REFLEXÃO
DOMINICAL III
(At 2,1-11 / Sl 103
/ 1Cor 12,3b-7.12-13 / Jo 20.19-23)
O Dom da Vida Nova - O Dom
da Unidade - O Dom do Serviço
Na Liturgia da Palavra do Domingo de Pentecostes a Igreja celebra
o grande dom do Espírito Santo dado pelo Senhor à sua Igreja, como Àquele que é
capaz de conceder aos discípulos de Cristo o vigor e a coragem de serem suas
testemunhas até aos confins do mundo. O Espírito Santo é o doador da Vida Nova,
pois, por meio de sua ação, Ele faz surgir uma humanidade nova, isto é, homens
e mulheres novos. Nesse sentido, o Espírito Santo também é apresentado como o
que garante a Unidade na comunidade, de modo que, os dons, por Ele concedidos,
sejam colocados e estejam à serviço do bem comum.
No texto do Quarto Evangelho, proclamado na Solenidade de
Pentecostes, é clara a obra do Espírito Santo na comunidade dos discípulos
missionários. De fato, o texto de Jo 20,19-23
é a expressão clara da profunda experiência que fizeram os discípulos do Senhor
no dia de sua ressurreição. No primeiro versículo, com a indicação de ser a
tarde do primeiro dia da semana, já se percebe que o dia descrito é o dia da
ressurreição do Senhor. Algo que indica que esse já era, no período no qual o
Evangelho foi escrito, o dia consagrado pela comunidade, o dia da escuta da
Palavra de Deus e da celebração da Eucaristia. Porém, o relato apresenta uma
informação importante, quando descreve o modo como se encontravam os
discípulos, isto é, com as portas fechadas por medo dos judeus. Tal indicação é
peculiar, pois reflete a dificuldade da comunidade nascente em reconhecer a
presença do Senhor Ressuscitado em seu meio, o que ocasionava uma inércia no
que diz respeito à sua missão. De fato, somente fazendo a experiência profunda
com o Ressuscitado é que a comunidade se torna capaz de anunciar com alegria o
Evangelho.
Sendo assim, fazia-se necessária a manifestação do Senhor no
coração da comunidade, algo que o texto apresenta de forma muito clara. Pois,
ao colocar-se no meio deles, o Senhor os saúda com a Paz, algo que se repete
por duas vezes. Tal gesto é a confirmação do que o Senhor comunica à
comunidade, ou seja, Ele comunica aos seus discípulos reunidos a força, a
potência de sua ressurreição. Somente por meio dessa experiência, que é capaz
de fazer novas todas as coisas e todos os homens e mulheres, que os discípulos
seriam capazes de se tornarem anunciadores vigorosos do Ressuscitado. De fato,
quando acolhida, essa graça tem o poder de transformar a comunidade temerosa
dos discípulos em uma comunidade cheia da unção e da força do Espírito Santo,
capaz de dar um firme testemunho do Evangelho. Nesse encontro com o Senhor Vivo
e Ressuscitado, os corações dos discípulos iniciam um caminho de entendimento e
compreensão do significado profundo da Ressurreição do Senhor. O que lhes
garante uma abertura ao envio que o Senhor confere à comunidade ao soprar sobre
ela a força do Espírito Santo. Tal gesto de Jesus evoca a passagem do Antigo
Testamento, presente no livro do Gênesis quando da criação do homem (Gn 2,7).
Deus faz um boneco de barro e sopra sobre o mesmo o sopro da vida, e o boneco
de barro se torna um homem vivente. A palavra hebráica para Espírito é Ruah, que pode ser
entendida também como sopro
vida. Por isso quando Deus sopra sobre o boneco de barro, ou no
caso do Evangelho, quando Jesus sopra sobre os discípulos, em ambos os casos, o
sopro comunica a vida, e no segundo caso a renovação da mesma - a Vida Nova, a
Nova Criação. Tendo acolhido o dom da Vida Nova, fruto da ação do Espírito
Santo, a comunidade dos discípulos é envida, pelo Senhor, a levar a todos o
perdão dos pecados. Os discípulos devem comunicar a todos os homens e mulheres a
graça da Ressurreição do Senhor e a Vida Nova, como dom gratuito para todos os
que acolherem o anúncio do Evangelho, que é o próprio Jesus Cristo.
