REFLEXÃO DOMINICAL III
AS NAÇÕES SE ENCAMINHAM PARA A LUZ
Por Aíla Luzia Pinheiro Andrade
I. INTRODUÇÃO GERAL
Na liturgia da solenidade de Maria, Mãe de Deus, o enfoque estava
na humanidade de Jesus; hoje celebramos a manifestação e o reconhecimento de
sua divindade. O que celebramos na liturgia é o que esperamos: que todos os
povos reconheçam e adorem em Jesus o Deus de Israel. A primeira leitura anuncia
a vocação das nações à fé no Deus vivo e verdadeiro. No evangelho, vemos em
torno de Jesus os magos (sábios do Oriente), como representantes de todos os
povos, para prestar-lhe homenagem e adoração. Na humildade do ambiente onde se
encontra o menino, deve-se reconhecer a luz da salvação oferecida por Deus a
todos os seres humanos. Também Paulo fala desse grandioso mistério que ele
mesmo teve a missão de anunciar: os gentios são chamados a formar o mesmo
corpo, isto é, a ser participantes da mesma promessa anteriormente destinada
apenas a Israel. É na luz de Jesus que caminham os cristãos e é para essa luz que
deve se encaminhar toda a humanidade.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Mt 2,1-12): Vimos sua estrela e viemos adorá-lo
Epifania significa literalmente manifestação. Nesta solenidade, a
liturgia nos apresenta a manifestação da universalidade da salvação realizada
em Cristo. Jesus, o rei dos judeus, é adorado pelos magos (sábios do Oriente),
representantes de todos os povos. Isso significa que a promessa feita
primeiramente a Israel atinge agora a todos os que acolhem o Cristo.
Na época em que foi escrito o Novo Testamento, os povos ainda eram
politeístas (adoravam muitos deuses). Por isso se usava a metáfora de que as
nações caminhavam nas trevas, enquanto Israel era orientado pela luz da
Escritura.
Com a entrada de Jesus na história, a palavra de Deus incultura-se.
O evangelho afirma que alguns sábios estrangeiros (do Oriente) viram a estrela
e a seguiram. Isso significa que Deus se valeu da admiração que os astros
exerciam sobre as nações politeístas e as guiou para o Cristo. Os sábios
orientais enfrentaram um caminho desconhecido e encontraram o menino, a
verdadeira luz, da qual a estrela era apenas um sinal. Os sábios se deixaram
guiar e encontraram um menino muito mais humilde e também mais importante do
que pensaram. Depois daquele encontro, eles percorreram outro caminho, não mais
guiados por um corpo estelar, mas pela estrela de Davi, o Messias. Seguiram o
caminho indicado por Deus, o caminho que é a verdade e a vida, o próprio Jesus.
O evangelho afirma que os mestres (ou sábios) judeus tinham
conhecimento até do local onde deveria nascer o Messias descendente de Davi.
Mas, apesar de serem os primeiros destinatários das promessas de Deus, aqueles
mestres de Jerusalém não acolheram a luz verdadeira que é Jesus. Foi necessário
que sábios estrangeiros viessem do Oriente para lhes anunciar (orientar sobre)
a chegada do Messias de Israel, quando, ao contrário, Israel é que deveria
orientar as nações para Deus.
2. I leitura (Is 60,1-6): As nações caminharão na tua luz
Quando o povo de Israel foi expulso da Terra Prometida e se
dispersou pelo mundo, sentia-se mergulhado nas trevas das nações politeístas e
violentas. Mas, apesar dessas circunstâncias, o profeta vê um final glorioso:
quando tudo parecer desmoronar e dissolver-se na escuridão, a glória de Deus
será refletida por meio de Israel e iluminará as nações, que começarão a andar
na luz do amanhecer de um novo tempo.
O profeta está convencido de que os judeus retornarão para a Terra
Prometida e de que as nações nas quais eles estavam dispersos verão a glória de
Deus refletida no povo de Israel e então também elas se encaminharão para
Jerusalém. Israel será como um oceano de luz para as nações antes imersas nas
trevas do politeísmo.
3. II leitura (Ef 3,2-3a.5-6): Em Cristo, os gentios
participam da promessa
Paulo afirma ter recebido um encargo sagrado (v. 3): foi-lhe
conferida a graça de proclamar o evangelho aos gentios, ou seja, aos não
judeus.
O apóstolo insiste que sua atividade missionária entre os gentios
não foi uma decisão pessoal. Dar a conhecer o evangelho a todas as nações foi
um ato poderoso de Deus em seu plano eterno de salvação da humanidade. Coube a
Paulo a docilidade e a fidelidade ao chamado divino.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
O enfoque da liturgia de hoje não está na devoção aos magos, mas sim na
manifestação da divindade de Jesus e no apelo à missão.
Quem vê a luz da estrela deve pôr-se a caminho. Solicitude e
prontidão são as atitudes dos magos e do apóstolo Paulo, que servem de exemplo
aos cristãos de nosso tempo.
No hoje de nossa existência, faz-se necessário reconhecer a luz de
Cristo numa sociedade dividida na pluralidade de tantas luzes que apontam para
várias direções, mas nem sempre refletem a luz inextinguível que é o Cristo.
Para que as pessoas de hoje possam adorar o Deus vivo e verdadeiro,
é necessário que os cristãos saiam do comodismo e individualismo e, por meio da
missão e do testemunho de vida, façam brilhar para o mundo a “estrela de Davi”,
o Filho de Deus.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
Graduada em Filosofia
pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de
Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em
Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade
Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas –
teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com.
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/5-de-janeiro-epifania-do-senhor/
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