REFLEXÃO
DOMINICAL II
"O TESOURO DO REINO"
Certa
ocasião, eu quase caí no “conto do vigário”: era final de ano e uma mulher com
aparência humilde me abordou em uma rua próxima à rodoviária de Sorocaba,
oferecendo-me duas barras de ouro, enroladas em uma toalha e guardadas em uma
caixa de sapatos. “Olha moço, o senhor vai passar um natal muito abençoado, vai
poder comprar o que quiser, faço um precinho bom, só para eu matar a fome das
minhas netinhas, que hoje ainda não se alimentaram”. Apresentou-me Nota Fiscal
e ainda o certificado de garantia, emitido por uma mineradora do Pará, de onde
acabara de chegar.
Um
pouco levado pela chantagem emocional, das crianças que choramingavam de fome,
pedindo para comer, mas também e principalmente, pela possibilidade de eu ficar
rico em questão de minutos, a imaginação começou a trabalhar, admitindo o que
eu poderia fazer com aquele ouro, caso as barras fossem mesmo verdadeiras,
coisa que eu já estava começando a acreditar.
Se
fosse mesmo verdade, o negócio seria excelente, ali estava naquele caixa de
papelão, a minha sonhada casa própria, o carro novo, as dívidas todas quitadas,
um natal e primeiro de ano de muita fartura, e ainda uma boa “gordura” para
aplicar no mercado, pois o preço do ouro, naquele tempo estava alto. Mas o
problema era o valor pedido pela compra, que eu não tinha, e vendo que ainda
vacilava um pouco, a “generosa” mulher disse de modo muito humilde “Deus está
me revelando que o senhor será abençoado, vamos fazer uma coisa, quanto o
senhor tiver eu aceito, nem que seja metade da metade desse valor..., barras de
ouro depois meus filhos que são garimpeiros, me arranjam mais, mas a fome
dessas crianças, não pode esperar...”
Para
minha sorte estava com cheque, e tinha acabado de sair do banco onde peguei o
saldo, composto do salário do mês, mais o abono completo e metade do valor das
férias, com um pouco de dor na consciência, falei para ela que o valor que eu
tinha era irrisório, mas ela aceitou e deu um sorriso; “fazê o que, né moço,
pode ser...”. Mas neste momento uma viatura parou perto de nós e a pobrezinha
da mulher saiu em disparada, levando para sempre minhas sonhadas barras de
ouro...
Uma
pessoa ingênua, mas também ambiciosa de um lucro fácil, acaba caindo facilmente
nesse conto do vigário, aplicados por malandros e malandras muito bem
treinados, a gente fica até indignado quando vê isso acontecer, e
perguntamo-nos como é que pode uma pessoa cair em um conto desses... Acontece,
porém, que o golpista só aborda as pessoas certas, isso é, aquelas que sonham
em ficar ricas da noite para o dia, apossando-se de grande fortuna. Em se
tratando da nossa vida de fé, como discípulos de Jesus, corremos esse mesmo
risco, e muita gente convertida cai em cada golpe, pior do que o conto do
vigário.
Quando
se trata de bens materiais, buscamos aquilo que vale mais, nem que isso
signifique dar em troca, tudo o que temos, no meu caso, toda minha economia de
final de ano, achava que era pouco, perto do que aquelas barras de ouro iriam
me oferecer, caso fossem mesmo verdadeiras...
A
pessoa que não tem o discernimento do espírito, dado pela sabedoria que vem do
alto, facilmente deixa de lado os valores do Reino de Deus, para correr atrás
de quinquilharias que nada valem, e o que é pior, muitos passam a vida inteira
iludidos, em função de algo que parece ser um tesouro, mas que um dia descobrem
como eu descobri a tempo, graças a Deus, que se trata de um ouro falso e sem
nenhum valor.
Os
dois personagens da parábola do evangelho, quando descobrem a preciosidade do
tesouro escondido, e a beleza de uma pérola rara, escondida no meio das outras,
não pensam duas vezes para colocar aquilo que realmente é valioso, como a única
prioridade em sua vida.
O
que mais vale nesta vida não é a riqueza, prestígio, fama, sucesso, poder, luxo
e conforto, mas sim o amor de Deus, que na salvação oferecida em Jesus, nos dá
a alegria da sua graça. Mas para entender isso, é necessário ter o
discernimento do espírito, e a sabedoria que vem do alto, Salomão compreendeu
que o mais importante é ser sábio diante de Deus, para saber fazer as escolhas
certas, e fazer nesta vida, a opção certa, a favor do Reino de Deus.
É
esse discernimento que nos permite separar na rede da vida, aquilo que
realmente é bom e tem valor, entendendo que o resto é peixe estragado, que não
serve para nada.
Tudo
parece diante de nós um único tesouro, é preciso tirar apenas aquilo que é
novo, esse novo é Jesus Cristo, Salvador e Redentor nosso, o único e verdadeiro
tesouro, pelo qual vale a pena dar tudo o que temos e somos, para que em nossas
relações com o próximo, sejamos cada vez mais imagem e semelhança daquele que
nos predestinou.
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0342.htm#msg02
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