sábado, 20 de julho de 2024

XV- DICA-REFLEXÃO DE UM PAI, AVÔ E PSICÓLOGO Lindolivo Soares Moura(*)

 

 

XV- DICA-REFLEXÃO DE UM PAI, AVÔ E PSICÓLOGO

Lindolivo Soares Moura(*)

Olá, tudo bem? Imaginei que esta "Dica-reflexão" enviada para minha neta-filha adolescente talvez possa ser útil para você e/ou alguém que você ama.

Oi minha linda, como vai você? Aproveitando e curtindo muito esses dias de férias e de descanso? Espero que sim. Nosso corpo e nossa mente, assim como o nosso coração, requerem cuidados especiais. Afinal eles são o nosso maior patrimônio, e tudo mais em nossa vida, direta ou indiretamente, depende deles para poder funcionar bem. Pense na vida como uma "longa viagem" que estamos fazendo - longa para uns, para outros nem tanto. De tempos em tempos precisamos parar para abastecer, calibrar os pneus, jogar uma água nos vidros e retrovisores, e ir ao "toilette" se preciso for. E o que é mais importante: dirigir sem pressa, com cuidado e atenção, visto que vida e saúde é o que interessa, e para com todo o resto não há que se ter pressa. Pelo contrário, desde cedo aprendemos que a pressa - exceto quando absolutamente necessária - é uma das grandes inimigas da perfeição. E ainda que eu não aprecie muito essa palavrinha, "perfeição", o certo é que, como diz o ditado, "o apressado acaba comendo cru", e depois se queixa de que está com dor no estômago. Além do mais, quem vive apressado e acelerando a maior parte do tempo, é sério candidato a contrair um dos piores males que assolam a vida moderna: a ansiedade, considerada pelos entendidos a doença ou o "mal do século"; mais até que a depressão. A "dica" de hoje reflete um pouco sobre isso, e oferece algumas sugestões simples de como se prevenir contra essa planta venenosa que vem "intoxicando" a vida de muita gente. Preparada? Vamos lá, então. CUIDADOS E ATITUDES QUE NOS AJUDAM A MANTER LONGE O FANTASMA DA ANSIEDADE - E POR EXTENSÃO, O ESTRESSE E A DEPRESSÃO.

Ansiedade, estresse, e depressão, formam com certeza a tríade de males que mais corroem nossa autoestima e ameaçam nossa qualidade de vida. Juntos, então, o estrago pode ser incalculável. Dos três, a ansiedade é de longe a mais invasiva e aquela com a qual é mais difícil de se lidar. Invasiva porque invade praticamente todas as áreas, fases e situações de nossa vida, sem ser convidada e sem sequer pedir licença; a mínima desatenção e pronto: lá está ela ocupando todos os cantos e recantos que encontra pela frente. Entrar numa crise de ansiedade é simples e fácil, mas sair só Deus sabe o quanto é difícil. Grande parte das pessoas, provavelmente a maioria, vão conviver com ela pela vida toda; "até que a morte os separe", como se diz no altar do Senhor, esperando e rezando para que isso não aconteça. E sabe-se lá Deus se essa união "instável" e indesejada - refiro-me ao nosso vínculo com a ansiedade, e não àquele que se origina da "união estável" entre o casal - não vai acabar perdurando por toda a eternidade. Dizíamos da dificuldade em se lidar com a ansiedade porque, ao contrário do que acontece com o medo, que quase sempre nos surpreende "cara a cara" com a ameaça e o perigo reais e concretos , com a ansiedade é diferente: seus motivos e suas causas costumam ser genéricos, discretos, líquidos e incertos, e portanto mais difíceis de serem observados. Bauman, Zigmunt Bauman, o mentor da chamada "modernidade líquida", diria que o medo é mais sólido, mais condensado, ao passo que a ansiedade é mais líquida, mais fluída, pouco perceptível e consequentemente mais difícil de ser diagnosticada e tratada. O medo sólido paralisa, por vezes até incapacita; já a ansiedade liquida e fluída funciona como uma espécie de "estimulante" que transforma as pessoas parecidas com uma colônia de formigas, caminhando apressadas de um lado para o outro, sem porém saber exatamente para onde, com que objetivo, e onde se encontra a porta de saída; uma espécie de "mortos-vivos". Obviamente tudo isso acaba cansando, estressando, e por fim colocando a pessoa em rota de colisão com outro mal não menos perigoso: a depressão. Mergulhar na compulsão acaba sendo apenas uma questão de tempo: compulsão por comida, bebida, compras, acumulação, e por tudo que sinalize com uma luz no fim do túnel. O Brasil é apontado hoje, pela Organização Mundial da Saúde, como o país mais ansioso do mundo; de quebra,t o quinto em depressão, com as últimas pesquisas prevendo que ao final das próximas duas décadas nada menos que setenta por cento da nossa população - vou repetir: setenta por cento - será de obesos e/ou pessoas acima do peso. Mas se mundialmente não somos conhecidos como grandes "comilões" - existem outros povos bem mais especializados em "compulsão alimentar" do que nós - há que se reconhecer que a ansiedade vem exercendo papel determinante nesse triste quadro e nessa lamentável estatística. Torna-se portanto urgente pensar com mais atenção e mais responsabilidade sobre isso.

