sexta-feira, 23 de agosto de 2024

XII-AVÔS E AVÓS: SEU LUGAR E SUA FUNÇÃO PARA O EQUILÍBRIO EMOCIONAL FAMILIAR Lindolivo Soares Moura(“)(**)

 

XII-AVÔS E AVÓS: SEU LUGAR E SUA FUNÇÃO PARA O EQUILÍBRIO EMOCIONAL FAMILIAR

Lindolivo Soares Moura(“)(**)

 

Oi minha neta-filha querida, menina de ouro que faz a vida de muita gente, incluindo a minha, ser ainda mais feliz. Como vai você? Ao fazer essa mesma pergunta a um amigo, dias atrás, ele respondeu bem assim: "vou bem, muito bem; se melhorar estraga!". Terminada nossa conversa fiquei pensando: que maneira estranha de se dizer que está tudo bem: "se melhorar, estraga!". Lembrei-me então de outra afirmação no mínimo curiosa, que ouvira não sei onde e nem quando: "nada pode estar tão ruim que não possa piorar ainda mais!". Ora, se nada pode estar tão ruim que não possa ficar ainda pior, por que não seria possível melhorar ainda mais aquilo que já está ótimo? Ou as duas afirmações são falsas ou ambas são verdadeiras; não consigo raciocinar de outra maneira. Pessoalmente prefiro acreditar que ambas são verdadeiras, sem porém me esquecer do que dizia vovó quando nós, seus netos, nos queixávamos de que alguma coisa nos estava incomodando por demais. Com sua sabedoria sem dúvida mais prática que teórica, adquirida ao longo de quase um século de vida, ela invariavelmente respondia: "acalme-se! Tenha fé e deixe de bobeira! Mais cedo ou mais tarde nessa vida tudo passa! Não importa o quão grande o problema seja". "Deixe de bobeira": era essa sua marca registrada. Sim! Vovó tinha razão! Nessa vida tudo passa! Até vovô e vovó acabaram passando; dessa vida para uma outra melhor, ao menos é nisso que a maioria de nós acreditamos; suas lições, porém, jamais serão esquecidas. Compartilhando com você aquilo que com vovó aprendi - não cheguei a conhecer nenhum de meus avôs, e por isso acabo falando mais de vovó - espero confiante e esperançoso que também você, minha linda, possa compartilhar mais tarde esse legado de sabedoria com seus filhos e netos. Essa tradição, sim, jamais deveria passar, e sim, ser "re"passada, geração após geração. Por vezes porém ela acaba se perdendo em meio à correria de muitos pais e certo descuido de outros tantos avós. Mas que tal aproveitar a "dica" de hoje para falar um pouco do tratamento que devemos dispensar a eles, nossos avós? Vem comigo? Então vamos lá. AVÔS E AVÓS: POR QUE TRATÁ-LOS RESPEITOSA E AMOROSAMENTE É TÃO IMPORTANTE TANTO PARA OS NETOS COMO PARA ELES PRÓPRIOS?

"Equilíbrio emocional": existe algo mais importante e ao mesmo tempo tão difícil de ser alcançado do que isso? No entanto, assim como só costumamos perceber bem a importância da saúde quando não a possuímos, ou então quando a perdemos, só costumamos perceber melhor a importância do equilíbrio emocional em nossas vidas e na vida de nossas famílias quando esse equilíbrio é rompido ou simplesmente não existe. Uma única pessoa emocionalmente desequilibrada pode colocar toda uma família em risco e literalmente  doente: mental, emocional e até fisicamente. E para que isso não aconteça - e em acontecendo o equilíbrio se restabeleça - os avós ocupam um lugar estratégico e uma função insubstituível. Sei que estou "advogando em causa própria" ao dizer isso, minha linda, mas grande parte das famílias de hoje ignoram possuir um tesouro inestimável ali, bem próximo de si, sem conseguir avaliar bem a importância disso. Atrevo-me a ir além: muitos filhos e netos não só ignoram como acabam relegando ao ostracismo emocional e físico seus pais e avós, praticamente inviabilizando um contato afetivo e uma troca emocional mais intensos e ricos para com eles. Festejam frequentemente com seus amigos ou colegas de profissão, passeiam diariamente pelas ruas, praças e calçadas com seus "pets" e animais de estimação, mas inventam mil desculpas quando se trata de fazer um passeio ou passar um único dia com seus pais e avós. "Casas de acolhida  confortáveis, aconchegantes e luxuosas: que pais ou avós não gostariam de passar o resto da vida num lugar como esse?", perguntam os que se julgam mais conscientes e "supostamente" mais amorosos. "Mais do que poderem estar próximos dos seus filhos e netos - eu responderia -  duvido muito!". Amor só admite separação quando absolutamente necessário; obrigações e conveniências sim, criam separações de toda ordem - inclusive de natureza afetiva, sentimental e emocional - mesmo quando fisicamente próximos ou até mesmo juntos. Uma coisa porém é certa: filhos e netos são particularmente atentos à forma como seus pais tratam aqueles que para eles são seus avós. Tampouco é bom não esquecer que os pais de hoje serão provavelmente avós para os filhos de seus filhos amanhã. "Couro de boi", uma canção sertaneja de um sertanejo bem antigo, retrata bastante bem essa estranha e incompreensível maneira de muitos filhos lidarem com seus próprios pais. Mais atentos e mais sensíveis, a maioria dos netos certamente não compartilham com essa forma de tratamento pouco ou nada exemplar.

