sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

"POR QUE É TÃO DIFÍCIL PERDOAR E AMAR NOSSOS INIMIGOS: RESSIGNIFICANDO O CONCEITO DE 'SENSIBILIDADE'"

 

 

"POR  QUE   É  TÃO  DIFÍCIL  PERDOAR E  AMAR  NOSSOS INIMIGOS: RESSIGNIFICANDO  O CONCEITO  DE 'SENSIBILIDADE'"

      [Texto Integral]

 

         "Humanas actiones, non ridere non  lugere,  neque  detestare:  sed  intelligere

  [Baruch Spinoza]

Lindolivo Soares Moura(*)

A máxima que impulsiona a presente reflexão foi mantida em sua versão original "latínica" da época, século XVII, na expectativa de que a curiosidade por traduzi-la possa levá-lo a interagir mais profundamente com seu conteúdo. "Ninguém pode aprender senão aquilo que ainda não sabe", ensinam os grandes mestres. A Filosofia e o filosofar, segundo se ouve dizer, teriam nascido de três sentimentos ou atitudes tipicamente humanas, distintas entre si mas profundamente interrelacionadas: contemplação, estupefação, e desejo de compreensão. Quando tais sentimentos ou emoções estão ausentes, ou por uma razão qualquer são exorcizados, o ser humano tem a integridade de seu ser reduzida e comprometida, passando a ser confundido com a característica puramente "animal" de sua identidade, e não mais com a essência verdadeiramente "humana" de sua personalidade. Ora, se até o divino é concebido como "logos" - verbo, palavra, comunicação - por que deveria ser diferente com o humano, que de acordo com as Escrituras consideradas sagradas teria sido criado à sua "imagem e semelhança"? Não faria sentido! Fica portanto, sob sua responsabilidade, procurar pela tradução e o significado das palavras de Espinoza, e desde já advertido de que, não o fazendo, sua compreensão do presente conteúdo resultará certamente comprometida! Mas se você resolveu investir nessa "viagem" que estamos empreendendo, suponho que não seja esse seu propósito. Bora lá, então, buscar rapidamente a tradução. Se já o fez, ou o que seria ainda melhor, se possui o conhecimento necessário para fazê-lo, "tempus fugit!": hora de seguir em frente.

Confesso que sempre me senti muito tocado - "afetado" talvez seria o termo mais adequado - pela imagem  que estampa a capa de certos livros de filosofia, na qual  mestre e discípulo - Platão e Aristóteles -  aparecem lado a lado, provavelmente à saída da prestigiada "Academia". Na imagem ali estampada, um dos mestres, Platão - de acordo com Hegel, "se a humanidade tem mestres, estes são Platão e Aristóteles" - é retratado apontando com o dedo indicador para o alto, imagina-se que indicando o mundo transcendente de suas "essências perfeitas e imutáveis" -  enquanto seu discípulo, Aristóteles, faz o mesmo, só que apontando para baixo -  supostamente indicando a terra, e não o céu, como o  campo primeiro e necessário de toda e qualquer investigação. Poucos  amantes e aficionados pela  filosofia se atentam como se esperaria, e levam a sério como se deveria, essa estratégia de retratação. Consequentemente, acabam conferindo a ela importância reduzida e aquém do que ela de fato requer e merece. Talvez isso se compreenda melhor em razão do fato de que muitos de nós sejamos bem mais propensos ao exercício da razão e da racionalidade - nada contra, naturalmente - que ao exercício dos afetos e da sensibilidade. É preciso que as cenas sejam chocantes e impactantes para que nossa sensibilidade se deixe aflorar, subir "à flor da pele" como se costuma dizer. Um pôr do sol desperta olhares contemplativos e extasiados, e somos por ele facilmente  seduzidos e impactados. Em contrapartida, a cena de um ser humano disputando com cães e gatos os restos de comida em um latão de lixo pouco ou nada desperta em nossa consciência ou mexe com nossa sensibilidade. Algo que vai se  tornando cada vez mais comum e absolutamente "normal e natural", deixando porém preocupados aqueles de sensibilidade mais apurada. Frente a cenas do tipo nossos sentimentos e nossas emoções acabam descambando rápida e facilmente para a apatia e a indiferença. Talvez esteja na hora de surgir um novo Hemingway a nos interpelar "por quem dobram os sinos?", para que nos despertemos e nos apercebamos de que seu repicar ressoa não apenas por alguém que se vai e nos deixa, mas também por todos e cada um de nós. Afinal, quer queiramos quer não, é um pouco da nossa humana "humanidade" que escoa pelo ralo quando seres humanos são sacrificados e eliminados aleatória e indiscriminadamente - com todo respeito pelas demais raças - como se fossem cães e animais selvagens. Quando a capacidade de sensibilizar-se começa a dar sinais de cansaço nos indivíduos, toda a espécie começa a ficar ameaçada, pois é de seres humanos - carne e osso, alma e coração - que a humanidade é feita, construída e constituída, e a capacidade de sensibilizar-nos talvez seja "ainda" o nosso grande e melhor diferencial. Parafraseando Albert Eistein, "a sensibilidade é a emoção mais bela e mais profunda que podemos ter. É a precursora da verdadeira sabedoria e da mais pura iluminação. Aquele para quem tal emoção se encontra reprimida, aquele que não consegue mais ser tomado de assombro diante do fenômeno que é  o ser humano, está praticamente morto".

Resolvi refletir e escrever algo sobre  sensibilidade levado mais pelo temor - antes que pela esperança - de que essa fonte se extinga de vez e de uma vez por todas! Se nossos vínculos e relacionamentos já não andam lá essas coisas com o pouco de sensibilidade que nos resta, fica difícil imaginar como poderiam vir a ficar caso ela resolva partir de vez, sem hora e razão suficiente para retornar. Como nos lembra Bruna Lombardi, "é bom não abusar da paciência das pessoas boas. Elas podem te perdoar mil vezes, mas são também elas que quando decidem ir embora costumam partir para nunca mais voltar!". Ao decidir trazer à tona, a sensibilidade, meu lado um tanto polêmico e contestador suscitado por meu "daimon" interior sugeriu-me trazer também, à luz, certo número  de questionamentos e provocações. Sei que muitos preferem o silêncio e a quietude de suas puras, brancas e belas almas! Mas quando tais sentimentos e emoções denotam fuga e escape, isso pode ser perigoso; mais que isso, "desastroso"! Sobretudo quando aquilo que está em jogo reclama por coragem e enfrentamento. Silêncio e quietude em determinadas horas, e sobretudo diante de determinadas situações, podem ser sinônimo de fraqueza e até de covardia. Como dizia Gonçalves Dias, "a vida é luta renhida, que os fracos abate e os bravos e fortes só faz exaltar!". Impulsionado por esse desafio e por essa inquietude, trago para o palco de nossa reflexão o difícil tema relacionado ao mais complexo dos  desafios: perdoar e amar nossos desafetos e nossos inimigos, e não somente aqueles que nos amam e nos tratam e querem como amigos. Nossa tendência natural não é esta; nunca foi! Pelo contrário, como muito bem o perceberam os chineses com suas tradições milenares, nosso impulso imediato é o de "deitar fora a criança junto com a água suja". Pelo menos quando na bacia estão não ingênuas e inocentes criaturas, e sim criminosos horrendos, estupradores,  terroristas e torturadores repugnantes. Não nascemos preparados para isso, e tampouco somos um Buda, Maomé ou Jesus Cristo! Falta-nos sensibilidade e sobram argumentos e racionalizações para justificar nosso "tratamento de choque" dispensado a pessoas desse tipo e situações dessa natureza! Depois, claro, voltamos a descansar e a dormir sossegadamente, cada um no seu canto e munidos de respostas ácidas e convincentes para com quem ouse ameaçar nosso sossego e nossa paz de espírito. Depois de ser exaustivamente constrangida a encontrar lógica e coerência para nossos absurdos e loucuras, nossa mente, cansada, acabou por aprender a criar estratégias altamente eficazes para entorpecer nosso espírito e amordaçar nossa consciência. "Zumbis, zumbis, zumbis", como diz a canção interpretada por Dolores O'Riordan.

