sábado, 19 de novembro de 2022

A PASTORAL DA PALAVRA (IV) 5 – A Pregação: Ação Comunicativa e Comunitária

 

A PASTORAL DA PALAVRA (IV)

5 – A Pregação: Ação Comunicativa e Comunitária

1. A Pregação e a ação do Espírito Santo

A homilia é ação comunicativa e, por isso, é radicalmente comunitária.  E ato decisivo de comunicação e, por­tanto, de comunhão.  De um lado, faz que quem preside e fala se comunique com os membros da assembléia; de ou­tro, também influi para que os fiéis se comuniquem entre si.

De um lado, suscita e cria comunidade; mas, de outro, a comunidade influi, pode e deve influir na homilia e no fazer a homilia: há, pois, circularidade no evento da prega­ção homilética.

Além disso, este processo de comunicação possui du­pla vertente: é acontecimento pneumático, influenciado pelo Espírito; e, concomitantemente, é ação psicológica, condicio­nada pelas leis psicológicas próprias da pessoa e do grupo.  Uma coisa não exclui a outra, são diversas mediações de um único ato. Passamos agora a tratar dessas duas vertentes: aspec­to pneumático, e, em seguida, do psicológico na pregação.

Toda ação predicacional é envolvida pela ação do Es­pírito: Ele é a principal força que a suscita e a inspira.  Em primeiro lugar, Jesus, conforme nos conta Marcos (1,9), é justamente depois de receber, por meio do ministério de João, o batismo do Espírito, que começa a pregar.  O mesmo Espírito o leva ao deserto.  Mas, imediatamente a seguir, di­rige-se para a Galiléia, a fim de que comece a anunciar a proximidade do Reino (Mc 1,12-14).  Lucas diz isto explici­tamente: não só a ida para o deserto, após o batismo, mas ainda a viagem posterior para a Galiléia e seu ir começando a ensinar pelas sinagogas, são resultado da ação do Espírito (Lc 4,14-15).  Por sua vez, João afirma muito claramente esta dimensão pneumática da pregação de Jesus quando escreve: «Aquele que Deus enviou (o Filho) diz as palavras de Deus, pois Deus lhe conferiu seu Espírito sem medida» (Jo 3, 34).

Os discípulos de Jesus recebem dele este dom do Espí­rito para prosseguir a pregação agora explicitamente cristã (cristológica) e pascal.  Na cena introdutória dos Atos, o Res­suscitado anuncia aos discípulos o que vai ser como que o programa dos tempos vindouros:

«Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá so­bre vós, para que sejais minhas testemunhas em Jeru­salém, em toda a Judéia, na Samaria e até os confins da terra» (At 1,8).

Portanto, é bem claro que a tarefa predicacional na Igreja vai ser resultado de ação do Espírito.  Efetivamente, os pró­prios Atos o confirmam: antes de Pentecostes, os discípulos, os apóstolos, estão mudos; mas, a partir da efusão do Espírito, começam a pregar (At 2,4).

Novamente João confirma esta união entre Espírito e testemunho quando escreve: «O Espírito da verdade, que procede do Pai, dará testemunho de mim» (Jo 15,26).

O fato da comunicação na pregação eclesial é fato carismático promovido pela ação do Espírito Santo na Igreja que suscita diversos carismas ao redor do testemunho da Palavra tanto na hierarquia quanto em todo o povo fiel, constituído como povo profético. No entanto não podemos esquecer que a função dos Bispos, presbíteros e , presbíteros e diáconos na Igreja, ao pregarem a Palavra, é insubstituível. Eles têm responsabilidade própria na homilia e não podem ceder a outros membros da comunidade não ordenados essa sua responsabilidade. Por isso o Código de Direito Canônico estabelece que a homilia pertença a eles.

2. Dimensões psicológicas na pregação

Além da sua dimensão carismática é preciso recordar que a pregação é fundamentalmente comunicação de pessoas: Deus-pessoa com o ouvinte pessoa.

