SANTO AGOSTINHO
‘Manso e humilde de coração’
Antes de sua conversão, Santo Agostinho –
homem erudito e com enorme talento literário – não dava importância aos
Evangelhos, pois os considerava simples demais. Mais tarde, perceberia que a
simplicidade é uma de suas notas mais belas e que somente uma obra tão simples
poderia conter palavras de Deus. Com reverência e desejo de santidade, é
possível descobrir, por trás da simplicidade do texto sagrado, uma mensagem
profundíssima.
Deus é transcendente, misterioso, e poucos O
conhecem a fundo. Ele, contudo, é acessível a todos, fala ao coração de todos,
quer ser conhecido e amado por todos. Todos podemos encontrá-lo: basta que o
busquemos de todo o coração! Por outro lado, poucos homens poderão um dia ser
ricos, inteligentes, belos ou famosos… E, no entanto, infelizmente há mais
ricos, belos, inteligentes e famosos do que santos.
Isso acontece porque somente podemos
compreender e colocar em prática as palavras do Senhor se Ele no-las der a
conhecer: “Escondeste essas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos
pequeninos” (Mt 11,25). A primeira coisa a fazer é desejar conhecer o Senhor,
pedindo instantemente a Ele esta graça. Afinal, “a Sabedoria se deixa encontrar
por aqueles que a amam. Ela mesma se dá a conhecer aos que a desejam” (Sb
6,12s).
Além do desejo sincero de conhecer a Deus e
sua vontade, é preciso que sejamos humildes, pois “Deus resiste aos soberbos,
mas dá a graça aos humildes” (Tg 4,6). Sem humildade, não há fé. Sem
simplicidade e esquecimento de si mesmo, é impossível saborear os mistérios do
Senhor e viver pacificamente na sua amizade. Por essa razão, Jesus diz:
“Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). A
humildade retira-nos um grande peso das costas! Todo pecado é fruto da soberba
de preferirmos nossa vontade à de Deus. O pecado se apresenta como um
“conforto” para a alma e para os sentidos, mas depois traz apenas aridez e
peso.
A humildade, ao contrário, leva-nos à
obediência a Deus. Esta, por vezes, parece algo “pesado”, “cansativo”, mas
sempre nos traz conforto, leveza de consciência e conduz à salvação.
A humildade traz grande “leveza” também nas
relações com os demais. O humilde não guarda rancores, não se irrita facilmente
com o próximo, não se sente injustiçado por qualquer motivo e, mesmo em meio a
ambientes adversos, consegue guardar a mansidão e a paz. Com humildade,
libertamo-nos de um grande peso, pois não somos aprisionados num constante
conflito ou num emaranhado de complicações; aceitamos a realidade e os outros
tal como são, com o que há de bom e de mau.
Enfim, a humildade
serve até mesmo para nos ajudar a gerenciar o cansaço físico e mental. Quando
sentimos “não posso mais”, então é que devemos seguir adiante com humildade e
confiança redobradas. O Senhor nos diz: “Vinde a mim todos vós que estais
cansados e fatigados, e eu vos darei descanso” (Mt 11,28)! O pecado e a soberba
são um peso, mas Jesus assegura: “O meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt
11,30).
https://osaopaulo.org.br/colunas/liturgia-e-vida/manso-e-humilde-de-coracao/
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