REFLEXÃO DOMINICAL III
"QUEM É O NOSSO JESUS
NESSE DOMINGO DE RAMOS?"
Sabemos
que evangelho significa Boa nova ou Boa Notícia, por isso quando deparamos com
um dos sinóticos, no caso São Mateus, nesse Domingo de Ramos, é forçoso nos
perguntar, como que os pormenores da paixão de Jesus, a sua morte na cruz,
poderá nos trazer uma mensagem de Boa Nova... E mais um detalhe importante, se
é Domingo de Ramos, que tem como foco a entrada triunfal de Jesus na cidade
Santa, como vemos na primeira proclamação, feita antes da procissão de ramos,
novamente nos perguntamos, o que poderá haver de triunfal em um acontecimento
que irá resultar em uma tragédia?
Sendo
o evangelho a Palavra de Deus revelada sob inspiração do Espírito Santo, é
necessário abrir o coração para compreendê-lo, e não só a razão. Naturalmente
essas questões que a nossa razão apresenta entre outras, longe de manifestar a
nossa incredulidade, nos ajuda a migrarmos para o coração, pois, se dermos
relevada importância ao fato histórico em si, a comoção que iremos sentir
diante desses relatos, será idêntica á que experimentamos diante da obra de um
grande taumaturgo. Vamos acabar chorando comovidos, com toda a maldade que
fizeram com o Jesus Histórico e jamais conseguiremos entender o que isso tem a
ver com a nossa vida. Diante de um evangelho, precisamos sempre ter em mente que
se trata de uma reflexão sobre Jesus de Nazaré, feita pelas primeiras
comunidades, estamos portanto longe do fato histórico da condenação e morte do
Senhor, sobre o qual nenhum resquício chegou até nós, a não ser os evangelhos,
que nada mais são do que escritos coletados pelas comunidades e que por isso
mesmo requer uma interpretação usando sempre como referência a Tradição e
o Magistério da Igreja, que se fundamenta no testemunho dos apóstolos e das
primeiras comunidades, como a de Mateus, onde havia muitos judeus convertidos,
e já se tinha consciência de que Jesus ressuscitara, e que agora tentam
descobrir qual a relação desse Jesus ressuscitado , com aquele Homem Jesus de
Nazaré, que foi condenado com 33 anos, e passou por uma morte tão vergonhosa e humilhante.
Sabemos
pelo próprio relato, qual foi a atitude da comunidade diante de tal revelação,
não guardaram dúvidas ou desconfianças diante da Revelação Divina e concluíram
com um belíssimo ato de Fé, que Mateus retratou com fidelidade na
exclamação do Oficial Romano “Ele era mesmo o Filho de Deus”!
O
evangelista Mateus, preocupado em convencer seus conterrâneos sobre a Verdade
de Jesus de Nazaré, usou de uma estratégia ao reler as escrituras, apontando de
maneira caridosa e paciente, os textos que a ele se referiam facilitando assim
a compreensão sobre o conteúdo das leituras desse Domingo de Ramos, que nos
introduzem na Semana Santa, onde se celebra o Tríduo Pascal, enfocando a Vida e
a morte, a plena realização e o fracasso, as trevas e a Luz, antagonismos
presentes não só na Vida Terrena de Jesus, mas na vida de cada Ser Humano, que
a partir de então poderá fazer suas escolhas e decidir-se por uma ou por outra,
pois Salvação é exatamente isso, conhecer a Verdadeira Luz, a Vida e a Verdade
Absoluta que é o próprio Cristo, e deixar-se atrair por ele tomando a decisão
de segui-lo, não mais a partir de uma obrigatoriedade Legal de Caráter
Religioso, mas a partir de uma experiência real como ocorreu com as Comunidades
de Matheus, e o Oficial Romano, sendo este precisamente o convite e o
apelo desse evangelho: que as nossas comunidades revejam toda a caminhada e em
uma auto afirmação da nossa Fé, redescubramos: Jesus é o nosso Senhor, o Filho
de Deus!
O
máximo que se pensou sobre Jesus, é que ele fosse um Profeta, tal qual nos
atesta a conclusão do relato da sua entrada em Jerusalém, Mateus não engana
seus leitores, pois sendo um Profeta renomado, terá o mesmo destino dos demais,
sendo ouvido por poucos, rejeitado por muitos, e finalmente esmagado com a morte.
Portanto, aquilo que parece ser um momento de glória, pelo menos na visão
nacionalista da Nação de Israel, irá redundar em terrível fracasso! Há Glória
sim, presente no regozijo de um Homem totalmente novo, Fiel, que com sua
encarnação Divinizou a todos e a cada um dos homens, resgatando neles a imagem
e semelhança do Deus Criador. Um homem capaz de ter toda firmeza e confiança em
Deus,, mesmo diante das contrariedades e provações, em um contexto que caminha
para o iminente fracasso, como esse Servo de Iahweh, assumido pelo Profeta
Isaias.e que nessa circunstância provoca a queixa orante do Salmista “Meu Deus,
Meu Deus, por que me abandonastes”
O
apóstolo Paulo, na carta aos Filipenses, consegue resumir, de modo magistral, o
que Mateus transmite nas entre linhas desse evangelho... O mal presente no
coração do homem, do presente, do passado e do futuro, não conseguirá jamais
subjugar o Bem Supremo, impondo-lhe o seu domínio. Ninguém o humilhou, mas Ele
humilhou-se, ninguém o entregou á morte, mas Ele próprio entregou-se, ninguém
foi capaz de rebaixá-lo despojando-o da sua Dignidade de Filho de Deus,
Ele próprio rebaixou-se e esvaziou-se de si mesmo.
Podemos
então concluir a nossa reflexão desse domingo de Ramos, olhando para o
testemunho do Oficial Romano, homem considerado impuro e, portanto, descartado
da Salvação pela Religião Oficial, mas que fez a sua experiência com Cristo, e
mesmo sem pertencer ao Povo da Promessa, reconheceu Nele aquilo que os Doutores
em Escritura não reconheceram. O Oficial viu a revelação do Amor de Deus,
naquele Homem que se entregou livremente, porque o verdadeiro amor não é aquele
que domina, mas aquele que se deixa dominar, o verdadeiro amor pressupõe uma
entrega total, dentro de uma também total liberdade. O verdadeiro amor se
aniquila e se deixa esmagar, tornando-se alicerce na construção de algo
totalmente novo, que o coração humano busca e sonha, mas que só se consegue
encontrar em Jesus, alguém como nós, mas que vislumbrado na Fé, o descobrimos
como nosso único Deus e Senhor, Aquele que o Pai exaltou para sempre!
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário