sábado, 24 de setembro de 2022

A PASTORAL DA PALAVRA (I)

 

A PASTORAL DA PALAVRA (I)

Introdução

A pastoral da palavra corresponde à Igreja pela sua própria constituição. Desde o Concílio Vaticano II a eclesiologia tem aprofundado a dimensão sacramental do mistério da Igreja. O sacramento traz consigo a conjunção do gesto com a palavra, do mesmo modo que na história da salvação e em Cristo, seu acontecimento central, as palavras sempre estiveram iluminando o sentido dos acontecimentos. A Const. Dei Verbum insistiu nesta conjunção do fato e da palavra na progressiva auto-revelação de Deus. A ação pastoral da Igreja, que continua na história sendo mediação da doação de Deus, tem a palavra como um dos elementos que a constituem. Os gestos e as ações podem ser ambíguos, sujeitos de diversas interpretações; a palavra oferece o sentido exato da ação, interpreta-a, dá a sua autêntica intencionalidade.

Porém, falar de palavra na Igreja não é possível à margem da Palavra com maiúscula que sustenta e faz viver à própria Igreja. Antes que missão, a palavra na Igreja é dom. Sua voz não quer ser senão o eco de outra palavra que foi pronunciada nela e que ressoou no fundo do seu ser.

Para falar da palavra na Igreja é necessário fazer uma primeira referência à revelação de Deus que foi acolhida na fé da Igreja e a cujo serviço ela mesma vive. Por isso entre a Palavra e o ser da Igreja há relações múltiplas e variadas. Mais ainda, devemos falar da Igreja como o lugar onde hoje essa Palavra continua ainda ressoando para o mundo e continua chamando e convidando o homem para participar do mistério divino. De fato, a fé é resposta ao Deus que se nos revelou e a Igreja foi convocada e cresce pelo anúncio do Evangelho.

Num segundo momento temos que falar da Palavra situada na ação pastoral da Igreja. A principal manifestação da Palavra na ação pastoral da Igreja é, sem dúvida, aquela que acompanha o testemunho crente, explica-o e interpreta-o, e faz dele chamada evangelizadora para os homens e o mundo. Para essa Palavra deve ir dirigida toda esta pastoral. O restante das ações pastorais têm como objeto o fato de que a Igreja continue sendo medianeira da salvação para o mundo, continue sendo o lugar onde a Palavra se pronuncia, significa, dá sentido ao mundo e produz nele os seus frutos.

Para garantir essa Palavra que se identifica com sua missão, a Igreja também tem seus meios e suas estruturas. Agora vamos deter-nos em dois que podem ser origem de muitos outros: a formação permanente como palavra meditada e a pregação homilética.

1 – Revelação e Palavra

Aqui repetiremos algumas noções básicas da teologia fundamental e da eclesiologia para fundamentar nessa mútua relação os imperativos que devem acompanhar toda pastoral da palavra.

a. As distintas presenças de Deus na Igreja

A palavra de Deus na vida da Igreja se situa no seio de outras muitas presenças. Falamos de Deus presente na criação e descoberto na contemplação de suas maravilhas, falamos de Deus presente nos acontecimentos e descobrimos sua ação perscrutando os sinais dos tempos, falamos de Deus presente no homem que é sua imagem e o manifestamos respeitando-o  e no comportamento fraterno; no interior mesmo da Igreja falamos da presença de Deus na comunidade reunida em seu nome, de sua vontade manifestada no serviço da hierarquia, de sua ação santificadora na celebração sacramental e, de modo especial, falamos da presença real de Cristo nas espécies eucarísticas.

Nenhuma dessas presenças é alheia à presença em sua própria palavra, dada ao longo da história; e mais ainda, foi esta mesma Palavra que nos levou a descobrir Deus em outras realidades.

b. A revelação como fato dinâmico de autocomunicação de Deus

A história da revelação é a história da autocomunicação de Deus ao homem e seu resultado é a vida.

Ao longo dos tempos, Deus saiu ao encontro do homem para oferecer-lhe sua comunhão. Sua Palavra representou a oferta de uma comunhão na qual o homem pode encontrar sua verdade última, o caminho de sua realização humana e da salvação integral à qual ele aspira.

