PERGUNTARAM-ME
SE CONTINUO OU NÃO ACREDITANDO EM DEUS: EIS EM DEFINITIVO - OU
NÃO - MINHA RESPOSTA"
[Texto Integral]
Lindolivo Soares Moura (*)
"Perguntaram-me se
acredito em Deus. Minha
resposta foi: 'em qual Deus?
O de Francisco de Assis ou o
de Torquemada?'" [Rubem Alves]
"A convicção profundamente
emocional da presença de uma inteligência superior, que se revela no universo ininteligível, representa
minha ideia de Deus" [Albert Einstein]
Sempre imaginei que mais cedo ou mais
tarde a seguinte pergunta inevitavelmente acabaria me sendo feita:
"afinal, você continua ou não ainda acreditando em Deus?". É provável
que a maioria dos que continuam lendo e refletindo comigo através de meus
esparsos escritos tenham conhecimento de que desde os vinte e três anos de
idade - hoje estou com sessenta e cinco - "sou" sacerdote. Digo
"sou" porque, para a Instituição-Igreja que me ordenou, ordenado
sacerdote - padre ou presbítero, dá no mesmo - jamais se poderá vir a deixar de
sê-lo; deixa-se apenas e tão somente de "exercer", jamais porém de
"ser": "tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de
Melquisedeque" é a célebre passagem que se supõe e se acredita ser o
fundamento e a garantia dessa espécie de perenidade. Visto que aos trinta e
três anos deixei de exercer o "múnus" ou ofício sacerdotal para
constituir família deixando também de pertencer à Ordem dos Agostinianos
Recoletos da qual fazia parte, bem como sobretudo pelo fato de muitas de minhas
ideias, crenças e convicções terem ido se aprimorando ou mesmo se modificando
ao longo do tempo - "para o bem ou para o mal" na percepção de cada
qual - entendo que seria perfeitamente natural, normal e até esperado que em
algum momento a mencionada pergunta fosse acabar surgindo. A hora chegou, e foi
exatamente isso o que aconteceu. E aconteceu mais ou menos assim.
Depois de três anos aproximadamente
sem ver meus familiares e parentes em Franca, interior de São Paulo, prolonguei
por quase três semanas minha presença entre eles. Numa das tantas conversas
agradáveis e informais que pude ter com uma de minhas irmãs, a "certa
altura do campeonato" e já numa espécie de "segundo tempo da
prorrogação", ela disparou a pergunta que jamais me houvera sido feita:
"mano, afinal de contas você continua ou não 'ainda' acreditando em
Deus?". Não posso dizer que a pergunta tenha me colhido de surpresa;
afinal, como já disse, era como se eu esperasse que algum dia e em algum momento
ela ocorresse Talvez minha mana não soubesse, e provavelmente eu não lhe tenha
dito, mas aquela pergunta me abria a oportunidade para poder falar um pouco
sobre essa questão que sempre foi e continua sendo muito importante para mim; e
é sobre isso que passo a discorrer nesse momento. Imagino que possivelmente
outras pessoas tanto do meu círculo familiar, de amizade, profissional ou mesmo
de exercício sacerdotal tenham desejado fazer-me essa mesma pergunta, mas
talvez por respeito, receio ou outra razão qualquer tenham preferido manter
obsequioso sigilo e respeitoso silêncio. Escrever sobre essa questão não deixa,
portanto de ser uma forma de satisfazer a curiosidade ou mesmo a vontade
daqueles que mantêm para comigo algum tipo de vínculo, qualquer que seja ele,
incluindo o de parentesco com minha família original e minha própria família
atual. Isso posto, e sem maiores delongas, podemos ir direto ao assunto.
Começo pela resposta direta, sem
rodeios, que poderia perfeitamente ser objeto de conclusão e não de iniciação
da presente reflexão - ou de "confissão", para quem assim o preferir:
"SIM, MAIS DO QUE ANTES EU CONTINUO ACREDITANDO E CONFIANDO EM DEUS, EM
SUA PRESENÇA E SUA EXISTÊNCIA. MAS...". Se você já percebeu ou parou para
pensar, o "mas" é sempre uma palavrinha potencialmente mágica,
portentosa, tanto para o bem quanto para o mal. O que ela traz consigo é sempre
de início uma incógnita, uma revelação sobre o até então desconhecido, tal como
deve estar sendo também para você nesse exato momento. Pouca ou nenhuma atenção
costumamos atribuir ao que vem antes dele, do "mas", atentos e
ansiosos isto sim pelo que vem depois. Isso porque o que vem depois nos é
infinitamente mais importante do que aquilo que vem antes. O pretendente à mão
de sua amada - e ao restante do corpo, diga-se de passagem - enumera mil e uma
virtudes e qualidades para o pai de sua pretendida, assegurando possuir apenas
e tão somente um único, porém grave, defeito. Declara ser honesto, trabalhador,
respeitoso, sincero, confiável, e por aí segue o andar da carruagem das
virtudes, bênçãos e graças por ele enumeradas. Decantadas uma por uma, o pai segue
todavia atento e ansioso, na expectativa por saber qual será o tal único e
bendito defeito. A resposta não tarda e o pai simplesmente desaba; o jovem Dom
Juan confessa: "sou um grande mentiroso!". O "mas" se
revela dessa forma por vezes terrivelmente traiçoeiro, decepcionante,
comprometedor e até perigoso. O mesmo pode estar próximo de acontecer aqui:
você pode ter ficado satisfeito, confortável e esperançoso quando se defrontou
com a primeira parte da minha resposta. Talvez até tenha dito ou pensado:
"graças a Deus; felizmente nem tudo está perdido!". Porém, desconfio
que o "mas" mantido em suspenso o[a] tenha levado novamente para o
lado da dúvida, do desconforto e da ansiedade. Se vai conseguir ou não sair
desse impasse e desse lugar indesejável, em parte dependerá de você mesmo;
porém, é claro, dependerá também daquilo que esse "mas" está prestes
a revelar. O certo é que de uma forma ou de outra certamente sua ansiedade
acabará passando; dando lugar "a quê", essa já é outra história e
permanece por enquanto uma grande incógnita. Tiremos, portanto o
"mas" da suspensão em que ele foi deixado e sigamos em frente;
afinal, ansiedade em excesso também pode trazer consequências. Esperemos,
entretanto, que não suficientes para lhe fazer qualquer mal. E se ao "mas"
- assim como a seus irmãos gêmeos "porém", "contudo",
"entretanto" e outros mais - atribuímos o nome de "conjunção
adversativa", comecemos por enumerar algumas dessas
"adversatividades". Esteja porém atento[a] para não confundir
"adversatividades" com "adversidades".
Minha
primeira adversativa:
continuo sim, acreditando cada vez mais em Deus, MAS... não necessariamente no
Deus clássico e tradicional que nos chegou e continua nos chegando por
intermédio das mais diversas religiões e das mais distintas formas de
religiosidade. Aliás, há muito tenho chamado esse Deus, como já o fazia meu
querido Rubem Alves, de Grande Mistério. Não qualquer mistério, note bem, e sim
"o" Grande e Maior de todos eles. O Deus clássico e tradicional tem
causado ao longo dos séculos e provavelmente milênios muita divisão, separação,
intolerância, bem como inúmeras e infindáveis guerras. Sei que os teólogos e
exegetas de plantão dirão que isso é coisa dos homens, e não coisa de Deus. Mas
como fui exaustivamente ensinado que todos e cada um de nós e ninguém mais, não
somos senão "sua própria imagem e semelhança", acabei ficando
confuso, muito confuso, por sinal. Essa confusão me levou a optar por chamá-Lo,
invocá-Lo, e reverenciá-Lo como "Grande Mistério". Espero que Ele
compreenda meus motivos, minhas razões e minhas preocupações, e compreendendo
me perdoe, não me enviando nem a mim e nem a você para o terrível fogo do
inferno, caso eu esteja incorrendo em alguma heresia ou sacrilégio. Conto com
todo seu amor e sua misericórdia nesse sentido - tanto seus como Dele. Afinal,
tem-se dito, ensinado e repetido que Deus é Pai. E se Pai Ele é, com certeza
não deixarei de ser perdoado.
