Com recessão econômica global à vista, como fica o Brasil em 2023?
Presidente
eleito pode enfrentar grande desafio com a economia brasileira neste ano.
Marcelo
de Sá
A questão não parece mais ser se haverá recessão
econômica, mas quando ela chegará ao Brasil e como isso deve impactar a vida
dos brasileiros. O aperto monetário já desenhava a situação que deve
desencadear uma recessão global.
O cenário econômico mundial apresenta sinais
instáveis há algum tempo. Economicamente dependente de países como Estados
Unidos e China, o Brasil não sairá ileso. Euforias (ou decepções) eleitorais à
parte, são as estatísticas de um lado e as projeções de outro que assumem
caráter pouco animador.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom)
do Banco Central durante a 7ª reunião do ano, de manter a taxa básica de juros
(Selic) em 13,75%, não foi exatamente uma surpresa para quem acompanha nossas
finanças.
Apesar
de previsível, dadas as pressões inflacionárias ao redor do mundo e a
desaceleração da atividade econômica global, o nível da Selic em dois dígitos desanima
e assusta: a taxa atual é a maior desde 2016.
Com
impacto direto na inflação, espera-se que a taxa de juros siga elevada para os
consumidores, agravando a situação financeira no país e comprometendo o
crescimento econômico brasileiro em 2023.
De
acordo com a previsão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), o crescimento previsto para o Brasil, de míseros 0,6%,
representa um quinto da projeção de crescimento mundial (3%) este ano.
Para
2023, a entidade prevê um avanço de 1,2% para o país, pouco menos da metade da
projeção mundial (2,8%). Antes, a OCDE previa que por aqui cresceríamos 2,1% no
próximo ano.
E as notícias ruins
ainda continuam. Enquanto no Brasil, especialistas indicam 25% de chance de
recessão, nos Estados Unidos esse número sobe para pelo menos o dobro, em um
período de 6 a 18 meses. Se isso se confirmar, o país deve sofrer um período de
desaceleração mais forte, o que provocaria uma série de efeitos negativos, a
começar pelo aperto de renda que tem como consequência o desemprego e a perda
do poder de compra pela população.
Há
chance de o Brasil não sofrer efeitos tão graves com a recessão se medidas do
Banco Central conseguirem conter a inflação e outros números relacionados a
emprego e renda. Para que isso aconteça, o governo precisa se empenhar para
melhorar a situação da população, investindo na economia, com movimentos que
apoiem as pequenas empresas e que sejam geradores de novos empregos. A conta é
simples: se não há capital girando no mercado, as pessoas reduzem seus gastos e
a economia sofre.
Volatilidade
da economia aumenta a incerteza dos mercados
A
desaceleração das economias avançadas pressiona os mercados com economias mais
frágeis, caso do Brasil, que ainda sofre as consequências negativas da pandemia,
reforçando a desigualdade social no país.
Aliada
a isso, outras incertezas políticas mundiais, como a sequência do conflito
entre Rússia e Ucrânia, ampliam os receios com a economia global, gerando
volatilidade e aumentando a cautela do mercado financeiro.
É
matemático: quando há recessão global, investidores tendem a buscar maior
segurança nas aplicações, o que implica arriscar menos e tirar dinheiro de
países como o Brasil. Aliás, há poucas opções para investir com segurança,
atualmente, em quase todo lugar do mundo. Podemos esperar para ver: os próximos
meses prometem ser turbulentos também para o mercado financeiro.
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Como
reação negativa imediata à vitória de Lula, as ações da Petrobrás tiveram queda
acentuada, com perda de valor de mercado superior a R$ 34Bi, um dia após o
resultado da eleição. Seguindo o mesmo curso, outra estatal listada na bolsa
que também sofreu foi o Banco do Brasil, que viu seu valor de mercado tropeçar
em mais de R$ 5Bi.
O
ciclo atual de aperto monetário deve se agravar neste final de 2022 e se
estender ao longo do próximo ano. Investidores mais otimistas esperam que o
futuro ministro da economia aja rapidamente para estancar a sangria de
indicadores que ameaçam agravar a crise.
Nesta
fase de transição é intensa a pressão sobre o presidente eleito para definir a
equipe econômica. Nomes mais aventados na primeira semana do processo foram o
do ex-presidente do Banco Central de Lula, Henrique Meirelles, Fernando Haddad
(preferido pelo PT) e até André Lara Resende, um dos artífices do Plano Real e
que se incorporou ao time da transição na semana passada.
O
pior da crise econômica ainda está por vir
O
mundo está a caminho de uma nova crise mundial, pelo menos é o que indica as
previsões mais realistas, baseadas no relatório recente do Fundo Monetário
Internacional (FMI). Segundo o Fundo, 2023 será marcado por recessões, com um
terço da economia global passando por dificuldades financeiras.
Projetando
uma desaceleração da economia de 2,7% em 2023, o FMI prevê que a inflação deve
atingir seu pico ainda em 2022 (8,8%) e ficar em torno de 6,5% no próximo ano.
Com a crise mundial, o dólar deve ganhar forças, enfraquecendo as exportações e
aumentando a dívida de países em desenvolvimento, como o Brasil, a um nível
pesado. Tudo que é comprado em dólar se torna mais caro, influenciando
diretamente a inflação.
O
cenário mais temido pelos brasileiros é o da persistência dos juros altos para
pressionar para cima o preço dos alimentos e reduzir a demanda por exportações,
ameaçando empurrar milhões para a vulnerabilidade.
Lula
e Bolsonaro sabiam disso e abordaram fortemente o tema da retomada econômica
durante a campanha eleitoral com a intenção de angariar votos dos mais
preocupados com as previsões.
A
preocupação é legítima: a economia vai exigir cuidados. Resta descobrir agora o
que o novo presidente eleito fará para puxar o crescimento econômico e não
quebrar promessas. Dessa vez será difícil para Lula reverter o quadro espinhoso
em que se encontra o país sem causar decepções.
*Marcelo de Sá é CFO do Grupo Petrópolis, fabricante das marcas
de cerveja Itaipava, Petra, Black Princess, Cacildis, Crystal, Lokal e Weltenburger
Kloster, do refrigerante it!, do energético TNT e da água mineral Petra
https://exame.com/bussola/com-recessao-economica-global-a-vista-como-fica-o-brasil-em-2023/
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