Precisamente nestes últimos anos, os homiletas, prin­cipalmente de língua alemã, têm feito análises interessan­tes e aplicações de certos estudos da psicologia ao campo da pregação, sobretudo da homilética.

a. O pregador

Uma primeira observação a ter em conta é a seguinte: a homilia não só dá testemunho do evangelho, mas tam­bém do pregador.  O testemunho do evangelho é testemu­nho de fé; e esta passa pela pessoa da testemunha exata­mente porque todo testemunho é algo pessoal.  Toda pre­gação é encontro pessoal entre o pregador e os fiéis que o escutam.  Então o pregador deve questionar-se sobre sua capacidade para este tipo de encontro, isto é, sobre sua capacidade de se relacionar com as pessoas, de acordo com a diversidade de circunstâncias em que se acha situado, o que supoe capacidade de escuta paciente, receptividade e participação em verdadeiro intercâmbio de experiências.  Explicitamente, isto se faz fora, antes da homilia, porém, implicitamente, deve ser feito e continuado durante a homilia.

A homilia pressupõe estabelecer relação pessoal, criar situações em que o outro seja tomado a sério como um tu, como o parceiro do diálogo.

O perigo que ameaça esta comunicação é o de que o ministro esconda sua personalidade sob a máscara de seu papel de pregador, de teólogo ou de especialista.  Então o testemunho deixa de ser pessoal ou desaparecem o tom e o pano de fundo testemunhais, tão importantes.  Quem pre­ga, durante a homilia, não deve silenciar sua experiência pessoal de fé, porque necessita partir de experiências vitais, tanto próprias quanto alheias, até chegar a configurar algu­mas imagens, expressões e linguagem também vitais.  Do contrário, deter-se-á em fazer paráfrase da Escritura ou em moralismo.  E isso não para o pregador cair em subjetivismos, nem psicologismos; porém, para encarnar a Palavra na realidade pessoal tanto de quem ouve quanto de quem fala.

Se se pedem à comunidade a experiência concreta e o compromisso em torno da Palavra, o mesmo deve pedir o pregador a si mesmo.  Deste modo, a homilia tem muito de colocação em comum, por mais monologal que seja.  A fé do ministro da palavra é inseparável da fé da comunidade.

É legítimo, pois, que apareça o eu do ministro da pala­vra; não só como quem confessa a fé na objetividade do credo, mas também na densidade da vida quotidiana.  O melhor antídoto contra o perigo de buscar a si mesmo na pregação consiste em ter atitude eclesial e comunitária.  Concretamente isto quer dizer: sentir-se em união com a comu­nidade de fiéis e, como conseqüência, esforçar-se para uma busca e escuta no âmbito da comunidade, que é a «comu­nhão no Espírito» (2Cor 13,13).

Quanto à experiência pessoal de quem preside certamente, a pregação do evangelho é incompatível com o pregar-se a si mesmo.  Não se pode reduzir o conteúdo da pregação à comunicação de experiências subjetivas.

No entanto, esta crítica não diz respeito a quem convida a participar da praxe vital da fé cristã e, por causa disto, em certos contextos, não silencia sua própria experiência pessoal.  Alguns fogem e se defendem deste risco e compro­misso que supõem a comunicação, o tom e o testemunho pessoais refugiando-se em uma objetividade que pode ser válida para uma aula ou atividade acadêmica, porém não para o serviço da Palavra diante da comunidade.  Suposta­mente, toda personalidade possui suas limitações, princi­palmente neste campo tão difícil, mas aceitar esta realidade com humildade já é um modo de superá-la.  E acima de tudo: a humildade é o melhor testemunho evangélico.

b. A psicossociologia do auditório

Além disso, convém levar em consideração alguns outros elementos fundamentais na pregação a partir de sua dimensão psicológica, pois ela é um fato humano submetido às leis e condicionamentos psicológicos: o auditório diversificado, o local da pregação e os fatores que influem para uma eficiente proclamação da Palavra de Deus ou que prejudiquem à mesma.

a) O que se entende por psicossociologia do auditório

Por psicossociologia do auditório entendemos tudo aquilo que revele as aspirações do auditório, sua cultura, seu modo de pensar, suas preocupações, sua religiosidade, as circunstâncias em que a Palavra de Deus é anunciada, o local, o fator tempo, etc.

