REFLEXÃO
DOMINICAL I
DICAS DE HOMILIA - 19º Domingo do Tempo Comum
A Visita de Deus - A
Presença de Deus - A Fé dos discípulos missionários
(1Rs
19,9a.11-13a / Sl 84 / Rm 9,1-5 / Mt 14,22-33)
A Liturgia da Palavra desse Décimo Nono Domingo do Tempo Comum
apresenta na Primeira Leitura e no Evangelho duas figuras que estão no centro
da reflexão litúrgica: o profeta Elias e o apóstolo Pedro. O profeta, depois do
episódio como os profetas da corte, foge para o deserto e no monte Horeb, onde
permanece à espera da visita de Deus. O apóstolo, juntamente com os outros
discípulos, encontra-se na barca em meio as ondas e à tempestade. Cheios de
grande temor e pavor, são colocados à prova para reconhecerem a presença de
Jesus e nele depositarem a sua fé. Os dois relatos são significativos no
reconhecimento que a acolhida da visita de Deus e a decisão de caminhar na sua
companhia são a base da confiança e da fé, daqueles chamados ao caminho do
discipulado.
A Primeira Leitura é o seguimento do episódio que envolve o
profeta Elias e os profetas da rainha Jezabel. No qual, após uma disputa, o
profeta Elias os faz reconhecer a presença e a força do Deus de Israel,
passando a fio de espada os profetas derrotados. Elias se lança deserto à
dentro, fugindo da perseguição da rainha, assim como Moisés, cansado e sem a
confiança de outrora, ele mesmo procura à sua própria morte. Ao longo de sua
história, o profeta Elias sempre confiou na potência e na força de Deus, que agia
em seu ministério profético. No momento em que ele se sentiu ameaçado, recebe a
visita de Deus no monte, uma visita inesperada e diferente daquela que estava
acostumado a receber. O relato indica que ele procura abrigo na caverna no alto
do monte, localizado no deserto, espaços esses que evocam o mistério e a
presença misteriosa de Deus na vida do homem. De fato, o deserto é o lugar do
encontro do homem com o Senhor, sempre descrito dessa forma em toda a Sagrada
Escritura. Já a montanha também reflete, por sua vez, o espaço no qual Deus
fala com os seus escolhidos, isso apresentado no Primeiro Testamento, como
também no Segundo.
O profeta procura abrigo na caverna, lugar no qual o profeta se
sente amparado e protegido diante de uma situação de desamparo e perseguição.
Todavia, não é na caverna que se encontra a verdadeira proteção do profeta mas,
sim, na visita inesperada e completamente diversa de Deus. O profeta Elias foi
colocado diante da possibilidade de reconhecer o modo próprio de Deus de ser fazer
presente, de visitar os que escolheu para si. Não foi uma visita grandiosa e
potente, no meio de relâmpagos e trovões, no coração da tempestade e dos raios
mas, um encontro silencioso e discreto, quase imperceptível aos sentidos,
todavia, nem por isso, menos claro e real. O relato comunica que aqueles que
são chamados à fé não devem esperar grandes e extraordinárias manifestações de
Deus, mas, devem ser capazes de reconhecê-lo presente nas coisas simples e
cotidianas da vida. São chamados a terem os olhos bem abertos e o coração
atento para perceberem quando são visitados por Deus que é amor e ternura,
misericórdia e compaixão.
Já a manifestação de Jesus no lago da Galileia, que não deve ser
lida como um fato miraculoso e como um espetáculo, tem o interesse de comunicar
a presença do Senhor junto aos seus e a dificuldade deles de reconhecerem a sua
presença. A semelhança com o relato encontrado na Primeira Leitura é clara e
evidente, já que ambos, Elias e Pedro têm dificuldades de reconhecerem a presença
do Senhor junto deles. A tempestade em alto mar demonstra claramente o limite
do homem e sua pequenez diante das forças que o mesmo não pode dominar. Em
algumas passagens dos Salmos é possível perceber a angústia do homem diante das
tempestades e das ondas do mar (Sl 107,26). Ao mesmo tempo que eles reconhecem
a força da presença de Deus que acalma o mar e os conduz em segurança (Sl
107,28). Em muitos momentos, o povo de Israel viu provada a sua fé diante das
tempestades que viveu, momentos em que as seguranças tinham sido retiradas e o
único auxílio possível vinha daquele que nunca falha, isto é, do Senhor.