"Se não consegues amar, cessa ao menos de odiar", é o que sugere André Comte-Sponville em seu "Pequeno Tratado das Grandes Virtudes", sobretudo quando somos chamados a lidar com o que a humanidade tem de pior, mais repulsivo e repugnante: crimes bárbaros, pecados capitais e delitos hediondos. Cessar de odiar com certeza já representa um bom começo, mas por vezes nem isso parece assim tão fácil de ser alcançado. De qualquer forma, se amar pode ser difícil em casos e situações do tipo, começar pelo menos exigente e mais ao nosso alcance pode estar mais de acordo com nossa natureza frágil, imperfeita e limitada. Humanos que somos, sempre vulneráveis a paixões avassaladoras e pouco ou nada dispostas a compreender e perdoar como deveríamos, precisamos de tempo, ajuda, socorro, e não raro uma intervençãozinha da graça quando a tarefa parece árdua  e humanamente impossível. De uma vez só, e a curto prazo, a tendência é quase sempre que o caldo entorne e a violência ocupe a cena. Muitas vezes é preciso tempo e calma para se pensar e refletir melhor. Refletir, por exemplo, nessa espécie de "máxima de ouro" deixada pelo sempre crítico e polêmico Nietzsche: "quem esquece - ele afirma - fica curado!". A quem lhe oferecia mil moedas de prata para que lhe ensinasse a lembrar, o mestre de pronto respondeu sem hesitar: "te darei outras mil, se me ensinares a esquecer". De fato, quem disse que é fácil esquecer!? E quando não se deve e não se pode, o que se pode ou se deve fazer!? Nesse caso a situação parece ficar ainda mais complicada! Pode-se ou deve-se esquecer  Alchwitz!? Ignorar as fogueiras e os "churrascos" regados a carne humana e a céu aberto, proporcionados pela "santa" inquisição!? Como se poderia!? Jamais! Não se pode e nem se deve! Perdoar, então...! Aí a complexidade aumenta de vez! Mas talvez esteja aí um primeiro e grande equívoco a ser evitado. Dizer que só se perdoa de fato quando se consegue esquecer de vez, é um erro lamentável que precisa ser corrigido, e que, independentemente de quando  o seja, para muitos já vem tarde. Apunhalado pelas costas por um  fanático, Espinoza - o mesmo do pensamento em latim que você ainda não traduziu - conservou furado por durante toda sua vida seu gibão de couro. Dá para imaginar o porquê!? Se não, eu lhe digo: para que nem ele  e tampouco seus admiradores - "seguidores", dir-se-ia hoje, nesses tempos altamente tecnológicos - se esquecessem tanto do acontecimento em si, como, mais ainda, da lição por ele sugerida! Perdoar não é, portanto, necessariamente "esquecer", ainda que em muitos casos, como afirma Nietzsche, esquecer e ser curado sejam praticamente sinônimos, pois parecem obedecer a uma perfeita relação de causa e efeito. Inclusive podem existir erros e delitos cujo esquecimento  seria no mínimo faltar com a fidelidade às vítimas - no caso do nazismo e da inquisição, por exemplo - além de ser também tolice e falta inaceitável para com a prudência e o bom senso. Perdoar portanto, ao contrário do que se pensa e muitas vezes se diz e se ensina, não significa necessariamente esquecer ou "fazer de conta" que o dano ou a ofensa não existiram. "Nem Deus - afirmava Espinoza - pode fazer com o que aconteceu não o tenha sido", quanto mais o ser humano! Bem diferente disso, e bem mais que isso, perdoar é acima de tudo cessar de odiar, fazer triunfar a misericórdia sobre o ressentimento, sobre o ódio 'justificado', sobre o rancor, sobre o sentimento e o desejo de vingança que a falta ou a ofensa perpetraram. Mas, como muito bem nos lembra André Comte-Spinville, se a misericórdia e o perdão são reservados apenas e tão somente para crimes e delitos de menor monta, pecados leves e veniais -  "bagatelas" ou "ninharias", como se diz - deveríamos nos perguntar para que então servem de fato a misericórdia e o perdão. Ou que valor deveríamos em tais casos atribuir a eles. Sensibilidade manca é sempre certeza de ataques cruentos e retaliações igualmente  sangrentas. Não importa que a isso se dê o nome de "guerra santa" e "legítima defesa": vulneráveis e inocentes sempre acabarão pagando a conta. Ou o pato, na versão da sabedoria popular! Ou o "faisão", na "sub"versão dos abastados e financeiramente bem dotados.

Outro erro lamentável, para não dizer "desastroso", no qual costumam incorrer inadvertidamente os profetas da misericórdia e do perdão, consiste em condicioná-los ao "merecimento", como se fosse impossível - uma verdadeira injustiça - o perdão concedido em ausência dessa pré-condição. "Não perdôo porque ele -  ou ela - 'não merece!'". Já ouviu algo do tipo? Ou quem sabe tenha você mesmo pronunciado tal barbaridade! Ora, misericórdia!!! Se o outro "merece", não fazemos mais que a estrita obrigação quando supostamente "perdoamos"! Se o outro "merece", não estamos de forma alguma demonstrando misericórdia, perdoando uma dívida, e sim pagando ou ressarcindo por um débito contraído! "Rimetti a noi i nostri debitti come noi gli rimettiamo ai nostri debittori", rezam os italianos na Oração do Pai Nosso. A misericórdia que acarreta o perdão é, exatamente, exclusivamente, e justamente para quem "não merece", para quem está em dívida ou débito para conosco, para quem nos causou um dano ou uma ofensa e não tem como nos "pagar", ressarcir ou compensar, e exatamente por isso, e nessa peculiar condição, roga e suplica por nossa misericórdia e nosso perdão! Quanto mais danosos e gravosos o erro ou o crime, o pecado ou o delito, tanto mais a misericórdia e o perdão se mostram necessários! Aí vem você e diz: "Ah!, mas ele não merece!"! Pronto! Lá se vai a vaca para o brejo! A vaca para o brejo e quem errou, desesperançoso e desesperado, pular da ponte, saltar de um precipício, ou sabe-se lá Deus que outro tipo de fantasia suicida mais! "Afinal, que tipo de amor é esse!?", deveríamos perguntar. Amor raquítico, franzino, mixuruca! Amor - se é que tal denominação ainda é cabível - que requer ser revisto e reavaliado "urgentemente"; amor que precisa ser "ressignificado", e se for o caso "rematrizado". Será esse o tipo e a dimensão do amor que você traz nesse coração bandido!? Amor que de ágape ou de gratuídade não tem nada!? Ou, quase nada!? Amor com o qual você não consegue perdoar senão umas coisinhas pequenas, mixurucas, bagatelinhas! Já nem mais "bagatelas" são! E depois, lá vem você dizendo que é "filho de Deus", "imagem e semelhança do Criador", "obra prima da criação" e toda uma parafernalha de figurações fantasiosas que só Deus sabe de onde foram retiradas! Que Deus é esse!? Isso nem Deus é! Isso é simulacro!Aproveite, para quando você for traduzir a frase de Espinoza, e verifique também o que é isso, esse tal de "simulacro"! Mas se a preguiça está consumindo você, substitua aí esse "palavrão" por "ídolo", "coisa falsa", "imitação barata", tudo isso cabe, tudo isso serve! Só não  deixe de rever o quanto antes essa concepção pobre, raquítica e mesquinha de "só perdôo quem merece!". Se continuar apegado a essa filosofia barata de um e noventa e nove, não conseguirá perdoar é ninguém!