Minha
segunda adversativa:
continuo acreditando cada vez mais em Deus, agora chamado por mim de "o
Grande Mistério", MAS... o inferno é minha segunda razão para colocar em
suspenso o Deus clássico e tradicional sobre o qual nos falaram ministros
sagrados e continuam nos falando nossos pais. Depois de haver compreendido que
o amor divino é absoluto, gratuito e incondicional, a imagem do inferno
clássico e tradicional retratado por Dante na Divina Comédia simplesmente
desapareceu por completo da minha cabeça e da minha mente; e felizmente também
da minha memória. Nem mais sei o que é isso! Essa palavra, "inferno",
absolutamente com minúsculas, se tornou totalmente vazia para mim, sem sentido
ou significado algum que sejam capazes de preenchê-la. Minha mente vivera por
muito tempo poluída com demônios, capetas, satanases e seus sequases. Rompi
definitivamente com todos eles. Sem dó, arrependimento, piedade ou remorso. Nem
sequer falo mais no assunto. Se existem ou não, para mim não faz a menor
diferença: na minha vida não permito que eles entrem mais. Tampouco na vida de
minhas filhas e de meus netos. Que garantias tenho disso? - simplesmente
respaldado na grandeza e no poder do Grande Mistério. De resto, se Deus ou o
Grande Mistério não cria nada de ruim, como asseguram tanto a clássica como as
modernas teologias, não pode ter sido Ele a criar esse tal de inferno. Quem o
criou que nele fique e nele habite por todo o sempre! Longe de mim, dos meus
entes queridos, e de preferência por toda a eternidade! O que eu quero é paz,
muita paz, longe de demônios e satanases.
Minha
terceira adversativa:
continuo acreditando cada vez mais em Deus, MAS... meu atual Grande Mistério
abomina a dor e o sofrimento por si mesmos, sem uma razão maior de ser e de
acontecer, ao contrário daquilo que desde sempre nos ensinaram. Disseram que o
Messias teria até suado sangue, tentando evitar tamanha dor e tamanho
sofrimento que sua pesada cruz consigo portava. Ainda assim, hoje essa cruz é
mais venerada do que nunca e do que qualquer outra coisa. Disseram-me então que
eu não havia entendido nada. Que a Cruz é tão somente ponte e passagem para a
ressurreição, e com esta para toda a eternidade; e que sem essa - a
ressurreição - nossa fé não vale nada!
Fiquei confuso mais uma vez! Muito! Cada vez mais, por sinal! Por qual razão
então, eu continuei me perguntando, não se coloca uma imagem ou uma figura do
ressuscitado e não do crucificado, em cada templo ou Igreja em que ele segue
sendo adorado? Se a cruz é somente páscoa, ponte ou passagem para a
ressurreição, por qual razão não ficou ela para trás, apenas como vaga memória,
lembrança ou recordação, cedendo seu lugar ao ressuscitado no altar da
ressurreição? Se se insiste em manter a cruz, não poderiam ao menos tirar de lá
Jesus ressuscitado? Afinal Ele ressuscitou ou não? Ouvi muitas homilias e
pregações tentando justificar o injustificável, todas incompreensíveis para
mim! Minha dúvida e minha confusão aumentaram, e aumentando acabaram me
conduzindo ao Grande Mistério. Mais do que isso, sinto muito; não dou conta!
Não consigo ir além!
Minha
quarta adversativa:
continuo acreditando cada vez mais em Deus, o Grande Mistério, MAS... para mim
Ele agora vem revestido da mais pura alegria, da mais atraente beleza, da mais
gratificante satisfação. Aquele Deus clássico sério, sisudo, rigoroso e
carrancudo, credo em Cruz! Não aguento mais não! Nele não quero mais nem
pensar, pois só de pensar me dá arrepios e calafrios! Meu Grande Mistério é
feito criança: alegre, feliz, leve e brincalhão, sem maldade, malícia, impureza
ou má intenção. Meu Grande Mistério abomina rituais mórbidos, cansativos e
pesados; gosta mesmo é de Igrejas e templos coloridos, alegres, festivos,
cheios de vida e de vitalidade, de dança e de musicalidade. Não é um Deus sério
e carrancudo como se pensa. Prefere a misericórdia e a bondade, e não promessas
e sacrifícios. Vibra e se rejubila com toda sua criação, com todas as criaturas
e toda criatividade, e desconfia seriamente de rituais repetitivos, cansativos
e depressivos, sem presença de vida e de originalidade: meu Grande Mistério é
pura renovação e criatividade! Como tudo isso foi se tornando cada vez mais
raro nos templos e Igrejas de hoje em dia, fui levado a me aproximar cada vez
mais do Grande Mistério! E para ser sincero, Ele é feito uma criança: está
sempre sorrindo, brincando, correndo e gargalhando! E foi assim que eu acabei
correndo e saltando junto, feito criança, e sem perceber me vi prostrado aos
seus pés! Era como se, sem o saber, eu O estivesse adorando!
Minha
quinta adversativa:
continuo acreditando cada vez mais em Deus, MAS ...na medida em que fui
crescendo fui também percebendo que alguma coisa deveria estar errada.
