segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

PARTILHANDO A PALAVRA

 

II- PARTILHANDO A PALAVRA

Com esta celebração iniciamos a Quaresma, tempo de preparar a grande festa da vitória da vida sobre a morte com a ressurreição de Cristo. Queremos com Ele fazer parte de sua vitória morrendo para o pecado, e pela graça e força do seu Espírito, renascer para uma vida nova.

- O rito da imposição das cinzas, que logo faremos, recorda-nos nossa finitude humana, nossa pequenez e quão efêmera é a nossa vida nesse mundo; recorda ainda que do pó viemos e ao pó voltaremos. Com esta consciência evitaremos tantas atitudes mesquinhas e arrogantes, como se fôssemos eternos neste mundo ou superiores aos outros. As cinzas têm a função de abrir nosso coração para a prática da penitência, misericórdia, solidariedade, humildade e vivência da autêntica fraternidade. Sendo mais humildes, nos relacionaremos melhor com nossos irmãos e irmãs e com Deus. - Para trilharmos o caminho de uma verdadeira conversão, a liturgia deste dia nos apresenta elementos essenciais a serem vivenciados nestes quarenta dias: a esmola, a oração e o jejum, práticas que tem como finalidade colocar-nos em sintonia com nosso próximo, com Deus e conosco mesmos. Estas três dimensões devem ser vividas intensamente e praticadas sem alarde, em silêncio, como recomenda o Evangelho.

- A esmola expressa a caridade para com o próximo. Quem consegue compadecer-se do sofrimento, da dor, da miséria alheia, já deu um importante passo no processo de conversão. A oração é a maneira mais eficaz de nos colocarmos em sintonia com Deus. E a oração chega ao coração de Deus quando brota da sinceridade do nosso coração convertido ou que nutre um profundo desejo de conversão. Não é simplesmente ter momentos de oração, mas fazer-se oração. Rezar muito, com paixão, com disciplina. Uma oração despojada, simples, direta, espontânea. Oração como mestra espiritual de nossa vida, que nos mantém em sintonia com aquele que nos ama incondicionalmente.

- O terceiro elemento do processo de conversão é o jejum, que significa penitência. Toda penitência deve ter um propósito de mudança de vida, de reparação dos erros e tropeços, e de um profundo desejo de conversão. Sempre é bom lembrar que jejum não é simplesmente abster-se de alguma coisa, deixar de comer isso ou aquilo, mas como nos ensina o profeta Isaías, o jejum que agrada a Deus é este: "acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar os pobres sem abrigo, vestir aquele que está nu (Is 58).

- Não há conversão a Deus que não se expresse no testemunho de uma autêntica fraternidade. A Campanha da Fraternidade, que tem como objetivo vivenciar e assumir a dimensão fraterna, comunitária e social da Quaresma, ilumina e valoriza os gestos fundamentais deste tempo litúrgico: a oração, o jejum e a caridade. Neste ano, o tema "Fraternidade e Fome", e o lema: "Dai-lhes vós mesmos de comer" (Cf. Mt 14,16), tem o objetivo de "despertar a solidariedade nos fiéis e na sociedade em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução à luz do Evangelho". A Campanha da Fraternidade é celebrada no período quaresmal e convida os católicos a imitarem a misericórdia do Pai repartindo o pão com os necessitados e fortificando nosso espírito fraterno.

- O tema da fome já foi abordado na Campanha de 1985. Dois grandes eventos marcaram a Igreja no Brasil em 1985: a realização do 11º Congresso Eucarístico Nacional em Aparecida (SP) e a Campanha da Fraternidade. Ambas iniciativas receberam o mesmo lema "Pão para quem tem fome". Um dos grandes temas refletidos foi o cenário da fome apresentado como "um problema crucial". Quase 40 anos depois contemplamos um triste e semelhante cenário. A cada dia fica mais evidente que a pandemia sanitária da Covid-19 agravou a situação de insegurança e vulnerabilidade social. Na Fratelli Tutti, o Papa Francisco fala do escândalo da fome e chama o atual sistema de assassino: "As crises sociais, políticas e econômicas fazem morrer à fome milhões de crianças, já reduzidas a esqueletos humanos por causa da pobreza e da fome; reina um inaceitável silêncio internacional" (n.29). O Santo Padre adverte ainda que "a política mundial não pode deixar de colocar entre seus objetivos principais e irrenunciáveis o eliminar efetivamente a fome. Com efeito, quando a especulação financeira condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como uma mercadoria qualquer, milhões de pessoas sofrem e morrem de fome… a fome é criminosa e a alimentação é um direito inalienável" (n.189)

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