sexta-feira, 23 de junho de 2023

REFLEXÃO DOMINICAL II Não tenhais medo - Em Cristo a abundância da graça - O vosso coração reviverá (Jr 20,10-13 / (Sl 68 / Rm 5,12-15 / Mt 10,26-33)

 

 

REFLEXÃO DOMINICAL II

Não tenhais medo - Em Cristo a abundância da graça - O vosso coração reviverá

(Jr 20,10-13 / (Sl 68 / Rm 5,12-15 / Mt 10,26-33) 

A Liturgia da Palavra desse Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum convida a todos a ouvirem as mesmas palavras que Jesus dirigiu aos que enviou em missão: "Não tenhais medo". Palavras fortes e cheias de significado, dirigidas aos corações de todos os discípulos missionários de todos os tempos, no intuito de fortalecê-los e encorajá-los em sua missão. Juntamente a essas palavras de coragem, a Segunda Leitura traz uma promessa que se concretiza na entrega de Cristo na cruz, a certeza da abundância da graça na vida daqueles que o abraçam e o seguem por meio da fé. Desse modo, renovados pelas palavras de Jesus e pela graça divina, todos podem repetir com alegria o que se encontra no Salmo Responsorial: "humildes, vede isto e alegrai-vos: o vosso coração reviverá".

Por três vezes o evangelista faz ecoar as palavras de Jesus dirigidas aos seus discípulos enviados em missão: "Não tenhais medo!". O medo é uma experiência própria da fragilidade da condição humana e nasce na sensação de ser colocado em alguma dificuldade, quando o homem se sente incapaz ou impotente diante de algumas realidades que se apresentam. Na Sagrada Escritura e na própria história humana é de conhecimento geral que o mundo não acolhe e recebe bem os profetas, já que a maioria deles foi perseguida e rejeitada. Por isso, Jesus se dirige aos seus no intuito de fortalecê-los no momento em que são enviados para a missão de anunciar o Reino dos Céus. O desejo do Mestre é o de que os discípulos não se deixem perturbar pelas dificuldades e sejam tomados e paralisados pelo medo, mas, se sintam acompanhados e guiados por sua presença.

A primeira vez em que o Senhor se dirige aos seus, convidando-lhes a não ter medo, está relacionada com a força da palavra por eles anunciada. Ele lhes dá a garantia de que os sustentará na proclamação da Palavra e que, por meio deles, a fará conhecida por todos. A segunda ocorrência está ligada ao medo da morte, isto é, do limite humano e de sua fragilidade. Nesse caso, Jesus, mais uma vez, coloca a vida dos seus discípulos nas mãos de Deus, convidando-os a confiar na providência divina que nunca falha para aquele que a Deus se dirige. Por isso, o testemunho dos discípulos deve ser sem nenhum medo que paralisa e rouba o vigor, mas, corajoso e fiel, pois o Senhor estará junto a todos os que a ele seguirem. Por fim, o ultimo convite de Jesus à confiança, que supera todo o medo, está relacionado com a certeza, que os discípulos devem ter no coração, de que o olhar do Senhor está sempre pousado sobre os seus. Nada ocorre na vida daqueles que a Ele seguem e se entregam sem que o seu olhar amoroso permita, isto é, a vida dos discípulos está nas mãos do Senhor, muito mais bem cuidada do que os lírios e os pássaros dos campos. Com essas palavras o Senhor convida os seus discípulos a uma liberdade de coração e a uma confiança que nascem na experiência de serem amados e acolhidos na sua presença. Ele os forma para que diante das dificuldades do caminho de seguimento, tenham sempre a certeza de que jamais estarão sozinhos e desamparados. Ao envia-los em missão deseja que levem a certeza de que o fazem em nome daquele que os chamou, acolheu, amou, formou aos seus pés, de modo que saibam sempre em quem devem colocar a sua confiança. 