Ensinavam-me que Deus, o Criador, nos criara e continua nos criando com a mais
absoluta liberdade. "De duvidar também?", comecei então a me
perguntar. "Não!", me respondiam padres, pastores e meus próprios pais:
"duvidar não! Jamais!". E para que eu jamais duvidasse foram me
ensinando dezenas e mais dezenas de "dogmas", verdades absolutas e
indubitáveis! "Mas como? - eu continuava me perguntando. Se não posso
duvidar não posso também procurar; e se por mim mesmo e por conta própria não
posso mais procurar, onde estaria então essa tal de liberdade?". Nessa
hora insistiam em tentar me convencer de que tudo e toda verdade já havia sido
revelada e escrito estava, facilitando as coisas para todos e cada um de nós,
pobres mortais. Uma vez mais me vi perplexo, confuso, por vezes procurando às
escondidas, mas me sentindo, cada vez mais, tremendamente culpado. Também isso
me levou a me aproximar cada vez mais do Grande Mistério! Ele não só acolheu
como abençoou minhas dúvidas e minhas incertezas, e disse que a minha procura
era também ela um bom caminho e um bom sinal. E que ao final de minha jornada
Ele estaria lá, de braços abertos, para abrandar meu sofrimento e diminuir o
meu cansaço. Isso me deixou mais confortável e me fez sentir menos culpado. E
foi assim que pela primeira vez abracei e me senti abraçado pelo Grande
Mistério! Antes, eu confesso, sentia muito, muito medo! E o que era ainda pior:
naqueles momentos o inferno se mostrava cada vez mais nítido no horizonte de
minha procura e de minha jornada. O Grande Mistério, porém, dele me havia
finalmente resgatado!
Minha
sexta adversativa:
continuo cada vez mais acreditando e confiando em Deus, MAS... confesso que
outras ciências com outros vieses contribuíram e muito para essa espécie de
"migração" de um Deus clássico e tradicional para um Deus concebido
como "Grande Mistério". Mérito ou demérito, para o bem ou para o mal,
isso é algo que não só preciso reconhecer, mas também agradecer. Ainda
Sacerdote em pleno exercício do "mandato", fui orientado a fazer meu
Mestrado fora do Brasil - mais precisamente em Roma, Itália. Investi e
arrisquei, se não tudo, quase tudo do que sempre havia procurado. Decidi que
minha tese de dissertação seria: "Deus está morto, em Nietzsche". O
propósito era: vou me permitir ser questionado ao extremo, no limite; pouca
coisa, eu pensava, não valeria a pena! Muitos certamente dirão: "isso
certamente terá contribuído e muito para que você deixasse de exercer o
sacerdócio". A isso respondo sem receio de errar: "estão redondamente
enganados! Não deixei de exercer o
sacerdócio por acreditar menos, e menos
ainda por 'desacreditar'. Minhas razões foram outras, diametralmente
diferentes: me sentia vocacionado também a ter e constituir família, ter uma
esposa e criar meus filhos e netos; também a isso eu me sentia chamado. Para a
Instituição-Igreja que me acolhera e me ordenara sacerdote as duas coisas eram
e continuam sendo ainda simultaneamente impossíveis. Serei sempre grato e
reconhecido por tudo que recebi e continuo recebendo, mas hoje tenho minha
própria opinião e posição a respeito, mesmo continuando a respeitar sempre a
posição de quem pensa diferente ou em contrário. Também eu já pensei da mesma
forma um dia. Entrei e saí pela porta da frente com a consciência do dever
cumprido, de acordo com minhas capacidades. Fui muito feliz e realizado no
exercício de meus dez anos como Sacerdote, uma graça e um privilégio muito
grande de ser um dos poucos escolhidos entre os muitos que são chamados. Mas sou
também muito feliz e realizado junto à família que Deus me deu, tão feliz como
o era no exercício de meu sacerdócio. Continuei e continuo minha procura
pessoal e única, agora livre de quaisquer amarras que possam tolher minha
liberdade e comprometer minha autonomia como ser humano. Minha esposa, minhas
duas filhas, meus netos e netas, assim como os companheiros de minhas filhas,
são meu segundo grande tesouro. O primeiro, agora por mim chamado de Grande
Mistério, sempre foi e continuará sendo - assim espero - o Grande Mistério. Mas
deixo claro que estas não são para mim realidades ou "entidades" distantes e menos ainda inconciliáveis. Pelo
contrário, o Grande Mistério se faz cada vez mais presente em tudo e em todos,
e em particular em cada um daqueles que eu amo como parte da minha Grande
Família. Afinal, toda família é e será sempre também um Grande Mistério. Talvez
por isso mesmo Deus, o maior dos Mistérios, tenha optado por descer entre nós e
experimentar "na própria carne" o que jamais como Puro Espírito
conseguiria: ser e fazer parte de uma Grande e Sagrada Família.
