sábado, 13 de agosto de 2022

A importância da pastoral familiar e da igreja doméstica

 

A importância da pastoral familiar e da igreja doméstica

Por prof. Felipe Aquino(*)

 

A Igreja valoriza muito as famílias fiéis aos ensinamentos do Evangelho, e que dão um testemunho da beleza do matrimônio indissolúvel e fiel para sempre. A família é a “igreja doméstica” (LG, 11), sinal na terra do mistério da Santíssima Trindade. “É aqui que se aprende a tenacidade e a alegria no trabalho, o amor fraterno, o perdão generoso e sempre renovado, e sobretudo o culto divino pela oração e pelo oferecimento da própria vida” (Catecismo n. 1657). Pelo sacramento do matrimônio, cada família torna-se um bem para a Igreja, porque o amor vivido nas famílias é uma força permanente para a vida da Igreja. Os frutos da vida familiar tornam insubstituível a vocação da família, tanto para a Igreja como para a sociedade inteira.

A paróquia é o principal agente da pastoral familiar. Para uma pastoral voltada para as famílias, é necessário formar bem os presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas, catequistas e agentes pastorais. O Sínodo sobre a família constatou que “os ministros ordenados carecem, habitualmente, de formação adequada para tratar dos complexos problemas atuais das famílias”.

Os seminaristas deveriam ter acesso a uma formação sobre namoro e matrimônio, não se limitando à doutrina. É preciso garantir um amadurecimento, durante a formação, para que os futuros ministros possuam o equilíbrio psíquico que a sua missão lhes exige. Ao longo da sua vida pastoral, o sacerdote encontra-se sobretudo com famílias.

Como melhorar a pastoral familiar?

Da mesma forma é preciso formar agentes leigos de pastoral familiar, com a ajuda de psicopedagogos, médicos, assistentes sociais, advogados de família e outros. Uma boa preparação pastoral é importante nos casos especiais de
violência doméstica e abuso sexual.

A pastoral familiar deve guiar os noivos no caminho de preparação para o matrimônio, levá-los a descobrir o seu valor e a sua riqueza, a alegria de uma união plena e que dá à sexualidade o seu sentido maior, promovendo o bem dos filhos com amadurecimento e educação.

É necessário lembrar a importância do cultivo das virtudes. Na preparação para o matrimônio não pode faltar a iniciação cristã, fortalecendo o matrimônio com o batismo e os outros sacramentos. É necessário dar aos noivos um renovado anúncio do querigma – Cristo ressuscitado, nosso único Salvador – preparando-os a receber com as disposições necessárias o sacramento do matrimônio. São muito úteis para isso os grupos de noivos e palestras sobre vários temas que ajudem os jovens a viver a fé católica e amar a pessoa com quem vão se casar.

É preciso lembrar que os que chegam melhor preparados ao casamento são aqueles que aprenderam dos seus pais o que é um matrimônio cristão. Os noivos precisam ser preparados também para verificar as possíveis incompatibilidades e riscos, afim de não insistirem num relacionamento que possa levá-los a um previsível fracasso que terá consequências muito dolorosas. O deslumbramento inicial leva a procurar esconder ou relativizar muitas coisas, evitar as divergências, adiando as dificuldades para depois.

Amor é decisão

Os noivos devem ser orientados a expressar um ao outro o que cada um espera do matrimônio, isso leva-os a entender que somente a atração mútua não será suficiente para sustentar a união. Amar o outro, mais do que um sentimento é uma decisão. Diante das deficiências do outro, será necessário aceitar com vontade firme algumas renúncias, enfrentar os momentos difíceis e as situações de conflito com serenidade e fé em Deus.

Infelizmente, muitos chegam às núpcias sem se conhecer. Limitaram-se a divertir-se juntos, a fazer experiências juntos, mas não enfrentaram o desafio de se manifestar a si mesmos e apreender quem é realmente o outro, a história da sua vida, seus valores, seus problemas etc. Quando isso acontece, não é raro que se assustem com o comportamento do outro depois de casados. É preciso que sejam orientados a se revelarem mutuamente, com sinceridade, sem camuflar a realidade.

