A PASTORAL DA PALAVRA (I)
Introdução
A
pastoral da palavra corresponde à Igreja pela sua própria constituição. Desde o
Concílio Vaticano II a eclesiologia tem aprofundado a dimensão sacramental do
mistério da Igreja. O sacramento traz consigo a conjunção do gesto com a
palavra, do mesmo modo que na história da salvação e em Cristo, seu
acontecimento central, as palavras sempre estiveram iluminando o sentido dos
acontecimentos. A Const. Dei Verbum insistiu nesta conjunção
do fato e da palavra na progressiva auto-revelação de Deus.
A ação pastoral da Igreja, que continua na história sendo mediação da doação de
Deus, tem a palavra como um dos elementos que a constituem. Os gestos e as
ações podem ser ambíguos, sujeitos de diversas interpretações; a palavra
oferece o sentido exato da ação, interpreta-a, dá a sua autêntica
intencionalidade.
Porém,
falar de palavra na Igreja não é possível à margem da Palavra com maiúscula que
sustenta e faz viver à própria Igreja. Antes que missão, a palavra na Igreja é
dom. Sua voz não quer ser senão o eco de outra palavra que foi pronunciada nela
e que ressoou no fundo do seu ser.
Para
falar da palavra na Igreja é necessário fazer uma primeira referência à
revelação de Deus que foi acolhida na fé da Igreja e a cujo serviço ela mesma
vive. Por isso entre a Palavra e o ser da Igreja há
relações múltiplas e variadas. Mais ainda, devemos falar da Igreja como o lugar
onde hoje essa Palavra continua ainda ressoando para o mundo e continua
chamando e convidando o homem para participar do mistério divino. De fato, a fé
é resposta ao Deus que se nos revelou e a Igreja foi convocada e cresce pelo
anúncio do Evangelho.
Num
segundo momento temos que falar da Palavra situada na ação pastoral da Igreja.
A principal manifestação da Palavra na ação pastoral da Igreja é, sem dúvida, aquela
que acompanha o testemunho crente, explica-o e interpreta-o, e faz dele chamada
evangelizadora para os homens e o mundo. Para essa Palavra deve ir dirigida
toda esta pastoral. O restante das ações pastorais têm como objeto o fato de
que a Igreja continue sendo medianeira da salvação para o mundo, continue sendo
o lugar onde a Palavra se pronuncia, significa, dá sentido ao mundo e produz
nele os seus frutos.
Para
garantir essa Palavra que se identifica com sua missão, a Igreja também tem
seus meios e suas estruturas. Agora vamos deter-nos em dois que podem ser
origem de muitos outros: a formação permanente como palavra meditada e a
pregação homilética.
Aqui
repetiremos algumas noções básicas da teologia fundamental e da eclesiologia
para fundamentar nessa mútua relação os imperativos que devem acompanhar toda
pastoral da palavra.
a. As
distintas presenças de Deus na Igreja
A palavra
de Deus na vida da Igreja se situa no seio de outras muitas presenças. Falamos
de Deus presente na criação e descoberto na contemplação de suas maravilhas,
falamos de Deus presente nos acontecimentos e descobrimos sua ação perscrutando
os sinais dos tempos, falamos de Deus presente no homem que é sua imagem e o
manifestamos respeitando-o e no comportamento fraterno; no interior mesmo
da Igreja falamos da presença de Deus na comunidade reunida em seu nome, de sua
vontade manifestada no serviço da hierarquia, de sua ação santificadora na
celebração sacramental e, de modo especial, falamos da presença real de Cristo
nas espécies eucarísticas.
Nenhuma
dessas presenças é alheia à presença em sua própria palavra, dada ao longo da
história; e mais ainda, foi esta mesma Palavra que nos levou a descobrir Deus
em outras realidades.
b. A
revelação como fato dinâmico de autocomunicação de Deus
A
história da revelação é a história da autocomunicação de Deus ao homem e seu
resultado é a vida.
Ao longo
dos tempos, Deus saiu ao encontro do homem para oferecer-lhe sua comunhão. Sua
Palavra representou a oferta de uma comunhão na qual o homem pode encontrar sua
verdade última, o caminho de sua realização humana e da salvação integral à
qual ele aspira.