O auditório

Comecemos o nosso tema dando uma rápida olhada ao auditório que temos diante de nós e alguns elementos que nele se encontram:

1 – Grande sede da Palavra de Deus

As pesquisas mostram cada vez mais que boa parte dos que participam em nossas celebrações vão buscando ouvir uma mensagem de vida, de esperança e de salvação.

Cf. Am 8,11

2 – Hipercríticos

Além dos que pertencem ao primeiro grupo é preciso contar com a presença dos hipercríticos, que tudo criticam. Um conselho interessante de um sacerdote vienense: «A estes hipercríticos levianos dever-se-ia dar como penitência a preparação de um sermão dominical» (Joseph Ernest Mayer).

3 – Indiferentes

Um terceiro grupo corresponde aos indiferentes, os que freqüentam por mero formalismo. Falar-lhe não é fácil.

4 – Um outro elemento psicossociológico a mencionar trata-se da maneira de captar a pregação da parte dos ouvintes, especialmente o povo simples, maioria de nossos auditórios. Normalmente não aceitam as homilias com longo raciocínio, de sabor intelectual. Preferem a linguagem concreta, simples, existencial, transparente do evangelho.

5 – A heterogeneidade do auditório

Trata-se de um dos aspectos que mais dificulta a boa apresentação da Palavra de Deus. Salvo algumas celebrações para grupos homogêneos (casais, jovens, crianças…), normalmente o auditório é bastante heterogêneo: pessoas idosas, crianças barulhentas, diversidade de cultura e formação religiosa, ouvintes fechados, sedentos buscando crescimento na fé, indiferentes, os atrasados que sempre atrapalham.

Encontramos o ouvinte que vive numa sociedade pluralista que tem contato com outras culturas, religiões, filosofias diversas, etc. Encontramos o ouvinte atento e exigente que seleciona o que ouve e, nas cidades, onde for possível, escolhe o pregador que mais o satisfaz. Compara o que ouviu com outras idéias (em reflexão pessoal ou com amigos num processo de filtração daquilo que se ouve).

Também temos o ouvinte cômico: o bêbado, o louco, entram gritando, gesticulando. Também está a figura do ouvinte ladrão, aquele que espera que as pessoas se destraiam para roubá-las.

Nosso auditório é verdadeiramente heterogêneo. Assim afirma um ex-deputado:

«Estou habituado a enfrentar os mais variados auditórios em minhas campanhas políticas e em outras circunstâncias. Tive também a feliz oportunidade de falar inúmeras vezes como leigo cristão em várias igrejas. Pois bem, de todos os auditórios, o mais difícil é, salvo exceções, o das igrejas, por ser o mais heterogêneo» (Guido Moesch – RS).


Acústica-dicção

Há igrejas com ótima, razoável ou péssima acústica; como também há pregadores com ótima, razoável ou péssima dicção.

Para a eficácia na pregação é preciso considerar a importância da boa acústica e da boa dicção. Esses elementos são indispensáveis. Não se pode esquecer essa verdade central: a pregação deve chegar primeiramente aos ouvidos, antes de penetrar os corações dos ouvintes.

Local

Os locais onde a Palavra de Deus é proclamada são diversos e variados. Assim, temos igrejas de vários tamanhos: pequenas, médias, redondas, em forma de cruz, cheia de colunas, igrejas que se assemelham a um campo de futebol, vários salões, etc.

Igrejas sujas, quentes, mal arejadas, sem bom gosto arquitetônico, frias e nada acolhedoras. Igrejas cujos repetidos ecos tornam quase impossível o anúncio da Palavra de Deus, Igrejas espaçosas onde o pregador se sente como que perdido com muita dificuldade de se comunicar e dialogar com os ouvintes. Não se podem esquecer também as celebrações e evangelização ao ar livre, em grandes e pequenas romarias, concentrações e outros acontecimentos.

