A PASTORAL DA PALAVRA (IV)
5 – A
Pregação: Ação Comunicativa e Comunitária
1. A Pregação e a ação do
Espírito Santo
A homilia é ação comunicativa e,
por isso, é radicalmente comunitária. E ato decisivo de comunicação e,
portanto, de comunhão. De um lado, faz que quem preside e fala se
comunique com os membros da assembléia; de outro, também influi para que os
fiéis se comuniquem entre si.
De um lado, suscita e cria
comunidade; mas, de outro, a comunidade influi, pode e deve influir na homilia
e no fazer a homilia: há, pois, circularidade no evento da pregação
homilética.
Além disso, este processo de
comunicação possui dupla vertente: é acontecimento pneumático,
influenciado pelo Espírito; e, concomitantemente, é ação psicológica,
condicionada pelas leis psicológicas próprias da pessoa e do grupo. Uma
coisa não exclui a outra, são diversas mediações de um único ato. Passamos
agora a tratar dessas duas vertentes: aspecto pneumático, e, em seguida, do
psicológico na pregação.
Toda ação predicacional é envolvida
pela ação do Espírito: Ele é a principal força que a suscita e a
inspira. Em primeiro lugar, Jesus, conforme nos conta Marcos (1,9), é
justamente depois de receber, por meio do ministério de João, o batismo do
Espírito, que começa a pregar. O mesmo Espírito o leva ao deserto.
Mas, imediatamente a seguir, dirige-se para a Galiléia, a fim de que comece a
anunciar a proximidade do Reino (Mc 1,12-14). Lucas diz isto
explicitamente: não só a ida para o deserto, após o batismo, mas ainda a
viagem posterior para a Galiléia e seu ir começando a ensinar pelas sinagogas,
são resultado da ação do Espírito (Lc 4,14-15). Por sua vez,
João afirma muito claramente esta dimensão pneumática da pregação de Jesus
quando escreve: «Aquele que Deus enviou (o Filho) diz as palavras de Deus, pois
Deus lhe conferiu seu Espírito sem medida» (Jo 3, 34).
Os discípulos de Jesus recebem
dele este dom do Espírito para prosseguir a pregação agora explicitamente
cristã (cristológica) e pascal. Na cena introdutória dos Atos, o Ressuscitado
anuncia aos discípulos o que vai ser como que o programa dos tempos vindouros:
«Recebereis a força do Espírito
Santo, que descerá sobre vós, para que sejais minhas testemunhas em Jerusalém,
em toda a Judéia, na Samaria e até os confins da terra» (At 1,8).
Portanto, é bem claro que a
tarefa predicacional na Igreja vai ser resultado de ação do Espírito.
Efetivamente, os próprios Atos o confirmam: antes de Pentecostes, os discípulos,
os apóstolos, estão mudos; mas, a partir da efusão do Espírito, começam a
pregar (At 2,4).
Novamente João confirma esta
união entre Espírito e testemunho quando escreve: «O Espírito da verdade, que
procede do Pai, dará testemunho de mim» (Jo 15,26).
O fato da comunicação na pregação
eclesial é fato carismático promovido pela ação do Espírito Santo na Igreja que
suscita diversos carismas ao redor do testemunho da Palavra tanto na hierarquia
quanto em todo o povo fiel, constituído como povo profético. No entanto não
podemos esquecer que a função dos Bispos, presbíteros e , presbíteros e
diáconos na Igreja, ao pregarem a Palavra, é insubstituível. Eles têm
responsabilidade própria na homilia e não podem ceder a outros membros da
comunidade não ordenados essa sua responsabilidade. Por isso o Código
de Direito Canônico estabelece que a homilia pertença a eles.
2. Dimensões psicológicas na
pregação
Além da sua dimensão carismática
é preciso recordar que a pregação é fundamentalmente comunicação de
pessoas: Deus-pessoa com o ouvinte pessoa.
