sábado, 20 de julho de 2024

XVI- SANTO AGOSTINHO E A PATRÍSTICA

 

XVI-  SANTO AGOSTINHO E A PATRÍSTICARISTO

O que é filosofia Patrística e o pensamento de Santo Agostinho

 

A Patrística foi o primeiro período da filosofia medieval e esteve diretamente associada à consolidação da Igreja. Santo Agostinho está entre os principais padres desta corrente.

A Patrística teve origem por volta do século IV e teve destaque até o século VIII. Nesse período, o cristianismo estava vivendo sua grande expansão e precisava de argumentos racionais para justificar suas verdades e sua doutrina.

Por isso os padres da época procuraram produzir argumentos que explicavam a relação entre fé e razão, a natureza do divino, a importância da moral na vida humana e, neste conjunto, davam grande importância à alma humana. Ao longo desta aula você vai entender o que é filosofia Patrística, quais suas principais ideias vai conhecer Santo Agostinho, principal filósofo da Patrística.

O que é Patrística

 

Patrística é uma corrente filosófica cristã constituída pelos padres da Igreja Católica durante o período de transição entre a Antiguidade e a Idade Medieval. O significado de Patrística vem da palavra “padre”. Portanto, a Patrística é a filosofia dos “Santos Padres”.

Naquela época, o cristianismo ainda não era uma religião consolidada. Os cristãos ainda sofriam algumas perseguições e havia muita confusão sobre quais princípios os cristãos deveriam seguir. Sem dogmas definidos, seria difícil para a religião se expandir e conquistar novos adeptos.

Assim, a Patrística nasceu da necessidade dos padres dos primeiros séculos de catolicismo de tentar formular uma visão racional dos princípios religiosos e das verdades de fé. Suas ideias eram uma resposta às visões contrárias a fé cristã, as quais eles chamavam de heresias.

A Patrística inspirou-se na filosofia grega, afirmando ser a expressão terminada da verdade, não obtida pelos filósofos gregos que a buscavam. Isto é, para os padres da Patrística, a verdade não tinha sido atingida pelos gregos porque Deus não havia ainda se revelado.

Características da Patrística

  • Teve origem no período entre a Antiguidade e a Idade Média e por isso é considerada a primeira fase da filosofia medieval.
  • Foi criada pelos primeiros cristãos, Pais Apostólicos da Igreja ou Santos Padres.
  • Tinha o objetivo de defender a fé cristã contra os pagãos e hereges e de expandir o cristianismo pela Europa.
  • Tem como base a filosofia grega.
  • Consistiu na elaboração da doutrina cristã e suas verdades de fé, como liturgia, disciplina, costumes, tradição e Bíblia.

Santo Agostinho e a Patrística

 

Santo Agostinho é o principal representantes da Patrística e foi um dos filósofos mais significativos da filosofia cristã. Ele nasceu em 354 em Tagaste, norte da África, vindo mais tarde viria a ser conhecido como Santo Agostinho.

Ainda com 16 anos, Agostinho foi estudar em Cartago. Mais tarde, visitou Roma e Milão e passou os últimos anos da sua vida como bispo de Hipona, região próxima a Cartago.

Mas, Agostinho não foi sempre cristão. Sua vida pode ser dividida em dois momentos: antes e depois de sua conversão ao cristianismo. Ele conheceu muitas correntes filosóficas e religiosas antes de se converter ao cristianismo.

Durante algum tempo, ele foi adepto da filosofia estoica. Os estoicos negavam uma separação clara entre o bem e o mal. Mas acima de tudo, Santo Agostinho foi influenciado por outra corrente filosófica importante da Antiguidade tardia: o neoplatonismo, que defendia que tudo o que existia era de natureza divina.

O problema do mal e o neoplatonismo

 

O jovem Agostinho ocupava-se principalmente com aquilo a que costumamos chamar “o problema do mal”. Ele defendia que, embora tenha criado tudo o que existe, Deus não criou o mal porque o mal não é algo, mas a falta ou a deficiência de algo. Por exemplo: o mal padecido por um homem cego é a ausência de visão, o mal em um ladrão é a falta de honestidade, etc. Agostinho tomou emprestado esse modo de pensar de Platão e seus seguidores.

Mas ele ainda precisava explicar por que Deus teria criado o mundo de maneira a permitir que existissem tais males ou deficiências naturais e morais. Sua resposta girou em torno da ideia de que os humanos são seres racionais. Ele argumentou que, para que Deus criasse criaturas racionais, como os seres humanos, por exemplo, tinha de lhes dar o livre-arbítrio.

