REFLEXÃO DOMINICAL II
DEUS
PERDOA A QUEM SE ARREPENDE E QUER MUDAR DE VIDA
- Jesus exerce uma incrível
força de atrair multidões para si. Porém, o seu ensinamento não agrada a todos.
Hoje a liturgia da Palavra nos mostra um Deus misericordioso que ama além dos
limites humanos. Porque ama, ele perdoa a quem se arrepende e quer mudar de
vida.
- Na primeira leitura vimos que, depois de confeccionar uma estátua de
ouro e prestado culto diante dela, o povo encontra-se frente à ira de Deus, que
fala a Moisés. Deus pensa em conceder a Moisés a possibilidade de constituir
uma grande nação, sem o povo idólatra. Moisés, então, intercede usando três
argumentos diante de Deus para conseguir o perdão ao povo: 1) Lembra a história
da libertação do povo da escravidão, que não pode terminar em um massacre
geral; 2) Alerta para as consequências desastrosas que a morte do povo
provocaria: que Deus é este que liberta para matar? 3) A promessa feita a
Abraão, Isaac e Jacó deve ser cumprida. De certa forma Moisés ajuda o próprio
Deus a exercitar sua misericórdia com um povo ainda em processo de formação. A
eficácia de sua intercessão está na solidariedade que manifesta ao seu povo,
apesar do pecado gravíssimo de idolatria.
- A segunda leitura tem ligação direta com o Evangelho: Jesus veio para
salvar os pecadores. Paulo deixou de ser pecador unicamente por graça de Deus e
não por merecimento. Ele não pede que admiremos nele seu comportamento e
virtudes, mas a misericórdia de Deus manifestada nele.
- As parábolas narradas no Evangelho têm como principais destinatários
os fariseus e os escribas, que não admitiam que publicanos e pecadores se
aproximassem de Jesus para escutá-lo. Pior ainda era o fato de Jesus acolhê-los
e até comer com eles. Nesse contexto, Jesus conta as três parábolas. A primeira
fala da ovelha perdida. Noventa e nove são deixadas no deserto para que o dono
procure a perdida, até achá-la. Quando a encontra alegra-se muito por isso. A
segunda parábola fala da mulher que perdeu uma de suas dez moedas de prata. Procura-a
até encontrá-la e é grande sua alegria por tê-la recuperado. Ambas terminam
dizendo que será grande a alegria de Deus pelo pecador que se converte, maior
até do que a alegria pelos justos que não precisam de conversão.
- Jesus não quer dizer que Deus ama mais o
pecador que o justo. Mas que o pecador também é amado e procurado por Deus.
Entendiam os escribas e fariseus que os pecadores eram alvo da ira e da
maldição de Deus. Jesus vem anunciar que Deus não os odeia, mas os ama e os
perdoa! Nos dois casos, o dono procura o que está perdido. Assim, Deus vem ao
nosso encontro, antes de nós nos dirigirmos a ele. Se a alegria humana por
reencontrar um bem é tão grande, imagina a de Deus por ter um filho seu de
volta!
- A terceira parábola contém os mesmos elementos das duas anteriores,
mas vai além: mostra o abismo que há entre a gratuidade do amor divino,
representada na figura do Pai Misericordioso, e a mesquinhez do amor humano
representada na figura do filho mais velho, que não aceita que o pai acolha de
volta o irmão pecador. Podemos ver nele os escribas e fariseus que não aceitam
os pecadores ao redor do mesmo Jesus que eles acompanham. Eles consideram o
perdão ao pecador injustiça contra o considerado justo.
- Nas parábolas Jesus revela
a natureza de Deus como a de um pai que nunca se dá por vencido, enquanto não
tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão. Nestas
parábolas, Deus é apresentado, sobretudo quando perdoa. Nelas, encontramos o
núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a
força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão.
- A liturgia da Palavra
deste domingo parte do pecado humano para manifestar a misericórdia divina, que
tem sua expressão máxima em Jesus. Afastar-se de Deus e converter-se às
criaturas é o grande pecado. Assim fez o povo no deserto: trocou o Deus
libertador pela estátua de um animal, feita por mãos humanas. Paulo diz que seu
pecado era blasfemar, perseguir e agir com violência. O pecado do filho mais novo,
no Evangelho, é afastar-se do pai e gastar seus bens com o intuito de alcançar
uma falsa felicidade, caindo no vazio, distante do pai e sem dignidade. Quando
pecamos, esvaziamos a dignidade de nossa vida, pois nos separamos de Deus,
realização plena da vida humana. Quando nos arrependemos e queremos voltar,
Deus vem ao nosso encontro com o seu perdão, se alegra com nosso retorno,
cobre-nos de beijos. O filho mais velho parece tocar numa estrutura profunda de
todos nós: normalmente achamos que os maus, os pecadores e os errados são os
outros e pensamos que estamos certos, somos justos e bons. Cuidado! Podemos
estar nos excluindo da festa do perdão.
- Jesus não era aceito por muitos, pelo fato
de amar incondicionalmente. Nós temos muita facilidade em limitar o amor, a
acolhida, o perdão. Nunca podemos perder a coerência com as exigências cristãs,
mas também não cabe julgar-nos melhores que ninguém. Este é um dia propício
para apresentar a salvação cristã como um encontro alegre com Deus. Longe de
Deus não pode haver alegria, porque longe dele estamos longe de nós mesmos.
Deus oferece a salvação. Se a aceitarmos, sua alegria será imensa e a nossa realização
será plena.
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