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REFLEXÃO
DOMINICAL III
SOLENIDADE DE SANTA
MARIA, MÃE DE DEUS – 1º de janeiro
Por Izabel Patuzzo
O plano
divino da salvação
I.
INTRODUÇÃO GERAL
No início do ano-novo
civil, a Igreja celebra uma solenidade especial: a de Santa Maria, Mãe de Deus.
Com ela, a Igreja nos recorda o importante papel de Maria no plano da salvação.
Essa festa tão antiga remonta ao Concílio de Éfeso, em 431. No plano da
salvação, Maria aceita que, pela ação do Espírito Santo, a Palavra de Deus
encarnada habite em seu ventre. Com seu sim a Deus, torna-se morada do Espírito
Santo.
O novo ano que se inicia
nos oferece também novas oportunidades, novas ideias e novas decisões para
fortalecer nossa relação com Deus e com o próximo, tendo Maria como modelo de
discípula capaz de dizer ao Senhor: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.
Neste primeiro dia do calendário civil, a liturgia nos convida a rezar pela paz
no mundo inteiro. Promover a paz é uma das bem-aventuranças proclamadas por
Jesus. As leituras desta solenidade apontam para diversas coordenadas em nossa
vida.
A primeira leitura nos
fala da presença amorosa de Deus, como fonte contínua de bênção, que nos
acompanha e protege em todos os momentos de nossa vida. Na segunda leitura, o
apóstolo Paulo nos recorda que Jesus veio a este mundo para nos libertar pelo
poder do amor incondicional, a ponto de dar sua vida por nós. O Evangelho nos
mostra que a chegada de Jesus a este mundo é motivo de júbilo para aqueles que
têm o coração aberto para acolhê-lo, como os pastores de Belém.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1.
I leitura (Nm 6,22-27)
Um dos motivos para essa
leitura ser escolhida para a solenidade é o fato de estarmos no primeiro dia do
ano de nosso calendário civil. Dessa forma, esse texto do livro dos Números se
apresenta como uma fórmula de bênção para o ano que se inicia. Segundo a
tradição judaica, em ocasiões importantes, uma das funções sacerdotais era
abençoar o povo. A bênção era sinal de fidelidade à Aliança e a garantia de que
a promessa feita por Deus a Abraão – de acordo com a qual todas as gerações
futuras seriam abençoadas – de fato se cumpria continuamente na história. As
palavras dirigidas por Deus a seu servo Moisés significam que essa bênção passa
de geração em geração àqueles que são fiéis na observância da Aliança.
Tal bênção situa-se no
contexto das últimas instruções do Senhor Deus a Moisés, antes que o povo
escolhido deixasse o monte Sinai. Ela é um dom concedido a toda a comunidade
dos fiéis reunidos, para que tenham vida, força e felicidade; todos são
agraciados pela bênção divina. Repeti-la por três vezes significa o
reconhecimento de que é fruto da generosidade divina; Deus mostra sua face de
geração em geração, porque é sempre presente na vida de seu povo. Cada
invocação corresponde a um dom especial: bênção, proteção e paz. O autor do
texto expressa a fé de Israel, que sempre pede ao Senhor Deus que mostre sua
face amiga e conceda a paz. Para aqueles que temem a Deus, essa bênção resume
tudo de que precisam para uma vida em plenitude.
2. II leitura (Gl 4,4-7)
Alguns cristãos da Galácia
provenientes do judaísmo pregavam que, para alcançar a salvação, os cristãos de
origem não judaica deveriam se submeter a certas tradições e costumes judaicos,
como a circuncisão e certas regras sanitárias e de purificação dos alimentos.
Paulo intervém com muita convicção, afirmando que Jesus Cristo veio para todos
e pelo batismo é que todos alcançaram a salvação. Esta não vem pela Lei ou por
costumes judaicos, mas pela fé em Jesus Cristo. Sua morte redentora inaugurou
nova era para judeus e não judeus. A salvação se estende a todos os que aceitam
a proposta do discipulado de Jesus.
O texto apresentado na
liturgia de hoje consiste num dos pontos centrais da carta aos Gálatas. Em sua
mensagem, o apóstolo Paulo ensina que Cristo veio para libertar todos os que
estavam sob o jugo da Lei. Pela sua morte redentora, ele libertou todos os que
eram escravos, tornando-os filhos de Deus. A leitura recorda também que Jesus
nasceu de uma mulher; implicitamente, lembra-nos Maria, Mãe de Jesus. A
centralidade do ensinamento desse texto é a dignidade dos discípulos de Jesus
de serem filhos de Deus por adoção. Assim como Jesus, o discípulo pode se
dirigir a Deus como filho. Paulo foi fiel ao Evangelho que lhe foi transmitido
pelos apóstolos, no qual Jesus se dirige a Deus como Pai. Assim, a palavra
“filho” é aplicada a Jesus e a todo cristão batizado.
