Em Catanduva, padre reza missa, administra a cidade e dirige um time de
futebol
Osvaldo de Oliveira Rosa é prefeito da cidade do
interior paulista e dono do Catanduva F.C, clube que disputa a quarta divisão
estadual
Ricardo Magatti
Em Catanduva, no noroeste do Estado de São Paulo, a
385 quilômetros da capital, há poucas pessoas mais conhecidas que Osvaldo de
Oliveira Rosa, 55 anos, um padre que não se limita às atividades paroquiais.
Ele é o clérigo mais famoso da cidade e, talvez por isso, tenha sido eleito
prefeito do município em 2020 pelo PSDB com 20.981 votos.
Em meio aos desafios de administrar uma
cidade de pouco mais de 100 mil habitantes, padre Osvaldo dirige o Catanduva FC,
clube que fundou em 2017 a partir de um projeto social que mantinha com 300
garotos desde 2011.
Em um aparador em seu amplo gabinete na
prefeitura da cidade, imagens de Nossa Senhora da Aparecida e outros santos
dividem espaço com troféus, copos do Palmeiras e outros itens futebolísticos, o
que demonstra quais são as prioridades de Osvaldo, um sacerdote que exerce o
ofício há 23 anos e é apaixonado por futebol. O religioso acorda cedo, reza
todos os dias missa na capela Padre
Albino e depois cumpre agenda como gestor da cidade.
Despacha de sua sala e recebe dezenas de visitas todos os dias, mas não esquece
dos assuntos ligados ao Catanduva FC. "Estou a par de tudo que
acontece", conta Osvaldo ao Estadão.
O Catanduva FC, cujo mascote é um santo, está
inscrito na Federação Paulista de Futebol (FPF) e disputa a Segundona,
equivalente à quarta divisão estadual, um campeonato pródigo em histórias
peculiares envolvendo pequenos times. Neste ano, a equipe do padre sonha em
conseguir seu primeiro acesso, ainda que o seu fundador e os dirigentes digam
que o objetivo principal é dar oportunidade para jovens talentos, desde a base,
e revelar atletas.
"Eu penso em
fazer um time bom, de qualidade, para poder revelar atletas e ter recursos no
futuro", diz. Segundo ele, o clube nasceu com caráter social. "A
intenção foi fazer com que os jovens da região pudessem mudar de vida por meio
do futebol", explica.
O clube tem como
presidente Ernesto Pedro de Oliveira Rosa, irmão de Osvaldo. Embora seja
fundado e administrado por dois párocos, a agremiação não proíbe manifestações
religiosas nem apresenta uma cartilha nesse sentido para os jogadores seguirem.
No entanto, de acordo com Osvaldo, o clube existe também para "acolher e
semear valores humanos e cristãos".
O cartola investiu
cerca de R$ 1 milhão entre gastos com as categorias de base e a montagem do
elenco profissional. "Se quiser montar um time para subir, preciso gastar
R$ 2 milhões", avisa, ciente de que ascender de divisão é um sonho
distante para o time. O plano é desenvolver as categorias de base e jogar a
Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2023. No horizonte está o pensamento de
formar jovens talentosos para lucrar com eles no futuro.
A agremiação
sobrevive com dinheiro do próprio padre e de patrocinadores. Mas o que é mais
difícil: administrar a cidade do interior paulista ou o clube? "Na
administração pública, os problemas são maiores. No time, o mais difícil é
arranjar recursos. Fazemos parcerias, temos patrocinadores. A gente tem que se
virar", observa o padre-cartola-prefeito. Ele entende que o sucesso na
gestão, seja em qual área for, passa por "princípios, metas e uma boa
equipe".
O "Santo"
estreia na segunda divisão paulista dia 22 de Abril, às 20h, contra o
Penapolense.
Prefeito eleito com apoio de Doria
Padre Osvaldo foi eleito com apoio de um
grupo de políticos ligado ao governador João Doria. O padre recebeu do PSDB o
convite para se filiar ao partido e disputar as eleições em Catanduva. A ideia
para lançar o sacerdote na política partiu de Marco Vinholi,
presidente do PSDB-SB, filho do ex-prefeito da cidade, Geraldo Vinholi, e
secretário de Desenvolvimento Regional de São Paulo. Só aceitou porque, segundo
ele, o bispo Dom Valdir Mamede lhe convenceu e sua candidatura era bem avaliada
pela população.
"Nunca tive
pretensão de entrar na política. Foi um contexto. O bispo me chamou e
apresentou uma situação. Me disse: 'Catanduva está em descrédito político muito
grande. Está com problemas sociais. Pense no bem do povo'", afirma o
prefeito, que diz estar "destravando" o município e trabalhando para
levantar a autoestima do catanduvense. Na campanha eleitoral, ele tentou
dissociar sua imagem de Doria e da família Vinholi, mas mudou a postura assim
que foi eleito.
O tucano topou o
desafio de virar chefe do Executivo municipal também porque não teve de abrir
mão das atividades como padre. "Foi um chamado por meio da igreja. Se
tivesse que largar a igreja eu não me candidataria". Insatisfeito com a
mentalidade política no País, Osvaldo não sabe se tentará a reeleição em 2024.
"A gente consegue ter mudanças pontuais. Há bons deputados, governadores, prefeitos.
Mas o sistema é complicado. O sistema é doentio", opina.
Na semana passada,
Doria visitou Catanduva pela primeira vez durante a gestão de Osvaldo e se
encontrou com o prefeito. O governador foi ao município do interior para
entregar uma unidade do Programa Creche Escola e autorizar repasse de R$ 13,5
milhões para o Hospital do Câncer da cidade.
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