XV-
O Dia do Nascituro
Qual
é o lugar mais perigoso de viver no mundo hoje? Será a Síria, onde milhares
morrem vítimas de uma atroz guerra civil? Serão os lugares do submundo do
crime? Seria nas igrejas cristãs, situadas em pleno território islâmico? Onde?
O lugar mais perigoso do mundo para se viver é a barriga da própria mãe. É por
essa razão que celebramos o Dia do Nascituro.
Essa
é uma realidade que seria inimaginável se não fosse verdade. O lugar, que
deveria ser o mais aconchegante e terno do mundo, tornou-se a passagem mais
perigosa que um ser humano pode fazer na sua existência.
Se, neste momento, eu
fosse uma alma prestes a ser infundida num
embrião humano e tivesse consciência disso, eu estaria apavorado. Não são
milhares, mas milhões e milhões de crianças brutalmente assassinadas, por ano,
no ventre materno. E o pior: por quem? Pela própria mãe, pelo próprio pai.
A importância do Dia do
Nascituro
Se
a vida humana, em seu momento mais tenro e indefeso, está sob a mira de quem
mais deveria guardá-la e protegê-la, de que ela vale? Ela não tem mais valor
absoluto e inviolável, está condicionada à segurança, ao bem-estar e aos
interesses de terceiros. Nessa escala de valores, toda a vida humana está em
risco.
Por essa razão, o Dia do Nascituro, comemorado no
dia 8 de outubro, celebra, especialmente, a vida do bebê no ventre de sua mãe.
E não somente isso: celebramos, neste dia, o valor inviolável da dignidade da
vida humana, do seu início até o seu fim.
Não
é somente a vida do nascituro que está em questão, mas a vida humana,
especialmente em sua condição de fragilidade e inutilidade para a sociedade.
Tanto é que a
legalização do aborto, até o último instante antes do nascimento, em alguns países, já faz surgir uma
lógica, que é a “eutanásia de recém-nascidos”.
Algumas
pessoas, na Holanda, Alemanha e acadêmicos na Austrália, raciocinam que, se a
criança pode ser morta um minuto antes de seu nascimento natural, por que não
poderia o ser alguns minutos após o seu nascimento? Muito lógico!
Isso pouparia os
gastos com exames pré-natais, para verificar patologias genéticas entre outras.
Essa
eugenia pós-natal ainda não soa bem, mas, em breve, se tornará lei. Daí, virão
novos passos, como eugenia em qualquer fase da existência humana, conquanto que
a vida não esteja de acordo com os padrões sociais da época.
Cultura da morte
Não precisamos ir ao
futuro. Hoje, se a vida vale tão pouco diante do bem-estar, sucesso, bem
materiais, até mesmo diante dos animais, ela acaba por perder o sentido em si
mesma. Sem sentido, os jovens se entregam às drogas, à prostituição até o fim
(também “lógico”), que é o suicídio, cada vez mais comum entre o público
juvenil.
Aí
surge a pergunta: “Por que os jovens estão tão violentos e sem esperança?”.
Novamente, a lógica evidente: nessa cultura de morte, na qual, inclusive, são
bem aceitas celebrações artísticas da morte (refiro-me, por exemplo, à
naturalidade no uso da caveira como ingênuo enfeite nas roupas de nossas
crianças), que beleza e sentido tem a vida? Para nós que cremos em Deus, um
sinal inquestionável desse valor é o fato de o próprio Criador ter escolhido
passar por esse caminho da existência humana e fazer essa nossa experiência de
ser gente indefesa sob a guarda dos Seus pais.
O Filho de Deus poderia ter entrado no
mundo de qualquer forma que quisesse, mas escolheu ser nascituro. Com isso,
esse momento da vida humana, que já era grande por si mesmo, ganhou significado
divino, porque o próprio Deus se fez nascituro.
Sendo
de tão grande valor e beleza, a vida do nascituro deve ser celebrada.
Celebrando o Dia do
Nascituro, queremos também protegê-lo ao suscitarmos nas pessoas, nas famílias
e na sociedade, a consciência de que os nascituros
têm o direito à proteção de sua saúde e vida, à alimentação, ao respeito e a um
nascimento sadio.
Celebrando
o nascituro, celebramos a vida de cada ser humano, porque todos,
invariavelmente, foram ou serão um dia um nascituro.
André
L. Botelho de Andrade é casado e pai de três filhos. Com formação em Teologia e
Filosofia Tomista, Andrade é fundador e moderador geral da comunidade católica
Pantokrator, à qual se dedica integralmente.
https://formacao.cancaonova.com/bioetica/defesa-da-vida/o-dia-do-nascituro/
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