3. Evangelho (Lc 2,16-21)
A narrativa de Lucas
sobre o nascimento de Jesus dá a conhecer que as primeiras pessoas que se
alegram, acolhem e visitam o Filho de Deus recém-nascido são os pastores. Eles
cuidavam de seus rebanhos quando, durante a noite, os anjos dos céus lhes
anunciam a grande notícia, encorajando-os a não ter medo. É precisamente essa a
mensagem central da solenidade que celebramos. Iniciamos novo ano sob a
proteção de Maria, que trouxe ao mundo o Filho de Deus. A exemplo dos pastores,
que se dirigem apressadamente para visitar Jesus, Maria e José junto à
manjedoura, nós também somos convidados a contemplar a simplicidade e a
pequenez com que o Salvador veio ao mundo.
Os pastores, além de se
dirigirem apressadamente para encontrar-se com Jesus, glorificam e louvam a
Deus por esse tão grande acontecimento. No nascimento de Jesus, Deus se faz
muito próximo desse grupo de pessoas. Jesus também vem como o verdadeiro pastor
que, mais tarde, irá dar a vida pelas suas ovelhas. Ele foi acolhido por essa
categoria de trabalhadores que passam a noite cuidando de seu rebanho.
Simbolicamente, Lucas indica que o anúncio oficial do nascimento de Jesus é
feito pelos anjos, criaturas divinas que trazem a boa notícia, em primeiro
lugar, aos pastores. A atividade de pastoreio, no Antigo Testamento, era
atribuída a Deus. Assim, a presença dos pastores tem um sentido profundo de
identificação com a missão de pastorear o povo que Jesus irá desenvolver e que
Lucas apresentará em todo o decorrer do
terceiro Evangelho.
Assim como os pastores
agiram ao ouvir o canto celeste dos anjos, somos convidados a proclamar a
glória de Deus, porque o Príncipe da paz vem até nós. Jesus é a luz que brilha
na escuridão da noite. A experiência do nascimento é um ato comunicativo em
todos os sentidos. Os anjos são comunicadores da Boa Notícia, e os pastores são
aqueles que apressadamente acolhem a mensagem e vão ao encontro de Jesus.
Maria, por sua vez, ensina-nos que as maravilhas desse grande acontecimento são
para serem guardadas no silêncio do coração. É preciso esforço para compreender
esse mistério. Lucas nos apresenta Maria como uma pessoa que sabe ouvir a
mensagem divina, que a medita e guarda no coração. Desde a visitação, é aquela
que acredita na mensagem do Senhor; escuta-a e a põe em prática. Por isso, Deus
realiza grandes coisas em seu favor e em favor de seu povo.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Lucas descreve Maria
como uma pessoa que sabe escutar. A história da salvação apresentada nas
Escrituras nos revela que Deus é o primeiro a escutar o clamor de seu povo. Ele
não se mantém indiferente às suplicas de seus filhos. Duas palavras-chave
caracterizam a ação de Deus em relação à humanidade: escuta e palavra. Depois
de escutar seu povo, Deus lhe dirige palavras de orientação. Como discípulos de
Jesus, aprendamos de Maria e dos pastores a atitude de escutar o que Deus nos
fala.
O papa Francisco nos
convida a ser uma Igreja de encontro e de diálogo. A escuta nos educa para
sermos atentos às manifestações de Deus em nossa vida, bem como para escutar
uns aos outros. Há muitos gritos da humanidade, da criação, que precisam ser
escutados. Precisamos ser atentos como Maria, que ouve, contempla, guarda no coração
o que Deus lhe comunica, mas se deixa transformar por tudo que ouve.
Os pastores também se
puseram nessa atitude de ouvintes dos anjos e depois agiram segundo a mensagem
divina. A liturgia deste dia nos apresenta grandes modelos de pessoas que
souberam ouvir a voz de Deus e pôr em prática a mensagem recebida do alto.
Interroguemo-nos: temos a mesma sensibilidade para estarmos atentos à vida e
perceber a presença de Deus, como Maria e os pastores? Somos, a exemplo deles,
capazes de deixar que a Palavra de Deus transforme nossa vida? Que a luz desta
solenidade possa trazer para nosso novo ano um sonho para nosso bem e do
próximo; um sonho-projeto para este ano; uma escolha de amor que nos guie por
todo
o ano.
Izabel Patuzzo
pertence à Congregação Missionárias da Imaculada – PIME. É
assessora nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação
Bíblico-Catequética da CNBB. Mestre em Aconselhamento Social pela South
Australian University e em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. É licenciada em Filosofia e Teologia pela Faculdade
Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo.
E-mail: isabellapatuzzo@hotmail.com
https://www.vidapastoral.com.br/roteiros/solenidade-de-santa-maria-mae-de-deus-1o-de-janeiro/
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