Conseqüentemente, Deus ao revelar-se, doa-se. O que Ele comunica não é a sua compreensibilidade, mas sua vida e sua comunhão como oferta ao homem. E o homem, mais que compreender ao receber sua Palavra, encontrou novas possibilidades de vida, encontrou a própria vida. A revelação de Deus não é alheia à revelação do próprio mistério do homem. Na revelação, conhecemos também o ideal de homem que desde sempre Deus tinha projetado.

A partir da Palavra de Deus pronunciada na criação que faz surgir a vida até a Palavra definitiva dada na manhã da Páscoa que faz surgir a vida nova, toda a história da Revelação está unida a uma vida que é diferente se se aceita ou se se rejeita. Deus vai se revelando como possibilidade para o homem de uma forma diferente de viver que leva à plenitude do mesmo ser humano. Quem recebe sua palavra se encontra com a realidade de ser filho de Deus.

c. Cristo, plenitude da Palavra e inesgotabilidade de sua Palavra

Por isso, o acontecimento de Cristo, por ser a manifestação última do Filho e da Palavra, é a plenitude da revelação. O Deus que se havia revelado de diversas formas e maneiras ao longo dos séculos, no Filho se manifestou definitivamente.

A Palavra de Cristo, revelando o rosto de Deus, foi assegurando as possibilidades de um mundo novo no qual Deus, reconhecido como Pai, torna possível a fraternidade entre os homens. A comunhão de Deus oferecida em sua Palavra faz surgir a comunhão entre os homens como realidade e como vocação dos que o receberam.

Em Cristo Deus nos disse tudo o que tinha para dizer, deu-se a nós definitivamente. Ele é a plenitude da Revelação e toda palavra nova não será senão aprofundamento na Palavra dada. A pretensão de Cristo em sua história foi a de dizer ultimamente quem era Deus e manifestar assim a vida à qual somos chamados e a qual estamos destinados. Essa vida é, primeiramente, o dom de um Pai que nos ama. Cristo mesmo fez de sua vida a manifestação desse amor que acolhe e perdoa, que congrega e une, que devolve ao homem a dignidade perdida, que denuncia as situações de mentira e de injustiça no mundo, que anuncia um futura de esperança possível, que é capaz até de dar pelo homem a própria vida.

d. A Palavra eternizada pelo mistério pascal

Se em Deus palavra e vida se mesclaram na história de sua revelação, a vida do Ressuscitado é a última Palavra pronunciada por Ele.

Com ela, começou o tempo definitivo. A Páscoa se converte no acontecimento da autentificação do Filho, da aparição da Igreja e do futuro do mundo.

– A pretensão do Jesus histórico foi selada com o selo da autenticidade na manhã da Páscoa. Dando-lhe a vida, o Pai ratificou a sua Palavra como Palavra de vida. O que dizia era verdade. Porém a vida do Ressuscitado tem como componente novo o que está sentado à direita do Pai. A Palavra entrou na esfera de Deus e se eternalizou no tempo. O mistério pascal converteu a palavra do tempo em Palavra eterna, a palavra concreta em palavra universal, a palavra do amigo em palavra do Senhor, a palavra do homem em palavra de Deus. Agora, o que disse Jesus, converteu-se na palavra que Deus queria dizer a todos sempre e para sempre.

– O mistério pascal é também inseparável do mistério de Pentecostes e do mistério da Igreja.  Mais ainda, eles são também componentes da Páscoa. Graças à ação do Espírito, princípio de missão e testemunho apostólico, a palavra do Ressuscitado aparece unida à missão de uma Igreja que a conserva íntegra, a pronuncia no tempo, vive de sua escuta e meditação e a transmite de geração em geração até que o seu Senhor volte. A Igreja surge, assim, como servidora da Palavra e sua tarefa central é o anúncio do Evangelho com a integridade de seu testemunho, cumprindo o mandato de Cristo.