Isso mostra que a pregação se por um lado sofre de limitações, por outro encontra fácil e frutuosa acolhida. Não esqueçamos que um lugar de espaço médio, arejado, com boa acústica, acolhedor, com boa iluminação, facilita muito a comunicação com o auditório e, conseqüentemente, permite que haja mais eficiência na evangelização.

Outras circunstâncias

O pregador deve levar em conta e enfrentar também outras circunstâncias: assim, existem os momentos de luto e de festa; momentos de alegre e ansiosa expectativa bem como de indisposição tanto para os ouvintes quanto para o pregador; momentos marcados pela pressa, cansaço, agitação; momentos que favorecem o silêncio e a interiorização da Palavra de Deus e momentos prejudicados pelo incessante barulho.

O que dizer quando se sabe que alguém está deprimido? Como falar quando uma tempestade parece desabar a Igreja? O que dizer ao ouvinte que acaba de fracassar nos negócios, ou a quem aconteceu alguma tragédia?

Apesar de toda a problemática do auditório, do local e de outras circunstâncias, não podemos esquecer que também temos um auditório mais ou menos fiel! É um lado importante e que deve ser valorizado

b) Como conhecer a psicossociologia do auditório

Há diversos meios para conhecer a psicossociologia do auditório:

a) Reuniões com dinâmica de grupo com jovens, casais, movimentos; são uma escola sempre renovada para o pregador se inteirar da maneira de ver, sentir, refletir, reagir dos ouvintes.

b) Visitas informais à famílias, onde reina um clima franco e espontâneo, clima que favorece troca de idéias sobre qualquer assunto; encontros com debates sobre temas atuais, etc.

c) Aproveitar estudos, pesquisas, levantamentos sobre a opinião que se tem sobre a pregação realizada na Igreja.

c) O que o auditório mais censura nas pregações

Vamos simplesmente ater-nos nas grandes linhas que nos parecem as mais questionadas pelo auditório:

a)    Pregação abstrata-aérea-vaga: pregações muito generalizadas, aéreas, afastadas da realidade do dia-a-dia. Pregações filosofizantes que seriam melhores para um ambiente selecionado (aulas, congressos) que para os auditórios de nossas igrejas. Pregações vagas: que não descem ao concreto, pregações que não atingem o alvo, não comprometem. É bom lembrar que «toda pregação que não se transforma num chamado à conversão, corre o perigo de deixar de ser Evangelho para tornar-se conferência» (J. Audusseau e X. Leon Dufour).

b)    Pregação confusa

1.    Antigamente, a maioria das pregações primavam pela busca de uma estrutura lógica, por vezes até demasiado rígidas. Hoje, porém, certas pregações são totalmente confusas que o ouvinte não sabe o que o pregador está querendo dizer. Pregações sem pé nem cabeça! Muitas vezes isso acontece como fruto, em muitos seminários, da falta de preparação para este ministério, falta de exercícios de preparação de temas, desleixo na preparação da homilia, etc.

c)    Pregação materializante

2.    São aquelas em que o pregador se ocupa, de preferência, em abordar o assunto dinheiro. A toda hora fala de campanhas de ordem financeira, administrativa, construções, etc. Prestam-se mais para administradores do que arautos da Palavra de Deus.

3.    Aqui convém recordar a importância da corresponsabilidade dos leigos, lembrando que os Apóstolos preferiram dedicar-se à oração e à pregação da Palavra e os diáconos cuidariam da administração.

d)    Pregação vazia

4.    Pregações cansativas pelo fato de não ter conteúdo. O vazio na pregação é razão de tantas queixas. O pregador que habitualmente não estuda, não medita, o que se pode esperar dele? Este é indiscutivelmente um dos grandes escândalos de um número, não pequeno, de pregadores!!!

e)    Pregação monótona

5.    Pela maneira de apresentar sermões com os mesmos gestos, com a mesma entonação de voz. Monotonia pela falta de colorido em imagens, fatos, figuras que possam prender a atenção do ouvinte. Monótona porque repete as mesmas idéias de sempre…quanto sono!

