XI-RELIGIÃO:
COMO LER E ENTENDER A BÍBLIA?
O
domínio da teologia é o domínio do contexto fora do qual é simplesmente
impossível ter bom proveito do estudo da Sagrada EscrituraPor Prof.
Carlos Ramalhete
O
estudo da Sagrada Escritura é uma parte do estudo da Teologia. A Sagrada Escritura só
existe, assim como a teologia só existe, na Igreja. A Igreja é a Coluna e
Fundamento da Verdade.
O
texto inspirado da Sagrada Escritura, que é parte da Tradição que vive
na Igreja e só pode ser entendida dentro dela, não tem “vida própria”. Não é
uma coisa que se estude independentemente da teologia, a não ser que se queira
fazer estudos, sei lá, de sintaxe grega ou hebraica. É por isso que a crítica
textual foi condenada repetidamente: ela abandona os princípios básicos de uma
exegese ortodoxa, que é forçosamente baseada não na Escritura como algo
isolado, mas na percepção da Escritura como parte do Depósito da Fé.
Esta
parte do Depósito foi sujeita a perversões inomináveis nos últimos 500 anos,
tanto em termos de traduções errôneas quanto em termos de exegeses delirantes,
sempre a partir da ideia de jerico de se tomar a Escritura como algo que pode
ser abordado independentemente do resto do Depósito da Fé.
Há,
assim, hoje (na verdade, nos últimos 500 anos) um perigo constante de erros
graves e que colocam a alma em risco ao tomar a Escritura como objeto de estudo
isolado. É por isso que eu digo que não se deve sequer abrir a Escritura para
estudo (em contraposição à oração dos salmos, meditação da Paixão, etc.) sem
que se tenha um excelente domínio da teologia. O domínio da teologia é o
domínio do contexto fora do qual é simplesmente impossível ter bom proveito do
estudo da Sagrada Escritura. Fora deste contexto teológico, sem este
conhecimento, o que se tem é o que S. Pedro alertou: os ignorantes e indoutos
(não malvados!, apenas ignorantes e indoutos…) distorcem as escrituras para sua
própria perdição.
Para
que haja um estudo proveitoso da Sagrada
Escritura, assim, é necessário que se tenha no mínimo um nível
de conhecimento teológico que ultrapassa em muito o simples catecismo. Sem
isso, é criança brincando com um lança-chamas: não pode dar certo.
Além
deste pressuposto básico, é necessário que se use a Escritura verdadeira, não
versões falsificadas e tendenciosas. E é por isso que a Igreja manda
**queimar** as traduções protestantes. Tendo-se o contexto, o “locus” que é a
íntegra do Depósito da Fé, é necessário que se tenha a Escritura verdadeira. E
é por isso e para isso que a Igreja nos dá a Vulgata. Os textos gregos e
hebraicos – bem como boas traduções da Vulgata – podem servir para acrescentar
algo, iluminar uma dificuldade, mas o padrão é a Vulgata.
Resumindo,
assim, o que eu tenho a dizer é o seguinte: que se estude teologia, muita
teologia, estudando-se primeiro o catecismo, depois as definições magisteriais
(no Denzinger, por exemplo), depois lendo os Doutores da Igreja, para aí passar
aos Padres da Igreja, e só então abordar o mais difícil, que é a Sagrada
Escritura. E na hora de abordar a Sagrada Escritura, que se use a Vulgata
primordialmente, com os textos da septuaginta e massoréticos servindo como
“cereja de bolo”. Se não se sabe latim, grego e hebraico, que se use
apenas e tão-somente uma boa tradução da Vulgata para uma língua que se domine,
e que não se tente “estudar a Bíblia”. Não se vai estar estudando a Bíblia ao
ler traduções; se vai estar estudando traduções. E ao ler traduções condenadas
pela Igreja, se vai estar envenenando a alma. É bom ler uma tradução
**recomendada pela Igreja** como meditação, como oração, etc., mas para
fazer exegese,
é preciso antes de qualquer outra coisa, antes de abrir a Bíblia, uma excelente
formação teológica e um profundo conhecimento da Tradição, e, em seguida, um
texto que se saiba *ser a Bíblia*. E este texto é a Vulgata. Não é o texto de
manuscritos gregos e hebraicos tardios, nem muito menos traduções vernáculas
destes textos tardios, nem muito menos, evidentemente, traduções errôneas e
tendenciosas destes textos feitas por hereges. Estas devem ser **queimadas**,
não estudadas. São como pratos de veneno disfarçado de comida cheirosa.
Ficar
lendo “bíblia” de hereges e se metendo a “biblista”, mais ainda, sem ter tido
uma excelente preparação teológica anterior,
é como uma criança brincar com um lança-chamas no pátio do posto de gasolina:
se não der uma caca muito grande, é porque o anjo da guarda ficou de cabelo
branco tentando evitar.
A
quem já se habituou a confundir qualquer “bíblia” com a Sagrada Escritura, é
melhor afastar de vez o perigo, fazendo uma enorme fogueira com esses horrores
todos e assando uma leitoa gorda por cima.
(Publicado
em Cléofas, no dia 24 de outubro de 2013)
https://pt.aleteia.org/2013/10/25/como-ler-e-entender-a-biblia
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