– A Palavra que a Igreja serve em sua ação pastoral tem como destinatário o mundo. Ela é capaz de fazer novas todas as coisas. Com o acontecimento pascal o mundo se abriu para um futuro de ressurreição para o qual vive a Igreja e que será dom escatológico do Pai. A palavra que a Igreja anuncia não é alheia à construção deste mundo, mas a implica e a compromete. A palavra da Igreja é anúncio e denúncia, palavra profética que é pronunciada para que o Reino de Deus seja semeado e fermente a complexidade das realidades mundanas. A pastoral da Palavra está inseparavelmente unida à pastoral do compromisso e do testemunho eclesial em meio às realidades temporais.

e. Palavra iluminadora da situação atual

O que nos foi dito em Cristo é luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo (cf. Jo 1,9). A Igreja vive para que sua palavra seja luz que chega a todas as situações e realidades humanas e as salve.

Sua função servidora da Palavra no aqui e agora da história é possível graças à presença do Espírito que revela e leva ao conhecimento total de Cristo (cf. Jo 15,12-15), que faz d’Ele resposta à problemática e à situação de todos os homens.

A história da Revelação foi uma revelação progressiva de Deus até chegar a Cristo. Hoje a história da Igreja é aprofundamento progressivo naquilo que em Cristo já nos foi dado para torná-lo vida e razão para viver de todos os homens. A plenitude da Revelação nos supera e nos transcende; a tarefa da Igreja é penetrar paulatinamente nela para ir descobrindo sua riqueza e para fazer viver a partir dela todos os que recebem seu Evangelho.

f. Os diversos carismas e a palavra

Cada ministério e cada carisma na Igreja serve à Palavra a partir de sua especificidade.

A uns corresponde o cuidado da Palavra, sua transmissão íntegra, sua proclamação autorizada, sua atualização celebrativa; a outros o seu modo de pronunciá-la é torná-la vida e testemunho no meio das mais variadas circunstâncias humanas, mostrá-la como razão da própria esperança, como fonte do mais diverso compromisso. Para todos a Palavra é fonte; em todos a Palavra ressoa; na complementaridade e na comunhão das diversas tarefas Deus continua falando e dizendo a palavra em Cristo para todos os homens e para toda a história.

2 – A Palavra de Deus na Igreja e para a Igreja

O estudo da função do anúncio tem seu ponto de partida numa reflexão teológica sobre o significado da Palavra de Deus na Igreja e para a Igreja, passando por uma análise do conteúdo e das diversas formas do anúncio até chegar, finalmente, às questões práticas sobre o desenvolvimento da pregação.

a. A teologia do anúncio

«Uma comunidade religiosa que deixasse de pregar, não poderia ser a verdadeira Igreja de Cristo».

Esta afirmação bastante categórica chama a atenção sobre a importância da Palavra de Deus na Igreja. O constitutivo essencial do ministério profético é a Palavra de Deus, realidade primeira da economia da salvação. Com sua palavra Deus não só fala, mas age, não só revela, mas se torna presente.

No que se refere ao papel que a pregação tem de levar ao encontro da fé, já conhecemos as palavras de S. Paulo de que «a fé vem de ouvir a pregação» (Rm 10). Esta afirmação guarda todo seu valor, na medida que o caminho psicológico para se alcançar a fé passa normalmente pela fé. No entanto, a pregação da Igreja por si só não é o fundamento absoluto da certeza obtida pela fé.

O papel da pregação eclesiástica: ser um serviço em favor da palavra (cf. At 6,4); a pregação é só um intermediário dessa mesma palavra, que empresta sons à Palavra de Deus e convita a pessoa humana a assumir uma posição. A parte que lhe toca é a de estabelecer o encontro do homem com Deus, preparando o caminho para a fé como instrumento que dispõe a ela; não lhe corresponde criar a fé nem torná-la operativa. A causa da atuação da fé é, e continua sendo, em primeiro lugar Deus e, em segundo lugar, o homem que, usando a própria liberdade, acolhe o convite divino. Portanto, a pregação não é, nem mais nem menos, que um serviço intermediário, a favor daquilo que, em última instância, se realiza entre Deus e a alma do homem.