Conseqüentemente,
Deus ao revelar-se, doa-se. O que Ele comunica não é a sua compreensibilidade,
mas sua vida e sua comunhão como oferta ao homem. E o homem, mais que
compreender ao receber sua Palavra, encontrou novas possibilidades de vida,
encontrou a própria vida. A revelação de Deus não é alheia à revelação do
próprio mistério do homem. Na revelação, conhecemos também o ideal de homem que
desde sempre Deus tinha projetado.
A partir
da Palavra de Deus pronunciada na criação que faz surgir a vida até a Palavra
definitiva dada na manhã da Páscoa que faz surgir a vida nova, toda a história
da Revelação está unida a uma vida que é diferente se se aceita ou se se
rejeita. Deus vai se revelando como possibilidade para o homem de uma forma
diferente de viver que leva à plenitude do mesmo ser humano. Quem recebe sua
palavra se encontra com a realidade de ser filho de Deus.
c.
Cristo, plenitude da Palavra e inesgotabilidade de sua Palavra
Por isso,
o acontecimento de Cristo, por ser a manifestação última do Filho e da Palavra,
é a plenitude da revelação. O Deus que se havia revelado de diversas formas e
maneiras ao longo dos séculos, no Filho se manifestou definitivamente.
A Palavra
de Cristo, revelando o rosto de Deus, foi assegurando as possibilidades de um
mundo novo no qual Deus, reconhecido como Pai, torna possível a fraternidade
entre os homens. A comunhão de Deus oferecida em sua Palavra faz surgir a
comunhão entre os homens como realidade e como vocação dos que o receberam.
Em Cristo
Deus nos disse tudo o que tinha para dizer, deu-se a nós definitivamente. Ele é
a plenitude da Revelação e toda palavra nova não será senão aprofundamento na
Palavra dada. A pretensão de Cristo em sua história foi a de dizer ultimamente
quem era Deus e manifestar assim a vida à qual somos chamados e a qual estamos
destinados. Essa vida é, primeiramente, o dom de um Pai que nos ama. Cristo mesmo
fez de sua vida a manifestação desse amor que acolhe e perdoa, que congrega e
une, que devolve ao homem a dignidade perdida, que denuncia as situações de
mentira e de injustiça no mundo, que anuncia um futura de esperança possível,
que é capaz até de dar pelo homem a própria vida.
d. A
Palavra eternizada pelo mistério pascal
Se em
Deus palavra e vida se mesclaram na história de sua revelação, a vida do
Ressuscitado é a última Palavra pronunciada por Ele.
Com ela,
começou o tempo definitivo. A Páscoa se converte no acontecimento da
autentificação do Filho, da aparição da Igreja e do futuro do mundo.
– A
pretensão do Jesus histórico foi selada com o selo da autenticidade na manhã da
Páscoa. Dando-lhe a vida, o Pai ratificou a sua Palavra como Palavra de vida. O
que dizia era verdade. Porém a vida do Ressuscitado tem como componente novo o
que está sentado à direita do Pai. A Palavra entrou na esfera de Deus e se
eternalizou no tempo. O mistério pascal converteu a palavra do tempo em Palavra
eterna, a palavra concreta em palavra universal, a palavra do amigo em palavra
do Senhor, a palavra do homem em palavra de Deus. Agora, o que disse Jesus,
converteu-se na palavra que Deus queria dizer a todos sempre e para sempre.
– O
mistério pascal é também inseparável do mistério de Pentecostes e do mistério
da Igreja. Mais ainda, eles são também componentes da Páscoa. Graças à
ação do Espírito, princípio de missão e testemunho apostólico, a palavra do
Ressuscitado aparece unida à missão de uma Igreja que a conserva íntegra, a
pronuncia no tempo, vive de sua escuta e meditação e a transmite de geração em
geração até que o seu Senhor volte. A Igreja surge, assim, como servidora da
Palavra e sua tarefa central é o anúncio do Evangelho com a integridade de seu
testemunho, cumprindo o mandato de Cristo.
– A
Palavra que a Igreja serve em sua ação pastoral tem como destinatário o mundo.
Ela é capaz de fazer novas todas as coisas. Com o acontecimento pascal o mundo
se abriu para um futuro de ressurreição para o qual vive a Igreja e que será
dom escatológico do Pai. A palavra que a Igreja anuncia não é alheia à
construção deste mundo, mas a implica e a compromete. A palavra da Igreja é
anúncio e denúncia, palavra profética que é pronunciada para que o Reino de
Deus seja semeado e fermente a complexidade das realidades mundanas. A pastoral
da Palavra está inseparavelmente unida à pastoral do compromisso e do
testemunho eclesial em meio às realidades temporais.
e.