Precisamente nestes últimos anos,
os homiletas, principalmente de língua alemã, têm feito análises interessantes
e aplicações de certos estudos da psicologia ao campo da pregação, sobretudo da
homilética.
a. O pregador
Uma primeira observação a ter em
conta é a seguinte: a homilia não só dá testemunho do evangelho, mas também do
pregador. O testemunho do evangelho é testemunho de fé; e esta passa
pela pessoa da testemunha exatamente porque todo testemunho é algo
pessoal. Toda pregação é encontro pessoal entre o pregador e os fiéis
que o escutam. Então o pregador deve questionar-se sobre sua capacidade
para este tipo de encontro, isto é, sobre sua capacidade de se relacionar com
as pessoas, de acordo com a diversidade de circunstâncias em que se acha
situado, o que supoe capacidade de escuta paciente, receptividade e
participação em verdadeiro intercâmbio de experiências. Explicitamente,
isto se faz fora, antes da homilia, porém, implicitamente, deve ser feito e
continuado durante a homilia.
A homilia pressupõe estabelecer
relação pessoal, criar situações em que o outro seja tomado a sério como um tu,
como o parceiro do diálogo.
O perigo que ameaça esta
comunicação é o de que o ministro esconda sua personalidade sob a máscara de
seu papel de pregador, de teólogo ou de especialista. Então o testemunho
deixa de ser pessoal ou desaparecem o tom e o pano de fundo testemunhais, tão
importantes. Quem prega, durante a homilia, não deve silenciar sua
experiência pessoal de fé, porque necessita partir de experiências vitais,
tanto próprias quanto alheias, até chegar a configurar algumas imagens,
expressões e linguagem também vitais. Do contrário, deter-se-á em fazer
paráfrase da Escritura ou em moralismo. E isso não para o pregador cair
em subjetivismos, nem psicologismos; porém, para encarnar a Palavra na
realidade pessoal tanto de quem ouve quanto de quem fala.
Se se pedem à comunidade a
experiência concreta e o compromisso em torno da Palavra, o mesmo deve pedir o
pregador a si mesmo. Deste modo, a homilia tem muito de colocação em
comum, por mais monologal que seja. A fé do ministro da palavra é
inseparável da fé da comunidade.
É legítimo, pois, que apareça o
eu do ministro da palavra; não só como quem confessa a fé na objetividade do
credo, mas também na densidade da vida quotidiana. O melhor antídoto
contra o perigo de buscar a si mesmo na pregação consiste em ter atitude
eclesial e comunitária. Concretamente isto quer dizer: sentir-se em união
com a comunidade de fiéis e, como conseqüência, esforçar-se para uma busca e
escuta no âmbito da comunidade, que é a «comunhão no Espírito» (2Cor 13,13).
Quanto à experiência pessoal de
quem preside certamente, a pregação do evangelho é incompatível com o pregar-se
a si mesmo. Não se pode reduzir o conteúdo da pregação à comunicação de
experiências subjetivas.
No entanto, esta crítica não diz
respeito a quem convida a participar da praxe vital da fé cristã e, por causa
disto, em certos contextos, não silencia sua própria experiência pessoal.
Alguns fogem e se defendem deste risco e compromisso que supõem a comunicação,
o tom e o testemunho pessoais refugiando-se em uma objetividade que pode ser
válida para uma aula ou atividade acadêmica, porém não para o serviço da
Palavra diante da comunidade. Supostamente, toda personalidade possui
suas limitações, principalmente neste campo tão difícil, mas aceitar esta
realidade com humildade já é um modo de superá-la. E acima de tudo: a
humildade é o melhor testemunho evangélico.
b. A psicossociologia do
auditório
Além disso, convém levar em
consideração alguns outros elementos fundamentais na pregação a partir de sua
dimensão psicológica, pois ela é um fato humano submetido às leis e condicionamentos
psicológicos: o auditório diversificado, o local da pregação e os fatores que
influem para uma eficiente proclamação da Palavra de Deus ou que prejudiquem à
mesma.
a) O que se entende por
psicossociologia do auditório
Por psicossociologia do auditório
entendemos tudo aquilo que revele as aspirações do auditório, sua cultura, seu
modo de pensar, suas preocupações, sua religiosidade, as circunstâncias em que
a Palavra de Deus é anunciada, o local, o fator tempo, etc.
