XVI- SANTO AGOSTINHO E A PATRÍSTICARISTO
O que é filosofia Patrística e o pensamento
de Santo Agostinho
A Patrística foi o primeiro período da filosofia medieval e
esteve diretamente associada à consolidação da Igreja. Santo Agostinho está
entre os principais padres desta corrente.
A Patrística teve origem por volta do século IV e teve destaque
até o século VIII. Nesse período, o cristianismo estava vivendo sua grande
expansão e precisava de argumentos racionais para justificar suas verdades e
sua doutrina.
Por
isso os padres da época procuraram produzir argumentos que explicavam a relação
entre fé e razão, a natureza do divino, a importância da
moral na vida humana e, neste conjunto, davam grande importância à alma humana.
Ao longo desta aula você vai entender o que é filosofia Patrística, quais suas
principais ideias vai conhecer Santo Agostinho, principal filósofo da
Patrística.
O que é Patrística
Patrística
é uma corrente filosófica cristã constituída pelos padres da Igreja Católica
durante o período de transição entre a Antiguidade e a Idade
Medieval.
O significado de Patrística vem da palavra “padre”. Portanto, a Patrística é a
filosofia dos “Santos Padres”.
Naquela época, o cristianismo ainda não era uma religião
consolidada. Os cristãos ainda sofriam algumas perseguições e havia muita
confusão sobre quais princípios os cristãos deveriam seguir. Sem dogmas
definidos, seria difícil para a religião se expandir e conquistar novos
adeptos.
Assim, a Patrística nasceu da necessidade dos padres dos
primeiros séculos de catolicismo de tentar formular uma visão racional dos
princípios religiosos e das verdades de fé. Suas ideias eram uma resposta às
visões contrárias a fé cristã, as quais eles chamavam de heresias.
A Patrística inspirou-se na filosofia grega, afirmando ser a
expressão terminada da verdade, não obtida pelos filósofos gregos que a
buscavam. Isto é, para os padres da Patrística, a verdade não tinha sido
atingida pelos gregos porque Deus não havia ainda se revelado.
Características da Patrística
- Teve origem no período entre a
Antiguidade e a Idade Média e por isso é considerada a primeira fase da
filosofia medieval.
- Foi criada pelos primeiros
cristãos, Pais Apostólicos da Igreja ou Santos Padres.
- Tinha o objetivo de defender a fé
cristã contra os pagãos e hereges e de expandir o cristianismo pela
Europa.
- Tem como base a filosofia grega.
- Consistiu na elaboração da
doutrina cristã e suas verdades de fé, como liturgia, disciplina,
costumes, tradição e Bíblia.
Santo Agostinho e a Patrística
Santo Agostinho é o principal representantes da Patrística e foi
um dos filósofos mais significativos da filosofia cristã. Ele nasceu em 354 em
Tagaste, norte da África, vindo mais tarde viria a ser conhecido como Santo
Agostinho.
Ainda com 16 anos, Agostinho foi estudar em Cartago. Mais tarde,
visitou Roma e Milão e passou os últimos anos da sua vida como bispo de Hipona,
região próxima a Cartago.
Mas,
Agostinho não foi sempre cristão. Sua vida pode ser dividida em dois
momentos: antes e depois de sua conversão ao cristianismo. Ele conheceu
muitas correntes filosóficas e religiosas antes de se converter ao
cristianismo.
Durante
algum tempo, ele foi adepto da filosofia estoica. Os estoicos negavam uma
separação clara entre o bem e o mal. Mas acima de tudo, Santo Agostinho foi
influenciado por outra corrente filosófica importante da Antiguidade tardia: o
neoplatonismo, que defendia que tudo o que existia era de natureza divina.
O
problema do mal e o neoplatonismo
O
jovem Agostinho ocupava-se principalmente com aquilo a que costumamos chamar “o
problema do mal”. Ele defendia que, embora tenha criado tudo o que existe,
Deus não criou o mal porque o mal não é algo, mas a falta ou a deficiência de
algo. Por exemplo: o mal padecido por um homem cego é a ausência de visão, o
mal em um ladrão é a falta de honestidade, etc. Agostinho tomou emprestado esse
modo de pensar de Platão e seus seguidores.
Mas
ele ainda precisava explicar por que Deus teria criado o mundo de maneira a
permitir que existissem tais males ou deficiências naturais e morais. Sua
resposta girou em torno da ideia de que os humanos são seres racionais. Ele
argumentou que, para que Deus criasse criaturas racionais, como os seres
humanos, por exemplo, tinha de lhes dar o livre-arbítrio.
Ter
livre-arbítrio significa ser capaz de escolher – inclusive, escolher entre o
bem e o mal. Por essa razão, Deus teve de deixar aberta a possibilidade de que
o primeiro homem, Adão, escolhesse o mal em vez do bem.
Agostinho
explica que Deus criou o mundo do nada, e isso é uma ideia bíblica. Os gregos
inclinavam-se mais para a ideia de que o mundo existira sempre. Mas, segundo
Agostinho, antes de Deus ter criado o mundo, as “ideias” existiam no pensamento
de Deus. Desse modo, ele adaptou a concepção de “mundo das ideias” formulada
por Platão.