Pedro, no relato do Evangelho, diante da tempestade e com o
coração cheio do medo, ao ver o Senhor que se aproximava, deseja saber se era
Ele mesmo e toma a iniciativa de ir ao seu encontro. Ao escutar a palavra de
Jesus que o convidava a ir em sua direção, Pedro é convocado a sair de si
mesmo, deixar os seus medos e se lançar, como os olhos fixos no Senhor, no meio
da tempestade. Todavia, seu olhar se destacou de Jesus e Pedro, mergulhado no
próprio medo e envolvido pela tempestade, acabou perdendo a sua confiança e
começou a afundar. Na verdade, o discípulo retira o seu olhar do Mestre,
fazendo com que as forças contrárias que o envolviam se tornassem maiores do
que a confiança que já nascia em seu coração. Todas as vezes que o olhar do
homem deixa de estar voltado para a busca da presença e da face de Deus, acaba
por sucumbir diante dos desafios da vida, sejam eles pequenos ou grandes.
No final do relato do Evangelho, Jesus reprova atitude de Pedro e,
junto dele, a dos discípulos que não souberam confiar e reconhecer a sua
presença em meio a tempestade. A dúvida no coração de Pedro e dos demais
impediu que eles fossem capazes de passar pela tempestade na certeza da
companhia do Senhor. A confiança e a fé que o Senhor pedia dos discípulos e, de
maneira especial de Pedro, estavam baseadas não em suas próprias seguranças,
mas, na presença de Deus que está além da compreensão humana. Aos discípulos
foi apresentada a possibilidade de que deixassem que a tempestade levasse
consigo as suas próprias seguranças, a fim de que a sua fé fosse firmada em
bases novas. Da mesma forma, ainda hoje, muitos são aqueles que passam por
grandes tempestades em sua história, percebem que o barco de suas vidas está à
deriva e, com isso, são provados em sua fé. Seja no caso dos discípulos de
outrora, quanto nos de nosso tempo, tais situações se tornam momentos propícios
para que caiam as falsas seguranças e as bases da verdadeira fé sejam lançadas.
As reprovar a atitude de Pedro de não ter confiança, o Senhor fala de sua fé
como sendo vacilante, pequena, sem consistência, algo comum em outras passagens
do próprio Evangelho. O relato termina com um gesto significativo dos
discípulos de se prostrarem diante do Senhor, algo que revela o seu
reconhecimento da divindade de Jesus e sua profissão de fé. Ou seja, os
discípulos ao virem que a tempestade é acalmada, adoram o Senhor e dão um passo
significativo no fortalecimento de sua fé, depositando-a Naquele que nunca os
abandona.
Que a Liturgia da Palavra desse Nono Domingo do Tempo Comum
apresente a todos um convite a fazerem a mesma experiência do profeta Elias,
isto é, serem capazes de descobrir a presença de Deus nas pequenas coisas da vida,
de maneira especial, diante das dificuldades e problemas. A fim de que, mesmo
em meio as grandes tempestades seja o olhar do Senhor a grande fonte de
confiança dos discípulos, de modo que com os olhos fixos no Senhor tudo seja
superado. Assim, os discípulos crescem na fé e amadurecem no caminho do
seguimento, sendo capazes de ajudar a todos que ainda sucumbem diante das
tempestades que a vida apresenta.
Pe. Andherson
Franklin Lustoza de Souza
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