O auditório
Comecemos o nosso tema dando uma
rápida olhada ao auditório que temos diante de nós e alguns elementos que nele
se encontram:
1 – Grande sede da
Palavra de Deus
As pesquisas mostram cada vez
mais que boa parte dos que participam em nossas celebrações vão buscando ouvir
uma mensagem de vida, de esperança e de salvação.
Cf. Am 8,11
2 – Hipercríticos
Além dos que pertencem ao
primeiro grupo é preciso contar com a presença dos hipercríticos,
que tudo criticam. Um conselho interessante de um sacerdote vienense: «A estes
hipercríticos levianos dever-se-ia dar como penitência a preparação de um
sermão dominical» (Joseph Ernest Mayer).
3 – Indiferentes
Um terceiro grupo corresponde
aos indiferentes, os que freqüentam por mero formalismo. Falar-lhe
não é fácil.
4 – Um outro elemento
psicossociológico a mencionar trata-se da maneira de captar a pregação
da parte dos ouvintes, especialmente o povo simples, maioria de nossos
auditórios. Normalmente não aceitam as homilias com longo raciocínio, de sabor
intelectual. Preferem a linguagem concreta, simples, existencial, transparente
do evangelho.
5 – A heterogeneidade do
auditório
Trata-se de um dos aspectos que
mais dificulta a boa apresentação da Palavra de Deus. Salvo algumas celebrações
para grupos homogêneos (casais, jovens, crianças…), normalmente o auditório é
bastante heterogêneo: pessoas idosas, crianças barulhentas,
diversidade de cultura e formação religiosa, ouvintes fechados, sedentos
buscando crescimento na fé, indiferentes, os atrasados que sempre atrapalham.
Encontramos o ouvinte que vive
numa sociedade pluralista que tem contato com outras culturas, religiões,
filosofias diversas, etc. Encontramos o ouvinte atento e exigente que seleciona
o que ouve e, nas cidades, onde for possível, escolhe o pregador que mais o satisfaz.
Compara o que ouviu com outras idéias (em reflexão pessoal ou com amigos num
processo de filtração daquilo que se ouve).
Também temos o ouvinte cômico:
o bêbado, o louco, entram gritando, gesticulando. Também está a figura do ouvinte
ladrão, aquele que espera que as pessoas se destraiam para roubá-las.
Nosso auditório é verdadeiramente
heterogêneo. Assim afirma um ex-deputado:
«Estou habituado a enfrentar os
mais variados auditórios em minhas campanhas políticas e em outras
circunstâncias. Tive também a feliz oportunidade de falar inúmeras vezes como
leigo cristão em várias igrejas. Pois bem, de todos os auditórios, o mais
difícil é, salvo exceções, o das igrejas, por ser o mais heterogêneo» (Guido
Moesch – RS).
Acústica-dicção
Há igrejas com ótima, razoável ou
péssima acústica; como também há pregadores com ótima, razoável ou péssima
dicção.
Para a eficácia na pregação é
preciso considerar a importância da boa acústica e da boa dicção. Esses
elementos são indispensáveis. Não se pode esquecer essa verdade central: a
pregação deve chegar primeiramente aos ouvidos, antes de penetrar os corações
dos ouvintes.
Local
Os locais onde a Palavra de Deus
é proclamada são diversos e variados. Assim, temos igrejas de vários tamanhos:
pequenas, médias, redondas, em forma de cruz, cheia de colunas, igrejas que se
assemelham a um campo de futebol, vários salões, etc.
Igrejas sujas, quentes, mal
arejadas, sem bom gosto arquitetônico, frias e nada acolhedoras. Igrejas cujos
repetidos ecos tornam quase impossível o anúncio da Palavra de Deus, Igrejas
espaçosas onde o pregador se sente como que perdido com muita dificuldade de se
comunicar e dialogar com os ouvintes. Não se podem esquecer também as
celebrações e evangelização ao ar livre, em grandes e pequenas romarias, concentrações
e outros acontecimentos.