Palavra iluminadora da situação atual
O que nos
foi dito em Cristo é luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo
(cf. Jo 1,9). A Igreja vive para que sua palavra seja luz que
chega a todas as situações e realidades humanas e as salve.
Sua
função servidora da Palavra no aqui e agora da história é possível graças à
presença do Espírito que revela e leva ao conhecimento total de Cristo
(cf. Jo 15,12-15), que faz d’Ele resposta à problemática e à
situação de todos os homens.
A
história da Revelação foi uma revelação progressiva de Deus até chegar a
Cristo. Hoje a história da Igreja é aprofundamento progressivo naquilo que em
Cristo já nos foi dado para torná-lo vida e razão para viver de todos os
homens. A plenitude da Revelação nos supera e nos transcende; a tarefa da
Igreja é penetrar paulatinamente nela para ir descobrindo sua riqueza e para
fazer viver a partir dela todos os que recebem seu Evangelho.
f. Os
diversos carismas e a palavra
Cada
ministério e cada carisma na Igreja serve à Palavra a partir de sua
especificidade.
A uns
corresponde o cuidado da Palavra, sua transmissão íntegra, sua proclamação
autorizada, sua atualização celebrativa; a outros o seu modo de pronunciá-la é
torná-la vida e testemunho no meio das mais variadas circunstâncias humanas,
mostrá-la como razão da própria esperança, como fonte do mais diverso
compromisso. Para todos a Palavra é fonte; em todos a Palavra ressoa; na
complementaridade e na comunhão das diversas tarefas Deus continua falando e
dizendo a palavra em Cristo para todos os homens e para toda a história.
2 – A
Palavra de Deus na Igreja e para a Igreja
O estudo
da função do anúncio tem seu ponto de partida numa reflexão teológica sobre o
significado da Palavra de Deus na Igreja e para a
Igreja, passando por uma análise do conteúdo e das diversas formas do anúncio
até chegar, finalmente, às questões práticas sobre o desenvolvimento da
pregação.
a. A
teologia do anúncio
«Uma
comunidade religiosa que deixasse de pregar, não poderia ser a verdadeira
Igreja de Cristo».
Esta
afirmação bastante categórica chama a atenção sobre a importância da Palavra de
Deus na Igreja. O constitutivo essencial do ministério profético é a Palavra de
Deus, realidade primeira da economia da salvação. Com sua
palavra Deus não só fala, mas age, não só revela, mas se torna presente.
No que se
refere ao papel que a pregação tem de levar ao encontro da fé, já conhecemos as
palavras de S. Paulo de que «a fé vem de ouvir a pregação» (Rm 10).
Esta afirmação guarda todo seu valor, na medida que o caminho psicológico para
se alcançar a fé passa normalmente pela fé. No entanto, a pregação da Igreja
por si só não é o fundamento absoluto da certeza obtida pela fé.
O papel
da pregação eclesiástica: ser um serviço em favor da palavra (cf. At 6,4);
a pregação é só um intermediário dessa mesma palavra, que empresta sons à
Palavra de Deus e convita a pessoa humana a assumir uma posição. A parte que
lhe toca é a de estabelecer o encontro do homem com Deus, preparando o caminho
para a fé como instrumento que dispõe a ela; não lhe corresponde
criar a fé nem torná-la operativa. A causa da atuação da fé é, e continua
sendo, em primeiro lugar Deus e, em segundo lugar, o homem que, usando a
própria liberdade, acolhe o convite divino. Portanto, a pregação não é, nem
mais nem menos, que um serviço intermediário, a favor daquilo que,
em última instância, se realiza entre Deus e a alma do homem.
