REFLEXÃO
DOMINICAL I
O
QUE TEM NO ALTO DA MONTANHA?
Dizem que foi no monte Tabor! É a mais
alta montanha da Galileia. Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou
sozinhos a um lugar à parte sobre uma alta montanha. Lá Ele se transfigurou.
Apareceu-lhes cheio de glória, como se fosse a revelação do fim. O segredo
parecia desvendado. Afinal, Ele se mostrava como enviado do Céu. Tudo parecia
estar resolvido. Daí a ideia de que não precisariam mais descer aquela
montanha. A Igreja proclama essa passagem duas vezes no ano. Uma delas é no dia
6 de agosto, festa da Transfigu- ração do Senhor. E parece muito lógico que um
acontecimento as- sim seja celebrado de maneira solene. Mas, curiosamente, a
outra vez que a Liturgia o lê é no segundo Domingo da Quaresma, quando a Igreja
reflete sobre o mistério da Paixão e morte do Senhor. Parece que não tem muito
senti- do contemplar a glória quando se quer, na verdade, refletir sobre o
sofrimento. Porém é exatamente isso que acontece. O sentido da Transfiguração
de Jesus não está tanto em querer que os discípulos, tendo acesso à sua glória,
desejem permanecer nessa condição, mas em prepará-los para a incompreensível
morte em Jerusalém. Jesus, ao levar os discí- pulos para o monte da Transfigu-
ração, na verdade, queria levá-los ao monte Calvário. Esse, sim, é no- meado
pelos Evangelhos e sabe- mos que se trata do verdadeiro lugar da crucifixão. A glória
de Deus não se confunde com a glória do mundo. Jesus disse isso tantas vezes e
de formas tão variadas que é estranho que algum cristão pretenda viver sob a
interpretação de que a fidelidade a Deus garanta e assegure uma vida feliz e
sem problemas nesse mundo. Era assim que pensavam as autoridades religiosas do
tempo de Jesus. Viviam sob a chamada “Teologia da Retribuição”, que ensinava
que Deus recompensa os bons, por isso eles estão imunes aos sofrimentos, à
pobreza, às doenças. De outra parte, ensinava que, se alguém está sofrendo é
porque pecou. Por isso perguntaram a Jesus diante de um cego de nascença: “Quem
pecou para que ele fosse cego, ele ou seus pais?” Diziam isso porque, se ele
nasceu cego é porque; ou pecou no ventre de sua mãe, ou está pagando pelos
pecados dos pais. Por isso também foi que levaram Jesus para a Cruz e
procuravam desmascará-lo dizendo: “Se és o Messias, desça da cruz e nós
acreditaremos.” Foi assim que Deus se manifestou através de Moisés; fazendo um
grande milagre, abrindo o Mar Vermelho para salvar o seu povo e depois fechando
o Mar para afogar os seus perseguidores. Um Messias morrendo na cruz não era
possível; onde os criminosos eram postos para morrer bem lentamente, podiam
permanecer por dias pendurados, morrendo devagar e expostos, sendo devorados já
em vida pelas aves carnívoras, num espetáculo de asco e de horror. Ninguém
acreditava que um messias podia morrer na cruz. Deus teria se esquecido dele.
Seria um sinal de que se tratava de um grande pecador. Por isso mesmo, Jesus
sabia da fragilidade de seus discípulos e de como a Paixão poderia afetá-los.
De fato, S. Marcos situa a Transfiguração entre o primeiro e o segundo anúncio
da Paixão. Já o evangelho de Lucas afirma que Jesus conversava com Moisés e
Elias sobre o seu êxodo que deveria acontecer em Jerusalém. Então, para que
serve a glória que Deus manifesta nesse mundo em nossas vidas? Para
preparar-nos para os incompreensíveis sofrimentos que fazem parte de nossa
missão.
Dom
Rogério Augusto das Neves Bispo Auxiliar de São Paulo
https://arquisp.org.br/sites/default/files/folheto_povo_deus/ano-48b-18-2o-domingo-de-quaresma.pdf
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