Com você que está  aí quietinho, quietinha, talvez a coisa não seja bem assim, não é verdade? Convite feito para crescer e você talvez tenha  se adiantando e foi logo se justificando: "já cresci! Graças a Deus e felizmente!". Se é assim, então nesse caso a pergunta é outra; mais exigente e mais à altura de sua estatura, claro! Então vamos lá: usaria de misericórdia para com um assassino em série!? Perdoaria um estuprador que não sente um pingo de remorso pelo que faz!? Se reconciliaria com um psicopata contumaz!? Daria uma nova oportunidade a um sequestrador que levou para sempre um ente querido seu!? Já basta, não é verdade!? Daqui pude ver você balançando a cabeça e abrindo uns olhos "desse tamanho"! Ué, não disse que tinha crescido!? Foi você quem disse, fui eu não! Pode começar aí, sua ladainha de racionalizações e justificativas! Se não for muito longa, eu espero! E então, de onde devemos partir agora!? Será que eu ouvi você dizer que "não"!? Que com essa "turminha" que eu listei, você sente muito mas não  tem conversa!? Ok! Então o melhor talvez seja fechar pra balanço! Termina aqui a reflexão! Caso você mude de ideia, depois a gente reabre a discussão! Continua aí!? Ainda!? Está bem! Então vamos continuar refletindo juntos! Tente responder a algo mais fácil, desta vez! Reconheço que apertei muito, a corda no pescoço! Pergunta básica, então: por que parece tão difícil - para muitos, verdadeiramente "impossível" - perdoar pessoas que cometem crimes graves, pecados capitais e delitos hediondos!? Ainda difícil responder!? Ok! Então prossigamos! Quando o Mestre diz: "quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra!", muita gente só fica calada e aquieta o facho enquanto perdurar o que costumo chamar de "processo de identificação". Ou seja, enquanto no fundo no fundo, se puder dizer de si para si mesmo: "já fiz algo parecido um dia!". Ou então: "poderia ter acontecido comigo ou com alguém que eu amo!". Ou ainda: "e se um dia isso vier a acontecer comigo ou com alguém da minha família!?", a gente consegue reter as pedras nas mãos. Isso é o que estou chamando de "tolerância ou perdão por identificação"! Até aí a gente vai, a gente aguenta, a gente suporta! Mas quando a corda vai sendo apertada cada vez mais, e a possibilidade de identificação diminuindo, cessando, até finalmente desaparecer por completo, pronto! Lá vai pedrada e cacetada! O caldo entorna e a tolerância zero mostra a cara! "Eu, hein! Sequestrador,  estuprador, terrorista, 'serial killer'! Tá doido!? Você só pode estar brincando!". E enquanto o andar da carruagem dos crimes hediondos e pecados capitais que vão completando a lista, vai seguindo em frente, o andor da compreensão e das virtudes necessárias para se perdoar atola na lama, empaca de vez, e não avança mais nem por decreto! A racionalização ouve o recado, entra em cena, propõe uma lista interminável de razões e justificativas para o empacamento, e já era: "omnia consummatum est!" - "tudo está consumado!".

