XII-AVÔS E AVÓS: SEU LUGAR E SUA FUNÇÃO PARA O EQUILÍBRIO
EMOCIONAL FAMILIAR
Lindolivo Soares Moura(“)(**)
Oi
minha neta-filha querida, menina de ouro que faz a vida de muita gente,
incluindo a minha, ser ainda mais feliz. Como vai você? Ao fazer essa mesma
pergunta a um amigo, dias atrás, ele respondeu bem assim: "vou bem, muito
bem; se melhorar estraga!". Terminada nossa conversa fiquei pensando: que
maneira estranha de se dizer que está tudo bem: "se melhorar,
estraga!". Lembrei-me então de outra afirmação no mínimo curiosa, que
ouvira não sei onde e nem quando: "nada pode estar tão ruim que não possa
piorar ainda mais!". Ora, se nada pode estar tão ruim que não possa ficar
ainda pior, por que não seria possível melhorar ainda mais aquilo que já está
ótimo? Ou as duas afirmações são falsas ou ambas são verdadeiras; não consigo
raciocinar de outra maneira. Pessoalmente prefiro acreditar que ambas são
verdadeiras, sem porém me esquecer do que dizia vovó quando nós, seus netos,
nos queixávamos de que alguma coisa nos estava incomodando por demais. Com sua
sabedoria sem dúvida mais prática que teórica, adquirida ao longo de quase um
século de vida, ela invariavelmente respondia: "acalme-se! Tenha fé e
deixe de bobeira! Mais cedo ou mais tarde nessa vida tudo passa! Não importa o
quão grande o problema seja". "Deixe de bobeira": era essa sua
marca registrada. Sim! Vovó tinha razão! Nessa vida tudo passa! Até vovô e vovó
acabaram passando; dessa vida para uma outra melhor, ao menos é nisso que a
maioria de nós acreditamos; suas lições, porém, jamais serão esquecidas.
Compartilhando com você aquilo que com vovó aprendi - não cheguei a conhecer
nenhum de meus avôs, e por isso acabo falando mais de vovó - espero confiante e
esperançoso que também você, minha linda, possa compartilhar mais tarde esse
legado de sabedoria com seus filhos e netos. Essa tradição, sim, jamais deveria
passar, e sim, ser "re"passada, geração após geração. Por vezes porém
ela acaba se perdendo em meio à correria de muitos pais e certo descuido de outros
tantos avós. Mas que tal aproveitar a "dica" de hoje para falar um
pouco do tratamento que devemos dispensar a eles, nossos avós? Vem comigo?
Então vamos lá. AVÔS E AVÓS: POR QUE
TRATÁ-LOS RESPEITOSA E AMOROSAMENTE É TÃO IMPORTANTE TANTO PARA OS NETOS COMO
PARA ELES PRÓPRIOS?
"Equilíbrio
emocional": existe algo mais importante e ao mesmo tempo tão difícil de
ser alcançado do que isso? No entanto, assim como só costumamos perceber bem a
importância da saúde quando não a possuímos, ou então quando a perdemos, só costumamos
perceber melhor a importância do equilíbrio emocional em nossas vidas e na vida
de nossas famílias quando esse equilíbrio é rompido ou simplesmente não existe.
Uma única pessoa emocionalmente desequilibrada pode colocar toda uma família em
risco e literalmente doente: mental,
emocional e até fisicamente. E para que isso não aconteça - e em acontecendo o
equilíbrio se restabeleça - os avós ocupam um lugar estratégico e uma função
insubstituível. Sei que estou "advogando em causa própria" ao dizer
isso, minha linda, mas grande parte das famílias de hoje ignoram possuir um
tesouro inestimável ali, bem próximo de si, sem conseguir avaliar bem a
importância disso. Atrevo-me a ir além: muitos filhos e netos não só ignoram
como acabam relegando ao ostracismo emocional e físico seus pais e avós,
praticamente inviabilizando um contato afetivo e uma troca emocional mais
intensos e ricos para com eles. Festejam frequentemente com seus amigos ou
colegas de profissão, passeiam diariamente pelas ruas, praças e calçadas com
seus "pets" e animais de estimação, mas inventam mil desculpas quando
se trata de fazer um passeio ou passar um único dia com seus pais e avós.