À
guisa de conclusão:
"muita gente que me vê rezando, ou saindo de alguma igreja, me pergunta
'sem' ironia: onde está seu Deus, onde está seu Deus?". Eu respondo ao meu
irmão por vezes visivelmente cansado, que imagino estar também realizando sua
longa e interminável procura, que meu Deus - meu Grande Mistério - está ali,
naquela Igreja da qual saí; fora dela, nas ruas e nas praças; na brisa fresca e
na tempestade; na montanha e na planície; no idoso e na criança; no homem livre
e no homem aprisionado; no doente e no saudável; na vida que traz e na morte
que leva; em tudo, em todos e em qualquer lugar em que se possa estar. A essa
percepção pouco clássica e pouco tradicional, por vezes condenada como heresia,
Rubem Alves me ensinou a chamar de "Grande Mistério". E com essa nova
percepção continuo minha procura, até o dia em que espero me seja concedida a
graça de poder contemplar face a face o Grande Mistério!
Aprendi também com ele, Rubem Alves, a
não temer a morte. Não há segundo ele razão maior para isso. Na pior das
hipóteses - ele deixou escrito - tudo
acaba e termina aqui; na melhor delas, será com certeza uma celebração e um
banquete fantástico: de encontros e reencontros, de beijos e abraços, de afeto
e carinho escorrendo por todo lado. Por que então não beber a taça até o fim?
"Inferno"? - nem pensar! O amor do Grande Mistério é infinito,
absoluto e incondicional, e isso sim, deveria nos ser ensinado como um
"dogma", do qual ninguém jamais viesse a duvidar! "Deus é Amor e
quem permanece no Amor permanece em Deus e Deus nele!": esse deveria ser
quem sabe o segundo grande dogma a ser exaustivamente ensinado, do qual ninguém
deveria também jamais discordar. Mas o fato é que ainda que nós viéssemos a nos
distanciar ou nos divorciar do Grande Mistério, ainda assim, e sobretudo,
quando assim viesse a ocorrer, Ele jamais se distanciaria, desistiria, e menos
ainda se divorciaria de qualquer um de nós. Deixaria com certeza de ser o que é
- Deus - se assim o fizesse. Portanto não lhe parece restar outra opção senão
essa: nos amar, nos amar e nos amar, sempre e cada vez mais! Pai, Filho e
Espírito Santo, Trindade Santa, Família Santa, ou qualquer que seja o nome que
se Lhe queira dar. Ele "não tem" e muito menos "responde"
por um único e mesmo nome! Mas exatamente por isso atende prontamente por todos
os nomes e títulos com os quais venha a ser invocado. Ele não tem sexo, podendo
portanto, ser chamado de Ele ou Ela, Pai ou Mãe, Filho ou Filha, Espírito ou
Espírita, e por aí segue o andor que lhe serve de carruagem. Uma coisa, porém
seguirá sendo absolutamente certa: Deus continuará sendo sempre o Grande, o
maior de todos os Mistérios. Por isso você poderá encontrá-Lo/La tanto nesta
como naquela religião, dentro ou
simplesmente fora de todas e qualquer uma delas. Talvez esse poderia ser
considerado também um terceiro e importante dogma ou Grande Mistério a ser ensinado, e do qual ninguém jamais
deveria duvidar. Por fim, se também a você alguém algum dia venha lhe
perguntar: "afinal, você acredita ou não em um Deus?", oxalá você
esteja a passos firmes em sua procura pessoal e única, e possa responder de
forma inteiramente livre, autônoma e soberana exatamente aquilo que seu Grande
Mistério àquela altura lhe tiver revelado. Quer queiramos ou não admitir, Deus
é um, uno, e único, independentemente deste ou daquele nome com que nós o
chamemos e invoquemos. Talvez este deveria ser o maior de todos os dogmas a ser
ensinado, e do qual ninguém jamais viesse a duvidar. De tudo o mais que d'Ele
ou d'Ela se possa contar ou falar, talvez "Grande Mistério" seja a
expressão mais plausível, viável, ecumênica e universal que para se falar dele
se possa usar. Fico com ela até que minha procura venha me sugerir outra melhor!
A sua, iluminado por Ele ou Ela, cabe a você mesmo encontrar. Que sua procura
seja fértil e iluminada sempre, até o dia em que você O/A venha encontrar!
L.S.M.: Abril de 2024
(*) Texto via whasapp enviado direto de
Vitória(ES) pelo autor.
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