Consumado está, no que se refere à saga do Mestre! Mas no que diz respeito à saga dos discípulos muita água ainda precisará rolar e passar por debaixo dessa ponte! O desenlace em relação à consumação do Mestre, se você se lembra bem, chegou a termo com um gesto de tamanha nobreza, que nunca mais seria esquecido e continua até hoje sendo lembrado: "Pai, perdoai-lhes, pois eles não sabem o que fazem!". Pagava com a própria morte o que em vida havia ensinado! Mas, aqui entre nós, tem um porém aí! Se o Mestre diz que seus algozes "não sabiam o que faziam", então não se tratava de aplicar punição ou perdão, e sim de proceder à devida correção! Antes de se punir ou perdoar quem quer que seja, por qualquer pecado ou erro que se cometa, há que se ter ensinado antes a fazer a coisa certa! Erro requer correção, e não punição; ou, se se optar por perdoar, perdão. Se o raciocínio segue em frente, a coisa vai ficando um pouco mais complicada! Melhor então parar por aqui! O grande Sócrates, apesar de toda sua grandeza, parece ter também ele caído numa trampa semelhante à do escritor "sagrado". "Saber é virtude, ignorância é vício!", foi o que ele, Sócrates, disse! Mas sabemos que não é bem assim, não é verdade? Quem dera se fosse! Bastaria saber o que é certo, e pronto! Num passe de mágica a pessoa se tornaria um exemplo de virtude! Ora, essa equação nem sempre funciona dessa maneira. Da mesma forma que a ignorância por si só nem sempre conduz ao vício, também o saber por si só tampouco acarreta virtude!  Afinal, os interesses e as paixões humanas, onde é que ficam nessa história!? Fora dela é que não! E nós, onde é que ficamos!? Erro não se perdoa, erro se corrige, dizíamos nós! Então por qual motivo o Mestre teria dito: "Pai, 'perdoai-lhes', pois eles 'não sabem' o que fazem!"? O correto não teria sido que alguém lhes tivesse ensinado antes a coisa certa!? "Instrui-os ou suporta-os", ensinava o imperador romano Marco Aurélio! Depois de haver aprendido o que é certo, caso ainda assim a ação errada continui sendo praticada, aí sim, cabe lugar tanto para a punição quanto, se assim se preferiu, para o perdão. Restarão sempre as duas alternativas, entre outras, como opção.

Mas vamos deixar isso quieto, por enquanto. Vai que tenha sido lá algum equívoco de tradução ou uma escorregadela da inspiração! Jesus já estaria por demais exausto àquela altura, para conseguir se manter focado nessas minúcias e figurinhas de linguagem! Acontece! A pergunta mais importante, entretanto, ainda continua por ser ao menos satisfatoriamente respondida.  Voltemos a ela, portanto: por quais razões é de fato tão difícil, para muitos verdadeiramente impossível, usar de misericórdia e de perdão para com aqueles que cometem pecados tão graves e crimes tão hediondos, que parecem inviabilizar ou não permitir qualquer tentativa de identificação!? A sabedoria popular talvez indagasse de outra forma: por que é que "Deus perdoa sempre, os seres humanos algumas vezes, e a natureza nunca?". Procuremos compreender melhor essa questão. A coisa funciona mais ou menos assim: Deus tem pelo menos dois grandes motivos - melhor seria dizer, duas "razões suficientes" - para perdoar "sempre". E sempre é sempre; sem que se queira aventar qualquer história de purgatório e inferno como estratégia e parte da solução! Em termos de religião e fé, tudo bem, fique-se à vontade para acreditar no que se preferir e se achar melhor! Fé é fé! E "toda fé - no dizer de Lou Marinoff - é apaixonada, impulsionada pela paixão e distanciada da razão". No que com ele concorda plenamente Bertrand Hussell: "homens cruéis acreditam num Deus cruel, e farão uso de sua crença para justificar sua crueldade! Homens bons, acreditam num Deus bondoso, e serão bondosos de qualquer jeito!". Por via da razão e da lógica, entretanto, é impossível defender a existência desses lugares tenebrosos e repletos de sofrimento infinito! Sinto muito! Sinto muito, e graças a Deus, há que se reconhecer! Chega a me dar arrepios! "A mim também me fez o Amor Eterno", deixou registrado Danti no frontispício da entrada do seu inferno. Não do seu, do dele! Relaxe! Aliás, essas realidades não "casam" bem com Deus nenhum! Quanto mais com um Deus cuja compreensão é perfeita e absoluta,  e cuja misericórdia é infinita e incondicional! Voltando e refazendo o gancho: Deus perdoa sempre, dizíamos, por dois motivos ou por duas razões suficientes. A ordem entre elas não faz a mínima diferença! Mas vamos falar primeiro, e rapidamente, do "amor"! Sendo o amor divino "ágape puro", isto é, absoluto, infinito e incondicional, não há sequer como Deus não perdoar! É como se Ele não tivesse escolha, como se lhe não fosse dada outra opção! Isso mesmo: se não perdoa, deixa de ser o que é, pois é próprio do Amor Absoluto, Infinito e Incondicional - até fiz questão de registrar tudo com iniciais maiúsculas, percebeu? - perdoar sempre, e jamais estar ou ser condicionado ou "engessado" por quem quer ou pelo que quer que seja! Conclusão absolutamente necessária: "Deus perdoa 'sempre'"! Atento para as "aspinhas" do "sempre"!  Perdoa sempre, frisemos, porque o amor do qual Ele se reveste é Ágape Puro, Absoluto, Infinito e Incondicional! E ponto final! Quando determinado Pontífice fez certa afirmação, proclamando que "Deus perdoa sempre, nós é que por vezes nos esquecemos de suplicar pelo seu perdão", poderia até ser que não estivesse pensando, naquele exato momento, nos motivos e nas condições para que isso seja possível, mas com certeza afirmou algo absolutamente certo: "Deus - em existindo, ressalva seja feita - perdoa sempre!". E perdoa porque ama Gratuita, total e incondicionalmente! Amém!