f)     Falta de boa acústica – de boa dicção

6.    Aqui convém recordar o de sempre: a base doutrinal dessa exigência é que a Palavra primeiramente deve atingir os ouvidos. Um grande número de pregadores não se faz ouvir suficientemente. Reparar a acústica de tantas igrejas e também a dicção. É preciso encontrar soluções para o assunto.

g)    Pregação contratestemunho

7.    O pregador deve ser o primeiro a testemunhar o Evangelho. É sua obrigação fundamental. Repercute mal ouvir falar em união da comunidade, entre esposos, pais e filhos, quando na casa do pároco reina a discórdia entre os que ali vivem, quando a funcionária da casa paroquial recebe mal o povo, quando o vigário fala mal abertamente contra os seus colegas.

h)    Pregação agressivo-dominadora

8.    Certos pregadores usam um tom de voz muito agressivo e dominador. Tratam os ouvintes como crianças que devem ser subjugadas à força. Parece que tais pregadores projetam consciente ou inconscientemente seus problemas e descarregam sobre o auditório.

9.    É bom lembrar que o púlpito-dizem dele “arma do pregador”-não foi feito para que o arauto da Palavra de Deus exponha suas perguntas e dúvidas, nem extravase suas angústias e seus problemas, mas para dar aos ouvintes as respostas de Deus.

i)      Pregação socializante, psicologizante, ambígua

10.  Tornou-se, poder-se-ia dizer, uma verdadeira obsessão, acentuar em certas pregações a idéia do social, do psicológico, como se Deus não existisse, como se o cristianismo não fosse, em primeiro lugar, obra do amor de Deus e, portanto, antes de tudo, dom de Deus, graça.

11.  Não há dúvida de que a evangelização tenha de se valer desses instrumentos da sociologia e da psicologia, que o cristão deva engajar-se e comprometer-se com a ordem temporal, que a psicologia esclareça-nos sobre a conduta do homem sob diversos aspectos; no entanto, não é possível transformar o Evangelho em sociologia ou psicologia. Como também não é possível apresentar um Evangelho que não engaje. É preciso começar a empreender o caminho da evangelização que leve à simbiose entre o vertical e o horizontal, o natural e o sobrenatural, o terreno e o celeste, lembrando-nos que ao lado de todos os progressos, ao lado de todos os auxílios da ciência, o Evangelho é acima de tudo palavra e ação de Deus: «Se o Senhor não constrói a casa, em vão trabalham os construtores» (Sl 126, 1).

j)      Pregação demasiado longa

12.  É sabido por todos que a homilia deve ser breve, não passando de 10 a 15 minutos. Tudo o que é anunciado leva a cor do tempo, é limitado pelo tempo e deve ser situado no devido tempo. É bem diferente falar numa missa com auditório mais ou menos fixo, homogêneo, sedento da Palavra de Deus, que numa missa rezada ao meio-dia com auditório apressado e inquieto.

13.  É bem diferente falar durante uma celebração em que o calor massacra os ouvintes, e numa celebração festiva em dia de primavera. Portanto não é fácil dar uma resposta uniforme ao problema do tempo da pregação. Cabe ao pregador, valendo-se da opinião dos ouvintes e de suas reações no momento, saber quanto tempo pode falar nesta ou naquela circunstância. Seja como for, o mais importante é compor e apresentar bem o sermão!

14.  Além disso há abusos em algumas igrejas: prolongar os avisos. Abusa-se da paciência dos ouvintes. É preciso ter bom senso e bem apresentados.

15.  d) O que o auditório mais espera e mais necessita da pregação

16.  Pelo que vimos anteriormente já podemos perceber algo da resposta a essa pergunta.

a)    Anunciar a mensagem no momento oportuno

17.  Já vimos que o ouvinte espera uma mensagem de vida. Cabe ao pregador, para evitar uma pregação vazia ou confusa, escolher uma mensagem determinada concreta, retirada dos textos litúrgicos e do mistério que está sendo celebrado.

18.  Descoberta a mensagem é preciso que o pregador não se perca em considerações acessórias e eruditas que facilmente desviam a atenção dos ouvintes. Renunciar a vários assuntos para desenvolver de maneira normal um só, buscando aprofundar este assunto e conduzi-lo até possibilitar a opção dos ouvintes, é preciso ser asceta na pregação.

