II- PARTILHANDO A PALAVRA
Com esta celebração
iniciamos a Quaresma, tempo de preparar a grande festa da vitória da vida sobre
a morte com a ressurreição de Cristo. Queremos com Ele fazer parte de sua
vitória morrendo para o pecado, e pela graça e força do seu Espírito, renascer
para uma vida nova.
- O rito da imposição
das cinzas, que logo faremos, recorda-nos nossa finitude humana, nossa pequenez
e quão efêmera é a nossa vida nesse mundo; recorda ainda que do pó viemos e ao
pó voltaremos. Com esta consciência evitaremos tantas atitudes mesquinhas e
arrogantes, como se fôssemos eternos neste mundo ou superiores aos outros. As
cinzas têm a função de abrir nosso coração para a prática da penitência,
misericórdia, solidariedade, humildade e vivência da autêntica fraternidade.
Sendo mais humildes, nos relacionaremos melhor com nossos irmãos e irmãs e com
Deus. - Para trilharmos o caminho de uma verdadeira conversão, a liturgia deste
dia nos apresenta elementos essenciais a serem vivenciados nestes quarenta
dias: a esmola, a oração e o jejum, práticas que tem como finalidade
colocar-nos em sintonia com nosso próximo, com Deus e conosco mesmos. Estas
três dimensões devem ser vividas intensamente e praticadas sem alarde, em
silêncio, como recomenda o Evangelho.
- A esmola expressa a
caridade para com o próximo. Quem consegue compadecer-se do sofrimento, da dor,
da miséria alheia, já deu um importante passo no processo de conversão. A
oração é a maneira mais eficaz de nos colocarmos em sintonia com Deus. E a
oração chega ao coração de Deus quando brota da sinceridade do nosso coração
convertido ou que nutre um profundo desejo de conversão. Não é simplesmente ter
momentos de oração, mas fazer-se oração. Rezar muito, com paixão, com
disciplina. Uma oração despojada, simples, direta, espontânea. Oração como
mestra espiritual de nossa vida, que nos mantém em sintonia com aquele que nos
ama incondicionalmente.
- O terceiro elemento
do processo de conversão é o jejum, que significa penitência. Toda penitência
deve ter um propósito de mudança de vida, de reparação dos erros e tropeços, e
de um profundo desejo de conversão. Sempre é bom lembrar que jejum não é
simplesmente abster-se de alguma coisa, deixar de comer isso ou aquilo, mas
como nos ensina o profeta Isaías, o jejum que agrada a Deus é este: "acabar
com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os
oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome,
hospedar os pobres sem abrigo, vestir aquele que está nu (Is 58).
- Não há conversão a
Deus que não se expresse no testemunho de uma autêntica fraternidade. A
Campanha da Fraternidade, que tem como objetivo vivenciar e assumir a dimensão
fraterna, comunitária e social da Quaresma, ilumina e valoriza os gestos
fundamentais deste tempo litúrgico: a oração, o jejum e a caridade. Neste ano,
o tema "Fraternidade e Fome", e o lema: "Dai-lhes vós mesmos de
comer" (Cf. Mt 14,16), tem o objetivo de "despertar a solidariedade
nos fiéis e na sociedade em relação a um problema concreto que envolve a
sociedade brasileira, buscando caminhos de solução à luz do Evangelho". A
Campanha da Fraternidade é celebrada no período quaresmal e convida os
católicos a imitarem a misericórdia do Pai repartindo o pão com os necessitados
e fortificando nosso espírito fraterno.
- O tema da fome já
foi abordado na Campanha de 1985. Dois grandes eventos marcaram a Igreja no
Brasil em 1985: a realização do 11º Congresso Eucarístico Nacional em Aparecida
(SP) e a Campanha da Fraternidade. Ambas iniciativas receberam o mesmo lema "Pão
para quem tem fome". Um dos grandes temas refletidos foi o cenário da fome
apresentado como "um problema crucial". Quase 40 anos depois
contemplamos um triste e semelhante cenário. A cada dia fica mais evidente que
a pandemia sanitária da Covid-19 agravou a situação de insegurança e
vulnerabilidade social. Na Fratelli Tutti, o Papa Francisco fala do escândalo
da fome e chama o atual sistema de assassino: "As crises sociais,
políticas e econômicas fazem morrer à fome milhões de crianças, já reduzidas a
esqueletos humanos por causa da pobreza e da fome; reina um inaceitável
silêncio internacional" (n.29). O Santo Padre adverte ainda que "a
política mundial não pode deixar de colocar entre seus objetivos principais e
irrenunciáveis o eliminar efetivamente a fome. Com efeito, quando a especulação
financeira condiciona o preço dos alimentos, tratando-os como uma mercadoria
qualquer, milhões de pessoas sofrem e morrem de fome… a fome é criminosa e a
alimentação é um direito inalienável" (n.189)
http://diocesedesaomateus.org.br/wp-content/uploads/2023/02/22_02_23.pdf
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