REFLEXÃO
DOMINICAL I
O Valor do Reino - O
Coração que "escute" - A Alegria do Discípulo Missionário
(1Rs 3,5.7-12 / Sl 118 / Rm
8,28-30 / Mt 13,44-52)
A Liturgia da Palavra desse Décimo sétimo Domingo do Tempo Comum
apresenta, nas Leituras, Salmo e no Evangelho, um caminho próprio a ser traçado
por todos os que desejam se tornar discípulos de Cristo. O Evangelho, em suas
imagens apresenta o valor do Reino, que é como um tesouro escondido no campo e
uma pérola de grande valor. Para encontrá-la e reconhecer o seu valor, a
Primeira Leitura indica o caminho trilhado por Salomão, pedir a Deus um coração
capaz de escutar, capaz de acolher a Palavra. Assim sendo a alegria do
discípulo é grande, pois, ao acolher a Palavra e por meio dela, descobrir o
valor do Reino, será capaz de abraçar os seus valores na vida cotidiana.
O texto do Evangelho em questão traz em si duas parábolas com três
imagens bastante significativas, que são utilizadas por Jesus para expressar o
valor do Reino e a necessidade de buscá-lo no caminho do discipulado
missionário. A primeira parábola envolve o tesouro escondido no campo e a
pérola preciosa de grande valor. Já na segunda parábola, a imagem utilizada é a
da rede pronta para a pesca e já lançada ao mar, com a qual o pescador recolhe
todo o tipo de coisas e peixes, devendo, depois de recolhida a rede, separar o
que é bom do que deve ser lançado fora. Em ambas as parábolas e nas imagens
nelas contidas se fazem presentes os aspectos próprios da linguagem e imagens
orientais, dispostas de modo que o leitor pudesse retirar suas primeiras
impressões logo que as ouvisse.
A linha mestra das parábolas é a de uma reflexão sapiencial, isto
é, um discurso que deseja comunicar um tipo de vivência e postura, partindo de
uma imagem que era reconhecida e de um conteúdo próprio da linguagem dos livros
sapienciais do Primeiro Testamento. Podem ser destacados quatro aspectos
fundamentais presentes nas parábolas e que servem de reflexão para as
comunidades que são chamadas a formarem discípulos missionários que reconheçam
a urgência da opção pelo Reino de Deus e os seus valores. O primeiro ponto se
encontra na proposta do Reino como a pérola e como um tesouro escondido, pois,
indicam o valor do Reino. Nestas imagens simples mas significativas, o
Evangelho propõe que o Reino não tem uma falsa aparência de verdade e de valor,
mas, é uma realidade escondida e que deve ser buscada com atenção e cuidado, a
fim de que se reconheça a sua beleza e se acolha o seu mistério escondido.
Neste sentido, o apelo do evangelista é que a comunidade dos discípulos seja
capaz de reconhecer os pequenos, porém valiosos sinais do Reino em tudo o que
realiza, valorizar os menores gestos em sua preciosidade e
urgência.
O segundo ponto diz respeito à necessidade que o homem tem de
vender tudo para comprar o campo, no qual o tesouro está escondido, como também
a pérola de grande valor. De fato, o Reino comporta um risco que todos devem
assumir se quiserem encontrá-lo e viver por meio dele como discípulos de
Cristo. Aquele que não é capaz de arriscar e de vender tudo o que tem para
conquistar o Reino, ainda não foi tocado pelo seu valor e, por isso, a exemplo
do jovem rico, prefere as suas posses ao Reino de Deus.
O terceiro ponto está relacionado à rede lançada ao mar, que no
momento em que é recolhida exige do pescador uma atenção redobrada para que se
efetue o árduo, mas, necessário, trabalho de separar o que deve ser mantido, do
que deve ser jogado fora. A vivência do Reino de Deus exige uma constante
vigilância e atenção, principalmente no que diz respeito àquilo que cada um
deve deixar para trás. O crivo de decisão, o modelo de escolha é Cristo, pois
tudo o que reflete a sua presença e os valores de seu evangelho devem crescer e
se multiplicar na vida da comunidade e dos seus discípulos. Todavia, aquilo que
ainda é sinal contrário aos valores do evangelho, que divide e faz com que a
comunidade não cresça como lugar de formação de novos discípulos deve ser
lançado fora.