Isso mostra que a pregação se por
um lado sofre de limitações, por outro encontra fácil e frutuosa acolhida. Não
esqueçamos que um lugar de espaço médio, arejado, com boa acústica, acolhedor,
com boa iluminação, facilita muito a comunicação com o auditório e,
conseqüentemente, permite que haja mais eficiência na evangelização.
Outras circunstâncias
O pregador deve levar em conta e
enfrentar também outras circunstâncias: assim, existem os momentos de luto e de
festa; momentos de alegre e ansiosa expectativa bem como de indisposição tanto
para os ouvintes quanto para o pregador; momentos marcados pela pressa,
cansaço, agitação; momentos que favorecem o silêncio e a interiorização da
Palavra de Deus e momentos prejudicados pelo incessante barulho.
O que dizer quando se sabe que
alguém está deprimido? Como falar quando uma tempestade parece desabar a
Igreja? O que dizer ao ouvinte que acaba de fracassar nos negócios, ou a quem
aconteceu alguma tragédia?
Apesar de toda a problemática do
auditório, do local e de outras circunstâncias, não podemos esquecer que também
temos um auditório mais ou menos fiel! É um lado importante e que deve ser
valorizado
b) Como conhecer a
psicossociologia do auditório
Há diversos meios para conhecer a
psicossociologia do auditório:
a) Reuniões com dinâmica de grupo
com jovens, casais, movimentos; são uma escola sempre renovada para o pregador
se inteirar da maneira de ver, sentir, refletir, reagir dos ouvintes.
b) Visitas informais à famílias,
onde reina um clima franco e espontâneo, clima que favorece troca de idéias
sobre qualquer assunto; encontros com debates sobre temas atuais, etc.
c) Aproveitar estudos, pesquisas,
levantamentos sobre a opinião que se tem sobre a pregação realizada na Igreja.
c) O que o auditório mais censura
nas pregações
Vamos simplesmente ater-nos nas
grandes linhas que nos parecem as mais questionadas pelo auditório:
a) Pregação abstrata-aérea-vaga: pregações muito generalizadas, aéreas, afastadas
da realidade do dia-a-dia. Pregações filosofizantes que seriam melhores para um
ambiente selecionado (aulas, congressos) que para os auditórios de nossas
igrejas. Pregações vagas: que não descem ao concreto, pregações que não atingem
o alvo, não comprometem. É bom lembrar que «toda pregação que não se transforma
num chamado à conversão, corre o perigo de deixar de ser Evangelho para
tornar-se conferência» (J. Audusseau e X. Leon Dufour).
b) Pregação confusa
1. Antigamente, a maioria das pregações primavam pela
busca de uma estrutura lógica, por vezes até demasiado rígidas. Hoje, porém,
certas pregações são totalmente confusas que o ouvinte não sabe o que o
pregador está querendo dizer. Pregações sem pé nem cabeça! Muitas vezes isso
acontece como fruto, em muitos seminários, da falta de preparação para este
ministério, falta de exercícios de preparação de temas, desleixo na preparação
da homilia, etc.
c) Pregação materializante
2. São aquelas em que o pregador se ocupa, de
preferência, em abordar o assunto dinheiro. A toda hora fala de
campanhas de ordem financeira, administrativa, construções, etc. Prestam-se
mais para administradores do que arautos da Palavra de Deus.
3. Aqui convém recordar a importância da
corresponsabilidade dos leigos, lembrando que os Apóstolos preferiram
dedicar-se à oração e à pregação da Palavra e os diáconos cuidariam da
administração.
d) Pregação vazia
4. Pregações cansativas pelo fato de não ter conteúdo.
O vazio na pregação é razão de tantas queixas. O pregador que habitualmente não
estuda, não medita, o que se pode esperar dele? Este é indiscutivelmente um dos
grandes escândalos de um número, não pequeno, de pregadores!!!
e) Pregação monótona
5. Pela maneira de apresentar sermões com os mesmos
gestos, com a mesma entonação de voz. Monotonia pela falta de colorido em
imagens, fatos, figuras que possam prender a atenção do ouvinte. Monótona
porque repete as mesmas idéias de sempre…quanto sono!