Segundo motivo, do qual sequer seria necessário lançar mão, já que o primeiro basta e resulta absolutamente suficiente. Deus perdoa sempre porque, sendo "onisciente", isto é, conhecedor e capaz de compreender tudo e todas as coisas de forma absolutamente consciente, "tudo e a todos perdoa absoluta, infinita e incondicionalmente". Complicou de vez!? Então observe com mais foco e atenção. Se o amor ágape tudo perdoa - absoluta, infinita e Incondicionalmente, como o afirmamos anteriormente - também a compreensão total e absoluta das razões, dos porquês e das intenções não permite outra opção senão esta: "perdoar absoluta, infinita e incondicionalmente"! Em tais circunstâncias, e sob o impulso de tais condições, não resta outra alternativa a Deus senão perdoar! E perdoar sempre! E por que ou por quais razões!? Vem comigo, porque agora será necessário traduzir a máxima latina de Espinosa que você ainda não traduziu. Ela é a chave de ouro para a compreensão do que em seguida será afirmado, e também do que talvez você ainda não tenha suficientemente captado. A tradução da passagem citada é esta: "das ações humanas não se deve rir[ou zombar], chorar[ou lamentar],  detestar[sentir aversão ou abominar], e sim['mas'] compreender!". Ou seja, de acordo com Spinoza - ou "Espinoza", tanto faz - a "compreensão" é a base e a chave de tudo! Sobretudo no que diz respeito à misericórdia e ao perdão! Quanto mais se compreende, mais propenso e em ideais condições de perdoar se fica! Senão observe o seguinte: se de um pai a quem você presencia maltratando severamente um de seus filhos - filho dele, não seu - você toma conhecimento de que, também ele, foi quando criança severamente judiado e maltratado, essa compreensão tenderá a fazer com que você julgue com mais misericórdia e bondade esse pai! Ou ao menos deveria! A violência ou a absurdez do ato - sim, a palavra existe - com certeza em nada são justificadas, e deverão continuar sendo reprovadas e combatidas. Mas o julgamento e o juízo que eventualmente venham a recair sobre esse pai, estes sim, tendem a mudar gradual e completamente -  se é que terá conseguido chegar a tanto, o grau da compreensão. É por essa razão que Dom Armando Falcão, ex-Arcebispo de Brasília, ensinava do alto de sua admirável sabedoria: "o julgamento é da história, mas o juízo último é de Deus!". Eita homem que falava bem e bonito! Por esse mesmo motivo costuma-se afirmar também que no interior de cada ser humano nem à Igreja é facultado entrar! O inverso também é verdadeiro, claro!: "quanto menos se compreende, menos propício e disposto a perdoar se fica". Simples assim!? Simples assim! Complicar para que, por quê!? Agora perceba uma coisa importante: o ato de "compreender" se diz em dois sentidos diferentes, ainda que idealmente complementares! No primeiro deles, diz-se compreender no sentido de "conhecimento dos fatos, das circunstâncias, das razões primeiras e últimas, das intenções", e por aí vai. No segundo sentido, compreender se diz como uma espécie de "exercício de virtude", isto é, como "vontade, desejo, esforço e disposição". Em Deus ambas as grandezas andam, pela própria natureza do ser divino, necessariamente juntas, imbricadas o tempo todo! A única diferença é que Deus não perdoa e nem poderia perdoar "por exercício de virtude", pois isso só é possível no ser humano. Em relação a Deus não só é impossível como não faria sentido algum, já que em Deus toda virtude se encontra em seu grau máximo e absoluto de excelência. Deus, como já o dissemos, perdoa por amor. E não qualquer tipo de amor! Amor "ágape"; jamais em virtude de eros ou de philos! Esses dois últimos são amores humanos, "demasiado humanos", como diria Nietzsche, enquanto em Deus há, sempre houve, e sempre existirá excelência total e absoluta de toda e qualquer virtude,  menos a virtude ou a virtuosidade em si mesma, entendida como "busca" de excelência ou de perfeição. Deus não busca nada pelo simples fato de já possuir tudo! Virtude como busca de excelência em algo é coisa de humanos, de quem ainda não tem ou não alcançou aquilo pelo qual procura! Deus é toda e qualquer virtude em grau máximo ou absoluto de excelência! Resumindo: em razão do amor absoluto e incondicional, e da compreensão total e absoluta, Deus perdoa sempre! Não importa o tamanho do erro, do crime, do delito do pecado, ou de qualquer outra miséria humana que se conheça; nesse sentido, e apenas nesse, não faz a mínima diferença. Em tempo: apelar para a liberdade humana, como forma ou argumento de se tentar invalidar no todo ou em parte o que até aqui foi colocado, pode ser compreensível e aceitável única e exclusivamente do ponto de vista da "boa e da reta intenção", que de acordo com Kant é a única coisa absolutamente boa. Mas esbarra inevitavelmente em uma ou mais aporias teológicas de difícil ou quiçá de impossível solução, das quais não pretendo tratar nesse momento. Sobretudo em razão do objetivo maior e da extensão da presente reflexão. Agora o mais importante: não sendo você igual a Deus, não se fruste e não se decepcione - desesperar, nem pensar! - pelo fato de encontrar tanta resistência e tamanha dificuldade em perdoar e sobretudo amar seus inimigos ou seus desafetos mais contumazes. Tal dificuldade - se é que isso serve de consolo - não é só sua! É de todos! De todos e cada um de nós! Esforçar-se para tanto - e a isso se chama "virtude" - é com certeza - e disso não nos esqueçamos nunca - tarefa e dever de todos, sem exceção. Se você se embananou todo, ao chegar aqui, ou já tinha se embananado lá, pelo meio do caminho, relaxe! Também eu já me encontro mais pra lá do que ora cá, a essa altura do campeonato! Vou até - com licença! - tomar uma água antes de concluir.

