentos de suas palavras que: “ não julgueis para não serdes julgados (…) Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? (Mt 7, 1-3).

Permaneceram ali, próximo ao monte das oliveiras e nas imediações do templo, Jesus e a mulher. Todos foram se retirando. No local apenas a miséria e a misericórdia. O pecador e aquele que pode perdoar os pecados. A fragilidade humana e a bondade divina. Agostinho em seu comentário diz: “ Mas ele que a pouco havia disperso os adversários dela com a voz da justiça, erguendo em direção a ela os olhos da mansidão lhe pergunta: Ninguém te condenou? Ela responde: Ninguém, Senhor. E ele: Nem eu te condeno. Nem mesmo eu, do qual pensa, que temias ser condenada, não encontrando em mim nenhum pecado. Nem eu te condeno. Mas como Senhor? Tu favorece então o pecado? Absolutamente não: Vai e de agora em diante não peques mais. O Senhor, condena o pecado, mas não o homem.” (In comentário a São João 33, 6).

Jesus ergue-se e perdoa aquela mulher. Nele também se ergue a misericórdia sobre a miséria, o perdão de Deus sobre a culpa, a Vida sobre a morte.

https://tolleleget.wordpress.com/2016/03/11/a-miseria-e-a-misericordia-santo-agostinho-in-comentario-ao-evangelho-de-sao-joao-33/

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