REFLEXÃO DOMINICAL III
Gestão correta da própria
vida: o uso correto dos bens e dos meios
Na
Liturgia deste Domingo, XXV do Tempo Comum, veremos, na 1a Leitura (Am
8, 4-7), que o profeta Amós faz uma crítica inflamada aos que ‘compram os
pobres por dinheiro’. Deus reprova toda tentativa de enganar os pobres e toma a
defesa deles. Deus não fica indiferente diante disso: "Não
esquecerei nenhum de vossos atos".
Na
2ª Leitura (1Tm
2, 1-8), o apóstolo Paulo insiste na oração da comunidade, oração de
agradecimento e intercessão por todas as pessoas, pois Deus quer a salvação de
todos. A oração deve ser expressão de comunhão com Deus e com os irmãos. Quando
rezamos, mergulhamos no projeto de Deus. E o primeiro efeito da oração é sobre
nós mesmos, nós mudamos para melhor; aquilo que pedimos de bem e de bom aos
outros virá cem vezes mais sobre nós, nós reforçamos esses valores em nossa
interioridade, por isso, também, podemos chamar a oração de psicoterapia:
psíquico = alma, interioridade, terapia = tratamento; portanto a oração é a
cura da alma, isto é, faz efeito nos outros, mas muito mais em nós mesmos.
No Evangelho (Lc
16, 1-13), vemos que Jesus elogia o comportamento do administrador, mas não
aprova a atitude fraudulenta (adquiria bens em prejuízo dos outros, acumulava
com injustiça). Não propõe como modelo tudo o que o administrador da parábola
fazia, mas ressalta a sua astúcia em garantir o seu futuro, sua previdência,
pois, em situação de risco de perder o cargo, usa de esperteza, inteligência e
criatividade, previne-se, não desanima, isto é, muda a estratégia quanto ao
futuro. Na época, o administrador não era remunerado, ganhava comissão; então,
prevendo situação adversa, priva-se do benefício em prol de fazer amigos.
Jesus
alerta que falta essa sabedoria aos ‘filhos da luz’ que não tomam consciência
diante dos graves problemas que colocam em risco o futuro e a salvação. A lição
que fica é que devemos dar preferência àquilo que combina com o projeto de
Deus, o uso correto dos bens e dos meios. Isto é, a gestão correta da própria
vida, os bens são dons tanto na origem, quanto na destinação. “A vida
não é dada a ninguém em propriedade, mas a todos em administração” (Sêneca).
Se
formos administradores dos bens deste mundo, não devemos nos apegar a eles de
forma absoluta; mesmo que eles decorram do direito natural, não devem impedir o
bem maior que é a salvação eterna. “A propriedade faz parte da natureza
do homem e da natureza das coisas. Como o trabalho, ela encerra um mistério; é
a projeção da personalidade humana sobre as coisas. A pessoa tende à
propriedade por um impulso instintivo, do mesmo modo que nossa natureza animal
tende ao alimento. O apetite da propriedade é tão natural à nossa espécie como
a fome e a sede; apenas é de notar que estes são apetites da nossa natureza
inferior, ao passo que aquele procede da nossa natureza superior. Todo homem
tem alma de proprietário, mesmo os que se julgam inimigos da propriedade. É
isto que se entende quando se afirma que a propriedade decorre do direito
natural” (R. G. Renard, apud Curso de Doutrina Social da Igreja,
Escola Mater Ecclesiaee, p. 136-137).
A
Bíblia nos apresenta numerosos exemplos de pessoas que, em meio às riquezas, se
tornaram amigos de Deus. São Basílio de Cesaréia nos aconselha a ser
administradores espertos dos bens e não proprietários. Porque, diz ele: “Ao
faminto pertence o pão que conservamos; aos nus, o manto que mantemos guardado;
ao descalço, os sapatos que estão se estragando em nossa casa; e ao
necessitado, o dinheiro que escondemos” (Homilia sobre São Lucas - 12,16-21).
Jesus
não condena a riqueza e sim o mau uso que dela se faz, pois muita gente serve
ao dinheiro e não se serve do dinheiro para servir a Deus e aos irmãos: para
ganhar mais dinheiro, há quem trabalha doze ou quinze horas por dia, num ritmo
de escravo, e esquece-se de Deus, da família, dos amigos e até da própria
saúde. Por dinheiro, há quem venda a sua dignidade, a sua consciência e
renuncie a princípios em que acredita. Por dinheiro, há quem não tem escrúpulos
em sacrificar a vida ou o nome dos seus irmãos. Por dinheiro, há quem é
injusto, explora os operários, se recusa a pagar um salário justo etc. Por
dinheiro, muita gente corrompe e outros se deixam corromper.
Quanto
a nós, peregrinos neste mundo, não serviremos ao dinheiro, mas o usaremos para
servir o único Senhor, pois sabemos que “onde estiver nosso tesouro, lá
estará também nosso coração”.
Boa
reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Pe.
Leomar Antonio Montagna
Arquidiocese
de Maringá
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