Todavia, só é capaz de reconhecer o valor do Reino aquele que faz
o caminho apresentado pela Primeira Leitura do Livro dos Reis. Nela encontramos
Salomão que se dirige à Gabaon, um santuário importante, para lá apresentar ao
Senhor o seu pedido no início de seu reinado. Apesar de não ser tão jovem
quando foi ungido como rei, Salomão se apresenta diante de Deus como tal, isto
é, trazendo no coração a insegurança e a falta de maturidade para a missão que
lhe fora confiada. Diante de Deus, apesar de se apresentar como um jovem, o rei
Salomão apresenta o seu pedido cheio da sabedoria de um homem maduro e provado
na busca da vontade de Deus. Ele não pede vida longa, poder, riqueza e glória,
mas, um "coração capaz de escutar", a tradução da maioria da Bíblias
traduz como um coração compreensivo. Desse modo, o rei Salomão reconhece que
somente poderia ser capaz de escolher segundo Deus, agir de acordo com a sua
vontade se fosse capaz de escutar a sua Palavra e, desse modo, encontrar nela a
sua alegria. Escutar a palavra é o primeiro passo para todo aquele que deseja
seguir o Senhor e se tornar discípulo de Cristo, descobrindo o valor do Reino e
abraçando-o com grande alegria. Tal escuta generosa da Palavra, que forma o
discípulo, também faz com que o seu coração seja capaz de escutar os apelos dos
filhos e filhas de Deus, principalmente os que mais sofrem e ainda são
excluídos. Assim o discípulo é formado, por meio de um coração capaz de escutar
o Senhor e os irmãos e capaz de se compadecer à exemplo do próprio Jesus, que
ouviu o clamor e as dores de todos que estavam ao seu redor.
A acolhida do Reino é motivo de grande alegria na vida do
discípulo de Cristo, pois, na escuta constante da Palavra ele reconhece o seu
valor e abraça o caminho do seguimento. Tal proposta de vida é exigente, requer
trabalho e empenho e pode ser comparada à imagem da rede lançada ao mar,
encontrada no Evangelho. No momento em que é recolhida exige do pescador uma
atenção redobrada para que se efetue o árduo, mas, necessário, trabalho de
separar o que deve ser mantido, do que deve ser jogado fora. A vivência do
Reino de Deus exige uma constante vigilância e atenção, principalmente no que
diz respeito àquilo que cada um deve deixar para trás. O crivo de decisão, o
modelo de escolha é Cristo, pois, tudo o que reflete a sua presença e os
valores de seu Evangelho devem crescer e se multiplicar na vida da comunidade e
dos seus discípulos. Todavia, aquilo que ainda é sinal contrário aos valores do
Evangelho, que divide e faz com que a comunidade não cresça como lugar de
formação de novos discípulos deve ser lançado fora.
As parábolas do Evangelho desse domingo são muito breves,
ressaltando assim a urgência e simplicidade do Reino de Deus. Este aspecto é
muito importante e não pode faltar nas Comunidades Eclesiais de Base, chamadas
a ser lugar de formação de novos discípulos missionários, cheios da alegria por
terem encontrado o tesouro do Reino. De fato, diante dos desafios que se
colocam diante das comunidades, faz-se urgente uma reflexão sobre a necessidade
de que os valores do Reino de Deus toquem a sociedade na qual elas estão
inseridas. A urgência do Reino é que todos os que são chamados ao caminho do
discipulado sejam formados pelos valores propostos pelo Evangelho, a fim de se
tornem sinais claros e visíveis de Cristo no mundo. O final do texto do
Evangelho desse domingo ressalta que todos são chamados ao caminho do
discipulado e que a grande alegria do cristão católico é fazer parte daqueles
que foram capazes de escutar a Palavra e de abraçarem o Reino e a sua urgência.
Que a Liturgia da Palavra desse domingo desperte o desejo de
todos, de abraçarem e buscarem com todo o empenho o Reino de Deus, que se
traduz na vivência dos valores do Evangelho. Que os corações sejam despertados
para a escuta atenta da Palavra do Senhor, fonte de vida e maior tesouro do
cristão, como aponta também o Salmo Responsorial. A fim de que tocados pela
Palavra e cheio de empenho na busca do Reino os corações transbordem da
verdadeira alegria, própria daqueles que seguem o Senhor e, por Ele, são
enviados como sinais de seu amor, principalmente juntos aos que mais precisam.
Pe. Andherson
Franklin Lustoza de Souza
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