19.  E para completar é preciso frisar que a mensagem deve ser anunciada no momento oportuno. Ter discernimento da circunstância para proclamar a Palavra de Deus. Em suma, “dizer a mensagem certa no momento certo”. Isso supõe que o pregador seja, antes de tudo, acima de tudo e, em toda a parte, um homem de profundo bom senso.

20.  b) Que a pregação seja impregnada de esperança cristã

21.  A pregação é proclamação do mistério da salvação, cujo centro é o Mistério Pascal. Anunciar este mistério é colocar o homem sempre diante da sua opção por Cristo e consequente exigência de contínua conversão. Este processo de conversão, iluminado pelo Mistério Pascal, consiste fundamentalmente numa caminhada de esperança. Caminhada que espera encontrar e receber na evangelização: ânimo, apoio, luz, correção fraterna. A pregação deve ser esse instrumento gerador e animador da esperança.

22.  Portanto, o ouvinte espera uma palavra edificante e existencial que ilumine os problemas do dia a dia e o encoraje a assumir as responsabilidades quotidianas com renovada esperança e realismo otimista.

23.  c) Que a pregação seja profética

24.  O pregador de uma maneira excelente exerce o munus profético que desde o Batismo participa em Cristo.

25.  O profeta no AT é aquele que prediz o futuro, profere coisas ocultas e fala em nome de Deus. A sua missão fundamental é falar em nome de Deus. Assim, o profeta é a boca de Deus (cf. Ez 2, 8; 3, 3). Ele é o porta-voz de Deus, chamado para cumprir uma determinada missão (cf. Is 6, 1-9; Jr 1,4s; Ez 1, 1s). Em particular o profeta tem a missão de anunciar as maravilhas de Deus (cf. Os 11,1; Is 49,15), denunciar o mal, o pecado, principalmente a idolatria e as injustiças sociais (cf. Is 1, 11-17; Os 5, 1-7; 6, 6-7), enviado também para fazer um forte apelo à conversão (Jl 1,13-14; Is 58, 6-7).

26.  O pregador não pode esquecer que, de um certo modo, ele é herdeiro da missão dos profetas.

27.  d) Que a pregação ilumine, purifique e aprofunde, gradativamente, a religiosidade popular e não destrua os sentimentos e alma religiosa do nosso povo

28.  A pregação deverá partir também da realidade religiosa do povo.

29.  Cf. DAp 300

30.  e) Que a pregação seja acima de tudo Palavra de Deus que brota de um coração cheio de Deus

31.  Nunca será demais insistir neste fato já conhecido. O auditório tem que faro especial para perceber se o pregador é ou não um homem de Deus. Em palavras de um grande pregador: «O sacerdote deve dar aquilo que transborda do cálice e não daquilo que está dentro. Assim, ele estará sempre “cheio”de Deus.»

32.  Santo Tomás, ao referir-se ao apostolado insiste em que no apostolado entrega-se o que se contempla.

33.  S. Paulo nos deixou uma página magnífica sobre o pregador: cf. 1Cor 2,1-5.

34.  Santo Agostinho: «Sit orator antequam dictor», «Que o pregador seja um orante mais que um falante».

35.  Longe, portanto, da pregação e do pregador os ares de sábio inflado, de improvisador que se gaba de sua capacidade. Deve, antes de tudo, transmitir simplicidade, convicção, confiança, alegria.

36.  Como conclusão deste capítulo sobre a psicossociologia do auditório poderíamos sintetizar em três palavras-chaves aquilo que os ouvintes mais esperam e mais necessitam da pregação: que os evangelizadores

1.    Sejam luzeiros que brilham num mundo cercado de toda espécie de trevas;

2.    Comuniquem amor, certeza, confiança e esperança aos ouvintes que não raramente estão angustiados, saturados, confusos, desesperados;

3.    Formem os ouvintes para a vida cristã adulta e comunitária.

https://presbiteros.org.br/manual-de-homiletica/

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