 

À guisa de conclusão: ágape, como uma espécie de "categoria de luxo" em se tratando dos amores humanos, é algo tão raro em nós, em nossas atitudes e em nossa disposição de compreender, perdoar e amar o nosso próximo, que poderíamos considerá-lo como praticamente fora de cogitação, quando os destinatários desse perdão e desse amor são nossos inimigos! Faíscas e chispas de ágape às vezes ocorrem em tais casos, certamente muito mais por graça e dom que por mérito e virtude! Talvez isso ajude a entender melhor aquela espécie de "imagem e semelhança com Deus", de que nos falam os textos considerados sagrados. Mas são chispas e faíscas, e nada mais! Só Deus seria de fato capaz de "se apaixonar tanto, e incendiar tudo"! Se isso em sentido real ou apenas metafórico, eu não saberia dizer! Se em ambos os sentidos, menos ainda! Certos filósofos afirmam que Deus, em existindo, seria uma espécie de "logos ou razão kantiana pura", total e absolutamente incapaz de experimentar uma única sequer das dezenas ou centenas de sentimentos e emoções a que os seres humanos estão sujeitos. Pode ser! O certo é que só em Deus o amor "ágape", absolutamente  infinito, gratuito e incondicional, parece ser possível. Freud, segundo dizem, teria se lamentado de jamais ter experimentado em si tal tipo de amor! Todas as suas "tópicas" não vão além de "eros" e "philos", amores que, no limite, têm o condão de suscitar o seu oposto, o ódio. Nós humanos estamos muito mais para "philos", e não para ágape! Muitos de nós nem para "philos" estamos! Ficamos mesmo é na fronteira e no patamar de "eros", isto é, dos apetites tanto do erótico como de comida e comilança! Neimar de Barros falava algo parecido em seu "Deus Negro". "Tem gente" - ele diz- "que não tem mais que um cifrão em cada um dos olhos e uma vagina na cabeça" [No caso da mulher, um pênis, claro!]. Sei que a frase é forte! Fazer o quê! Foi ele quem disse! Mas imaginando que todo e cada ser humano esteja mais para pecador do que para santo, ainda assim "amar é preciso!". Sobra o quê!? Sobra uma sensibilidade sempre oscilante, feito montanha russa, e uma  compreensão que deixa muito a desejar! Uma compreensão que, tanto no sentido cognitivo como no da virtuosidade, costuma ser... Eu ia dizer "deprimente", mas como o termo me lembra "depressão "; então vou chamar de "capenga", igualmente oscilante: em certas horas nos surpreendendo com gestos de extrema magnitude, e em outras, de extrema crueldade! "O homem é um ser que caminha sobre uma corda - dizia Nietzsche - pendurada entre o céu e o abismo". Aí você e eu podemos entender melhor por que parece tão difícil - e de fato é! - sermos capazes de usar de misericórdia e perdão para com quem comete um erro ou crime hediondo, um pecado grave ou "mortal" - credo! - ou qualquer ato hediondo que apareça à nossa frente! Não é o erro, o pecado ou o crime que são grandes ou hediondos demais! Não! Pode até ser que seja! Mas o que os faz parecer centenas ou milhares de vezes maiores do que realmente são, é o tamanho[zinho] da nossa sensibilidade e da nossa capacidade tanto de amor quanto de compreensão. E enquanto elas continuarem desse tamaninho -  tacanho, mesquinho, minguado - vamos continuar convictos de que traição não tem perdão, perdão é só para quem merece, lugar de assassino e criminoso é na cadeia, bandido bom é bandido morto, lugar de terrorista é no cemitério, e outras filosofias e teologias de um e noventa e nove que campeão soltas por ai! Eu disse "teologias" e não só "filosofias", se você percebeu bem! Sim, porque existem teólogos e exegetas de última hora que costumam excomungar todo e qualquer tipo de filosofia que se meta a falar de fé e de religião, sem sequer ser capaz de olhar para o próprio umbigo e perceber que, das teologias que trazem consigo, até o "encardido" - termo preferido pelo saudoso Padre Léo - ri e acha graça! Nem a um e noventa e nove várias delas chegam!