f) Falta de boa acústica – de boa dicção
6. Aqui convém recordar o de sempre: a base doutrinal
dessa exigência é que a Palavra primeiramente deve atingir os ouvidos. Um
grande número de pregadores não se faz ouvir suficientemente. Reparar a
acústica de tantas igrejas e também a dicção. É preciso encontrar soluções para
o assunto.
g) Pregação contratestemunho
7. O pregador deve ser o primeiro a testemunhar o
Evangelho. É sua obrigação fundamental. Repercute mal
ouvir falar em união da comunidade, entre esposos, pais e filhos, quando na casa
do pároco reina a discórdia entre os que ali vivem, quando a funcionária da
casa paroquial recebe mal o povo, quando o vigário fala mal abertamente contra
os seus colegas.
h) Pregação agressivo-dominadora
8. Certos pregadores usam um tom de voz muito agressivo
e dominador. Tratam os ouvintes como crianças que devem ser subjugadas à força.
Parece que tais pregadores projetam consciente ou inconscientemente seus
problemas e descarregam sobre o auditório.
9. É bom lembrar que o púlpito-dizem dele “arma do
pregador”-não foi feito para que o arauto da Palavra de Deus exponha suas
perguntas e dúvidas, nem extravase suas angústias e seus problemas, mas para
dar aos ouvintes as respostas de Deus.
i) Pregação socializante, psicologizante, ambígua
10. Tornou-se, poder-se-ia dizer, uma verdadeira
obsessão, acentuar em certas pregações a idéia do social, do psicológico, como
se Deus não existisse, como se o cristianismo não fosse, em primeiro lugar,
obra do amor de Deus e, portanto, antes de tudo, dom de Deus, graça.
11. Não há dúvida de que a evangelização tenha de se
valer desses instrumentos da sociologia e da psicologia, que o cristão deva
engajar-se e comprometer-se com a ordem temporal, que a psicologia
esclareça-nos sobre a conduta do homem sob diversos aspectos; no entanto, não é
possível transformar o Evangelho em sociologia ou psicologia. Como também não é
possível apresentar um Evangelho que não engaje. É preciso começar a empreender
o caminho da evangelização que leve à simbiose entre o vertical e o horizontal,
o natural e o sobrenatural, o terreno e o celeste, lembrando-nos que ao lado de
todos os progressos, ao lado de todos os auxílios da ciência, o Evangelho é
acima de tudo palavra e ação de Deus: «Se o Senhor não constrói a casa, em vão
trabalham os construtores» (Sl 126, 1).
j) Pregação demasiado longa
12. É sabido por todos que a homilia deve ser breve,
não passando de 10 a 15 minutos. Tudo o que é anunciado leva a cor do tempo, é
limitado pelo tempo e deve ser situado no devido tempo. É bem diferente falar
numa missa com auditório mais ou menos fixo, homogêneo, sedento da Palavra de
Deus, que numa missa rezada ao meio-dia com auditório apressado e inquieto.
13. É bem diferente falar durante uma celebração em que
o calor massacra os ouvintes, e numa celebração festiva em dia de primavera.
Portanto não é fácil dar uma resposta uniforme ao problema do tempo da
pregação. Cabe ao pregador, valendo-se da opinião dos ouvintes e de suas
reações no momento, saber quanto tempo pode falar nesta ou naquela
circunstância. Seja como for, o mais importante é compor e apresentar bem o
sermão!
14. Além disso há abusos em algumas igrejas: prolongar
os avisos. Abusa-se da paciência dos ouvintes. É preciso ter bom
senso e bem apresentados.
15. d) O que o auditório mais espera e mais necessita
da pregação
16. Pelo que vimos anteriormente já podemos perceber
algo da resposta a essa pergunta.
a) Anunciar a mensagem no momento oportuno
17. Já vimos que o ouvinte espera uma mensagem de vida.
Cabe ao pregador, para evitar uma pregação vazia ou confusa, escolher uma
mensagem determinada e concreta, retirada dos
textos litúrgicos e do mistério que está sendo celebrado.