Pois bem, minha linda, é possível que você esteja se perguntando se há alguma maneira eficaz de impedir que a ansiedade continui invadindo e colocando cada vez mais em risco as nossas vidas. Do ponto de vista "coletivo", e sob o prisma da "intervenção", essa é reconhecidamente uma tarefa difícil; já do ponto de vista "individual", e pelo viés da "prevenção", nem tanto. Como prometido, aí vão algumas dicas simples de como minimizar e tentar manter a ansiedade o mais distante possível. Sempre lembrando que a prevenção é e será sempre o melhor remédio; é justamente esse o significado do seguinte ditado que ouvimos com frequência: "melhor prevenir que remediar". Atenta, portanto, para com as sugestões a seguir. Primeira dica: faça sempre uma coisa de cada vez, sem abrir mão desse princípio. Nosso cérebro tem reconhecida dificuldade em desempenhar mais de uma tarefa ou função ao mesmo tempo, sobretudo quando o que precisa ser feito exige foco e atenção. Dirigir e manusear o celular, por exemplo, nem pensar; é prelúdio certo de tragédia, morte e vidas perdidas. E não se esqueça: para quem morre ou fica tetraplégico, pouca ou nenhuma diferença faz se houve dolo - isto é, intenção - ou apenas culpa. Portanto quando estiver comendo, apenas coma, quando estiver dormindo, apenas durma, quando estiver estudando, apenas estude, quando estiver passeando, apenas passeie, e assim por diante. Seu cérebro agradece e você não abre brecha para que a ansiedade possa entrar e fazer a festa. Segunda dica: se você não nasceu com tendência para ser organizada, exercite-se o quanto for necessário até que esse objetivo seja alcançado. A procrastinação - um somatório de preguiça, irresponsabilidade e desorganização - é uma das principais portas de entrada para a ansiedade. Mais cedo ou mais tarde você será cobrada, se sentirá pressionada, e querendo ou não terá que cumprir várias tarefas em um reduzido espaço de tempo. Não existe melhor recurso para vencer a procrastinação do que "aprendendo como ser" e efetivamente sendo ou "se tornando" uma pessoa organizada; tanto por fora como por dentro, é importante que se diga. Em relação a isso, aqui vai um segredinho à parte, que até psicólogos e orientadores desconhecem: comece sempre se organizando "por fora", e pouco a pouco você se surpreenderá ao verificar que suas ideias e seus pensamentos, assim como suas emoções e seus sentimentos, começam como que por magia ou milagre a se organizar "por dentro". Agradeço essa preciosa lição a um mestre oriental mundialmente conhecido por OSHO: "Meu caminho: o caminho das nuvens brancas". Terceira dica: aprenda a lidar com as expectativas que os outros depositam sobre você; esperar que suas queixas e reclamações farão com que eles a deixem em paz, com liberdade e autonomia para administrar sua própria vida, seria um grave erro; na melhor das hipóteses, uma doce ilusão. Perceba que há dois tipos básicos de expectativas: aquelas que nascem de nossa segurança e de nossa confiança em nós mesmos, na vida e nos demais - e se transformarão em estímulo verdadeiro e incentivo genuíno para aqueles que amamos - e aquelas que nascem de nossas dúvidas, de incertezas e de nossa insegurança - e se converterão em pressão e cobrança, apesar de nossas melhores intenções. Consciente dessa diferença, não espere que os outros diminuam e menos ainda retirem as expectativas que inevitavelmente depositarão sobre você; boas ou más, favoráveis ou não, eles sempre as terão. O que precisamos é