 

Dizia Freud que quando Pedro me fala de João, fico conhecendo menos de João que de Pedro! "Shiii! Lá vem sermão!". Você queria o quê!? Pensou que a reflexão terminaria como!? Exaltando tanto o meu quanto o seu grau de compreensão para com os delitos, os pecados, e as desgraças humanas!? Ou quem sabe, enaltecendo nossa maneira vil e rasteira de ver e perceber o mundo e as misérias dessa ou daquela geração!? Ou quem sabe ainda elevando à categoria de bem-aventurança nossa disposição para julgar, perdoar e reerguer o bicho homem!? É isso sinceramente que você esperava!? Agora, se você está aí agradecendo e louvando a Deus pelo seu altíssimo e diferenciado grau de compreensão e amor para com o próximo", ou até por estar "mais próximo" e em comunhão com ágape do que com philos e eros, nesse caso então, Deus seja bendito, Deus seja louvado"! Quem sou eu para pensar ou dizer o contrário!? Não está mais aqui quem falou!!!  Eu, heim!? Se eu sou lá de ficar fazendo sermão!

Falando sério e fechando: se você nunca visitou um presídio nem passou perto; se você não tem sequer uma ave-mariazinha reservada nas suas preces para quem pecou ou cometeu um crime ou delito por mais grave ou hediondo que ele seja; ou se nas rodinhas de amigos, aniversário ou fim de ano, você não faz outra coisa senão permanecer excrachando e ridicularizando aqueles que você chama de "bandido, assassino, criminoso e filho da puta", melhor levar um pouco mais a sério o que foi dito, não somente aos antigos mas também aos desta geração, como eu e você: "tive fome...tive sede...estive doente... estive  nu...estive preso, e você não me visitou! Ei, estou falando com você!!!".  E aí não adianta ser de esquerda ou de direita, desta ou daquela religião, frequentar esta ou aquela igreja ou igreja nenhuma, ser religioso de carteirinha, ateu ou agnóstico, depois chegar lá em cima racionalizando e com aquela desculpinha esfarrapada ir logo se justificando: "Senhor, peraí! Me explique melhor aqui! Me ajude a entender melhor: quando foi mesmo, que o Senhor tava isso, tava aquilo, tava aquilo outro, e inclusive acho que o Senhor mencionou que estava preso! Foi quando isso, mesmo!? Ou estou meio enganado ou exagerando!?". Olha o rosto d'Ele como vai ficar ao perceber seu 'jeitinho brasileiro' de sempre querer resolver as coisas: 🤔🥸!!!  E agora, olhe a cara de quem vai - de acordo com as tradições religiosas mais sensíveis e amorosas - estar esperando por você do outro lado: 👺👹!!!  Fique agora com a advertência do líder espiritual tibetano Dalai Lama sobre a urgência da sensibilidade transcender a inteligência, no mundo atual. Diz ele: "o planeta não precisa de mais pessoas de sucesso. O planeta precisa desesperadamente de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de historias e amantes de todo tipo. Precisa de pessoas que vivam bem nos seus lugares. Precisa de pessoas com coragem moral; dispostas a aderir à luta para tornar o mundo  habitável e mais humano, e essas qualidades têm pouco a ver com o sucesso tal como a nossa cultura o tem definido". "The world doesn't need intelligent Men and politicians. The world needs sensitive Men!". Em inglês, porque suponho que você já ande meio às turras com o latim!

                            

(*) Texto enviado de Vitória(ES) via whatsapp.

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