VII-REFLEXÃO DOMINICAL III:
"O CRISTO DOS DESILUDIDOS!"
Com certeza esse evangelho do 24º. Domingo do
Tempo Comum, traz em nosso coração essa pergunta tão inquietante: O que
significa perder a vida por causa de Jesus e do seu evangelho? Quem é Jesus, e
o que significa a afirmativa de que é preciso “Perder para ganhar”?.
Nos primeiros três séculos da Igreja
primitiva, quando o Cristianismo não estava atrelado ao Império, tivemos
centenas de mártires que derramaram seu sangue na arena, por causa do
testemunho. Nas comunidades de Marcos a perseguição do império romano era muito
intensa e os que eram pegos e não renunciavam a fé em Jesus, eram presos e
acabavam também mortos. Na América Latina não foram poucos os mártires, que
tombaram defendendo o direito e a justiça do povo sofrido e injustiçado.
Será que é deles que o evangelho está
falando, no sentido literal? Será que não podemos aplicar hoje ás pessoas de
nossas comunidades essa expressão, de que elas também perdem a vida por causa
de Cristo e do seu evangelho? Em certo sentido, é muito válido dizer que nossos
agentes de pastorais, perdem a vida, quando se dedicam a tantos trabalhos
estafantes, muitos até nem vivem mais para si mesmo, mas organizam suas vidas a
partir da comunidade, e fazem isso com muita alegria e seriedade. Deixar de
lado os interesses pessoais, para dedicar-se ao trabalho pastoral, sem dúvida é
também perder a vida.
Entretanto, não é apenas isso, porque muitas
vezes recebemos algo em troca, e nesse caso, se ganhamos e não estamos
perdendo, o evangelho não se aplica, ainda que haja uma roupagem de trabalho
pastoral, mas é só roupagem, pois no fundo a gente se apega ao cargo, ao poder,
que sempre nos fascina, nas comunidades há certos coordenadores que “mandam”
até mais que o padre, e o poder satisfaz ao nosso “ego”.
Jesus havia se dado conta de que a visão
sobre o seu Messianismo, era equivocada. Com o objetivo de fazer a necessária
correção, fez uma prova oral com seus discípulos, primeiro eles são indagados
sobre o que o povão pensa a respeito dele, e ao saber que o povo o confundia
com João Batista, Elias ou um dos profetas, parece que Jesus não demonstrou
nenhuma preocupação, e foi direto ao assunto que mais lhe interessava: “E
vocês, quem dizem que eu sou?”. A resposta de Pedro foi corretíssima “Tu és o
Messias!”. A questão é saber, de que Messias Pedro estava falando. Por isso, em
seguida, Jesus revela o sentido do seu messianismo, que irá se consolidar no
sofrimento, na rejeição, na morte e ressurreição.
Na visão de Pedro, no Messianismo de Jesus
tudo vai dar certo e as coisas vão se resolver, as contas irão fechar, pois
Jesus irá por ordem na casa, com o seu poder divino. Ninguém irá resisti-lo...
Não é essa a ilusão que toma conta do coração de muitos cristãos em nossas
comunidades? O Jesus do “tudo certo”, do “mar de rosas”, da “doce paz, da
saúde, da prosperidade”, o Jesus da reviravolta, que só me dá vitória em cima
de vitória, o Jesus que sempre me tira dos “enroscos” da vida. Esse não é o
Jesus do Evangelho, mas o Cristo dos Desiludidos!
Encontrar sempre respostas prontas, caminhos
largos, problemas resolvidos, portas abertas, nunca foi e nem será uma
característica do cristianismo. Anunciar um Jesus assim é trair o projeto de
Deus, é falsificar o evangelho, é ser Satanás, aquele que se opõe ao Reino do
Céu. Infelizmente na pós-modernidade, muitas igrejas, sem raiz, sem história e
nem tradição, idealizaram um Jesus produto do consumo, um Cristo que só abençoa
os ricos e poderosos. Nessa teologia de fundo de quintal, os dois últimos versículos
do evangelho desse domingo, são deixados de lado, pois não falam a linguagem da
pós modernidade. Quem irá, nos dias de hoje, fazer marketing de um projeto que
implique renúncia, cruz e sofrimento? Um projeto cuja proposta de Salvação seja
pautada pelo desprezo á própria vida, deixando de lado até interesses
particulares.
Proposta de Salvação que não fale em vitória,
em sucesso, em prosperidade, não dá IBOPE, não lota templo, não dá audiência.
Qualquer marqueteiro da atualidade teria a mesma reação de Pedro e repreenderia
Jesus... Onde já se viu, começar um projeto prenunciando o fracasso da cruz?
O Messianismo de Jesus vislumbra sim, um
mundo totalmente novo, mas ele não descarta a aspereza do caminho, as pedras do
calvário, os penhascos, os espinhos, a ousadia de um sonho, que vai se
construindo com os pés no chão da história, vivendo já no coração os valores
desse reino que virá. O autêntico discípulo é aquele que, vislumbrando esse
reino, descobre-o presente em Jesus que caminha com a sua igreja, e passa a
viver cada minuto, hora e dia, apenas em função desse projeto, menosprezando
todo e qualquer valor ou ideologia, que o mundo possa oferecer, porque crê
sinceramente que nada é maior ou mais importante do que Cristo e a Boa Nova do
Evangelho. É exatamente assim que o quadro se reverte, e a PERDA se transforma
em GANHO, como ensina o evangelho... (24º Domingo do Tempo Comum)
José da
Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim – SP
E-mail jotacruz3051@gmail.com
http://www.npdbrasil.com.br/religiao/rel_hom_gotas0371.htm#msg01
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