Acompanhados pelo Senhor em seus caminhos, os discípulos são confirmados também na missão pelas palavras de Paulo encontradas na Segunda Leitura. Ele afirma que pela entrega de Cristo na cruz a graça de Deus foi abundante na vida daqueles que a Ele se unem, indicando assim um caminho de seguimento. De fato, a superação do pecado, descrita no texto da Leitura se dá pela entrega salvífica de Cristo na cruz, que cancela e apaga o pecado causado pela desobediência de Adão. Desse modo, aqueles que se unem ao Senhor, por meio de sua morte e ressurreição, abraçam a vida nova e são plenificados pela graça e dom do Espírito Santo. Fazendo com que a abundância da graça prometida seja o sinal da comunhão com o Senhor para todos os que por ele são formados como discípulos e, por isso, enviados em missão.       

A Leitura da Carta aos Romanos segue apresentando que todos foram resgatados pela morte do Senhor na cruz e, por isso, são convidados a viver segundo a graça recebida. De fato, para o apóstolo, os que acolhem o anúncio do Evangelho, que é a própria pessoa de Jesus Cristo, são mergulhados na sua morte e com Ele ressuscitam para uma vida nova, marcada por posturas e valores renovados. Assim sendo, a abundância da graça divina na vida dos discípulos missionários é uma promessa do Senhor e também fruto da constância dos mesmos na comunhão a que são chamados a viver.       

Todos ao ouvirem as palavras de Jesus dirigidas aos seus discípulos, são convidados a superar o medo e a fortalecer a confiança no Senhor em seus corações. Bem como, ao acolherem a promessa da abundância da graça divina a que o apóstolo se refere, são convidados a entoar, com alegria, o salmo que diz: "humildes, vede isto e alegrai-vos: o vosso coração reviverá". Este Salmo está relacionado diretamente à Primeira Leitura do profeta Isaías que afirma perceber, em sua vida, os cuidados de Deus. Ele que foi enviado em sua missão, perseguido e humilhado, mas, sempre depositou no Senhor a sua confiança e, por isso, não foi decepcionado. Diante das injurias e mentiras que o profeta vê cair sobre si ele se volta para o Senhor e coloca nele a sua total confiança. Confirmando assim, a sua experiência de fé, baseada na certeza de que o Senhor que o chamou e enviou estará sempre ao seu lado. Por isso, a sua palavra final na Primeira Leitura é a de um homem marcado pela perseguição mas, com o coração seguro nas mãos do Senhor.

Na voz do profeta pode-se ouvir a mesma confiança que está contida nas linhas do Salmo Responsorial, fruto de uma serenidade que não se perturba diante das dificuldades e perseguições. Assim deve ser o coração de todo aquele que deseja seguir o Senhor no caminho do discipulado missionário, já que, à exemplo do profeta e do salmista, também enfrentarão situações difíceis e passarão por provações em seu caminho. O que garantiu ao profeta e ao salmista a paz interior e a certeza e confiança de que as promessas divinas são sempre mantidas foi a comunhão que eles tinham com o Senhor. Todos caminhavam na presença do Senhor que os tinha chamado e enviado, à exemplo do que se pode ver também no texto do Evangelho desse domingo. A garantia de que a alegria não seja roubada pelo medo e de que a confiança não sucumba diante das dificuldades é a união íntima com o Senhor, que continua a dizer hoje o que disse aos seus discípulos: "não tenhais medo".

Que a Liturgia da Palavra desse Décimo Segundo Domingo do Tempo Comum faça ressoar em todas as celebrações nas Comunidades Eclesiais de Base a força da Palavra de Jesus dirigida aos seus discípulos: "Não tenhais medo". De modo que todos os corações sejam tocados e renovados na confiança diante do chamado e envio para a missão que o Senhor faz à sua Igreja. Que a graça abundante do Senhor fortaleça o coração dos discípulos em sua missão e os convide à cultivarem sempre a comunhão com o Senhor, fonte de todo o bem e graça. A fim de que as palavras do salmista estejam sempre nos lábios de todos os que aos pés do Senhor foram formados para a missão, refletindo a confiança que trazem no coração, mesmo diante das adversidades do caminho de seguimento.

 

Pe. Andherson Franklin Lustoza de Souza

https://www.diocesecachoeiro.org.br/ler.asp?codigo=4210

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