X-REFLEXÃO DOMINICAL IV:
Leitura do
Evangelho segundo Marcos
10,35-45.(Correspondente ao 29º Domingo Comum, do ciclo B do
Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana
Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Um novo paradigma de autoridade
Hoje
o Evangelho apresenta-nos uma situação bastante similar às que meditamos nestes
últimos domingos. Jesus continua sua dedicação aos discípulos para
comunicar-lhes e formá-los na sua mensagem.
De
diversas formas ele tenta mostrar-lhes qual é seu Messianismo. Podemos resumi-lo
numa atitude fundamental: ser
servidor.
“O
Filho do Homem não veio para ser servido. Ele veio para servir e para dar a sua
vida como resgate em favor de muitos.” (Mc 10,45) ou também a outra frase que Jesus disse para
os discípulos: “Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser
aquele que serve a todos.” (Mc 9, 35b).
Esta
foi a resposta dada por Jesus para os discípulos quando eles discutem sobre
quem deles era o maior.
E
Jesus explica-lhes que seu Reinado não é um reinado político onde há tronos e
onde ele tem súditos. Não há alguém que seja o maior como discutiam os
discípulos ainda depois que Jesus tinha-lhes dito: ”O Filho do Homem vai ser entregue na
mão dos homens, e eles o matarão. Mas, quando estiver morto, depois de três
dias ele ressuscitará.”
E
Marcos agrega uma frase importante: “Mas
os discípulos não compreendiam o que Jesus estava dizendo, e tinham medo de
fazer perguntas”.
Uma
vez mais a reação dos discípulos não corresponde. Eles disputam cargos e posições: pedem
que seja colocado um deles à sua direita e o outro à sua esquerda. Tiago
e João representam os interesses egoístas sem a capacidade de renunciar ao
prestígio, de serem importantes; eles
perseguem ainda projetos de carreira ao lado de Jesus.
Colocar-se
a um lado e outro é ser os primeiros ministros segundo a ideia que eles tinham
do reinado. Pedem para ter os primeiros lugares e ser os "primeiros
ministros" no reino que o Messias vai instaurar.
Que
terá pensado Jesus desta proposta? Sua resposta é taxativa: "Vocês não sabem o que estão
pedindo". E, continuando, começa a explicar quais são
as condições para
segui-lo. Usa para isso duas imagens muito significativas
para o ambiente e a cultura bíblica: "Por
acaso vocês podem beber o cálice que eu vou beber? Podem ser batizados com o
batismo com que eu vou ser batizado?".
O cálice na tradição bíblica indica o destino de morte, de
ruína reservado aos ímpios (Sl 75,9) e
ao povo infiel (Is 51,17). Jesus se solidariza com este
destino de pecado histórico, destino de uma humanidade embriagada e drogada
pela violência, que se manifesta como tirania, guerra, exploração.
A
imagem do batismo
evoca também o destino de uma morte dolorosa. Através
dele também Jesus expressa sua solidariedade com os pecadores numa situação de
morte. Seu batismo é a morte com os pecadores e pelos pecadores.
Os
irmãos respondem rapidamente mas possivelmente não sabem o conteúdo daquilo que
eles estão dizendo. Eles compreendem as palavras do Mestre? Por que sua
pergunta gera tanta indignação entre os colegas? É o critério do amor,
que passa pela humilhação,
pelo sofrimento e pela morte para alcançar a vida nova e abundante para todos
(Flp 2, 8).
Estes
discípulos, depois que o exemplo de Jesus lhes ensinara, também eles beberam do
Seu cálice e participaram de Seu batismo, de maneira diferente viveram a
dimensão martirial da fé cristã. Tiago como
mártir no ano 44 por obra de Herodes de Agripa (At 12,2). João teve sua parte
de tribulação e sofrimento, embora sem morrer de morte violenta.
Se
Jesus perguntasse a nós se queremos participar de seus sofrimentos por amor à
humanidade. Que
responderíamos? A
resposta que Jesus deu para seus discípulos pode ajudar-nos?
O
pedido dos filhos do Zebedeu dá a Jesus a oportunidade de determinar o
significado e o valor dos papéis exercidos na comunidade cristã. Ele
apresenta o novo
projeto de autoridade para a comunidade cristã.
Num
primeiro momento Jesus
exclui o modelo de autoridade que se organiza como poder,
do qual existiam e existem modelos bastante drásticos.
Por
que Jesus coloca uma criança no meio para explicar-lhes o como devem ser
comportar?
Marcel Domergue,
sacerdote jesuíta francês, na sua reflexão publicada no sítio Croire no
comentário sobre este texto “Os primeiros serão
os últimos”, disse
que “segundo Marcos, Jesus não está falando da necessidade de que voltemos à
abertura e à confiança da nossa infância. Aqui ele nos convida a que, em seu nome,
recebamos o mais pobre, o mais desvalido, aquele que nada tem e
que, por isso, só pode contar com os outros. Acolher estas pessoas é
acolhê-lo”.
E
culmina dizendo que “Tendo nós em vista foi que Deus se fez a si mesmo criança
nossa. Entregou-se totalmente à nossa dependência e temos o poder de aceitá-lo
ou de recusá-lo."
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