Talvez você já tenha ouvido uma das maiores inverdades que contra os avós costuma ser cometida, minha linda: a afirmação injusta e injustificada de que "os pais criam e educam por anos a fio, e com redobrado esforço, aqueles que os avós facilmente botam a perder da noite para o dia". "Malcriar"- ou não criar como se deveria - pode com certeza ocorrer tanto por parte dos pais como por parte dos avós; mas classificar como "má criação" - cuidado para não confundir com "malcriação" - a convivência entre avós e netos, pelo simples fato de se ser avô ou avó nessa relação, não faz o menor sentido. Claro que são relacionamentos de tipos diferentes, mas justamente nisso se encontram a beleza e a riqueza dos afetos e dos sentimentos. Ao contrário do que geralmente se supõe e se pensa, a verdadeira fonte do equilíbrio emocional se encontra justamente na pluralidade e na diversidade - e não na "uniformidade" - dos vínculos estabelecidos. Se via de regra o pai pode exigir e "disciplinar" mais que a mãe, e ambos mais que os avós, é justamente porque o amor desses últimos tende a ser mais livre, menos exigente e menos condicionado. Os filhos e netos, se bem esclarecidos e bem orientados sobre isso,  conseguem entender e distinguir com propriedade e clareza o que lhes está sendo ensinado, sobretudo a partir de determinada idade. Por sua vez, o carinho e o afeto que os netos recebem de seus avós acabam sendo simultânea e automaticamente revertidos em favor e benefício dos mesmos, em razão daquilo que muito apropriadamente podemos chamar de "caixa de ressonância" ou "efeito bumerangue do afeto". Pobres dos pais que não podem contar com esse vínculo e esse afeto diferenciados! Sequer teriam ideia do repertório de queixas e reclamações que com certeza desabariam sobre eles, já que envolvidos com inúmeras atividades e responsabilidades no dia a dia pouquíssimo tempo com certeza sobraria para se envolverem física, afetiva e emocionalmente com seus próprios pais. Avós constituem uma espécie de "avis rara" no que diz respeito à troca de emoções, afetos e sentimentos: acabam sendo a um só tempo "doadores e receptores universais". Por outro lado, permitir que pais e avós sejam obrigados a "sobre"viver apenas de lembranças e recordações, como acaba acontecendo com muitos, seria no mínimo imperdoável para não dizer pura crueldade. Sem a troca mútua e saudável de energia afetiva e emocional com os filhos e os netos, não há mente que suporte e coração que resista. Caixas abarrotadas de remédio visando combater a ansiedade e a depressão poderiam ser reduzidas ao menos pela metade, caso essa interação e essa convivência fossem mais ricas e intensas. Aos avós, por sua vez, é preciso que se diga: procurem fazer por merecer o cuidado e o afeto que esperam receber de seus filhos e netos. Mais do que o simples fato de "serem", é sobretudo o tipo de pais e avós nos quais vocês "se tornam" para eles, o fator determinante  dessa conquista e desse merecimento. Portanto, minha linda, além de curtir muito seus pais, aprenda a curtir também tanto quanto você possa seus avôs e avós. Respeite-os e ame-os de todo seu coração e sua alma, sem se esquecer de que nem todos estão aptos e prontos para compartilhar  sentimentos e emoções com naturalidade e segurança. Também eles guardam dentro de si perdas, dores e sofrimentos que por vezes sequer imaginamos. Mas de uma coisa esteja absolutamente certa: o poder restaurador e curativo da convivência e da partilha de sentimentos e afetos com um filho ou com um neto por parte de um avô ou avó -  e vice-versa - não encontra paralelo algum como recurso terapêutico no mundo da Ciência e no campo da Medicina. UM BEIJO NESSE CORAÇÃO DE OURO! No seu, no de Bia, do Ben, do Fran e do Alê; netos e netas que valem por um tesouro!

(*) Reflexão enviada por whatsapp, de Vitória(ES)

(**)(**)Psicólogo e Professor Universitário no Consultório de Psicologia- Universidade Federal do Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil.

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