A Palavra de Deus não é só uma ação, mas também uma revelação dirigida aos homens para despertar neles um ato pessoal de obediência e para manifestar certos conteúdos vitais de verdade. Dinamicamente a Palavra de Deus incomoda, interpela, descobre, noeticamente ilumina, desenvolve e, por isso, podemos falar de diversos tempos dialéticos da Palavra de Deus e do ministério profético.

b. Formas de anúncio

1. O anúncio missionário (o kerigma)

A primeira forma do anúncio é a «pregação missionária», o kerigma, que tem como finalidade anunciar a fé e solicitar a conversão. No seu significado pleno, o Kerigma é o anúncio atual e historicamente determinado da Palavra de Deus na Igreja, por parte de quem, a partir de Deus, tem o poder de dar testemunho. Temos uma confirmação recente desta verdade na Encíclica Redemptoris missio de João Paulo II:

« A tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, particularmente, do nosso é a de dirigir o olhar do homem e orientar a consciência e experiência da humanidade inteira para o mistério de Cristo» (RM 4)

Característica do Kerigma é sua forma concreta e histórica de «acontecimento» e «momento» presente: o anúncio se torna salvação para quem o acolhe. Por meio do kerigma se proclama eficazmente a presença da salvação na comunidade, com outras palavras, o kerigma torna Cristo presente na comunidade e constrói assim a comunidade enquanto tal.

Da natureza do kerigma derivam algumas exigências essenciais: a exigência de expressar o núcleo e o fundamento da salvação; a exigência de um anúncio que não utiliza palavras eruditas nem ideologias. Nesse sentido convém observar o que fala a RM 44 (cf.).

evangelização é o ministério que apresenta a Palavra de Deus como uma palavra poderosa e que salva, que suscita a fé e a adesão pessoal de forma nuclear e totalizante. A evangelização anuncia o Evangelho de Jesus Cristo como kerigma, ou seja, como boa notícia com a finalidade de fundamentar a comunidade cristã mediante a conversão que conduz ao Batismo. Está dirigida aos batizados não praticantes que deixaram de crer, aos praticantes adultos não iniciados e às crianças e aos adolescentes batizados, que devem ratificar a sua fé adulta.

Entendido deste modo fica claro que o kerigma não se dirige somente aos pagãos. A fé não é uma realidade que o homem conquista uma vez por todas e logo a guarda como propriedade, mas um processo existencial, isto significa que é preciso aprofundar sempre de forma renovada: a fé está sempre in fieri. É preciso acrescentar que este anúncio missionário não é só tarefa da hierarquia, mas toda a comunidade dos fiéis tem a obrigação de tomar parte nesta função básica da Igreja.

A mensagem fundamental do cristianismo deve ser anunciada de modo que o conteúdo seja breve. No cristianismo primitivo existiam estas formulações breves e hoje também nos esforçamos por formular novos símbolos de fé breves e compreensíveis para o homem atual.

A finalidade que caracteriza a evangelização, tanto como função específica quanto como dimensão que deveria estar presente em qualquer uma das funções desempenhadas pela Igreja, permanece sempre a de «fundamentar ou re-fundamentar a fé». Fundamenta-se a fé quando ela alcança uma pessoa que escuta pela primeira vez o anúncio de Cristo Salvador; re-fundamenta a fé quando provoca uma vida cristã mais intensa numa pessoa que perdeu a fé, ou que nunca chegou a uma fé consistente, responsável, viva.

Um tema que se discutiu muito nos últimos tempos é o da metodologia e da linguagem da evangelização. A solução deste problema é intrinsecamente teológica e espiritual mais que questão de táticas. Porém é preciso lembrar que o problema da linguagem é um dos mais graves. Dele se fala desde muito tempo, porém ainda não foi resolvido. A dificuldade da linguagem da evangelização nasce por um lado, de uma nova mentalidade cultural e, por outro, o famoso problema da inculturação.

O problema essencial que a evangelização está chamada a resolver diz respeito à alternativa entre a auto-salvação, ligada à imanência, e a heterosalvação, expressão da transcendência. O homem moderno parece resistir à simples idéia de uma salvação que proceda «de fora e do alto».

sujeito da evangelização é a Igreja inteira: «A missão compete a todos os cristãos» (RM 2), isso quer dizer que todo cristão-bispo, sacerdote, leigo, religioso tem a obrigação de evangelizar. Esta obrigação não está ligada a um mandato jurídico, mas brota diretamente da fé e dos sacramentos da iniciação cristã.

ouvinte da mensagem cristã é o homem que se pergunta sobre realidades que a mensagem cristã tem as únicas respostas que podem satisfazer o coração inquieto do homem. A mensagem que é anunciada é a graça de Deus que nos precedeu e que desse modo nos tornou capazes de sermos ouvintes da sua Palavra. O conteúdo da pregação missionária é sempre o acontecimento da redenção e não uma metafísica ou um sistema cognoscitivo qualquer.