"Casas de acolhida confortáveis,
aconchegantes e luxuosas: que pais ou avós não gostariam de passar o resto da
vida num lugar como esse?", perguntam os que se julgam mais conscientes e
"supostamente" mais amorosos. "Mais do que poderem estar
próximos dos seus filhos e netos - eu responderia - duvido muito!". Amor só admite separação
quando absolutamente necessário; obrigações e conveniências sim, criam
separações de toda ordem - inclusive de natureza afetiva, sentimental e
emocional - mesmo quando fisicamente próximos ou até mesmo juntos. Uma coisa
porém é certa: filhos e netos são particularmente atentos à forma como seus
pais tratam aqueles que para eles são seus avós. Tampouco é bom não esquecer
que os pais de hoje serão provavelmente avós para os filhos de seus filhos
amanhã. "Couro de boi", uma canção sertaneja de um sertanejo bem
antigo, retrata bastante bem essa estranha e incompreensível maneira de muitos
filhos lidarem com seus próprios pais. Mais atentos e mais sensíveis, a maioria
dos netos certamente não compartilham com essa forma de tratamento pouco ou
nada exemplar.
Talvez
você já tenha ouvido uma das maiores inverdades que contra os avós costuma ser
cometida, minha linda: a afirmação injusta e injustificada de que "os pais
criam e educam por anos a fio, e com redobrado esforço, aqueles que os avós
facilmente botam a perder da noite para o dia". "Malcriar"- ou
não criar como se deveria - pode com certeza ocorrer tanto por parte dos pais
como por parte dos avós; mas classificar como "má criação" - cuidado
para não confundir com "malcriação" - a convivência entre avós e
netos, pelo simples fato de se ser avô ou avó nessa relação, não faz o menor
sentido. Claro que são relacionamentos de tipos diferentes, mas justamente
nisso se encontram a beleza e a riqueza dos afetos e dos sentimentos. Ao
contrário do que geralmente se supõe e se pensa, a verdadeira fonte do
equilíbrio emocional se encontra justamente na pluralidade e na diversidade - e
não na "uniformidade" - dos vínculos estabelecidos. Se via de regra o
pai pode exigir e "disciplinar" mais que a mãe, e ambos mais que os
avós, é justamente porque o amor desses últimos tende a ser mais livre, menos
exigente e menos condicionado. Os filhos e netos, se bem esclarecidos e bem
orientados sobre isso, conseguem
entender e distinguir com propriedade e clareza o que lhes está sendo ensinado,
sobretudo a partir de determinada idade. Por sua vez, o carinho e o afeto que
os netos recebem de seus avós acabam sendo simultânea e automaticamente
revertidos em favor e benefício dos mesmos, em razão daquilo que muito
apropriadamente podemos chamar de "caixa de ressonância" ou
"efeito bumerangue do afeto". Pobres dos pais que não podem contar
com esse vínculo e esse afeto diferenciados! Sequer teriam ideia do repertório
de queixas e reclamações que com certeza desabariam sobre eles, já que envolvidos
com inúmeras atividades e responsabilidades no dia a dia pouquíssimo tempo com
certeza sobraria para se envolverem física, afetiva e emocionalmente com seus
próprios pais. Avós constituem uma espécie de "avis rara" no que diz
respeito à troca de emoções, afetos e sentimentos: acabam sendo a um só tempo
"doadores e receptores universais". Por outro lado, permitir que pais
e avós sejam obrigados a "sobre"viver apenas de lembranças e
recordações, como acaba acontecendo com muitos, seria no mínimo imperdoável
para não dizer pura crueldade. Sem a troca mútua e saudável de energia afetiva
e emocional com os filhos e os netos, não há mente que suporte e coração que
resista. Caixas abarrotadas de remédio visando combater a ansiedade e a
depressão poderiam ser reduzidas ao menos pela metade, caso essa interação e
essa convivência fossem mais ricas e intensas. Aos avós, por sua vez, é preciso
que se diga: procurem fazer por merecer o cuidado e o afeto que esperam receber
de seus filhos e netos. Mais do que o simples fato de "serem", é
sobretudo o tipo de pais e avós nos quais vocês "se tornam" para
eles, o fator determinante dessa
conquista e desse merecimento. Portanto, minha linda, além de curtir muito seus
pais, aprenda a curtir também tanto quanto você possa seus avôs e avós. Respeite-os
e ame-os de todo seu coração e sua alma, sem se esquecer de que nem todos estão
aptos e prontos para compartilhar
sentimentos e emoções com naturalidade e segurança. Também eles guardam
dentro de si perdas, dores e sofrimentos que por vezes sequer imaginamos. Mas
de uma coisa esteja absolutamente certa: o poder restaurador e curativo da
convivência e da partilha de sentimentos e afetos com um filho ou com um neto
por parte de um avô ou avó - e
vice-versa - não encontra paralelo algum como recurso terapêutico no mundo da
Ciência e no campo da Medicina. UM BEIJO
NESSE CORAÇÃO DE OURO! No seu, no de Bia, do Ben, do Fran e do Alê; netos e
netas que valem por um tesouro!
(*) Reflexão
enviada por whatsapp, de Vitória(ES)
(**)(**)Psicólogo e
Professor Universitário no Consultório de Psicologia- Universidade Federal do
Espírito Santo- Vila Velha, Espírito Santo, Brasil.
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