Comentário ao Evangelho de São João, 33)
A
Palavra de Deus deste final de semana quer aprofundar em nós uma bela
inspiração que há muito, tivera santo Agostinho ao comentar o texto acima: “O Senhor condenou o pecado, não o homem.
É necessário estar atento para não separar no Senhor, a verdade da bondade. O
Senhor é bom e reto” (In, Comentário
ao Evangelho de São João, 33).
No
evangelho Jesus se encontra no monte das oliveiras. São Lucas oferece
importante informação sobre o significado deste lugar para Jesus: “ Durante o dia ele ensinava no templo,
mas passava as noites ao relento, no monte chamado das Oliveiras. E todo o povo
madrugava junto com ele no Templo, para ouvi-lo.” (Lc 21, 37). O
monte das oliveiras era lugar de intimidade com Deus para Cristo. Com certeza
lembramos-nos de sua oração e angústia suprema neste monte: (Lc 39-45). Será
neste ambiente teológico que acontece a cena que meditamos neste santo
domingo. Na interpretação de santo Agostinho, o monte das oliveiras ganha
um significado espiritual interessante: “Jesus
foi para o monte das oliveiras, ao monte dos frutos, ao monte do óleo, ao monte
da unção. Podia encontrar Cristo lugar para ensinar mais celebre do que este
monte? O nome de Cristo, vem da palavra grega chrisma, que traduzido significa
‘unção’”(Agostinho, 33).
O
Santo teólogo nos oferece uma brilhante luz para acolhermos com o coração este
evangelho. O juízo que Cristo irá empregar à mulher adúltera nasce da unção que
sua união com o Pai lhe confere. Não é somente um juízo humano e sim originário
do coração misericordioso de Deus.
No
evangelho Jesus é posto a uma dura prova. Seus ‘opositores’, fariseus e escribas, lhe trazem um
grave problema: Uma mulher surpreendida em situação de adultério para um
possível julgamento de Cristo. De um lado a lei judaica determinava a lapidação
para tal pecador: “ Se
uma jovem virgem prometida a um homem, e um homem se deita na cidade e se deita
com ela, trareis ambos à porta da cidade e os apedrejeis até que morram”
(Dt 22, 23). Havia na verdade um interesse escuso, neste casuísmo judaico:
Fariseus e escribas queriam na realidade que Cristo entrasse em alguma forma de
contradição: Se Jesus aprovasse a lapidação, legitimava a interpretação
legalista feita pelos seus opositores. Posicionando-se contra a lei, estaria
também contra Moisés e contra o próprio Deus. Não seria mais reconhecido “luz do mundo, quem me segue não andará
nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12). Pois para
judeus observantes, a Lei de era reconhecida como a “Luz”.
Jesus
não entra na provocação farisaica, mas inclinando-se começa a escrever no chão.
Não se sabe ao certo que traços escreveu no chão: Os padres da Igreja afirmavam
que talvez tenha feito uma referência ao Jeremias: “Esperança de Israel é Deus, todos os que te abandonam serão
envergonhados, os que se afastam de ti serão escritos na terra, porque
abandonaram a fonte de água viva” (17,3). No entanto permanecem
apenas hipóteses.
Erguendo-se
diz a palavra fundamental, cheia da sabedoria e unção de Deus, mais penetrante
que a ameaça das pedras que além de superar a provocação judaica, os atinge no
alvo de suas consciências: “Quem
dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”
(Jo 8, 7)! O Senhor Jesus certamente recordou naquele momento a fariseus e
escribas e aos ouvintes sedentos de suas palavras que: “ não julgueis para não serdes julgados
(…) Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes
a trave que está no teu? (Mt 7, 1-3).
Permaneceram
ali, próximo ao monte das oliveiras e nas imediações do templo, Jesus e a
mulher. Todos foram se retirando. No local apenas a miséria e a misericórdia. O
pecador e aquele que pode perdoar os pecados. A fragilidade humana e a bondade
divina. Agostinho em seu comentário diz: “ Mas ele que a pouco havia disperso os adversários dela com
a voz da justiça, erguendo em direção a ela os olhos da mansidão lhe pergunta:
Ninguém te condenou? Ela responde: Ninguém, Senhor. E ele: Nem eu te condeno.
Nem mesmo eu, do qual pensa, que temias ser condenada, não encontrando em mim
nenhum pecado. Nem eu te condeno. Mas como Senhor? Tu favorece então o pecado?
Absolutamente não: Vai e de agora em diante não peques mais. O Senhor, condena
o pecado, mas não o homem.” (In comentário a São João 33, 6).
Jesus
ergue-se e perdoa aquela mulher. Nele também se ergue a misericórdia sobre
a miséria, o
perdão de Deus sobre a culpa, a Vida sobre a morte.
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