2. A pregação comunitária

Quando a pregação missionária alcança seu objetivo, ou seja, a conversão do indivíduo mediante sua inserção na Igreja, entra em jogo a pregação dentro da comunidade (didaché). Se a pregação missionária orienta a pessoa para Deus e para a Igreja, a pregação comunitária a une com Deus e com a Igreja.

Durante a pregação a «Palavra de Deus interior» precede logicamente a qualquer ação humana. Rahner a chama de «Palavra de Deus transcendente». Esta graça ajuda a aceitação livre e pessoal da Palavra e da própria fé na Igreja. Por isso, o primeiro que deve refletir em toda pregação é a fé da Igreja e do pregador. No NT, especialmente em Paulo, a Palavra como portadora da salvação ocupa o primeiro lugar (cf. At 6,4; 1Cor 1,17). A Igreja é, em princípio, Igreja da Palavra.

Por outro lado, a Palavra de Deus chega aos homens através de palavras humanas e pode ser chamada «palavra de Deus categorial» .

O anúncio, ou seja, a pregação, tem sua lógica interna. Um primeiro critério pastoral poderia ser que a pregação cristã não é algo meramente objetivo, não é uma coisa puramente estática e histórica mas algo antes de tudo existencial, pessoal e atual. Esta dramaticidade da Palavra é o conteúdo da pregação: ela não pode limitar-se, portanto, ao ensinamento doutrinal, aos mandamentos, às proibições, mas deve ser em si mesma um acontecimento gozoso e feliz. Inclusive na forma a pregação deve ser um acontecimento dinâmico. A pregação fala da realidade, por isso deve partir dos fatos, de eventos, adotar parábolas e exemplos, utilizar frases breves com tonalidade cálida e pessoal. O conteúdo e o portador de toda palavra é uma Pessoa, Jesus Cristo ressuscitado, razão pela qual toda pregação é um acontecimento pascal. Cristo não é uma pessoa do passado, mas o ressuscitado que vive, e isto é algo que afeta todo tempo, isto é, supõe uma palavra válida para todas as circunstâncias.

A pregação comunitária tradicionalmente ganha corpo em várias expressões que desde a antiguidade formam o estilo da pregação cristã:

a. Catequese ou «Didaché»

Tipo de pregação originariamente destinada aos adultos que se preparavam para receber o Batismo. Tratava-se, podemos dizer, de um aprofundamento do Kerygma, com o objetivo de dar embasamento à fé do catecúmeno, despertada a partir do primeiro anúncio.

b. Didascália

Consiste num aprofundamento nas verdades de fé, buscando fundamentar e explicitar ainda mais a fé, buscando aprofundar e explicitar ainda mais a fé brotada a partir do kerygma e aprofundada pela catequese.

c. Parenese

Nome dado à pregação cujo conteúdo está voltado para as exigências morais da vida cristã.

d. Homilia

Tipo de pregação com características próprias. É aquela oratória (arte de falar persuasivamente) sagrada que surgiu ainda na Igreja primitiva, a partir das celebrações litúrgicas. No sentido original supõe o kerygma e a catequese, já no sentido habitual é a explanação que se faz, durante a missa ou outra celebração litúrgica, a partir do texto escriturístico (cf. SC 35) que tenha relação com o mistério que se celebra e venha ao encontro das necessidades dos fiéis que a ouvem.

Falando do sentido litúrgico da homilia a Sacrosanctum Concilium determina que « as rubricas indiquem o momento mais apto para a pregação, que é parte da ação litúrgica» (cf. n. 35).

Do ponto de vista técnico na homilia se distinguem duas funções litúrgicas importantes:

1° – ser aplicação da mensagem ao aqui e agora da vida humana, pois a mensagem da Escritura tem uma atualidade;

2° – ser ponte entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Ela não é um ato isolado, mas está inserida na celebração (cf. SC 35, 2).

(Continua no próximo Domingo)

3 – A Pregação desde o Início da Igreja até o Concílio Vaticano II

https://presbiteros.org.br/manual-de-homiletica/

 

 

 

 

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