18. Descoberta a mensagem é preciso que o pregador não
se perca em considerações acessórias e eruditas que facilmente desviam a
atenção dos ouvintes. Renunciar a vários assuntos para desenvolver de maneira
normal um só, buscando aprofundar este assunto e conduzi-lo até possibilitar a
opção dos ouvintes, é preciso ser asceta na pregação.
19. E para completar é preciso frisar que a mensagem
deve ser anunciada no momento oportuno. Ter discernimento da circunstância para
proclamar a Palavra de Deus. Em suma, “dizer a mensagem certa no momento
certo”. Isso supõe que o pregador seja, antes de tudo, acima de tudo e, em toda
a parte, um homem de profundo bom senso.
20. b) Que a pregação seja impregnada de
esperança cristã
21. A pregação é proclamação do mistério da salvação,
cujo centro é o Mistério Pascal. Anunciar este mistério é colocar o homem
sempre diante da sua opção por Cristo e consequente exigência de contínua
conversão. Este processo de conversão, iluminado pelo Mistério Pascal, consiste
fundamentalmente numa caminhada de esperança. Caminhada que espera encontrar e
receber na evangelização: ânimo, apoio, luz, correção fraterna. A pregação deve
ser esse instrumento gerador e animador da esperança.
22. Portanto, o ouvinte espera uma palavra edificante e
existencial que ilumine os problemas do dia a dia e o encoraje a assumir as
responsabilidades quotidianas com renovada esperança e realismo otimista.
23. c) Que a pregação seja profética
24. O pregador de uma maneira excelente exerce o munus
profético que desde o Batismo participa em Cristo.
25. O profeta no AT é aquele que prediz o futuro,
profere coisas ocultas e fala em nome de Deus. A sua missão fundamental é falar
em nome de Deus. Assim, o profeta é a boca de Deus (cf. Ez 2,
8; 3, 3). Ele é o porta-voz de Deus, chamado para cumprir uma
determinada missão (cf. Is 6, 1-9; Jr 1,4s; Ez 1,
1s). Em particular o profeta tem a missão de anunciar as maravilhas de
Deus (cf. Os 11,1; Is 49,15), denunciar
o mal, o pecado, principalmente a idolatria e as injustiças sociais (cf. Is 1,
11-17; Os 5, 1-7; 6, 6-7), enviado também para fazer um forte
apelo à conversão (Jl 1,13-14; Is 58,
6-7).
26. O pregador não pode esquecer que, de um certo modo,
ele é herdeiro da missão dos profetas.
27. d) Que a pregação ilumine, purifique e
aprofunde, gradativamente, a religiosidade popular e não destrua os sentimentos
e alma religiosa do nosso povo
28. A pregação deverá partir também da realidade
religiosa do povo.
29. Cf. DAp 300
30. e) Que a pregação seja acima de tudo
Palavra de Deus que brota de um coração cheio de Deus
31. Nunca será demais insistir neste fato já conhecido.
O auditório tem que faro especial para perceber se o pregador
é ou não um homem de Deus. Em palavras de um grande pregador: «O sacerdote deve
dar aquilo que transborda do cálice e não daquilo que está dentro. Assim, ele
estará sempre “cheio”de Deus.»
32. Santo Tomás, ao referir-se ao apostolado insiste em
que no apostolado entrega-se o que se contempla.
33. S. Paulo nos deixou uma página magnífica sobre o
pregador: cf. 1Cor 2,1-5.
34. Santo Agostinho: «Sit orator antequam dictor», «Que
o pregador seja um orante mais que um falante».
35. Longe, portanto, da pregação e do pregador os ares
de sábio inflado, de improvisador que se gaba de sua capacidade. Deve, antes de
tudo, transmitir simplicidade, convicção, confiança, alegria.
36. Como conclusão deste capítulo sobre a
psicossociologia do auditório poderíamos sintetizar em três palavras-chaves
aquilo que os ouvintes mais esperam e mais necessitam da pregação: que os
evangelizadores
1. Sejam luzeiros que brilham num
mundo cercado de toda espécie de trevas;
2. Comuniquem amor, certeza, confiança e esperança aos
ouvintes que não raramente estão angustiados, saturados, confusos,
desesperados;
3. Formem os ouvintes para a vida cristã adulta e
comunitária.
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