apenas aprender a lidar com elas, sem permitir que se transformem para nós em porta de entrada para a ansiedade, o estresse e a depressão. Contribuímos para a mudança dos outros e do mundo mudando a nós mesmos, e não o contrário; poucos pensamentos são tão eficazes e produtivos como esse. Pena que nem todos conseguem enxergar dessa forma, e menos ainda estão dispostos a investir nessa estratégia de convivência. Quarta dica: aprenda o máximo que puder com os demais, mas sem querer competir com ninguém. Não há armadilha mais traiçoeira para a autoestima e o auto-respeito do que aquilo que Rubem Alves, com muita propriedade diga-se de passagem, chamava de "demônio da comparação", irmão gêmeo do não menos diabólico "espírito de competição". E saiba desde já que provavelmente não será bem isso que seus professores, colegas e educadores - quando não, seus próprios pais e cuidadores - desde cedo lhe ensinarão. E caso você venha a encontrar sentido e razão para o que ora lhe digo, lembre-se de que caberá a você ensinar a eles essa lição. Seu potencial, gravado por Deus em sua mente e em seu coração, esse sim, deverá ser sempre seu guia e seu principal referencial. É para ele que você deverá se voltar quando se perguntar se deve acelerar, diminuir, ou manter o ritmo, sem se esquecer de que a vida, assim como toda longa maratona, mais que velocidade e aceleração requer acima de tudo constância e equilíbrio. Quinta  e última dica - pelo menos por enquanto: exercite-se tanto quanto você puder na prática do "desapego". Palavrinha mágica e poderosa, essa! Os orientais o têm como um dos mais importantes objetivos da vida a ser perseguido. Um jovem discípulo pergunta ao seu mestre: "mestre, dizei-me: o que leva alguém a pecar, mesmo contra a sua vontade, e como que por compulsão?". O mestre responde: "é o apego; o apego nascido da paixão. O apego a tudo consome e corrompe. É o maior inimigo do homem". E não existe melhor maneira de se lidar com o apego senão "desapegando-se". Simples assim!? Simples assim! E para que a ânsia de acumular que o apego traz consigo, não acabe se transformando em compulsão, é preciso exercitar-se na prática do desapego até que isso se transforme num hábito. A compulsão, se você observar bem, não é mais que uma "escrava" da ansiedade; o desapego, ao contrário, seu senhor e seu caminho de libertação. Cada gesto de desapego por mais simples que seja, seguido de partilha e solidariedade, irá fazendo de você uma pessoa cada vez melhor. E a mágica ou magia que há em tudo isso é esta: cada gesto de desapego vai afastando de você, cada vez para mais longe, o fantasma da ansiedade, na exata proporção  em que a acumulação a deixa mais próxima dela. Nas palavras de Bauman, "a eterna infelicidade e o contínuo aumento da ansiedade dos consumidores desses tempos líquidos, derivam do excesso e não da falta de escolhas". Cuide-se bem e não se esqueça: a melhor forma de lidar com esse e com qualquer outro tio de "fantasma", é criando e mantendo um ambiente limpo e arejado tanto fora como dentro de você; a isso os orientais chamam de "drala". Fantasmas, duendes e assombrações - por eles chamados de "anti-drala" - se sentem terrivelmente incomodados nesse tipo de ambiente limpo e arejado; todo caçador de fantasmas sabe disso. Um beijo nesse coração de ouro. No seu e nos de Bia, Ben, Fran e Alê. AMO MUITO TODOS E CADA UM DE VOCÊS.

 

(*) Reflexão enviada de Vitória(ES) por whasapp.

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