A Palavra
de Deus não é só uma ação, mas também uma revelação dirigida aos homens para
despertar neles um ato pessoal de obediência e para manifestar certos conteúdos
vitais de verdade. Dinamicamente a Palavra de Deus incomoda, interpela,
descobre, noeticamente ilumina, desenvolve e, por isso, podemos falar de
diversos tempos dialéticos da Palavra de Deus e do ministério profético.
b. Formas
de anúncio
1. O
anúncio missionário (o kerigma)
A
primeira forma do anúncio é a «pregação missionária», o kerigma,
que tem como finalidade anunciar a fé e solicitar a conversão. No seu
significado pleno, o Kerigma é o anúncio atual e historicamente determinado da
Palavra de Deus na Igreja, por parte de quem, a partir de Deus, tem o poder de
dar testemunho. Temos uma confirmação recente desta
verdade na Encíclica Redemptoris missio de João Paulo II:
« A
tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, particularmente, do nosso é
a de dirigir o olhar do homem e orientar a consciência e experiência da
humanidade inteira para o mistério de Cristo» (RM 4)
Característica
do Kerigma é sua forma concreta e histórica de «acontecimento» e «momento»
presente: o anúncio se torna salvação para quem o acolhe. Por
meio do kerigma se proclama eficazmente a presença da salvação na comunidade,
com outras palavras, o kerigma torna Cristo presente na comunidade e constrói
assim a comunidade enquanto tal.
Da
natureza do kerigma derivam algumas exigências essenciais: a exigência de
expressar o núcleo e o fundamento da salvação; a exigência de um anúncio que
não utiliza palavras eruditas nem ideologias. Nesse sentido convém observar o
que fala a RM 44 (cf.).
A evangelização é
o ministério que apresenta a Palavra de Deus como uma palavra poderosa e que
salva, que suscita a fé e a adesão pessoal de forma nuclear e totalizante. A
evangelização anuncia o Evangelho de Jesus Cristo como kerigma, ou seja, como
boa notícia com a finalidade de fundamentar a comunidade cristã mediante a
conversão que conduz ao Batismo. Está dirigida aos batizados não praticantes
que deixaram de crer, aos praticantes adultos não iniciados e às crianças e aos
adolescentes batizados, que devem ratificar a sua fé adulta.
Entendido
deste modo fica claro que o kerigma não se dirige somente aos pagãos. A fé não
é uma realidade que o homem conquista uma vez por todas e logo a guarda como
propriedade, mas um processo existencial, isto significa que é preciso
aprofundar sempre de forma renovada: a fé está sempre in fieri. É
preciso acrescentar que este anúncio missionário não é só tarefa da hierarquia,
mas toda a comunidade dos fiéis tem a obrigação de tomar parte nesta função
básica da Igreja.
A
mensagem fundamental do cristianismo deve ser anunciada de modo que o conteúdo
seja breve. No cristianismo primitivo existiam estas formulações breves e hoje
também nos esforçamos por formular novos símbolos de fé breves e compreensíveis
para o homem atual.
A
finalidade que caracteriza a evangelização, tanto como função específica quanto
como dimensão que deveria estar presente em qualquer uma das funções
desempenhadas pela Igreja, permanece sempre a de «fundamentar ou re-fundamentar
a fé». Fundamenta-se a fé quando ela alcança uma pessoa que
escuta pela primeira vez o anúncio de Cristo Salvador; re-fundamenta a
fé quando provoca uma vida cristã mais intensa numa pessoa que perdeu a fé, ou
que nunca chegou a uma fé consistente, responsável, viva.
Um tema
que se discutiu muito nos últimos tempos é o da metodologia e da linguagem da
evangelização. A solução deste problema é intrinsecamente teológica e
espiritual mais que questão de táticas. Porém é preciso lembrar que o problema
da linguagem é um dos mais graves. Dele se fala desde muito
tempo, porém ainda não foi resolvido. A dificuldade da linguagem da
evangelização nasce por um lado, de uma nova mentalidade cultural e, por outro,
o famoso problema da inculturação.
O
problema essencial que a evangelização está chamada a resolver diz respeito à
alternativa entre a auto-salvação, ligada à imanência, e a heterosalvação,
expressão da transcendência. O homem moderno parece resistir à simples idéia de
uma salvação que proceda «de fora e do alto».
O sujeito da
evangelização é a Igreja inteira: «A missão compete a todos os cristãos» (RM 2),
isso quer dizer que todo cristão-bispo, sacerdote, leigo, religioso tem a
obrigação de evangelizar. Esta obrigação não está ligada a um mandato jurídico,
mas brota diretamente da fé e dos sacramentos da iniciação cristã.
O ouvinte da
mensagem cristã é o homem que se pergunta sobre realidades que a mensagem
cristã tem as únicas respostas que podem satisfazer o coração inquieto do
homem. A mensagem que é anunciada é a graça de Deus que nos precedeu e que
desse modo nos tornou capazes de sermos ouvintes da sua Palavra. O conteúdo da
pregação missionária é sempre o acontecimento da redenção e não uma metafísica
ou um sistema cognoscitivo qualquer.
