XI -CATEQUESE MISSIONÁRIA
CATEQUISTAS MISSIONÁRIOS,
TESTEMUNHAS DO AMOR DE DEUS
A V Conferência de Aparecida tem como uma
grande preocupação em relação a formação dos leigos. Sem uma adequada formação,
diz o documento, não é possível a ninguém assumir um compromisso na comunidade
eclesial, bem como, não se pode assumir uma missão no mundo ou na Igreja. A
formação dos fiéis leigos para que sejam discípulos missionários é de vital
importância, e afirma ser urgente uma formação integral dos cristãos leigos
para atingir essa finalidade que é anunciar a chegada do Reino de Deus. Essa
mesma preocupação vigora ainda hoje quando se pensa a Catequese com inspiração catecumenal
e chama atenção para os adultos que, embora batizados, ou seja, já iniciados
pelos sacramentos, mas insuficientemente evangelizados.
Nos Evangelhos encontramos textos com os
ensinamentos de Jesus sobre o trabalho missionário e deixa claro que a missão
não é tarefa só de alguns, mas é um trabalho de comunhão e de todos os
cristãos. A formação não pode perder de vista o caminho a percorrer sempre
com a centralidade no encontro em profundidade com Jesus Cristo. Nesse encontro
se percebe o ‘lugar teológico da origem da Iniciação Cristã. Nesse caminho o
discípulo vai, cada vez mais, se assemelhando com o Mestre e o serviço ao Reino
de Deus.
Em meio à vida comunitária, cada cristão se
faz missionário à medida que deixa fluir de si mesmo o amor de Deus que
transparece ao outro pelo seu testemunho de vida. Ser “missionário” é uma
propriedade fundamental do “ser cristão” e o núcleo central da missão cristã é
dar testemunho. O Papa Francisco em uma de suas mensagens sobre a
missionariedade: o cristão é missionário “na medida em que testemunha o amor de
Deus”. Mais do que testemunhar a fé ou as convicções religiosas, mais do que
ensinar verdades, o missionário evangeliza pelo testemunho do amor
misericordioso de Deus.
Nesse sentido, a Iniciação à Vida Cristã,
tema central da realidade atual, é considerada importante para a caminhada da
Igreja no cumprimento do mandato missionário deixado por Jesus. Esse mandato de
Jesus é um chamado de vocação cristã. Todo cristão é convocado para a missão de
anunciar Jesus Cristo, de proclamar sua Palavra, de proporcionar o encontro do
irmão na fé com Jesus Cristo, pois toda vida humana é “um estar com o Senhor”.
O ‘ser cristão’ carrega consigo o estilo de
vida de Jesus, pois a raiz missionária é a nova experiência de Deus que Jesus
nos trouxe: Deus é Abba, Pai. Essa é a Boa Notícia que ele anuncia. Sendo Deus
Pai, somos todos irmãos. Mas o que se percebia no estilo de vida das pessoas,
no tempo de Jesus, bem como a realidade atual, era todo um estilo de vida
contrário à vida fraterna que Deus sonhava para seu povo. Tanto a situação
social e política como a situação religiosa era a negação do ideal do Reino de
Deus.
Diante da situação irregular vislumbrada por
Jesus, ele toma a iniciativa de ir proclamar o amor ao Reino, conforme sua
experiência de Deus. No Evangelho de Lucas 4, 18-19 pode-se ter em mãos o
programa de ação de Jesus:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque
ele me ungiu para anunciar a Boa Notícia aos pobres, enviou-me para proclamar a
libertação aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a
liberdade aos oprimidos, e para proclamar um ano de graça por parte do Senhor”.
Segundo o teólogo, Frei Carlos Mesters,
pode-se tirar desse enunciado de Jesus cinco propostas bem concretas:
1.Ser uma boa nova para os muitos pobres e
empobrecidos;
2. Trazer a libertação para as pessoas
aprisionadas na injusta prisão dos romanos e na falsa prisão da letra que mata
(cf. 2Cor 3,6);
3. Eliminar a cegueira tanto dos olhos do
corpo provocada pela doença, como dos olhos do espírito provocada pelo
“fermento dos fariseus e dos herodianos” (Mc 8,15);
4. Conseguir a liberdade para os que viviam oprimidos pela dureza tanto da lei
religiosa como da lei tirânica de Herodes e dos Romanos;
5. Recomeçar a história por meio da proclamação de um novo ano Jubileu.
Essa missão, que Jesus recebeu do Pai, é a
mesma que ele comunica aos discípulos e discípulas e a todos nós: “Como o Pai
me enviou assim eu envio vocês” (Jo 20,21). No seu tempo, Jesus viveu e ensinou
o povo a viver. O seu programa missionário foi o seu modo de vida que ele
colocou em prática. Sabedor de que a plataforma de onde se parte para a Missão
é a comunidade, e que esta precisa se encontrar em vida nova, vida de
fraternidade, Jesus veio ajudar a comunidade ser como o rosto de Deus,
transformado em Boa Nova para o povo.
Essa experiência de vida de comunidade como
rosto de Deus quem vai nos ajudar a descobrir é a comunidade do Evangelista
Marcos que, partindo da experiência de vida de Jesus, ajuda sua comunidade a
concretizar a experiência missionária oferecendo a elas sete pontos básicos
importantes que orientou a caminhada de sua comunidade e que também pode ser
modelo de orientação para os nossos dias.
Seguindo os passos de Jesus, primeiro passo a criar/formar a comunidade.
Segundo passo, despertar consciência crítica para em seguida, combater o mal e
restaurar a vida para o serviço. Nos passos seguintes somos chamados a
permanecer unidos ao Pai pela oração e manter a consciência da missão e
reintegrar os marginalizados na convivência humana.
Assim, somos chamados a anunciar o amor, a
mergulhar nas profundezas da existência humana, a abrir nossos corações em
louvor, por todas as criaturas. Somos chamados a nos deixar angustiar diante de
todas as formas de vida ameaçada, encontrando, assim, o sentido mais profundo
da busca e propiciando o encontro com Cristo. Encontro que deve renovar-se
constantemente pelo testemunho pessoal, pelo anúncio do querigma e pela ação
missionária da comunidade.
A fé que recebemos precisa ser transmitida
com o anúncio e com o nosso testemunho concreto. Ela é a resposta da revelação
de Deus. Por isso, não se trata de estar simplesmente fazendo uma escolha, mas
realizando a adesão da experiência de Jesus em nossas vidas. Uma experiência
que nos coloca em situação de missionários de Cristo.
Neuza Silveira de Souza
Comissão bíblico-catequética do Regional
Leste 2 da CNBB
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