A preparação dos noivos e o seu acompanhamento deve mostrar-lhes que o matrimônio não é o fim do caminho, mas o começo de uma vocação, uma missão, que deve ser realizada com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis. Para isso, ajuda os recursos práticos, os conselhos bem encarnados, estratégias tomadas da experiência, orientações psicológicas, bons testemunhos etc. E nunca se deve esquecer de lhes propor a confissão sacramental, que permite colocar os pecados e os erros da vida passada e da própria relação sob o perdão misericordioso de Deus e da sua força curadora.

Na celebração do matrimônio, o amor deve estar acima de tudo

Um aspecto a ser observado é a preparação da celebração; muitas vezes, os noivos chegam exaustos ao casamento por causa das providências das festas, em vez de dedicarem o melhor das suas forças a preparar-se como casal para o grande passo que, juntos, vão dar. O Papa Francisco pede:

“Queridos noivos, tende a coragem de ser diferentes, não vos deixeis devorar pela sociedade do consumo e da aparência. O que importa é o amor que vos une, fortalecido e santificado pela graça. Vós sois capazes de optar por uma festa austera e simples, para colocar o amor acima de tudo.”

Os agentes pastorais e toda a comunidade podem ajudar para que esta prioridade se torne a norma e não a exceção.

Na preparação mais imediata, os noivos precisam entender os sentido da celebração litúrgica e viver o significado de cada gesto. A união deles simboliza, na terra, a união de Cristo com sua Esposa, a Igreja (Ef 5,25). É necessário salientar que aquelas palavras que eles dizem na celebração implicam o futuro: “até que a morte vos separe”. O sentido do consentimento mútuo são promessas a serem mantidas. A honra à palavra dada e a fidelidade à promessa não se podem ser quebradas. É um compromisso que dura a vida inteira. Os efeitos da celebração matrimonial
continuam por toda a vida do casal.

A meditação das leituras bíblicas enriquecem a compreensão do significado das alianças que trocam entre si. Não é bom chegarem ao matrimônio sem ter rezado juntos, um pelo outro, pedindo ajuda a Deus para serem fiéis e generosos, consagrando o seu amor diante duma imagem de Maria. Jesus disse: “Sem Mim nada podeis fazer” (João 15,5).

Momentos de oração

É preciso dizer-lhes que sem a ajuda da oração os noivos não manterão o amor e a fidelidade conjugal. Quem os acompanha na preparação do matrimônio deveria orientá-los para que saibam viver esses momentos de oração, que lhes podem fazer muito bem.

Frequentemente, o celebrante tem a oportunidade de se dirigir a uma assembleia formada por pessoas que participam pouco na vida da Igreja ou pertencem a outra confissão cristã ou comunidade religiosa. Trata-se, pois, duma preciosa ocasião para anunciar o Evangelho de Cristo.

As famílias cristãs são, pela graça do sacramento nupcial, os sujeitos principais da pastoral familiar, sobretudo oferecendo o testemunho dos cônjuges e das famílias, igrejas domésticas. A Igreja, que prega sobre a família, é, como Jesus, “sinal de contradição”, que condena todas as ameaças que hoje são lançadas contra a família: aborto, eutanásia, adultério, casamento de pessoas do mesmo sexo, famílias alternativas etc.

Não basta uma genérica preocupação pela família nos grandes projetos pastorais para que as famílias possam ser sujeitos cada vez mais ativos da pastoral familiar, é necessário um esforço evangelizador e catequético dirigido à família.

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(*)Professor Felipe Aquino é viuvo, pai de cinco filhos. Na TV Canção Nova, apresenta o programa “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos”, na Rádio apresenta o programa “No Coração da Igreja”. Nos finais de semana prega encontros de aprofundamento em todo o Brasil e no exterior. Escreveu 73 livros de formação católica pelas editoras Cléofas, Loyola e Canção Nova. Página do professor: www.cleofas.com.br e Twitter: @pfelipeaquino


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