O livre-arbítrio e a salvação
De
acordo com o principal filósofo da Patrística, toda a geração humana foi
condenada após o pecado original. Apesar disso, Deus decidiu que alguns homens
deviam ser poupados da condenação eterna.
É
que, para Agostinho, nenhum homem é digno da salvação de Deus. No entanto, Deus
escolheu alguns que devem ser salvos da condenação. Para ele, não é um segredo
quem deve ser salvo e quem deve ser condenado. Isso está determinado
previamente. Logo, nós somos barro nas mãos de Deus. Estamos completamente
dependentes da sua graça.
De
acordo com o seu ponto de vista, nós devemos viver de modo a podermos saber que
pertencemos ao número dos eleitos. Não nega que tenhamos livre-arbítrio, mas
afirma que Deus já “previu” como é que vamos viver.
Teoria da Iluminação Divina
Agostinho
também elaborou a Teoria da Iluminação Divina, por meio da qual afirmava que
todo conhecimento verdadeiro é o resultado de uma iluminação proveniente de
Deus. Para ele, existem dois tipos de conhecimentos: o sensível e o divino.
O
conhecimento sensível se dá pelos sentidos ou raciocínio indutivo, e é
acessível a qualquer ser humano. Por exemplo: percepção das cores, tato,
olfato, sons, paladar, etc. Por outro lado, as verdades eternas pertencem a um
plano imaterial e só podem ser obtidas através da iluminação de Deus. De acordo
com essa teoria, Deus é o detentor das verdades absolutas.
1 – (ENEM/2020)
Sem negar que Deus prevê todos os acontecimentos futuros,
entretanto, nós queremos livremente aquilo que queremos. Porque, se o objeto da
presciência divina é a nossa vontade, é essa mesma vontade assim prevista que
se realizará. Haverá, pois, um ato de vontade livre, já que Deus vê esse ato
livre com antecedência.
SANTO AGOSTINHO. O livre-arbítrio. São
Paulo: Paulus, 1995 (adaptado).
Essa discussão, proposta pelo filósofo Agostinho de Hipona
(354-430), indica que a liberdade humana apresenta uma
a) natureza condicionada.
b) competência absoluta.
c) aplicação subsidiária.
d) utilização facultativa.
e) autonomia irrestrita.
2 – (ENEM/2018)
Não é verdade que estão ainda cheios de velhice espiritual
aqueles que nos dizem: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra? Se
estava ocioso e nada realizava”, dizem eles, “por que não ficou sempre assim no
decurso dos séculos, abstendo-se, como antes, de toda ação? Se existiu em Deus
um novo movimento, uma vontade nova para dar o ser a criaturas que nunca antes
criara, como pode haver verdadeira eternidade, se n’Ele aparece uma vontade que
antes não existia?”
AGOSTINHO. Confissões. São
Paulo: Abril Cultura, 1984.
A questão da eternidade, tal como abordada pelo autor, é um
exemplo da reflexão filosófica sobre a(s)
a) essência da ética cristã.
b) natureza universal da tradição.
c) certezas inabaláveis da experiência.
d) abrangência da compreensão humana.
e) interpretações da realidade circundante.
3- (UFU 2002)
A Patrística, filosofia cristã dos primeiros séculos, poderia
ser definida como
a) retomada do pensamento de Platão, conforme os modelos
teológicos da época, estabelecendo estreita relação entre filosofia e religião.
b) configuração de um novo horizonte filosófico, proposto por
Santo Agostinho, inspirado em Platão, de modo a resgatar a importância das
coisas sensíveis, da materialidade.
c) adaptação do pensamento aristotélico, conforme os moldes
teológicos da época.
d) criação de uma escola filosófica, que visava combater os
ataques dos pagãos, rompendo com o dualismo grego.
4- (Ufu 2010)
A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do
platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os
textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo do
cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que
Agostinho venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão).
(PEPIN, Jean. Santo Agostinho e a patrística ocidental. In:
CHÂTELET, François (org.) A Filosofia medieval. Rio de Janeiro Zahar Editores:
1983, p.77.)
Apesar de ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por
meio dos escritos de Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta muitas
diferenças se comparado ao pensamento de Platão.
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas
diferenças:
a) Para Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento
verdadeiro, enquanto, para Platão, a verdade a respeito do mundo é inacessível
ao ser humano.
b) Para Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das
Ideias, enquanto para Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo
natural em que vivemos.
c) Para Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma
não é imortal, já que é apenas a forma do corpo.
d) Para Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a
alma reconhece as Ideias que ela contemplou antes de nascer; Agostinho diz que
o conhecimento é resultado da Iluminação divina, a centelha de Deus que existe
em cada um.
Gabarito:
- A
- D
- A
- D
Referências
COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirna. Fundamentos da Filosofia. 1.
Ed. – São Paulo: Saraiva, 2010;
GAARDER, Justein. O mundo de Sofia: Romance da história da
filosofia; tradução João Azenha Jr. – São Paulo: Companhia das Letras, 1995
VASCONCELOS, Ana. Manual compacto da filosofia. 2. Ad. – São
Paulo: Rideel, 2011
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