REFLEXÃO DOMINICAL II:
FELIZES OS POBRES EM ESPÍRITO
A liturgia deste
domingo faz-nos meditar sobre as Bem-Aventuranças (cf. Mt 5, 1-12a), que abrem
o grande sermão chamado “da montanha”, a Carta Magna do Novo Testamento. [...]
Quero meditar sobre a primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres em
espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (v. 4). O pobre em espírito é quem
assumiu os sentimentos e as atitudes daqueles pobres que na sua condição não se
rebelam, mas sabem ser humildes, dóceis, disponíveis à graça de Deus. A
felicidade dos pobres — dos pobres em espírito — tem uma dupla dimensão: em
relação aos bens e em relação a Deus. Relativamente aos bens, aos bens
materiais, esta pobreza em espírito é sobriedade: não necessariamente renúncia,
mas capacidade de apreciar o essencial, de partilhar; capacidade de renovar
todos os dias a admiração pela bondade das coisas, sem sucumbir à opacidade do
consumo voraz. Quanto mais tenho, mais quero; quanto mais tenho, mais quero:
esse é o consumo voraz. E isso mata a alma. E o homem ou a mulher que faz isso,
que tem essa atitude “quanto mais tenho, mais quero”, não é feliz e não
alcançará a felicidade. Em relação a Deus é louvor e reconhecimento que o mundo
é bênção e que na sua origem está o amor criador do Pai. Mas é também abertura
a Ele, docilidade à sua senhoria: Ele é o Senhor, Ele é o Grande, eu não sou grande
porque tenho muitas coisas! É Ele: Ele que quis o mundo para todos os homens e
o quis para que os homens fossem felizes. O pobre em espírito é o cristão que
não confia em si mesmo, nas riquezas materiais, não se obstina nas suas
opiniões pessoais, mas escuta com respeito e aceita de bom grado as decisões de
outros. Se nas nossas comunidades existissem mais pobres em espírito, haveria
menos divisões, contrastes e polêmicas! A humildade, como a caridade, é uma
virtude essencial para a convivência nas comunidades cristãs. Os pobres, nesse
sentido evangélico, parecem-se com aqueles que mantêm viva a meta do Reino dos
céus, fazendo entrever que este é antecipado de forma germinal na comunidade
fraterna, que à posse privilegia a partilha. Gostaria de sublinhar isto: à
posse privilegiar a partilha. Ter sempre o coração e as mãos abertas (faz o
gesto), não fechadas (faz o gesto). Quando o coração está fechado (faz o
gesto), é um coração apertado: nem sequer sabe como amar. Quando o coração está
aberto (faz o gesto), se encaminha para a senda do amor. A Virgem Maria, modelo
e primícia dos pobres em espírito, porque totalmente dócil à vontade do Senhor,
nos ajude a abandonar-nos a Deus, rico em misericórdia, a fim de que nos enche
dos seus dons, especialmente da abundância do seu perdão.
Papa Francisco Ângelus , 01/2017
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