2.
A pregação comunitária
Quando a
pregação missionária alcança seu objetivo, ou seja, a conversão do indivíduo
mediante sua inserção na Igreja, entra em jogo a pregação dentro da comunidade
(didaché). Se a pregação missionária orienta a pessoa para Deus e para a
Igreja, a pregação comunitária a une com Deus e com a Igreja.
Durante a
pregação a «Palavra de Deus interior» precede logicamente a qualquer ação
humana. Rahner a chama de «Palavra de Deus transcendente». Esta graça ajuda a
aceitação livre e pessoal da Palavra e da própria fé na Igreja. Por isso, o
primeiro que deve refletir em toda pregação é a fé da Igreja e do pregador. No
NT, especialmente em Paulo, a Palavra como portadora da salvação ocupa o
primeiro lugar (cf. At 6,4; 1Cor 1,17). A
Igreja é, em princípio, Igreja da Palavra.
Por outro
lado, a Palavra de Deus chega aos homens através de palavras humanas e pode ser
chamada «palavra de Deus categorial» .
O
anúncio, ou seja, a pregação, tem sua lógica interna. Um primeiro critério
pastoral poderia ser que a pregação cristã não é algo meramente objetivo, não é
uma coisa puramente estática e histórica mas algo antes de tudo existencial,
pessoal e atual. Esta dramaticidade da Palavra é o conteúdo da pregação: ela
não pode limitar-se, portanto, ao ensinamento doutrinal, aos mandamentos, às
proibições, mas deve ser em si mesma um acontecimento gozoso e feliz. Inclusive
na forma a pregação deve ser um acontecimento dinâmico. A pregação fala da
realidade, por isso deve partir dos fatos, de eventos, adotar parábolas e
exemplos, utilizar frases breves com tonalidade cálida e pessoal. O conteúdo e
o portador de toda palavra é uma Pessoa, Jesus Cristo ressuscitado, razão pela
qual toda pregação é um acontecimento pascal. Cristo não é uma pessoa do
passado, mas o ressuscitado que vive, e isto é algo que afeta todo tempo, isto
é, supõe uma palavra válida para todas as circunstâncias.
A
pregação comunitária tradicionalmente ganha corpo em várias expressões que
desde a antiguidade formam o estilo da pregação cristã:
a.
Catequese ou «Didaché»
Tipo de
pregação originariamente destinada aos adultos que se preparavam para receber o
Batismo. Tratava-se, podemos dizer, de um aprofundamento do Kerygma, com o
objetivo de dar embasamento à fé do catecúmeno, despertada a partir do primeiro
anúncio.
b.
Didascália
Consiste
num aprofundamento nas verdades de fé, buscando fundamentar e explicitar ainda
mais a fé, buscando aprofundar e explicitar ainda mais a fé brotada a partir do
kerygma e aprofundada pela catequese.
c.
Parenese
Nome dado
à pregação cujo conteúdo está voltado para as exigências morais da vida cristã.
d.
Homilia
Tipo de
pregação com características próprias. É aquela oratória (arte de
falar persuasivamente) sagrada que surgiu ainda na Igreja primitiva, a partir
das celebrações litúrgicas. No sentido original supõe o kerygma e a catequese,
já no sentido habitual é a explanação que se faz, durante a missa ou outra
celebração litúrgica, a partir do texto escriturístico (cf. SC 35)
que tenha relação com o mistério que se celebra e venha ao encontro das
necessidades dos fiéis que a ouvem.
Falando
do sentido litúrgico da homilia a Sacrosanctum Concilium determina
que « as rubricas indiquem o momento mais apto para a pregação, que é parte da
ação litúrgica» (cf. n. 35).
Do ponto
de vista técnico na homilia se distinguem duas funções
litúrgicas importantes:
1° – ser
aplicação da mensagem ao aqui e agora da vida humana, pois a mensagem da
Escritura tem uma atualidade;
2° – ser
ponte entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Ela não é um ato
isolado, mas está inserida na celebração (cf. SC 35, 2).
(Continua no próximo Domingo)
3 – A
Pregação desde o Início da Igreja até o Concílio Vaticano II
https://presbiteros.org.br/manual-de-homiletica/
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