Ter livre-arbítrio significa ser capaz de escolher – inclusive, escolher entre o bem e o mal. Por essa razão, Deus teve de deixar aberta a possibilidade de que o primeiro homem, Adão, escolhesse o mal em vez do bem.

Agostinho explica que Deus criou o mundo do nada, e isso é uma ideia bíblica. Os gregos inclinavam-se mais para a ideia de que o mundo existira sempre. Mas, segundo Agostinho, antes de Deus ter criado o mundo, as “ideias” existiam no pensamento de Deus. Desse modo, ele adaptou a concepção de “mundo das ideias” formulada por Platão.

O livre-arbítrio e a salvação

 

De acordo com o principal filósofo da Patrística, toda a geração humana foi condenada após o pecado original. Apesar disso, Deus decidiu que alguns homens deviam ser poupados da condenação eterna.

É que, para Agostinho, nenhum homem é digno da salvação de Deus. No entanto, Deus escolheu alguns que devem ser salvos da condenação. Para ele, não é um segredo quem deve ser salvo e quem deve ser condenado. Isso está determinado previamente. Logo, nós somos barro nas mãos de Deus. Estamos completamente dependentes da sua graça.

De acordo com o seu ponto de vista, nós devemos viver de modo a podermos saber que pertencemos ao número dos eleitos. Não nega que tenhamos livre-arbítrio, mas afirma que Deus já “previu” como é que vamos viver.

Teoria da Iluminação Divina

 

Agostinho também elaborou a Teoria da Iluminação Divina, por meio da qual afirmava que todo conhecimento verdadeiro é o resultado de uma iluminação proveniente de Deus. Para ele, existem dois tipos de conhecimentos: o sensível e o divino.

O conhecimento sensível se dá pelos sentidos ou raciocínio indutivo, e é acessível a qualquer ser humano. Por exemplo: percepção das cores, tato, olfato, sons, paladar, etc. Por outro lado, as verdades eternas pertencem a um plano imaterial e só podem ser obtidas através da iluminação de Deus. De acordo com essa teoria, Deus é o detentor das verdades absolutas.

1 – (ENEM/2020)

Sem negar que Deus prevê todos os acontecimentos futuros, entretanto, nós queremos livremente aquilo que queremos. Porque, se o objeto da presciência divina é a nossa vontade, é essa mesma vontade assim prevista que se realizará. Haverá, pois, um ato de vontade livre, já que Deus vê esse ato livre com antecedência.

SANTO AGOSTINHO. O livre-arbítrio. São Paulo: Paulus, 1995 (adaptado).

Essa discussão, proposta pelo filósofo Agostinho de Hipona (354-430), indica que a liberdade humana apresenta uma

a) natureza condicionada.

b) competência absoluta.

c) aplicação subsidiária.

d) utilização facultativa.

e) autonomia irrestrita.

2 – (ENEM/2018)

Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre assim no decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus um novo movimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que antes não existia?”

AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Abril Cultura, 1984.

A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um exemplo da reflexão filosófica sobre a(s)

a) essência da ética cristã.

b) natureza universal da tradição.

c) certezas inabaláveis da experiência.

d) abrangência da compreensão humana.

e) interpretações da realidade circundante.

3- (UFU 2002)

A Patrística, filosofia cristã dos primeiros séculos, poderia ser definida como

a) retomada do pensamento de Platão, conforme os modelos teológicos da época, estabelecendo estreita relação entre filosofia e religião.

b) configuração de um novo horizonte filosófico, proposto por Santo Agostinho, inspirado em Platão, de modo a resgatar a importância das coisas sensíveis, da materialidade.

c) adaptação do pensamento aristotélico, conforme os moldes teológicos da época.

d) criação de uma escola filosófica, que visava combater os ataques dos pagãos, rompendo com o dualismo grego.

4- (Ufu 2010)

A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo do cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão).

(PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p.77.)

Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado ao pensamento de Platão.

Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas diferenças:

a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro, enquanto, para Platão, a verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano.

b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos.

c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que é apenas a forma do corpo.

d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina, a centelha de Deus que existe em cada um.

Gabarito:

  1. A
  2. D
  3. A
  4. D

Referências

COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos da Filosofia. 1. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2010;

GAARDER, Justein. O mundo de Sofia: Romance da história da filosofia; tradução João Azenha Jr. – São Paulo: Companhia das Letras, 1995

VASCONCELOS, Ana. Manual compacto da filosofia. 2. Ad. – São Paulo: Rideel, 2011

https://blogdoenem.com.br/a-patristica-filosofia-enem/

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