Na liturgia da Solenidade de Pentecostes, um outro aspecto deve
ser levado em consideração que é o da Unidade, muito ressaltado na celebração,
como fruto e obra do Espírito Santo, na renovação dos laços da comunhão com
Deus e entre os irmãos. Neste sentido, a Primeira Leitura, dos Atos dos
Apóstolos, confirma esse dado, quando apresenta um caminho diverso daquele do
relato da torre de Babel (Gn 11) encontrado no livro do Gênesis. Nele, no
intuito de construir um mundo no qual Deus não estivesse presente, o homem
afronta o Senhor, desejando fazer surgir uma humanidade marcada pelo
autoritarismo e pelo poder, distante da presença de Deus. O que nasce desse
projeto de uma sociedade e uma humanidade distante de Deus é a falência total,
visto que o que surge do desejo de unidade é a confusão e a desarmonia. Algo
que é confirmado pela confusão da linguagem, pela dispersão, pela falta de
harmonia e a ausência da comunhão entre os povos. De modo diverso, a Leitura dos Atos dos Apóstolos relata
no nascimento de uma nova humanidade, impulsionada e fortalecida pelo poder do
Espírito Santo. Um sinal dessa nova humanidade é a capacidade da comunicação
entre os povos que, apesar de serem de lugares diferentes e de nações
diferentes, todos conseguiam se comunicar. A força do Espírito capacitou os
apóstolos de comunicarem com força e vigor o Evangelho, de modo que todos os
que estavam em Jerusalém naquele dia, pudessem recebê-lo e acolhê-lo em seus
corações. De fato, no lugar da confusão e da discórdia, surge o diálogo e a
acolhida, de graça e verdade podiam se compreender. Não havia a
dissolução e dispersão, mas, sim, a comunhão e o diálogo entre os povos, pois,
o Espírito da Verdade, a força do alto prometida pelo Ressuscitado, confirmava
a palavra dos seus discípulos.
Um outro dom do Espírito Santo ressaltado na liturgia da
Solenidade é o serviço, o comprometimento entre os irmãos a partir de laços de
fraternidade e solidariedade. A Segunda
Leitura da Primeira Coríntios indica que a diversidade de dons e carismas é
uma grande força da Igreja nascente. De fato, no texto, o apóstolo Paulo
reflete sobre como os dons do Espírito Santo devem contribuir para que os
irmãos, unidos na comunidade de Fé, criem espaços de serviço mútuo e, porque
não dizer, de atenção para com todos os que mais precisam.
A reflexão do apóstolo é dirigida a uma comunidade que buscava
incessantemente os dons carismáticos, sinais extraordinários da graça de Deus.
Algo que, por vezes, os fazia esquecer da atenção e cuidado para com os que
mais precisavam. Desse modo, a exortação do apóstolo aponta para a negligência
e a falta de cuidado para com aqueles que o Senhor reconhecia como alvos,
destinatários do seu Evangelho, isto é, os pobres. Não somente nessa passagem
Paulo chama a atenção dos irmãos da comunidade de Corinto, mas isso se verifica
em outros lugares da carta, principalmente relacionados à Celebração da
Eucaristia. Sendo assim, o apóstolo se dirige aos que se sentiam privilegiados
e superiores por possuírem dons carismáticos, convidando-os a colocarem-se à
serviço de todos. Tal reflexão de Paulo indica que os dons do Espírito Santo
devem ser colocados à serviço de todos, a fim de provocarem a unidade e nunca a
divisão entre os irmãos. Além disso e, sobretudo, a insistência do apóstolo
estava em fazê-los reconhecer o valor supremo do mais superior de todos os
dons, isto é, o amor, raiz e fonte de toda comunhão e serviço entre os irmãos.
Que a Liturgia de Pentecostes ilumine todas as Comunidades
Eclesiais de Base da Diocese, agraciando-as com todos os dons e graças
necessárias para serem lugares fecundos na formação de verdadeiros discípulos
missionários. A fim de que, todos, tocados pela ação do Espirito Santo desejem
viver como novas criaturas, abraçando a graça da Vida Nova, comunicada pelo
Senhor. Que seja a Unidade, na multiplicidade de dons e carismas, a força viva
de todas as comunidades, de modo que anunciem com alegria, por meio do serviço
aos que mais precisam, a força e o vigor do Evangelho.
Pe. Andherson Franklin
Lustoza de Souza
https://www.diocesecachoeiro.org.br/dicas-homilia/ler.asp?codigo=4680
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