VII-REFLEXÃO DOMINICAL II
Homilia
do D. Henrique Soares da Costa – XVI Domingo do Tempo Comum – Ano B
Jr
23,1-6;Sl 22(23);Ef 2,13-18;Mc 6,30-34
Se
pensarmos bem, caríssimos em Cristo, tudo quanto a Igreja tem para dizer ao
mundo é Jesus: ele é a Palavra viva do Pai, ele é o Salvador e a Salvação, é a
ele que a Igreja dirige continuamente o olhar e o coração, para contemplá-lo,
escutá-lo e nele beber das fontes da vida e da paz! Pois bem: é de Jesus que a
Palavra santa hoje nos fala – de Jesus Bom Pastor!
Em Israel,
pastores do povo eram seus dirigentes: reis, aristocracia, sacerdotes,
escribas, profetas. Infelizmente, de modo frequente, esses eram pastores maus e
infiéis, pois não faziam o que era de se esperar de quem apascenta: não amavam
o rebanho, dele não cuidavam, com ele não se preocupavam. Faziam como os políticos
brasileiros de agora, esses mesmos que mostram a cara lisa no programa
eleitoral gratuito, enganando, mentindo e fazendo-se passar por bons, sem, no
entanto, terem outra preocupação que o próprio bem-estar e os próprios poder e
prestígio… Dos maus pastores, Santo Agostinho dizia que procuram somente o
leite e a lã das ovelhas, sem com elas se preocuparem. O leite simboliza os
bens materiais; a lã, o prestígio e os aplausos. Pobres ovelhas, o povo
brasileiro, que mais uma vez serão assaltadas por cruéis ataques de pastores
maus: mensaleiros, sanguessugas e gatunos de todos os níveis e especialidades.
Que Deus ajude esse povo a discernir políticos de politiqueiros e os poucos
preocupados com o bem comum, dos muitos ocupados com o próprio bem!
Contudo,
não devemos esquecer de modo algum que os pastores do povo de Deus, que é a
Igreja, são os ministros de Cristo: Bispos, padres e diáconos. A eles também o
Senhor repreende neste hoje e a eles exorta a que se convertam e sejam pastores
de verdade. Mas, quem é pastor de verdade na Igreja? Quem se deixa plasmar pelo
verdadeiro Pastor, pelo único Pastor, aquele que é a própria justiça, a própria
santidade de Deus: “Este é o nome com que o chamarão: ‘Senhor, nossa Justiça’”.
Falamos de Jesus Cristo.
Ante os
maus pastores da Israel, que infestaram todo o tempo do Antigo Testamento, o
Senhor prometeu, da Casa de Davi, um novo pastor: “Eis que virão dias em que
farei nascer um descendente de Davi; reinará e será sábio, fará valer a justiça
e a retidão na terra”. Aqui Deus fala do Messias; e esse Messias é a própria
presença de Deus apascentando o seu povo: “Eu reunirei o resto de minhas
ovelhas de todos os países para onde forem expulsas, e as farei voltar a seus
campos, e elas se reproduzirão e multiplicarão”. Eis, portanto: um messias,
presença do próprio Deus, Pastor do seu povo, cuidador do seu rebanho… É
precisamente assim que o Evangelho de hoje nos apresenta Jesus: “Ao
desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como
ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas”. Que imagem
sublime, que cena tão doce! Jesus cansado, pensando em algo tão humano, tão
legítimo: um dia de descanso em companhia dos Doze. E quando chega ao local
escolhido para o merecido repouso, lá estava a multidão cansada e acabrunhada,
sedenta de luz, sedenta de vida, sedenta de verdes pastagens, desorientada,
como ovelhas sem pastor… E Jesus, Bom Pastor, esquece de si mesmo, deixa de
lado seu cansaço e, cheio de compaixão, vai cuidar das ovelhas… Por isso mesmo,
ele é o Pastor por excelência, o Belo, Perfeito, Pleno Pastor! Ele ama o
rebanho, preocupa-se com ele, dele se compadece e por ele vai dando,
derramando, diariamente, a própria vida. Nunca se viu Jesus poupar-se, nunca se
testemunhou Jesus fazendo um milagre em benefício próprio, nunca se apanhou o
Senhor buscando algum favor para si. Não! Toda a sua vida foi vida vivida para
o rebanho por amor ao Pai, vida dada, vida doada, entregue de modo total… até a
morte e morte de cruz. Tem razão São Paulo, quando diz aos Efésios, na segunda
leitura de hoje: “Agora, em Cristo, vós que outrora estáveis longe, vos
tornastes próximos, pelo sangue de Cristo. Ele, de fato é a nossa paz!” Eis,
caríssimos! O Bom Pastor, entregando a vida pela humanidade, nos atraiu,
abrindo um novo caminho, suscitando uma nova esperança para judeus e pagãos,
reunindo-os todos no seu aconchego, no seu coração de Pastor, dando-nos a paz e
fazendo de nós a sua Igreja!
Igreja
aqui reunida, em torno deste Altar, tu nasceste da dedicação do teu Pastor; tu
és fruto da sua vida entregue amorosa e dolorosamente! O Apóstolo afirma, de
modo profundo e comovente que Cristo “quis reconciliá-los, judeus e pagãos, com
Deus, ambos em um só corpo, por meio da cruz; assim ele destruiu em si mesmo a inimizade”.
Prestai bem atenção: na carne de Cristo, no corpo ferido de Cristo, na vida
dilacerada de Cristo, deu-se a nossa paz! – Ó Senhor Jesus, que tu mesmo, de
corpo e alma, de sonho e de dor és o nosso repouso, és nossa segurança! Tu
mesmo és a nossa paz! E quão alto foi o preço dessa paz! E tudo isso para que,
no teu Santo Espírito, tivéssemos acesso Àquele a quem tu chamas de Pai, fonte
de toda vida!
Caríssimos,
tanto para nós, pastores, quanto para vós, ovelhas, o exemplo de Cristo é
motivo de questionamento e chamado à conversão. Para nós, pastores, é forte
apelo a que sejamos como ele, sejamos presença dele no meio do rebanho, tendo
seus sentimentos, suas atitudes, participando de sua entrega total. Pastores
que não apascentam em Cristo, que não vivem a vida de Cristo na carne de sua
vida, não são pastores de fato; são maus pastores, ladrões e salteadores, como
aqueles do Antigo Testamento. E para vós, ovelhas, que apelos o Bom Pastor hoje
vos faz? Ele que se deu todo a vós como pastor, vos convida a que vos
entregueis totalmente a ele como ovelhas. Como a ovelha do Salmo da Missa de
hoje, que confia totalmente no seu pastor, ainda mesmo que passe pelo vale
tenebroso, porque sabe que o pastor é fiel, que o pastor haverá de defendê-la,
assim também nós, ovelhas do seu pasto, confiemo-nos ao Senhor, sigamo-lo, nele
coloquemos a nossa existência. E que ele, cheio de amor e misericórdia, nos
conduza às campinas verdejantes, nos faça descansar, restaure nossas forças,
guie-nos no caminho mais seguro, nos prepare a mesa eucarística, unja-nos com o
suave óleo do seu Espírito, faça transbordar a taça da nossa exultação e nos dê
habitação na sua casa pelos tempos infinitos. Amem.
Henrique
Soares da Costa
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